Economia portuguesa trava na terceira semana de guerra na Ucrânia
A atividade económica em Portugal travou na semana terminada a 20 de março, o que coincide com a terceira semana da invasão russa na Ucrânia.
A economia portuguesa travou na semana terminada a 20 de março, em comparação com a semana anterior, de acordo com os dados do indicador diário (DEI) do Banco de Portugal divulgados esta quinta-feira. A atividade económica continua a ser superior à da mesma altura do ano anterior.
“Na semana terminada a 20 de março, o indicador diário de atividade económica (DEI) aponta para uma taxa de variação homóloga da atividade inferior à observada na semana anterior“, revela o Banco de Portugal esta quinta-feira, especificando que “a correspondente taxa de variação trienal diminuiu no mesmo período“.
Esta travagem coincide com a terceira semana da invasão russa na Ucrânia, mas os números divulgados pelo banco central não permitem traçar uma correlação. A complicar a análise está também o facto de ter sido exatamente no dia 15 de março do ano passado (a comparação é homóloga) que começou o desconfinamento, o que deu um impulso à atividade económica.
DEI trava na terceira semana da invasão russa na Ucrânia
Segundo os dados do banco central, a média móvel semanal do DEI a 17 de março registava um crescimento de 10,5%. Já o último valor diário, relativo a 20 de março, apontava para um crescimento homólogo de 7,5%.
Na comparação da taxa trienal, o Banco de Portugal atualizou há umas semanas este indicador para se obter “a variação da atividade entre um determinado dia num ano face ao mesmo dia três anos antes”. Neste caso, a média móvel semanal a 17 de março fixou-se nos 1,6% e o último valor diário, a 20 de março, nos 0,7%.
Os dados do DEI relativos ao primeiro trimestre, com apenas duas semanas para terminar, apontam para um crescimento expressivo da economia portuguesa em comparação com o primeiro trimestre de 2021 em que Portugal esteve confinado. No início de fevereiro, as previsões da Comissão Europeia para o primeiro trimestre de 2022 antecipavam uma travagem para um crescimento em cadeia de 0,5%, após os 1,6% registados no quarto trimestre de 2021.
Mesmo que tal aconteça, como antecipou o ISEG, o crescimento homólogo será sempre acima dos 10%. Para já, mesmo com a guerra, não se antecipa um impacto significativo no primeiro trimestre: “Apesar da emergência da situação de guerra na Ucrânia provocada pela invasão russa e pelas sanções económicas desencadeadas, é pouco provável que tal venha a afetar o crescimento esperado para o primeiro trimestre que irá acelerar em termos homólogos, principalmente devido ao efeito base decorrente do confinamento de há um ano e à retoma mais generalizada da atividade interna”, explicaram recentemente os economistas do ISEG.
Para o conjunto do ano é expectável uma revisão em baixa na proposta atualizada do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), cuja versão original apontava para um crescimento de 5,5% em 2022 — recentemente, vários jornais noticiaram que António Costa revelou na última reunião do Conselho de Estado que a nova previsão do Governo seria de 5%.
A subida dos preços da energia agravada pelo conflito deverá travar a expansão económica, assim como outros efeitos indiretos através de exportações de bens e serviços, potenciais repercussões da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), entre outros fatores. O próprio BCE cortou as previsões de crescimento económica da Zona Euro e reviu em alta a aceleração da inflação em 2022 na última reunião de política monetária em que decidiu retirar os estímulos mais rapidamente.
Este novo indicador divulgado pelo banco central incorpora diversas séries de informação: o tráfego rodoviário de veículos comerciais pesados nas autoestradas, o consumo de eletricidade e de gás natural — o que poderá ser afetado pelo aumento dos preços acentuado pela guerra —, a carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e as compras efetuadas com cartões em Portugal por residentes e não residentes.
O impacto da pandemia gerou uma maior necessidade de recurso a este tipo de indicadores económicos de divulgação mais frequente, como é o caso do DEI. Isto acontece porque um dos mais relevantes, o Produto Interno Bruto (PIB), é apenas apurado e divulgado trimestralmente. A próxima divulgação do DEI está marcada para 31 de março, a qual poderá dar mais pistas sobre o que está a acontecer na economia portuguesa em consequência do conflito armado na Europa.
(Notícia atualizada às 11h41 com mais informação)
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