Católica vê PIB a crescer apenas 0,2% no primeiro trimestre
Os economistas da Católica antecipam uma forte travagem do PIB no primeiro trimestre, crescendo 0,2% em cadeia. O crescimento homólogo será de 9,3% por causa da base baixa de comparação em 2021.
Identificando “uma certa fragilidade no final do mês de março”, os economistas da Universidade Católica revelam uma nova previsão para o PIB português, antecipando que vá crescer apenas 0,2% em cadeia (face ao trimestre anterior) no primeiro trimestre deste ano, o que compara com um crescimento em cadeia de 1,6% no quarto trimestre de 2021. Esta travagem é atribuída à invasão russa na Ucrânia e à subida generalizada dos preços, em especial da energia.
“No primeiro trimestre do ano, a economia portuguesa poderá ter crescido apenas 0,2% em cadeia, alcançando um nível equivalente a 98,8% do quarto trimestre de 2019, o último período sem os efeitos da pandemia“, calculam os economistas do NECEP na folha trimestral de conjuntura divulgada esta quarta-feira. A concretizar-se esta previsão, a economia portuguesa ainda estará a 1,2% do nível do PIB pré-pandemia no final do primeiro trimestre.
Contudo, os economistas da Católica assumem que “esta estimativa está envolta em enorme incerteza devido ao comportamento errático em janeiro, fevereiro e março dos indicadores de alta frequência disponíveis”. “Os deflatores de comércio externo, muito influenciados pelo preço da energia, permitem acomodar, quer a expansão, quer a contração da atividade económica”, explicam.
Ainda assim, identificam “uma certa fragilidade no final do mês de março”, o que sugere que a atividade económica do segundo trimestre “pode ser inferior ao quarto trimestre do ano passado”. Isto implicaria uma contração do PIB superior a 0,2% em cadeia no segundo trimestre. “Porém, o choque parece ser bem menor face ao observado nos vários trimestres de confinamento devido à pandemia”, ressalvam.
Com esta previsão, o NECEP revê em baixa o crescimento do conjunto do ano em 0,3 pontos percentuais para 4%, com um intervalo de previsão entre 3% e 5%. Esta previsão fica bastante abaixo dos 4,8% estimados pelo Conselho das Finanças Públicas, dos 4,9% do Banco de Portugal e dos 5% do Governo. Porém, é de notar que a Católica já tinha previsões menos otimistas antes da guerra.
“A dimensão do choque económico pode ter um custo anualizado entre 0,5 e dois pontos percentuais, tendo em conta os efeitos nos preços da energia e na balança externa“, calculam os economistas. O amortecedor deste impacto será a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), “limitando o impacto do potencial choque no crescimento”.
Taxa de inflação revista em alta para 5%
Se no PIB fica aquém dos valores das outras previsões, na taxa de inflação supera-os. Os economistas da Católica têm como ponto central para a taxa de inflação em Portugal o valor de 5%, com um intervalo que vai de 3% a 7%. “Trata-se de uma forte revisão em alta face ao ponto central de 2% indicado na última folha”, assinalam.
Para os economistas da Católica “os efeitos das políticas económicas usadas pela generalidade dos países desenvolvidos durante os dois últimos anos manifestavam-se em várias dimensões, nomeadamente na subida dos preços da energia, na inflação e numa perspetiva de subida das taxas de juro, mais rápida nos Estados Unidos do que na zona euro”.
No entanto, perante o espoletar da guerra, “seria de esperar que a materialização dos riscos geopolíticos na Ucrânia e as necessidades de investimento em defesa, para proteger os países da União Europeia da ameaça russa, levassem os bancos centrais americano e europeus a moderarem a normalização da política monetária”, referem, notando que “tal não está a acontecer devido aos fundados receios de que a inflação tenha componentes, não apenas transitórias, mas também permanentes“.
Assim, o NECEP antecipa que o Banco Central Europeu (BCE) “terá dificuldade em reduzir a inflação da zona euro a médio prazo, com um ponto central em torno dos 2.5% no horizonte de 2024”. Uma coisa é certa: os custos com o serviço da dívida “deverão subir de forma significativa”, o que tenderá a prejudicar as contas externas de Portugal, mesmo que beneficie das transferências de capital da União Europeia via PRR.
“O cenário macroeconómico é agora significativamente diferente face a outubro último, o que obrigará a tomar decisões difíceis, sendo de esperar alguma conflitualidade sociossindical na sequência da inflação instalada“, dizem os economistas quando se referem ao novo Orçamento do Estado para 2022 num aviso ao novo Governo.
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