Juros a dez anos superam 1% pela primeira vez desde abril de 2020

Obrigações a dez anos sobem pela sétima sessão e voltam a negociar com juros acima de 1%, fasquia que não era ultrapassada desde o final de abril de 2020. Lagarde fala hoje no Parlamento Europeu.

Os juros da dívida a dez anos de Portugal voltam a superar os 1%, fasquia que não era ultrapassada desde abril de 2020, quando o mundo enfrentava as primeiras semanas de incerteza com a pandemia de Covid-19. Desta vez, a subida será mais estrutural, com o Banco Central Europeu (BCE) cada vez mais pressionado a subir as suas taxas de referência na Zona Euro para fazer face à inflação. O governador do banco central dos Países Baixos foi o último a encostar à parede Christine Lagarde, que fala esta segunda-feira perante o Parlamento Europeu, ao considerar que os juros devem subir já este ano.

A yield associada às Obrigações do Tesouro a dez anos avança esta segunda-feira mais de dois pontos base para 1,003%, subindo pela sétima sessão consecutiva. A última vez que tinha superado a barreira dos 1% foi em 27 de abril de 2020, há quase dois anos. A taxa dos títulos com o prazo a cinco anos também já está com valores positivos desde a passada quinta-feira. Está agora nos 0,33%, o valor mais elevado desde maio de 2020.

O IGCP vai esta semana ao mercado buscar um financiamento até 1.250 milhões de euros em obrigações com os prazos de seis e nove anos, e deverá já sentir um aperto das condições por parte dos investidores.

Juros a dez anos aceleram

Fonte: Reuters

Espanha, Itália e Alemanha também registam subidas das suas taxas no mercado secundário. Os juros espanhóis avançam para máximos de abril de 2020, negociando nos 1,101%. A taxa italiana está nos 1,829%, a mais elevada desde maio de 2020.

Na Alemanha, enquanto a taxa a dez anos avança para 0,222%, a mais elevada dos últimos três anos (janeiro de 2019), o juro associado às obrigações a cinco anos inverte hoje para terreno positivo, negociando nos 0,022%.

A pressionar os juros da dívida está sobretudo o BCE, que se prepara para uma inversão do ciclo dos juros na Zona Euro, para enfrentar aceleração dos preços na região da moeda única. O banco central tem como meta uma inflação de 2% a médio prazo. Na última reunião, o BCE deixou tudo como estava em termos de juros e do fim do programa de compras. Em conferência de imprensa, Christine Lagarde admitiu que há uma “preocupação unânime” com o impacto da inflação sobretudo nas famílias mais desfavorecidas, e deixou para março mais pistas sobre o rumo da política monetária.

Mas são cada vez mais os sinais de pressão da parte do mercado e até de alguns governadores da Zona Euro para apertar a política monetária o quanto antes, apontando para subidas dos juros já este ano. O governador do Banco Central da Letónia e membro do conselho de governadores do BCE, Martins Kazaks, disse à agência Reuters que o programa de estímulos poderá acabar mais cedo do que o esperado, mas considerou improvável uma subida dos juros diretores em julho, como muitos investidores estão a apostar.

Por seu turno, Klaas Knot, governador do banco central dos Países Baixos, adiantou que o BCE deve subir as taxas já este ano, tendo em conta que a taxa de inflação deverá ficar nos 4% em grande parte do ano. Em entrevista a uma TV do país, Knot adiantou que o BCE deverá subir os juros em 25 pontos base no quarto trimestre, voltando a subir a taxa no início de 2023. Os juros deverão deixar os valores negativos no próximo ano, quando poderão estabilizar se a inflação permanecer dentro do objetivo do BCE.

Os analistas do Goldman Sachs e do Deutsche Bank preveem uma subida dos juros — a primeira subida numa década — em setembro.

Esta quinta-feira, a Comissão Europeia poderá dar mais certezas quanto ao quadro macroeconómico que a região deverá ter pela frente quando atualizar as suas projeções para o andamento da economia após o recente impacto da Ómicron.

(Notícia atualizada às 9h40)

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