Pagamento do gás russo em rublos faz subir preços do Mibel
Berlim está a pressionar a Rússia para decidir se exige pagamento do gás em rublos. Se a resposta for sim, os preços do gás poderão ser "gravemente impactados", dizem as fontes ouvidas pelo ECO.
Por três dias consecutivos, desde 27 de março, que os preços da eletricidade no mercado grossista ibérico não pararam de subir. De um valor mais baixo de 219 euros por MWh no passado domingo, até chegar aos 255€/MWh esta quinta-feira, 30 de março.
Esta curva ascendente no Mibel foi acompanhada na exata proporção pelos valores registados no índice TTF dos Países Baixos (que serve de benchmarking aos preços do gás na Europa).
Depois de salto de cerca de 15% a 23 de março, para os 112€ por MWh, precisamente no dia em que a Rússia anunciou que passaria a vender gás a países “inimigos” apenas em rublos, os preços voltaram a descer até aos 95€/MWh a 27 de março, data em que, tal como no Mibel, iniciaram de novo uma caminhada ascendente até esta quinta-feira, quando já estão de novo nos 107 euros por MWh.
“Esta decisão de Putin veio acrescentar mais um elemento de incerteza ao já caótico mercado de gás europeu, porque complica as compras a muitos países que já de si estão relutantes em cortar nas quantidades e nas encomendas à Russia”, disse à Reuters Vinicius Romano, analista sénior na Rystad Energy.
É o que se observa por exemplo na Alemanha, altamente dependente do gás russo, que entretanto ativou já uma lei de emergência para o racionamento de gás criada para enfrentar uma eventual interrupção das entregas da Rússia. Isto porque a Europa se recusa a cumprir a exigência de Moscovo de pagar em rublos.
Entretanto, Berlim também já está a pressionar a Rússia, que esta quinta-feira vai decidir se aplica ou não a exigência do pagamento em rublos. Aí sim, com uma decisão concreta em cima da mesa (e não apenas uma ameaça de Putin), os preços do gás poderão ser gravemente impactados. “Até agora era só especulação”, defendem as fontes do setor ouvidas pelo ECO.
As mesmas fontes garantem que no caso da Península Ibérica, e sobretudo de Portugal, a questão do pagamento em rublos acaba por ser ter um impacto diferente, logo pelo facto de o país não depender do gás russo (apenas 10% das importações no ano passado), tendo a possibilidade de recorrer a outros fornecedores, como a Nigéria e os EUA.
No entanto, referem, se há mais um fator que traz instabilidade acrescida ao mercado e deixa os “traders nervosos”, isso vai ter consequências nos índices de preços e também nos mercados marginalistas, nos quais “ainda é o gás que marca o preço da eletricidade”.
Uma das fontes frisou ainda que no Mibel, em 2022, apenas em 50% das horas se verificou este fenómeno, sendo que na outra metade do tempo foi a geração hídrica a mais cara e a que ditou o preço da energia elétrica em Portugal e Espanha.
Pacto ibérico ainda tenta encontrar solução para baixar preços da eletricidade
Enquanto isso, os dois países continuam a trabalhar com a Comissão Europeia para encontrar um mecanismo alternativo ao mercado marginalista (que prejudica as renováveis, que têm por norma um preço de produção mais barato), que pode passar por impor um limite ao preço do gás usado para produzir eletricidade nas centrais de ciclo combinado ou por outras ideias que estão em cima da mesa.
Certo é que vai demorar ainda algumas semanas só para estudar o novo modelo de mercado grossista de eletricidade, faltando depois toda a parte de implementação no terreno.
Do lado dos produtores de eletricidade é esperada a solução que provoque “menos danos e não distorça” a concorrência. Além disso, esta solução deve proteger as famílias e os consumidores e garantir que não há “taxação excessiva das empresas”.
De acordo com a APREN, há pelo menos oito medidas possíveis em cima da mesa, como por exemplo comprar gás de forma conjunta a nível ibérico ou subsidiar a compra do gás para a produção de eletricidade. Falta saber qual será a eleita
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