Guerra pode tirar quase 1,5 pontos ao crescimento da Zona Euro, diz OCDE

Se houver uma resposta orçamental eficaz por parte da União Europeia, a Organização estima que o impacto poderá ser inferior a um ponto percentual em 2022.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) calcula que, este ano, a guerra na Ucrânia, fruto da invasão russa, possa tirar quase 1,5 pontos percentuais ao crescimento da economia europeia. A análise aos impactos sociais e económicas da guerra assinada por Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE, e Laurence Boone, economista-chefe da OCDE, simula os impactos da guerra e conclui que o impacto pode ser “considerável” tanto no PIB como na inflação, se o conflito persistir.

A mais importante consequência da guerra na Ucrânia é a perda de vidas e a crise humanitária“, começa por escrever a OCDE, referindo que também há várias implicações económicas significativas. Antes da guerra, a economia mundial continua a recuperar da Covid-19, preparando-se para atingir em 2023 a trajetória pré-crise pandémica, o que permitiria normalizar as várias políticas, nomeadamente a orçamental e a monetária.

Porém, o eclodir da guerra veio colocar um travão nesse processo de recuperação. Ainda que a OCDE reconheça que a Rússia e a Ucrânia sejam “relativamente pequenas” economias, estes dois países são grandes produtores e exportadoras de bens alimentares, minerais e energia. Razão pela qual a guerra já teve um choque financeiro, particularmente na subida agressiva dos preços do petróleo, gás e trigo.

Os movimentos verificados nos mercados financeiros desde a eclosão da guerra podem, se constantes, reduzir o crescimento do PIB mundial em mais de um ponto percentual no primeiro ano, com uma profunda recessão na Rússia, e acrescentar cerca de 2,5 pontos percentuais à inflação mundial“, antecipa a Organização.

A Zona Euro será a região, além Rússia e da Ucrânia, mais afetada com o impacto no PIB a ser de quase 1,4 pontos, mas menos em termos de inflação (2 pontos). Mas se houver uma resposta orçamental eficaz, a Organização estima que o impacto poderá ser inferior a um ponto percentual.

Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) atualizou as suas previsões, apontando para um crescimento de 3,7% em 2022, apenas cinco décimas abaixo da previsão anterior de 4,2%. No entanto, no cenário adverso a expansão da economia passa para apenas 2,5% e no cenário severo para 2,3%, o que representaria um impacto maior do que a OCDE calcula atualmente.

Fonte: OCDE. Impacto simulado da guerra no PIB e na inflação.

Para contrariar este impacto, a OCDE recomenda aos países que introduzam medidas orçamentais focadas e bem desenhadas para os mais desfavorecidos e os setores mais impactados. “Em alguns países, isto pode ser financiado através da tributação de lucros inesperados“, diz a OCDE — das empresas de energia, interpreta-se, em linha com a recomendação da Comissão Europeia.

No curto prazo, a OCDE sugere aos Governos que aumentem a produção de alimentos, evitem medidas protecionistas e melhorem a logística a nível mundial. Perante a necessidade de “minimizar a dependência” da Rússia, a Organização alerta que os países têm de conseguir fazer essa transição mantendo a segurança energética.

Em relação à política monetária, a OCDE concorda que o foco deve ser controlar a inflação, tentando ancorar as expectativas dos agentes económicas mesmo com neste ambiente volátil. “A maioria dos bancos centrais deve manter os seus planos pré-guerra, com a exceção das economias mais afetadas“, refere. Esta quarta-feira a Reserva Federal norte-americana subiu os juros e na semana passada o Banco Central Europeu decidiu acelerar a retirada dos estímulos monetários.

Corte de 20% das importações de energia retiraria mais de 1,5 pontos ao crescimento português

Na apresentação da análise, a OCDE mostra alguns dados por país. No caso de Portugal, os dados da Organização confirmam que as exportações portuguesas para a Rússia equivalem a menos de 0,5% do valor acrescentado nacional, tanto direta como indiretamente, sendo um dos países europeus com menos laços económicos com o Kremlin. O mesmo acontece nas importações, com as compras portuguesas dos bens energéticos russos a corresponder a menos de 10% do total de energia consumida, muito inferior aos restantes países europeus.

Porém, e aqui não se refere apenas à Rússia, Portugal tem uma significativa dependência das importações de energia, tanto que, segundo os cálculos da OCDE, uma redução de 20% das importações de energia para Portugal retiraria mais de 1,5 pontos percentuais ao crescimento do PIB português, um impacto maior do que o calculado para a média europeia. Contudo, é de notar que, para já, este cenário não se coloca.

Outra das análises em que Portugal aparece é o impacto da subida dos preços da alimentação e da energia junto dos cidadãos mais vulneráveis. Os dados da OCDE mostram que Portugal está entre os países onde os cidadãos de baixos rendimentos gastam uma parcela maior do seu rendimento nestas despesas básicas, chegando quase aos 30%, acima da média europeia (ligeiramente acima dos 20%).

O gráfico mostra que a maioria dos países está a optar por apoios direcionados no caso do rendimento e apoios transversais para colmatar a subida dos preços. É uma espada de dois gumes: por um lado, a descida dos impostos ou subsídios gerais (como o Autovoucher em Portugal) beneficiam todos, incluindo os cidadãos com maior rendimento; por outro lado, as transferências de dinheiro para os mais pobres podem ter um efeito multiplicador maior, mas podem demorar mais tempo a implementar, explica a OCDE.

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