Parlamento aprova descida de IRS para este ano e baixa adicional em 2026. Fatura global engorda para 611 milhões

A baixa do imposto proposta pelo Governo assim como a redução extra acordada com o Chega para o próximo ano foram aprovadas em votação final com os votos a favor de PSD, CDS, Chega e abstenção do PS.

Sem surpresas, foi aprovado o texto final que dita uma descida do IRS para este ano, proposta pelo Governo, e uma redução extra de 0,3 pontos percentuais para 2026, acordada entre AD e Chega. O diploma teve luz verde esta quarta-feira em votação final global na Assembleia da República. As duas medidas vão custar cerca de 611 milhões de euros. Já a clarificação de que o prémio salarial é acumulável com o IRS Jovem, proposta pelo PS, foi rejeitada por AD e Chega.

A redução do IRS proposta pelo Governo já para este ano das taxas entre 0,4 e 0,6 pontos percentuais (p.p.) até ao 8.º escalão foi aprovada com os votos favoráveis de PSD, CDS, Chega e IL, abstenção de PS e JPP, e votos contra de Livre, PCP e BE. A iniciativa da AD que plasma o compromisso assumido com o partido de André Ventura e estabelece uma baixa adicional de 0,3 p.p. no Orçamento do Estado para 2026 foi viabilizada com os votos de PSD, CDS, Chega, abstenção de PS, IL e JPP e votos contra de Livre, PCP e BE.

A fatura global para os cofres do Estado vai engordar para os 611 milhões de euros, dos quais 500 milhões dizem respeito à baixa do imposto para este ano, tal como estimado pelo Executivo, e 111 milhões à redução adicional para 2026, segundo as contas do ECO com base no simulador da Comissão Europeia, o Euromod.

A proposta de lei do Executivo determina que a taxa do primeiro escalão desça de 13% para 12,5%, a do segundo de 16,5% para 16%, a do terceiro de 22% para 21,5%, a do quarto de 25% para 24,4%, a do quinto de 32% para 31,4%, a do sexto de 35,5% para 34,9%, a do sétimo de 43,5% para 43,1% e, por último, a do oitavo de 45% para 44,6%. A taxa do último escalão de rendimentos continua nos 48%. Simulações apresentadas pelo Governo mostram que esta nova descida do IRS vai fazer subir o salário líquido entre dois e 15 euros por mês.

A proposta do Executivo reduz as taxas do 1.º ao 8.º escalão de rendimento, trazendo um desagravamento transversal do imposto nos vários níveis de rendimento que o Governo estima rondar os 500 milhões de euros. Apesar de as taxas só baixarem até ao 8.º degrau, a descida também é sentida pelos contribuintes do nono escalão. Isso acontece porque, com a regra da progressividade no cálculo do imposto, o rendimento de um contribuinte é dividido, aplicando-se a cada escalão de rendimentos a respetiva taxa.

O Governo já fez saber, através do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que irá alterar as tabelas de retenção na fonte logo que o possa fazer, depois da aprovação da proposta de lei, para refletir no bolso dos contribuintes a redução com efeitos retroativos a janeiro deste ano.

Antes da votação final global, houve um pequeno debate, no qual a IL quis justificar o voto favorável, apesar de a medida ser muito “curta, exígua”, classificou o deputado Mário Amorim Lopes, que defendeu uma descida mais pronunciada do imposto. “É a lei dos quatro euros. Embora curto, microscópico, vamos ter de acompanhar, porque são sempre mais quatro euros nos bolsos dos portugueses. É melhor do que nada”, gracejou. Hugo Carneiro, do PSD, pediu logo a palavra para corrigir: “Não a lei dos quatro euros mas a proposta de lei n.º 4″.

À esquerda, Livre, PCP e BE criticaram a iniciativa por favorecer quem tem rendimentos mais elevados. “As famílias portuguesas sentem o peso de uma dura realidade, o dinheiro não chega até ao fim do mês. O Livre concorda com a necessidade de baixar o peso dos impostos, mas o problema com esta proposta é que não é isso que faz. Alivia muito pouco os que mais precisam, quando havia condições para uma redução de impostos maior sobre as pessoas que têm mais mês no seu salário”, criticou a deputada Patrícia Gonçalves, do Livre.

Do lado do PCP, Paula Santos considerou também que as propostas de redução do IRS levadas a votos têm um efeito muito reduzido. “Para muitos, o seu impacto é zero, porque nem sequer pagam IRS, porque o seu salário é baixo”, afirmou. Para além disso, notou que “o acordo entre PSD e Chega dá um alívio muito mais expressivo nos rendimentos mais altos”.

Num ataque cerrado ao acordo entre AD e Chega, a líder e deputada única do BE, Mariana Mortágua, concluiu que “o não é não” ou o “não é nunca” do PSD é “vamos embora”. “Afinal, não há mas dois cata-ventos”, atirou.

A iniciativa da AD que adita a proposta do Governo e inclui uma redução adicional de 0,3 p.p. das taxas entre o 2.º e 5.º escalões para o Orçamento do Estado de 2026 também passou no último teste do Parlamento. O projeto verte em letra de lei o acordo entre AD e Chega e levou o partido de André Ventura a retirar os seus projetos de alteração ao IRS.

A proposta do Chega previa, face à proposta do Executivo, uma descida mais substancial de 0,80 pontos percentuais para o 2.º e 3.º patamares de tributação, fixando as taxas em 15,70% e 21,20%, respetivamente. Para o 4-º e 5.º escalões, queria baixar a carga fiscal em 0,90 pontos, estabelecendo as taxas em 24,10% e 31,20%. Mas a iniciativa nem sequer foi a votos. Com a garantia de PSD/CDS de descida da tributação em mais 0,30 pontos percentuais, entre o 2.º e 5.º níveis, em 2026, o partido de André Ventura decidiu deixar cair o projeto.

Tal como o ECO já noticiou, o simulador da Comissão Europeia mostra que uma redução extra de 0,30 pontos percentuais das taxas do 2.º ao 5.º escalões terá um impacto de 111,32 milhões de euros, que terão de ser inscritos no Orçamento do Estado para 2026 (OE2026). Este alívio fiscal vai significar uma poupança mensal de até 7,36 euros e irá beneficiar sobretudo os contribuintes com rendimentos mais elevados. Em média, cada família deverá beneficiar de um ganho de 2,24 euros por mês. Já os agregados com salários mais baixos deverão obter uma poupança que não chegará a um euro por mês.

O simulador permite analisar outro tipo de situações. Por exemplo, um solteiro sem filhos terá um ganho mensal médio em torno dos 1,80 euros, um contribuinte com um dependente poderá obter uma poupança de cerca de dois euros e um casal com dois filhos poderá beneficiar de um alívio mensal de quatro euros.

A iniciativa foi ser aprovada em votação final global esta quarta-feira com os votos favoráveis de PSD, Chega e CDS e abstenção de PS, IL e JPP. Em contrapartida, o Chega deu novamente a mão à AD para ajudar a confirmar a aprovação da descida de IRS protagonizada pelo Governo até ao 8.º e penúltimo escalão com efeitos a janeiro deste ano.

AD e Chega unem-se para chumbar prémio salarial do PS

Já a proposta do PS, que clarifica que a devolução de propinas é acumulável com o IRS jovem, foi rejeitada, em votação final global, com os votos contra de PSD, CDS e Chega, a abstenção de IL, PCP e BE e votos a favoráveis de PS, Livre, PAN e JPP. A iniciativa já tinha sido rejeitada na especialidade, mas os socialistas decidiram avocar o projeto e levá-lo novamente às urnas parlamentares. Mesmo assim, não passou.

A “maioria maior” do Governo de Luís Montenegro superou desta vez uma coligação negativa de Chega com PS. O partido de André Ventura preferiu dar a mão à AD, mantendo assim o pacto formado para o IRS, e chumbou a proposta que reforçava que o prémio salarial de devolução das propinas é acumulável com o IRS Jovem.

De salientar que, na lei, nada impede que um trabalhador beneficie do alívio fiscal e da devolução das propinas, mas o Executivo decidiu não abrir as candidaturas este ano, alegando que um apoio não deve ser somado ao outro. Já se passou mais de meio ano e o Governo ainda não informou sobre o destino a dar a este prémio.

Numa última tentativa para convencer os deputados, antes da votação final, a parlamentar e líder da JS, Sofia Pereira, alegou que “falar do prémio salarial é falar de justiça, é reconhecer quem estudar e quer ficar cá a trabalhar”. A deputada lembrou o que benefício pode chegar até aos 5.000 euros e que já ajudou 96 mil jovens em 2024. “Em 2025, o Governo meteu-o na gaveta e fechou-o à chave”, criticou.

Dirigindo-se a PSD e Chega, atirou: “Estão a virar costas a uma geração inteira, estão a trair, a vedar o acesso a um direito que não foi revogado”. E desafiou os deputados: “Votem a proposta do PS, sejam corajosos e consequentes”.

Mas os argumentos não colheram junto das bancadas de PSD e Chega. O social-democrata Hugo Carneiro justificou o voto contra pela natureza do assunto. “Estamos a falar da devolução de valore que não têm a ver com rendimentos do trabalho”, afirmou. Na ótica do parlamentar, a proposta é “uma tentativa de enganar os portugueses”. Para além disso, cria uma dúvida: “Esta proposta visa salvaguardar que é cumulativa. E antes não era cumulativa?”. “Não é um foguetório como este que vocês vão lá. Por isso, merecerá o nosso voto contra, porque não tem ponta por onde se lhe pegue”.

O Chega também considerou que o “PS veio confundir, misturar alhos com bugalhos, introduzindo questões que não são verdadeiras”. “O prémio salarial não é uma matéria fiscal e não pode ser considerada. Por isso, votamos contra”, justificou o deputado Eduardo Teixeira.

(Notícia atualizada às 14h07)

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Goldman Sachs e PwC lideram assessoria financeira de fusões e aquisições na Europa

O banco norte-americano e a consultora britânica encabeçaram em número e valor de fusões e aquisições registadas na Europa na primeira metade do ano. JP Morgan e Clearwater também se destacaram.

O banco norte-americano Goldman Sachs e a consultora PwC foram os principais assessores de fusões e aquisições (M&A) na Europa durante a primeira metade deste ano, destacando-se pelo valor mobilizado e pelo número de negócios em que estiveram envolvidos, respetivamente.

A Global Data, que classifica os advisors pelo preço e volume das operações que apoiaram, revelou que o Goldman Sachs alcançou a posição de liderança em termos de valor acumulado nas transações, com 23,8 mil milhões de dólares (cerca de 20,5 mil milhões de euros), enquanto a PwC – uma das Big Four, que têm entrado mais neste mercado, além da due diligence – liderou em volume, assessorando 52 negócios.

“O Goldman Sachs foi o principal assessor em valor no primeiro semestre de 2024 e, apesar de ter registado uma queda em valor face ao período homólogo, conseguiu manter a sua posição de liderança nesta métrica também no primeiro semestre de 2025”, explica o analista Aurojyoti Bose, da Global Data. O especialista destaca ainda que “sete das 10 principais [empresas] em valor registaram uma redução no valor total de negócios” nos primeiros seis meses de 2025 face ao mesmo período do ano passado.

O mesmo aconteceu com os oito maiores assessores em número (volume), tendo em conta que registaram uma redução de um ano para o outro entre janeiro e julho. Por exemplo, as seis empresas que compõe os dois pódios caíram todas em termos homólogos: Goldman Sachs (-56,3%), JP Morgan (-18,6%), Barclays (-9,8%), PwC (-13,3%), Clearwater (-12,1%) e Rothschild & Co (-45,1%).

Os consultores, banqueiros de investimento e advogados contactados pela agência Reuters concluíram que a incerteza nos mercados financeiros devido à guerra comercial, que se agudizou com o presidente dos Estados Unidos, as elevadas taxas de juro e as tensões geopolíticas decorrentes dos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente dificultaram as transações, mas não foram suficientes para derrubar por completo as expectativas de que este seja um ano de sucesso para o M&A numa perspetiva global.

Apesar de todas as surpresas deste ano, desde a incerteza tarifária aos conflitos regionais, os negócios ainda estão a ser fechados. Enquanto as fusões e aquisições na América do Norte enfrentam obstáculos crescentes, os negócios prosperam na Europa e aceleram na Ásia, à medida que os compradores se adaptam à crescente volatilidade do mercado, abordando os negócios com uma visão de longo prazo e mais pragmática para alcançar o máximo valor”, explica Jana Mercereau, responsável de Advisory de M&A na Europa da WTW.

Segundo Jana Mercereau, quem está em setores mais expostos às tarifas pode utilizar esta estratégia para proteger as suas cadeias de abastecimento, transfronteiriças e complexas, “numa tentativa de se tornarem mais resilientes e resistentes ao cenário geopolítico mais volátil”.

A análise da WTW, exposta no Quarterly Deal Performance Monitor, mostra que as empresas compradoras europeias superaram as empresas não envolvidas em atividades de M&A em 9,4 pontos percentuais em negócios avaliados em mais de 100 milhões de dólares (86,1 mil milhões de euros) nos últimos seis meses.

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França começa a reunir apoios para ativar instrumento comercial mais poderoso (e de último recurso) contra os EUA

Instrumento Anticoeração Económica é o instrumento comercial mais poderoso da UE. França lidera iniciativa para ativá-lo caso negociações com EUA falhem e conta com apoio de meia dúzia de países.

Um número crescente de Estados-Membros da União Europeia (UE) defende que o bloco deverá ativar o Instrumento Anticoeração Económica, o instrumento comercial mais poderoso da instituição, contra os Estados Unidos, caso as partes não cheguem a acordo e o presidente norte-americano avance com as tarifas anunciadas de 30% sobre os produtos europeus.

A iniciativa é liderada pela França e conta com o apoio de mais de meia dúzia de capitais europeias, avança esta quarta-feira a Bloomberg (notícia em inglês), que apurou a informação junto de várias fontes. O ECO questionou o gabinete do primeiro-ministro, Luís Montenegro, na segunda-feira sobre a posição de Portugal sobre a ativação do instrumento anticoeração, mas até à publicação deste artigo não obteve resposta.

Como o ECO explicou aqui, na caixa de ferramentas, a União Europeia tem ao dispor o Instrumento de Anticoerção Económica, conhecido pela sigla em inglês ACI, desenhado em 2021 após as restrições comerciais que a China impôs à Lituânia depois de o país anunciar uma melhoria das relações comerciais com Taiwan e disponível na legislação europeia desde dezembro de 2023.

Ativação do ACI permite à UE avançar com contramedidas, que incluem a imposição de tarifas, restrições ao comércio de serviços e ao acesso a investimento estrangeiro direto e compras públicas.

Esta ferramenta pode ser ativada numa “situação em que um país terceiro tenta pressionar a UE ou um Estado-membro a fazer uma escolha específica aplicando, ou ameaçando aplicar, medidas que afetam o comércio ou o investimento contra a UE ou um Estado-membro”.

A questão terá sido abordada na reunião de segunda-feira dos ministros do Comércio da União Europeia, em Bruxelas, na qual se debateu a resposta europeia ao anúncio do presidente norte-americano da imposição de tarifas de 30% sobre todos os produtos da União Europeia, independentemente de todas as tarifas setoriais.

De acordo com a Bloomberg, há contudo Estados-Membros mais cautelosos sobre a ativação do instrumento anticoeração, com receio de que a guerra comercial se intensifique ainda mais, enquanto outros países ainda não se posicionaram.

O ministro francês para Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, defendeu que a resposta de Bruxelas deveria incluir a opção de usar esta ferramenta.“Nesta negociação, é preciso demonstrar força, unidade e determinação”, disse à Bloomberg Television na segunda-feira. No entanto, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, considerou no domingo que “o ACI foi criado para situações extraordinárias”. “Ainda não chegamos lá”, disse.

A ativação do ACI permite à UE avançar com contramedidas, que incluem a imposição de tarifas, restrições ao comércio de serviços e aspetos relacionados com o comércio de direitos de propriedade intelectual, e restrições ao acesso a investimento estrangeiro direto e compras públicas.

O regulamento comunitário prevê ainda que “as medidas de resposta da UE estão disponíveis apenas como último recurso e sujeitas a uma série de condições – mas podem ser implantadas rapidamente, se necessário”. Estas “devem ser proporcionais” e “direcionadas e temporárias (ou seja, aplicar-se somente enquanto a violação se aplicar”.

A Comissão Europeia continua em negociações com os Estados Unidos até 1 de agosto para um acordo que evite a aplicação das taxas anunciadas por Donald Trump no domingo. Apesar dos esforços para alcançar um acordo comercial com os EUA, a União Europeia tem em cima da mesa uma lista de possíveis contramedidas que passam por aplicar tarifas sobre a importação de bens norte-americanos no valor de 72 mil milhões de euros.

Na mira da Comissão Europeia encontram-se aeronaves da Boeing, automóveis, bourbon, maquinaria, produtos químicos e plásticos, dispositivos médicos, equipamento elétrico, vinhos e outros produtos agrícolas, noticiam a Reuters e o Politico esta terça-feira.

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Ativistas da Climáximo invadem sede da Galp… contra “onda de calor”

  • ECO
  • 16 Julho 2025

Os ativistas espalharam 284 cruzes na sede da Galp, em mais uma ação de invasão de propriedade alheia. Ações como esta foram condenadas em tribunal com penas de prisão suspensas.

O grupo de ativistas pelo clima Climáximo invadiu, esta manhã, a sede da Galp em Lisboa, para uma ação de protesto. Reclamando-se ativistas do clima, mas com uma agenda ambiental, política e ideológica, colocaram 284 cruzes no átrio de entrada da empresa petrolífera, em representação das quase três centenas de pessoas que a Direção Geral de Saúde afirma terem falecido entre 28 de junho e os primeiros dias de julho, na sequência das elevadas temperaturas.

O objetivo foi “denunciar a sua culpa [da Galp] num verdadeiro massacre: a onda de calor que assolou Portugal entre o final de junho e o início de julho”, lê-se no comunicado, enviado pelo grupo às redações. ”

O grupo de ativistas responsabiliza a Galp, mas atira que “este massacre não aconteceu apenas em Portugal. Estima-se que o calor extremo tenha matado 2300 pessoas em 12 cidades diferentes da Europa”. De acordo com o jornal The Guardian, que citou cientistas, “o colapso climático triplicou o número de mortes nesta onda de calor de junho”.

Este tipo de intervenção da Climáximo já foi alvo de condenações em tribunal. No ano passado, por exemplo, os seis elementos do movimento Climáximo que invadiram o aeródromo em Tires, Cascais, em dezembro de 2023 foram condenados a 15 meses de prisão, com pena suspensa por igual período, segundo a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL). Segundo a nota da PGDL, o tribunal “deu como provado que, no dia 6 de dezembro de 2023, os arguidos, membros de uma organização ativista ambiental, acederam à zona reservada de segurança do Aeródromo Municipal de Cascais e, de seguida, acorrentaram-se ao trem de aterragem de uma aeronave aí estacionada, bem como a pulverizaram com tinta”.

(Notícia atualizada com informação sobre condenação de ativistas da Climáximo em tribunal)

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Câmara de Loures confirma demolição de quatro construções no Talude na terça-feira

  • Lusa
  • 16 Julho 2025

Das 51 famílias que ocupavam as construções precárias entretanto demolidas, "24 deslocaram-se aos serviços sociais da câmara municipal".

A Câmara Municipal de Loures confirmou esta quarta-feira terem sido demolidas na terça-feira quatro construções ilegais no Bairro do Talude Militar, antes da suspensão decretada por tribunal na sequência de uma providência cautelar interposta por moradores.

A autarquia, no distrito de Lisboa, iniciou na segunda-feira uma operação de demolição de 64 habitações precárias construídas pelos próprios moradores no Talude Militar, onde vivem 161 pessoas.

Além das 51 construções demolidas no primeiro dia, na terça-feira de manhã (antes da suspensão dos trabalhos) foram deitadas abaixo quatro, disse à agência Lusa fonte da câmara. O total de demolições passa, assim, a ser de 55.

O movimento Vida Justa, que tem acompanhado os moradores, já tinha referido na terça-feira terem sido destruídas pelo menos quatro construções.

Na terça-feira, a autarquia tinha anunciado em comunicado que uma das 51 famílias do Bairro do Talude Militar “foi encaminhada para um centro de acolhimento” e outras duas “para uma unidade hoteleira”.

Contactada esta quarta-feira pela Lusa, fonte do município liderado por Ricardo Leão (PS) disse que no primeiro dia um casal com dois menores e uma família monoparental com um menor tiveram apoio para uma noite, estando em análise agora outras opções.

“A terceira família que ia ficar no centro de acolhimento e cujo apoio foi dado pelo ISS [Instituto da Segurança Social] acabou por recusar”, tendo regressado ao Bairro do Talude Militar, indicou.

Na sequência das operações levadas a cabo na segunda-feira, a autarquia esclareceu que nesse dia, das 51 famílias que ocupavam as construções precárias entretanto demolidas, “24 se deslocaram aos serviços sociais da câmara municipal”.

O Executivo camarário disse também que foi “prestado apoio alimentar e apresentada a possibilidade de a câmara assegurar o pagamento de um mês de caução e outro de renda, como apoio ao arrendamento no mercado habitacional”.

O movimento Vida Justa deu conta, ainda na segunda-feira, de que as famílias desalojadas iriam pernoitar em tendas, na zona, e numa igreja local, mas na terça-feira explicou que 90% dormiu “ao relento, em colchões, no bairro”.

O município não deu mais dados sobre a situação habitacional das restantes famílias e lembrou que as operações previstas para terça-feira foram suspensas por determinação do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa “a título provisório”, na sequência de uma providência cautelar, pelo que “cumprirá integralmente a decisão”.

A autarquia reafirmou na terça-feira que “não pode nem aceitará que se consolide a perceção de que a construção de habitações precárias é uma resposta legítima a esse problema; muito menos poderá permitir que a edificação ilegal de barracas represente uma via automática para a atribuição de habitação pública”.

A lista de espera para pedidos de casas, de pessoas “inscritas e avaliadas nos termos legais”, é atualmente de cerca de 1.000.

As construções precárias, acrescentou, “representam um risco grave para a segurança, a saúde pública e a dignidade, tanto dos seus ocupantes como da comunidade em geral”.

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Comissão de Proteção de Dados abre processo por divulgação dos nomes de menores pelo Chega

  • Lusa
  • 16 Julho 2025

A divulgação dos nomes foi feita por André Ventura durante o debate parlamentar às alterações da lei da nacionalidade.

A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) abriu um processo de averiguações sobre a divulgação de nomes de menores, alunos numa escola em Lisboa, por parte do líder do Chega no Parlamento, foi anunciado esta quarta-feira.

“A CNPD informa que, na sequência das diversas queixas apresentadas, foi aberto um processo de averiguações que corre os seus termos legais”, respondeu esta quarta-feira instituição à Agência Lusa.

Tendo em conta que o processo está a decorrer, “a CNPD não se pode pronunciar” sobre o número de queixas, nem os motivos, pode ainda ler-se na resposta.

Dirigentes associativos, partidos políticos e cidadãos anunciaram publicamente que iriam apresentar queixa contra o facto de o Chega ter divulgado nomes de origem estrangeira de crianças que frequentam uma escola portuguesa, considerando que passaram à frente na lista de menores de nacionalidade portuguesa.

O organismo presidido por Paula Meira Lourenço irá avaliar o caso, e caso seja dada razão às queixas, por violação do Regime Geral de Proteção de Dados (RGPD), o alvo pode ter de pagar uma multa.

A divulgação dos nomes foi feita durante o debate parlamentar às alterações da lei da nacionalidade.

“Estes senhores são zero portugueses”, disse André Ventura, perante os aplausos de pé da sua bancada.

Da bancada do PS, ouviu-se “isso é crime” e todos os partidos de esquerda contestaram o facto de o presidente então em exercício do parlamento, o socialista Marcos Perestrelo, tenha autorizado aquilo que diziam ser um “número para ser replicado em redes sociais”, quando não se sabe sequer qual o tipo de nacionalidade desses menores.

Marcos Perestrelo disse que os nomes não permitiam identificar as crianças em causa, uma posição secundada pelo presidente da Assembleia, José Pedro Aguiar-Branco.

Na véspera, a deputada Rita Matias leu igualmente, num vídeo no TikTok, os nomes de alunos com nomes e apelidos estrangeiros dessa lista.

No debate parlamentar, André Ventura disse que a lista era “pública”, mas Rita Matias admitiu posteriormente que não tinha confirmado a “veracidade” dos nomes.

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Taxa Euribor desce a três, a seis e a 12 meses

  • Lusa
  • 16 Julho 2025

Esta quarta-feira, as taxas Euribor desceram em todos os prazos: a três meses para 2,021%, a seis meses para 2,069% e a 12 meses para 2,089%.

A taxa Euribor desceu esta quarta-feira a três, a seis e a 12 meses em relação a terça-feira e manteve-se acima de 2% nos três prazos. Com estas alterações, a taxa a três meses, que recuou para 2,021%, manteve-se abaixo das taxas a seis (2,069%) e a 12 meses (2,089%).

  • A taxa Euribor a seis meses, que passou em janeiro de 2024 a ser a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, desceu para 2,069%, menos 0,010 pontos do que na terça-feira.
  • No prazo de 12 meses, a taxa Euribor também baixou, ao ser fixada em 2,089%, menos 0,019 pontos.
  • No mesmo sentido, a Euribor a três meses caiu para 2,021%, menos 0,021 pontos do que na sessão anterior.

Dados do Banco de Portugal (BdP) referentes a maio indicam que a Euribor a seis meses representava 37,75% do stock de empréstimos para a habitação própria permanente com taxa variável. Os mesmos dados indicam que as Euribor a 12 e a três meses representavam 32,32% e 25,57%, respetivamente.

As médias mensais da Euribor voltaram a cair em junho nos dois prazos mais curtos, menos intensamente do que nos meses anteriores e de forma mais acentuada a três meses. Já a 12 meses, a média mensal da Euribor manteve-se em 2,081%. A média da Euribor em junho desceu 0,103 pontos para 1,984% a três meses e 0,066 pontos para 2,050% a seis meses.

Na última reunião de política monetária em 4 e 5 de junho, em Frankfurt, o Banco Central Europeu (BCE) desceu as taxas de juro em 0,25 pontos base, tendo a principal taxa diretora caído para 2%. Esta descida foi a oitava desde que a instituição liderada por Christine Lagarde iniciou este ciclo de cortes em junho de 2024 e, segundo os analistas, deverá ser a última deste ano. A próxima reunião de política monetária do BCE está marcada para 23 e 24 de julho em Frankfurt.

As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 19 bancos da Zona Euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

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Preços das casas disparam 18,7% no primeiro trimestre na maior subida em seis anos

A subida dos preços da habitação voltou a bater um recorde, com a Grande Lisboa a continuar a liderar os preços mais elevados, enquanto o volume de transações cresceu 24,9%.

O mercado imobiliário nacional registou no primeiro trimestre de 2025 a maior escalada de preços desde que o Instituto Nacional de Estatística (INE) começou a medir estes dados em 2019, com quatro concelhos a ultrapassarem os 20% de crescimento homólogo. A Grande Lisboa continua a liderar os preços mais elevados, enquanto o volume de transações cresce 24,9%.

Com uma variação homóloga de 18,7%, o preço mediano por metro quadrado das casas transacionadas em Portugal acelerou face aos 15,5% registados no trimestre anterior, estabelecendo um novo recorde histórico.

Esta escalada representa “a variação mais elevada desde o início da série (1.º trimestre de 2019)”, segundo o documento oficial do INE divulgado esta terça-feira, confirmando o que muitos analistas do setor já antecipavam: o mercado imobiliário português continua numa trajetória ascendente imparável, mesmo face ao cenário económico global de incertezas.

Os preços da habitação aceleraram em 16 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes no primeiro trimestre, sendo que quatro concelhos se destacaram ao registarem aumentos acima dos 20%.

O preço mediano dos 40.163 alojamentos familiares transacionados em Portugal no primeiro trimestre fixou-se nos 1.951 euros por metro quadrado (€/m²), um valor que representa não apenas uma subida homóloga de 18,7%, mas também um aumento de 4,3% face ao último trimestre de 2024 e quase o dobro dos 1.065€/m² praticados há seis anos.

Além disso, os números do INE revelam que nos primeiros três meses do ano o número de transações de alojamentos familiares em Portugal aumentou 24,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, apesar de ter ficado 9% abaixo das mais de 44 mil transações realizadas no último trimestre de 2024, seguindo o padrão sazonal típico do setor imobiliário, onde o início do ano tradicionalmente regista menor atividade.

Subida dos preços supera 20% em quatro concelhos

“As sub-regiões com preços medianos da habitação mais elevados – Grande Lisboa, Algarve, Região Autónoma da Madeira, Península de Setúbal e Área Metropolitana do Porto – apresentaram também os valores mais elevados em ambas as categorias de domicílio fiscal do comprador (território nacional e estrangeiro)”, sublinha também o relatório do INE, evidenciando como as zonas mais procuradas continuam a concentrar os investimentos tanto nacionais quanto estrangeiros.

A análise municipal revela que “os preços da habitação aceleraram em 16 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes” no primeiro trimestre, sendo que quatro concelhos se destacaram ao registarem aumentos acima dos 20% de crescimento homólogo. Santa Maria da Feira liderou este pelotão com uma impressionante subida de 27,0%, seguida pela Maia (22,7%), Guimarães (22,7%) e Vila Nova de Famalicão (22,6%)1. Oeiras, com 21,4%, completa o grupo dos municípios que registaram as maiores acelerações.

O documento do INE destaca que “os municípios de Santa Maria da Feira (mais 15,8 pontos percentuais) e de Cascais (mais 14,8 pontos percentuais) apresentaram os maiores acréscimos” quando se compara a variação homóloga do primeiro trimestre de 2025 com a do quarto trimestre de 2024, demonstrando como a dinâmica de preços varia significativamente entre diferentes territórios.

Por outro lado, “a maior diminuição na taxa de variação homóloga ocorreu no município do Funchal (-30,2 pontos percentuais)”, enquanto “os municípios de Lisboa e do Porto registaram decréscimos de 1,1 pontos percentuais e 2 pontos percentuais nas taxas de variação homólogas do quarto trimestre do ano passado para o primeiro trimestre de 2025”, sugerindo alguma estabilização nos principais centros urbanos.

No topo da hierarquia dos preços mais elevados, destaque para “os municípios de Lisboa (4.492€/m²), Cascais (4.477€/m²), Oeiras (3.983€/m²), Porto (3.066€/m²) e Odivelas (3.048€/m²) apresentaram os preços da habitação mais elevados”, com todos acima dos 3 mil €/m². A análise por sub-regiões confirma o domínio da Grande Lisboa, que com 3.183€/m² lidera destacadamente, seguida pelo Algarve (2.929€/m²), pela Região Autónoma da Madeira (2.518€/m²), pela Península de Setúbal (2.325€/m²) e pela Área Metropolitana do Porto (2.154€/m²).

No extremo oposto, “a sub-região Beiras e Serra da Estrela apresentou o menor preço mediano de venda de alojamentos familiares (698€/m²)”, evidenciando o fosso que se mantém entre o interior e as zonas costeiras e metropolitanas.

Um dos aspetos mais significativos dos dados do INE referente ao primeiro trimestre é o facto de “o preço mediano da habitação ter aumentado, em relação ao período homólogo de 2024, nas 26 sub-regiões NUTS III, destacando-se o Alto Alentejo com o maior crescimento (51,6%)”. Esta generalização dos aumentos confirma que a pressão inflacionária no mercado imobiliário estendeu-se a todo o território nacional.

O INE sublinha ainda que “no primeiro trimestre de 2025, o menor crescimento homólogo dos preços da habitação (4,5%) foi registado na sub-região Alto Tâmega e Barroso”, mas mesmo esta variação mais modesta representa ainda assim um crescimento substancial num contexto de inflação controlada.

Impacto dos compradores estrangeiros

O documento do INE espelha também o impacto dos compradores estrangeiros no mercado nacional. “No primeiro trimestre de 2025, o valor mediano de alojamentos familiares transacionados em Portugal envolvendo compradores com domicílio fiscal no estrangeiro foi 2.573€/m² (mais 14,5% do que no trimestre homólogo) e o das transações envolvendo compradores com domicílio fiscal em território nacional foi 1.931€/m² (mais 19,5% do que no trimestre homólogo)”.

Particularmente relevante é o facto de “nas sub-regiões Grande Lisboa e Área Metropolitana do Porto, o preço mediano (€/m²) das transações efetuadas por compradores com domicílio fiscal no estrangeiro ter superado, respetivamente, em 52,5% e 32,3%, o preço das transações por compradores com domicílio fiscal em território nacional”, evidenciando como o investimento estrangeiro continua a ser um fator de pressão nos preços das zonas mais procuradas.

Os dados do primeiro trimestre de 2025 confirmam que o mercado imobiliário continua numa trajetória de forte crescimento, alimentada por uma procura robusta tanto nacional quanto estrangeira. A generalização dos aumentos a todas as regiões do país evidencia que a pressão nos preços deixou de ser um fenómeno exclusivo das grandes áreas metropolitanas.

Os territórios periféricos às grandes cidades continuam a registar os maiores crescimentos de preços dos alojamentos familiares, refletindo estratégias de procura por alternativas mais acessíveis face aos preços praticados nos centros urbanos.

A aceleração para 18,7% no crescimento homólogo dos preços, a maior desde 2019, coloca questões importantes sobre a sustentabilidade deste ritmo de crescimento, especialmente num contexto em que o acesso à habitação se torna cada vez mais desafiante para as famílias portuguesas.

Além disso, o aumento de 24,9% no número de transações demonstra que, apesar dos preços elevados, o mercado mantém liquidez, sugerindo que tanto a procura por habitação própria quanto o investimento imobiliário continuam ativos.

Os dados municipais revelam ainda que os territórios periféricos às grandes cidades continuam a registar os maiores crescimentos de preços dos alojamentos familiares, refletindo estratégias de procura por alternativas mais acessíveis face aos preços praticados nos centros urbanos.

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Viticultores deixam carrinhas e tratores e a pé bloqueiam ponte da Régua

  • Lusa
  • 16 Julho 2025

Objetivo era fazerem uma marcha lenta pela cidade, mas a GNR não os deixou entrar e, por isso, estão a tentar bloquear a ponte da Régua.

Viticultores deixaram carrinhas e tratores numa das principais entradas da Régua, e pelas 7h50 foram a pé bloquear a ponte rodoviária que dá acesso à cidade para chamar a atenção para a crise no Douro.

No local, a agência Lusa observou que as viaturas foram deixadas pela avenida que desce até à rotunda conhecida como dos armazéns do Corgo e os manifestantes juntaram-se em cima do tabuleiro da ponte ao som da música “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso e do hino nacional.

O objetivo era fazerem uma marcha lenta pela cidade do distrito de Vila Real, mas como a GNR não os deixou entrar, começaram por deixar alguns tratores e carrinhas em Godim, Peso da Régua, junto à rotunda dos quatro caminhos, de onde um grupo seguiu a pé para se juntar a outros produtores que estavam na entrada do lado aposto da Régua.

“Fomos até onde nos deixaram, as autoridades cercaram a Régua e não nos deixaram passar e agora estamos a tentar bloquear a ponte ver se somos ouvidos e alguém define a nossa vida”, afirmou Jorge Teixeira, produtor e comerciante de Poiares.

O viticultor reclamou medidas concretas. “O senhor ministro da Agricultura fez anúncios, mas sem dados concretos. Concordou na destilação, mas ainda ninguém definiu, e o agricultor não quer andar aqui às cegas, quanto nos pagam pelas uvas para destilação que é para nós sabermos se é rentável ou não continuar a granjear o Douro, se é rentável viver no Douro, se é rentável dizer aos meus filhos que o Douro vale a pena. Nós não queremos um ‘x’, queremos valores concretos, do abstrato estamos nós fartos. Vivemos há mais de 30 anos no abstrato”, salientou.

O Ministério da Agricultura e Mar anunciou um plano de ação para o Douro e uma das medidas que está em cima da mesa é a de usar “uvas para vinho a destilar” e tem como objetivos reduzir os excedentes de vinho na RDD, através do escoamento de uvas excedentárias, e assegurar diretamente um rendimento mínimo ao viticultor.

Porque não se sabe a adesão dos produtores, a quantidade de uvas que poderá ir para destilação e o montante final, a medida ainda tem que ser ajustada, mas será operacionalizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), mediante contrato prévio entre viticultor, vinificador e destilador e prevê a submissão da candidatura até 15 de setembro.

Jorge Teixeira disse que o “Douro é vinha, não é o turismo”. “E sem nós isto não existe e a economia não anda. Tudo à volta do Douro gere-se com vinho”, sublinhou.

Tiago Fonseca é de São João da Pesqueira e disse também que a GNR barrou aos manifestantes com tratores e veículos de tração “qualquer entrada no Peso da Régua”, sejam entradas principais ou secundárias.

“É difícil. O Governo não está a olhar para isto com olhos de ver e estamos a poucos dias da vindima e ainda não temos comunicado de vindima, ainda não sabemos o que vamos fazer às nossas uvas e queremos soluções porque vai haver miséria social no Douro, sem precedentes”, salientou.

Tiago Fonseca era emigrante na Suíça e regressou há três anos para tomar conta da vinha. “Não estou arrependido, estou junto da família e a lutar pelo que eu quero. Só temos é que nos fazer ouvir”, afirmou, defendendo medidas concretas a curto, médio e longo prazo. Salientou que os produtores precisam de saber a que preço vão vender as uvas, quem lhes fica com as uvas e se vai haver ou não corte no benefício.

O benefício, que é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Poro, foi de 90.000 pipas (550 litros cada) em 2024 e 104.000 em 2023 e, para este ano, o comércio propôs, no conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, a redução para as 68.000 pipas.

Se tivermos corte no benefício é a morte do viticultor. Vai haver muito viticultor a largar vinha, a vender e a cometer loucuras, há muita gente no limite”, sublinhou Tiago Fonseca.

Também proveniente de São João da Pesqueira, Diogo Cardoso veio protestar contra os cortes de benefício e de não saber onde por as uvas. “Parte delas sei onde as por, as uvas beneficiadas, mas o resto não. São mais de 70 pipas que tenho e não sei onde as por”, lamentou.

O viticultor Albano Fernandes manifestou-se para reclamar uma fiscalização forte no Douro para que o vinho “seja mais genuíno”. “Temos um representante do IVDP que não nos defende”, referiu o agricultor de São João da Pesqueira.

De Valença do Douro, Tabuaço, João Paulo alertou para a perda de rendimentos dos produtores. “Mais benefício, escoamento de uvas e prelos justos” são as suas principais reivindicações.

Gonçalo Rodrigues veio de Cambres, Lamego, porque disse que querem cortar no benefício. “E não pode ser assim, como é que vamos granjear o Douro? As coisas estão caras, a mão-de-obra também e o vinho está cada vez mais barato e ainda querem cortar o benefício e assim não pode ser”, realçou.

Pelas 8h30, os manifestantes saíram do tabuleiro da ponte e colocaram-se logo a seguir, na rotunda, à entrada da cidade.

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A renovação foi a razão da saída de António José Teixeira da RTP? “Se houve algo mais, não consigo responder, mas é uma pergunta legítima”

Recentemente exonerado do cargo de diretor de informação da RTP, António José Teixeira diz não saber "se houve algo mais" que justifique a sua saída mas que essa é uma "pergunta que legítima".

“Nunca saberei se calhar completamente todas as razões que possam estar nas circunstâncias por detrás da decisão. A razão que me foi apresentada, de renovação, é uma que eu obviamente devo considerar como motivo para o que aconteceu. Se houve algo mais, eu não consigo responder, mas é uma pergunta que obviamente é legítima“.

As palavras são de António José Teixeira, recentemente exonerado do cargo de diretor de informação da RTP, e foram ditas na audição parlamentar desta quarta-feira. “Sou jornalista há bastantes anos e tenho feito algum exercício de análise política. Poderia até correr o risco de tentar fazê-lo, de alguma forma em causa própria, mas não acho que isso seja obviamente adequado. E portanto deixo para outros a avaliação do que entenderem em relação ao contexto, ao timing, etc“, afirmou também.

O jornalista disse ainda que a decisão da exoneração da direção de informação foi “legítima”. Embora seja “sempre questionável por todos, encaro-a, apesar de me/nos poder ter surpreendido quando ocorreu, com alguma naturalidade no sentido em que os mandatos não são eternos. E nesse ponto de vista é uma decisão legítima”, disse.

A audição de António José Teixeira surgiu por proposta do PS, em dois requerimentos separados, tendo ambos sido aprovados por todos os partidos. Além do ex-diretor de informação, também será ouvido o Conselho de Administração da RTP sobre a demissão do ex-diretor de informação e a reestruturação da empresa pública de rádio e televisão.

A direção de informação da RTP foi demitida a 24 junho pela administração, que anunciou o jornalista Vítor Gonçalves como novo diretor de informação da RTP. A alteração aconteceu na mesma altura em que a gestão anunciou uma reorganização interna, enquadrada nos objetivos do novo Projeto Estratégico para o triénio 2024-2026.

O presidente do conselho de administração da RTP, Nicolau Santos, justificou entretanto a exoneração de António José Teixeira com os resultados da RTP3. No entanto, António José Teixeira reiterou esta quarta-feira as dúvidas quanto a este argumento, que já tinha apontado num artigo de opinião.

Apesar de haver mais operadores no mercado, os resultados da RTP3 não se alteraram nos últimos três anos. Com isto não quero dizer que estamos satisfeitos com eles. Espero ter oportunidade de desenvolver este tema porque temos vindo a trabalhar e a empresa tem vindo a investir significativamente para melhorar as condições de trabalho e a imagem do canal, que está muito desgastada, e que há 20 anos não era objeto de investimento significativo”, disse na audição parlamentar.

António José Teixeira sublinhou ainda que a RTP “não tem como primeira justificação combater a concorrência no mercado”, mas sim a obrigação de “ser distintiva e oferecer um serviço de qualidade aos portugueses“. “E isso não é uma questão deste ou daquele conselho de administração. Faz parte do contrato de concessão de serviço público, das suas obrigações, do plano estratégico e do modelo de governação que a RTP tem desde que Miguel Poiares Maduro lhe deu forma e garantiu condições de autonomia que são muito relevantes para a empresa”, acrescentou.

Sobre possíveis pressões e condicionamentos, disse já ter convivido “com muitos Governos de cores diversas”. “E quando digo que há sempre pressões, houve sempre pressões, existirão sempre pressões, é porque isso faz parte da nossa vida. A sociedade tem interesses. Nunca me ouviram, ao longo dos anos, queixar-me que fui objeto de pressões. Acho que não faz muito sentido, o que faz sentido é se as pessoas convivem, resistem e acabam por fazer o seu trabalho independentemente das pressões”.

O jornalismo deve ser independente por natureza e não por ser serviço público. O serviço público deve ser independente apenas ainda de uma forma mais acrescida. E acho que é preciso e é importante que a Assembleia da República também se preocupe com um jornalismo livre e independente no país, não apenas na RTP, que tenha condições de trabalho, um ambiente político que o favoreça, para que continue a ser livre e independente e faça o devido escrutínio dos poderes. Na RTP também pensamos assim e também foi assim que trabalhámos e espero que continue a ser assim que vamos continuar a trabalhar”, acrescentou.

A alteração na direção de informação foi comunicada sem que a administração tenha ouvido previamente o Conselho de Redação da RTP, contrariando um norma da Lei da Televisão segundo a qual “a designação e a demissão do responsável pelo conteúdo informativo dos serviços de programas televisivos são da competência do operador de televisão, ouvido o Conselho de Redação.”

Essa ausência levou os membros eleitos do Conselho de Redação da televisão a denunciarem o facto de este órgão não ter sido auscultado. O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) também notificou a administração da RTP para “reiterar” que a gestão tem a “obrigação legal” de solicitar “a pronúncia do Conselho de Redação previamente à decisão de destituir e nomear diretores de informação dos serviços de programas televisivos do operador de serviço público”.

António José Teixeira disse esta quarta-feira que não se pronuncia em relação à legalidade dos procedimentos, mas adiantou que já foi ouvido pela ERC e que o conselho de administração também já solicitou o conselho de redação os devidos pareceres tanto sobre a exoneração como sobre a nomeação do novo diretor de informação.

“Sobre se as formalidades foram ou não respeitadas, obviamente que há mecanismos que têm de ser observados nestas matérias e julgo que eles estão a correr nesta altura. Julgo que foram tomadas as decisões devidas, independentemente se foi no tempo certo ou se podia ser mais rápido ou não”, acrescentou.

Com a reestruturação anunciada, o organograma da RTP passa a estar organizado em quatro grandes áreas de atividade e será subdividido em 28 direções, em vez das 39 atuais: corporativa (10), operações (4), conteúdos temáticos (7) e conteúdos programáticos (7). Ao mesmo tempo, o número de diretores e diretores-adjuntos passa de 30 para 23, segundo um comunicado emitido pelo conselho de administração no dia em que foi anunciada a exoneração de António José Teixeira.

No âmbito da renovação e qualificação dos trabalhadores, o plano elegia também como fatores críticos de sucesso o lançamento de um plano de saídas e novas contratações “com competências digitais”, a realização de um programa de formação “multiplataforma, inteligência artificial e funções técnicas” e manutenção da paz social, com “maior participação, mecanismos de motivação e maior transparência na comunicação”.

Recorde-se que a primeira fase do plano de saídas voluntárias da RTP, cujas candidaturas terminaram a 18 de abril, contou com mais de 130 candidatos, um número que se situou “acima do previsto”. O custo previsto para esta fase situava-se na ordem dos 5,5 milhões de euros. Uma segunda fase de saídas voluntárias está prevista para o final do ano, mas dependerá de financiamento.

Além do plano de rescisões, a empresa tem em curso investimentos de cerca de 16 milhões na remodelação de instalações, nomeadamente os estúdios, e na compra de material. Nicolau Santos refere que foi pedido – e já autorizado pelo Governo – um financiamento de 40 milhões de euros. Em 2025, a RTP deverá ter um prejuízo de 18,2 milhões de euros, interrompendo 15 anos consecutivos de lucros, estima o presidente. O regresso aos lucros deverá acontecer em 2027.

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Portugal volta a pagar menos de 2% por emissão a um ano

O Estado pagou 1,906% para se financiar em 1.000 milhões de euros a um ano, ficando abaixo da última emissão comparável, realizada em maio, estando já a pagar o mesmo que em 2022.

A República regressou esta quarta-feira ao mercado de dívida para se financiar em 1.000 milhões de euros a um ano, ficando assim no limite mínimo do montante indicativo, que se estendia entre 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros.

Num leilão promovido esta quarta-feira pela Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida do Estado – IGCP, o Estado pagou por esta emissão 1,906%, realizada através da linha de Bilhetes do Tesouro com maturidade a 17 de julho do próximo ano, que contou com uma procura 2,83 vezes acima da oferta.

O mercado continua numa trajetória descente nas taxas de curto prazo, numa tentativa de antecipação de um corte de taxas em 25 pontos base por parte do Banco Central Europeu, que a acontecer, deverá ser no pós verão”, refere Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

Na última operação com características semelhantes, realizada a 21 de maio, o Tesouro pagou 1,949% para emitir 900 milhões de euros, tendo contado na altura com uma procura 2,74 vezes acima da oferta.

Além da operação desta quarta-feira ter resultado num preço ligeiramente inferior ao alcançado no último leilão equiparável, foi a segunda vez consecutiva que a República pagou menos de 2% por uma emissão a um ano. É preciso recuar a 2022 para encontrar preços de financiamento da República desta ordem.

Este foi o oitavo leilão de Bilhetes do Tesouro realizado pelo IGCP desde o arranque do ano, tendo até antes da realização desta operação contabilizado cera de 2.000 milhões de euros de emissões líquidas (diferencial entre emissões e resgates) de Bilhetes do Tesouro.

E segundo o programa de financiado da República para o terceiro trimestre, e já contabilizando a emissão de 1.000 milhões de euros da emissão desta quarta-feira, o Tesouro espera realizar até ao final do ano 2.700 milhões de euros de emissões líquidas.

Notícia atualizada às 12h21 com declarações de Filipe Silva

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Ricardo Salgado já tem estatuto de maior acompanhado

O Ministério Público pediu, em outubro, o estatuto de maior acompanhado para Salgado, no âmbito do caso BES/GES, tendo em conta o estado de saúde do ex-banqueiro, que sofre de Alzheimer.

Ricardo Salgado, o ex-homem forte e líder do Banco Espírito Santos (BES), agora arguido em vários processos judiciais, incluindo o do BES/GES, não sabe dizer o seu nome (nem o de familiares diretos), não consegue descrever o que faz durante o dia, nem expressar qualquer necessidade básica, como fome, frio ou calor. Não sabe dizer onde vive, onde está, andar sozinho na rua, orientar-se no tempo, dizer os dias da semana, os meses, estações do ano ou as horas.

Perante este cenário revelado em várias perícias, o tribunal judicial da comarca de Lisboa, do juízo cível de Cascais, decidiu atribuir o estatuto de maior acompanhado a Ricardo Salgado, tendo nomeado como acompanhante a sua mulher, Maria João Salgado. O Tribunal fixou também a data de 1 de janeiro de 2019, como a data em que as medidas de acompanhamento se tornaram convenientes. O Ministério Público (MP) tinha pedido esse mesmo estatuto, em outubro, tendo em conta o estado de saúde do ex-líder do BES – que sofre da doença de Alzheimer em estado avançado – e a forma como decorreu a identificação do ex-banqueiro no primeiro dia de julgamento de um dos mais complexos processos da justiça portuguesa.

Assim, segundo a sentença datada de 8 de Julho deste ano e a que o ECO/Advocatus teve acesso, Ricardo Salgado “encontra-se desorientado na sua pessoa, não sabe dizer a sua idade atual, nem data de nascimento”. Bem como não consegue cozinhar as suas refeições, nem tomar medicamentos, realizar a sua higiene pessoal, escolher a roupa ou vestir-se, fazer compras, executar
tarefas domésticas, marcar ou deslocar-se a consultas médicas. Para tudo isto, precisa de ajuda. Já não consegue assinar (só sabe escrever o seu nome), não reconhece o dinheiro, não é capaz de realizar pagamentos e desconhece o valor económico dos bens, embora consiga efetuar contas simples.

Posto isto, não tem capacidade para gerir os seus rendimentos no dia-a-dia, nem de entender o conteúdo de documentos, mesmo que sejam explicados. “Em consequência da doença que sofre, o beneficiário mostra-se impossibilitado de exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos pessoais de administrar a sua pessoa ou os seus bens, casar, procriar, perfilhar ou adotar;
e cuidar e educar os filhos ou os adotados. Bem como de deslocar-se no país ou no estrangeiro, estabelecer relações com quem entender, elaborar testamento ou elaborar diretiva antecipada de vontade ou procuração de cuidados de saúde”, diz a sentença.

A decisão sublinha ainda que, em 2023, “na sequência de observação médica, registou novamente agravamento significativo do estado de saúde global, nomeadamente, agravamento da memória e outras funções cognitivas, alteração do comportamento, da marcha e desequilíbrio com risco de quedas, episódios de incontinência, perda progressiva de autonomia para realização de
atividades básicas da vida diária (ex: higiene pessoal, alimentação, administração da medicação)”.

E relembra que, na sequência de avaliação neuropsicológica, concluiu-se que Salgado “preenche critérios de diagnóstico de demência de gravidade moderada, mantendo-se, pelas suas características, no contexto da doença de Alzheimer. “Em consequência do que se torna indispensável nomear-lhe alguém que o represente juridicamente nos direitos pessoais e atos da vida corrente de forma permanente, administrando ainda os seus bens”, diz ainda o juíz.

Ricardo Espírito Santo Salgado. TIAGO PETINGA/LUSATIAGO PETINGA/LUSA

O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014. Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.

Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.

A defesa de Ricardo Salgado, em outubro, congratulou-se que o MP tenha “reconhecido a situação” de incapacidade do ex-banqueiro, mas disse que o estatuto de maior acompanhado não resolve o problema. “Não altera nada”, vincou o advogado Francisco Proença de Carvalho, observando que, apesar de o MP ter proposto o estatuto de maior acompanhado para Ricardo Salgado, este “já tem a sua cuidadora informal”, que é a mulher, Maria João Salgado, a qual “é uma pessoa absolutamente essencial” para o seu cliente.

O que é o estatuto de maior acompanhado?

O regime do acompanhamento tem como objetivo “garantir o bem-estar, a recuperação, o pleno exercício dos seus direitos e a observância dos deveres do adulto, focando-se na pessoa e não apenas no seu património”.

Cabe ao tribunal decidir se é adequado o acompanhamento ou não, podendo ser requerido, independentemente de autorização, pelo Ministério Público, mas também pelo próprio ou, mediante autorização deste, pelo cônjuge, pelo unido de facto ou por qualquer parente sucessível. Mas a autorização do beneficiário pode ser retirada pelo tribunal.

Em termos de prazos, o acompanhamento pode ser requerido no decorrer do ano anterior ao da maioridade do beneficiário, para que possa produzir efeitos a partir desta, ou a todo o tempo, na maioridade. “No caso de ser requerido na menoridade, as responsabilidades parentais ou a tutela manter-se-ão até haver decisão transitada em julgado sobre o acompanhamento”, explicam.

Será o acompanhado ou o seu representante legal que escolhem o acompanhamento. Mas, na falta de escolha, o acompanhamento é atribuído à pessoa que melhor proteja o interesse do beneficiário, havendo uma ordem de referência não taxativa. Por norma, o cônjuge, os descendentes e os ascendentes não se podem escusar ou ser exonerados. A lei prevê que pode ser designado mais do que um acompanhante em simultâneo repartindo as funções. “O acompanhante tem o dever de se abster de agir em situação de conflito de interesses com o acompanhado”, referem.

“O acompanhamento deve limitar-se ao mínimo indispensável. Porém, em função de cada caso e independentemente do pedido, pode o tribunal atribuir ao acompanhante as funções associadas aos seguintes regimes: o exercício das responsabilidades parentais ou dos meios de as suprir; a representação geral ou representação especial com indicação expressa das categorias de atos para que seja necessária; a administração total ou parcial de bens; a autorização prévia para a prática de determinados atos ou categoria de atos e intervenções de outro tipo, que estejam devidamente explicitadas”, lê-se.

Entre as funções do acompanhante está o dever de assegurar o bem-estar e a reabilitação do acompanhando, “mantendo de forma permanente o contacto com ele”. No mínimo, as visitas devem ser mensais ou outra periodicidade considerada apropriada pelo tribunal. “O processo de acompanhamento tem natureza urgente e aplica-se-lhe as regras da jurisdição voluntária, com as necessárias adaptações”, explicam.

O pedido efetuado ao Ministério Público deve ser acompanhado de toda a documentação disponível relativamente ao beneficiário e ainda da respetiva família. Quando instaurada pelo Ministério Público, o adulto beneficiário de acompanhamento está isento de custas processuais. O tribunal revê as medidas de acompanhamento de acordo com a periodicidade que constar da sentença e, no mínimo, de cinco em cinco anos.

A primeira sessão de julgamento com Salgado presente, a 15 de outubro de 2024

No dia 15 de outubro, pela manhã, Ricardo Salgado chegava ao Campus de Justiça, em Lisboa. Acompanhado pelos advogados de defesa e pela mulher, Maria João Salgado, que, com o braço, amparava aquele que em tempos foi chamado de homem forte do BES o “Dono Disto Tudo”. O caminho, de pouco mais de 100 metros do carro até à porta do tribunal, foi demorado, custoso e com uma enchente de jornalistas, câmaras de televisão e mesmo um lesado do BES a bloquear a sua passagem. Já só quando estava prestes a chegar à porta do Edifício A do campus é que a polícia, impávida até então, decidiu agir e desimpedir o caminho.

Já dentro da sala de audiências, o arguido foi questionado pela juíza Helena Susano, a juiz presidente do coletivo. Salgado foi identificado e, questionado sobre o nome da sua mãe, respondeu “pode ser”. De seguida disse que foi banqueiro, mas não se recordou do nome da rua onde reside, em Cascais.

A juíza questionou ainda o arguido: “Quer que o julgamento decorra sem a sua presença?”. Repetindo por duas vezes e falando mais alto, insistiu: “Quer estar aqui?”. Maria João Salgado advertiu a magistrada que Ricardo Salgado não compreende o que lhe quer dizer. “Acho que é pacífico que o meu cliente tem a doença que tem. Não podemos fazer mais”, explicou o advogado de defesa, Francisco Proença de Carvalho.

Minutos depois, Francisco Proença de Carvalho pediu à juíza para falar com o seu cliente. Neste momento, perguntou ao seu cliente se queria ficar ou sair. A resposta de Ricardo Salgado foi “sim”. Salgado acabou mesmo por sair da sala de audiência, acompanhado por Maria João Salgado.

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