Primeira vez no Congresso, poucas novidades

  • Juliana Nogueira Santos
  • 1 Março 2017

Todos ansiavam pelas novidades que a primeira visita de Trump ao Congresso iria trazer, mas Trump não fez a vontade a ninguém. Ficou-se pelo que já se sabia.

Esta terça-feira foi um dia de estreia para Donald Trump: entrou pela primeira vez no Congresso para apresentar um discurso que em tudo se assemelhava a um Discurso do Estado da União, com as duas casas juntas para ouvir os feitos de cinco semanas de administração Trump. Esperavam-se detalhes sobre legislação já anunciada e grandes novidades relativamente a assuntos como a imigração e o sistema de saúde.

Assim, o presidente discursou durante cerca de uma hora e vinte minutos, nos quais fez questão de reiterar muitos dos assuntos que tem vindo a defender desde que era candidato presidencial. E reiterou. E voltou a reiterar. Mas por aqui se ficaram as estreias, já que os detalhes e as novas medidas ficaram para uma próxima. Vamos por partes.

As novidades

Oleodutos americanos com aço americano

Após ter anunciado que a sua administração conseguiu reverter as proibições relativas à construção de dois oleodutos, Trump afirmou que o próximo passo será construir ainda mais oleodutos, mas desta vez utilizando aço americano — e provavelmente mão-de-obra americana. A aposta no carvão também foi reafirmada pelo presidente.

Apoio às mulheres empreendedoras

Segundo o presidente, foi constituído em conjunto como o Canadá um conselho para que mais empreendedoras tenham acesso às redes, aos mercados e ao capital que necessitam para que possam criar o seu negócio

Mais e melhores exames à entrada

“Não podemos deixar que a nossa nação se torne um santuário para extremistas.” Foi assim que Trump defendeu as suas medidas anti-imigração, acrescentando que os exames (vetting) à entrada do país vão ser melhorados, prevendo-se assim uma revisão da muslim ban.

Direito à escolha na educação

Um dos apelos feitos pelo presidente Trump foi relativamente a uma nova lei que garantirá o financiamento a jovens desfavorecidos para que estes possam escolher entre escolas públicas, privadas, religiosas, entre outras. Nas palavras do próprio, “a educação é a questão de direito civil do nosso tempo”, por isso todos devem ter direito a escolher.

Trump fez questão de dar um exemplo de sucesso de uma jovem afro-americana presente na sala, Denisha Merriweather, que conseguiu explicações através de um programa de crédito que poderá ser um dos processos a adotar para este financiamento.

Dar voz às vítimas de (alguns) crimes

A luta contra o crime foi um dos assuntos sublinhados pelo presidente. Um das medidas, a qual não foi bem aceite por nenhum dos partidos, como se pôde perceber pelas reações, será a criação de um departamento para apoiar as vítimas de crimes levados a cabo por imigrantes. Este terá como nome “VOICE”, acrónimo para “Victims Of Immigrant Crime Engagement”.

Amigos amigos, negócios à parte

A questão das alianças é sempre extensa, pelo que o presidente quis ser o mais explícito possível: todas as alianças vão ser mantidas — nomeadamente a NATO e a aliança “inquebrável” com Israel — e outras vão ser criadas porque “A América está disposta a encontrar novos amigos.”

Ainda assim, e como disse Trump, “acredito no comércio livre, mas também tem de ser comércio justo”, e os aliados vão ter de contribuir de uma forma justa para as operações estratégicas e militares, contribuição essa que já está a ser cumprida. “Posso dizer-vos que o dinheiro a entrar”, afirmou.

Donald Trump anunciou também que vai impor sanções às entidades que apoiarem o programa de mísseis balísticos iraniano.

A união passa a fazer a força

Ao contrário de tantos outros discursos, em que o tom parecia bem mais desafiante, neste Trump fez questão de apelar à união, não só entre americanos, mas também entre partidos: “Resolver estes e tantos outros problemas requer que resolvamos as nossas diferenças partidárias.”

Também em questões como os crimes de ódio — questão esta que mereceu a atenção de Trump logo nos primeiros momentos do discurso — o presidente destacou a importância da renovação do “espírito americano”.

O que foi relembrado

Criação de milhões de postos de trabalho, cortes nos impostos, a construção do muro, a guerra às drogas e aos carteis ilegais, a renovação das infraestruturas, o plano para desmantelar o Estado Islâmico, a apologia do nacional e do protecionismo e a necessidade de melhorar as forças militares.

Premissas repetidas desde a campanha eleitoral e que Donald Trump fez questão de repetir neste seu discurso no Congresso. Todas elas vão avançar, com o apoio da maioria republicana que se fazia ouvir depois de cada afirmação do seu presidente.

De destacar também a questão dos preços dos medicamentos e a garantia que, sob o novo plano de saúde, as farmacêuticas terão de baixar os preços “imediatamente”. De mais destaque ainda, por se afirmar como um apontamento curioso, depois de dizer esta frase, Trump sorriu e apontou para a massa de congressistas — provavelmente para o democrata Bernie Sanders, que tem defendido esta causa ao máximo, estabelecendo-se assim como um dos únicos pontos em que os dois convergem.

O que faltou

Já dizia o ditado: “O diabo está nos detalhes.” Todo o mundo — incluindo os investidores — estava de olhos postos nos pormenores que iam ser desvendados. Desde o plano fiscal “fenomenal” que promete há cerca de três semanas cortes nos impostos, passando pelo substituto do Obamacare — que vai definitivamente ser afastado e substituído — até ao orçamento renovador anunciado esta semana.

Do primeiro só detalhes qualificativos: vai ser um “grande grande corte”. Do Obamacare, nem substituto, nem responsáveis, tendo o presidente pedido a cooperação de todos, republicanos e democratas, para encontrar esse plano de saúde revolucionário. Do orçamento, só a garantia — e a justificação — de que os gastos com as forças militares vão aumentar.

A juntar a isto, Donald Trump não referiu nenhum plano orçamental, ou seja, ninguém sabe como é que todas estas coisas vão ser pagas, ou se vão afetar de algum modo as contas públicas. Continua assim o mundo todo com os mesmos olhos postos — e talvez já um pouco cansados — e à espera de ver como se vai desenrolar esta história.

Reveja aqui o discurso completo do presidente dos Estados Unidos.

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