Japonesa Hitachi. “Modelo português pode significar mais horas de trabalho para atingir os níveis de produtividade japoneses”
No dia em que se celebra o Dia da Fundação Nacional do Japão, a Pessoas foi falar com o diretor da Hitachi Vantara Portugal, a multinacional japonesa presente em terras lusas desde 2006.
São mercados completamente diferentes, mas, ao longo dos anos, a pegada nipónica em terras lusas tem-se alargado e diversificado, ainda que continue fortemente ligada à indústria das tecnologias. E apesar de serem nações com formas de trabalho e, sobretudo, de organização, muito distintas, ambas se têm influenciado mutuamente. Ao Japão falta a capacidade de adaptação portuguesa e a Portugal o planeamento japonês, que se traduz em ganhos de produtividade, aponta Jorge Antunes, diretor-geral da Hitachi Vantara, no dia em que se assinala o Dia da Fundação Nacional do Japão.
“Acredito que o modelo português possa, algumas vezes, significar mais horas de trabalho para poder atingir os níveis de produtividade japoneses, mas isso não nos torna melhores, nem piores. Apenas diferentes na metodologia seguida e, sem dúvida, complementares”, defende Jorge Antunes, diretor da Hitachi Vantara Portugal.
Uma das 70 empresas japonesas a operar em Portugal, segundo os dados da Câmara do Comércio e Indústria Luso Japonesa, a Hitachi Vantara analisa a diferenças da cultura de trabalho dos dois países com base em 16 anos de presença em Portugal, dois centros de excelência instalados país e cerca de 300 colaboradores.
Da cultura de trabalho portuguesa, Jorge Antunes destaca a “capacidade de adaptação” e a “facilidade em resolver questões inesperadas”. Já da japonesa salienta o “planeamento” e a “estruturação cuidadosa”, que, muitas vezes, evita essas mesmas questões de última hora. Culturas diferentes? Sem dúvida, mas o gestor considera-as, sobretudo, “complementares”.
A cultura japonesa, conhecida pela organização e também pela alta produtividade — fatores que levam o governo japonês até a pressionar os empregadores a optarem pela redução da semana de trabalho para quatro dias, uma medida que faz parte de uma série de orientações económicas, que surgiram ano e meio depois de a pandemia ter obrigado a alterações profundas no mercado — “apoia-se fortemente no planeamento e na estruturação cuidadosa de todo o plano de trabalho”. Características que a filial portuguesa tem absorvido da sua casa mãe no Japão.
Já os portugueses são pessoas com “maior facilidade em resolver questões inesperadas e na tomada de decisões imediatas”. “Acredito na nossa praticidade e na forma despachada com que identificamos um problema e encontramos uma resolução”, diz Jorge Antunes.
“Ainda mais, reagimos bem a novos desafios e temos uma forte capacidade para adquirir novos conhecimentos. A facilidade com que aprendemos uma nova língua, face a outros países, é um excelente exemplo desta capacidade de aprendizagem e adaptação”, continua.
Acredito que o modelo português possa, algumas vezes, significar mais horas de trabalho para poder atingir os níveis de produtividade japoneses, mas isso não nos torna melhores, nem piores.
“Sem dúvida que os portugueses são extremamente flexíveis e excelentes a resolver questões de última hora e a encontrar soluções, mas a metodologia e planeamento do Japão garantem que, muitas vezes, as questões de última hora não chegam sequer a surgir. Basta observarmos o dia a dia no Japão para percebermos como tudo se desenrola de forma suave, sem alaridos e altamente produtiva”, explica.
A versatilidade cultural do país — uma mais-valia na criação de relações com outros países e equipas –, a propensão natural para a inovação e o posicionamento geográfico, bem como respetivo fuso horário — que oferece uma maior facilidade para interagir tanto com clientes no continente americano, como no continente asiático — são fatores que levam a Hitachi Vantara a manter-se em Portugal. E já lá vão 16 anos e quase 300 colaboradores.
Hitachi Vantara Portugal: 280 pessoas e dois centros de inovação
Com dois centros de excelência no país — o primeiro instalado em 2018, quando o país foi escolhido para ser a sede do Centro de Excelência de Video Intelligence, e o segundo em 2020, quando a companhia investiu num novo centro de inovação em Portugal, desta vez focado na mobilidade ferroviária — a companhia pretende continuar a apostar nos escritórios de Lisboa (Taguspark e Amoreiras) e do Porto, reforçando estas equipas, que contam atualmente com 280 colaboradores.
“Se a aposta tem sido notória nos últimos anos, em 2022 ganhou um novo significado. Procuramos acelerar o desenvolvimento das nossas soluções e criar novas tecnologias com impacto na sociedade. Para isso, queremos naturalmente reforçar a nossa equipa com mais talento e teremos em breve várias vagas abertas nesse sentido“, avança Jorge Antunes, sem detalhar, contudo, o número previsto de contratação até ao final do ano.
Depois da loja autónoma, tecnologia vai detetar vida útil dos alimentos
Para já, a empresa está focada em potenciar as soluções que já estão atualmente em desenvolvimento, como é o caso do projeto de Loja Autónoma, uma tecnologia desenvolvida pela equipa da Hitachi Vantara em Portugal que já saltou fronteiras, figurando em lojas em Israel e no Japão.
Além disso, a companhia está a trabalhar numa outra tecnologia capaz de detetar o tempo de vida útil dos alimentos, adianta Jorge Antunes. “Com esta tecnologia, é possível, através de um dispositivo com base em espetroscopia, obter dados sobre a quantidade de açúcar e água que se encontram num alimento e estimar o seu tempo de vida útil”, detalha.
A nível global, a Hitachi Vantara integra 950 empresas, conta com 320.000 pessoas e investe cerca de 3,4 mil milhões de dólares em investigação e desenvolvimento. Questionada sobre os valores de faturação, a empresa prefere não divulgar valores, justificando ser política interna não partilhar este tipo de dados localmente.
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