Preço global dos seguros baixou no primeiro trimestre

  • ECO Seguros
  • 28 Abril 2025

O mercado global de seguros está a beneficiar da maior capacidade disponível no mercado segurador, impulsionada por uma maior concorrência entre seguradoras e pela redução dos custos de resseguro.

Os preços dos seguros caíram, em média, 3% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior. É a terceira queda consecutiva dos prémios de seguro, após sete anos de aumentos das taxas.

Luís Sousa, diretor de placement da Marsh Portugal: “Esperamos que esta tendência geral se mantenha e que a concorrência entre seguradoras se intensifique, salvo alterações inesperadas nas condições do mercado”.

Estes dados foram divulgados pela Marsh, empresa de consultoria de riscos e corretagem de seguros da Marsh McLennan, no estudo Global Insurance Market Index.

Impulsionadas pelo aumento da concorrência entre seguradoras e por preços de resseguro favoráveis, as tendências globais no setor dos seguros comerciais continuaram a melhorar, em média, para os nossos clientes no primeiro trimestre de 2025, com exceção do ramo de responsabilidades nos EUA”, afirmou Luís Sousa, Diretor de Placement da Marsh Portugal.

A dinâmica de descida dos preços é particularmente evidente nos ramos de seguros de danos materiais, financeiros e profissionais, assim como no segmento cibernético, segmentos onde as seguradoras estão ativamente à procura de novas oportunidades de negócio e a expandir a sua oferta, lê-se no comunicado da companhia.

Nenhuma região escapou à tendência no primeiro trimestre do ano. A região do Pacífico sofreu a maior queda de preços, de 8%, de seguida surge o Reino Unido com os seguros a ficarem mais baratos 6%. Na Índia, Médio Oriente e África (IMEA), os prémios caíram 4%, na Ásia e no Canadá 3%. A descida dos prémios foi menos acentuada na América Latina e Caraíbas (ALC), onde os prémios caíram 2% e nos Estados Unidos e na Europa, onde os preços dos seguros caíram 1%.

“Esperamos que esta tendência geral se mantenha e que a concorrência entre seguradoras se intensifique, salvo alterações inesperadas nas condições do mercado”, refere Luís Sousa.

No entanto, a tendência de queda dos preços não é transversal a todos os segmentos de seguro. Os seguros de responsabilidade civil andam em contraciclo ao subir 4% dos preços a nível global no primeiro trimestre.

Este aumento foi impulsionado, sobretudo, por um crescimento de 8% nos Estados Unidos, devido à frequência e gravidade crescentes dos sinistros de responsabilidade civil, muitos dos quais se destacam por indemnizações elevadas. A capacidade disponibilizada pelas seguradoras para este segmento nos EUA manteve-se limitada no primeiro trimestre. Nas restantes geografias também se registaram aumentos ou reduções ligeiras.

Os prémios dos seguros de danos materiais caíram 6% a nível global, após uma descida de 3% no quarto trimestre de 2024. As maiores reduções foram registadas nos Estados Unidos e na região do Pacífico, de 9% cada uma; no Reino Unido, a redução foi de 6%; na IMEA e na ALC, de 4%; no Canadá, de 3%; e na Europa e na Ásia, de 1%. O mercado global de seguros de danos materiais está a beneficiar de uma maior capacidade disponível no mercado segurador, impulsionada por um melhor desempenho financeiro das seguradoras e pela redução dos custos de resseguro, indica o estudo.

Já as taxas para seguros financeiros e profissionais diminuíram 6% a nível global, mantendo uma redução homogénea face ao trimestre anterior e com reduções em todas as regiões. Esta descida deve-se à forte concorrência e à capacidade disponível no mercado segurador.

As taxas do seguro de cyber desceram 6% globalmente, após uma queda de 7% no trimestre anterior e com reduções registadas em todas as regiões. Os segurados estão a adotar uma abordagem cada vez mais proativa na gestão de riscos, muitas vezes utilizando as poupanças obtidas com os prémios de seguro para melhorar as coberturas, reduzir franquias e aumentar os limites contratados.

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AIMA passa só a aceitar pedidos de autorização de residência com toda a documentação

A Agência para a Integração, Migrações e Asilo deixou de aceitar pedidos de concessão e renovação de autorização de residência em Portugal sem a entrega de todos os documentos necessários.

A partir desta segunda-feira, dia 28 de abril, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) vai deixar de aceitar pedidos de concessão e renovação de autorização de residência em Portugal para os estrangeiros sem a entrega de todos os documentos necessários para a análise e decisão.

“A partir do dia 28 de abril de 2025, os pedidos efetuados ao abrigo da Lei dos Estrangeiros, só serão recebidos quando estiverem completos, ou seja, quando contenham todos os documentos que a lei define e exige como necessários para a análise e decisão”, refere a AIMA em comunicado.

Assim, os requerentes devem ser possuidores e apresentar todos os documentos legalmente exigidos. Só assim a AIMA promete uma decisão “rápida” e “célere”.

Não serão aceites no atendimento os pedidos de concessão e renovação de autorização de residência que não estejam completos com todos os elementos exigíveis nos termos da Lei de Estrangeiros e do Decreto Regulamentar n.º 1/2024, de 17 de janeiro.

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EthiFinance confirma estabilidade da dívida portuguesa, mas deixa alertas para a economia nacional

A avaliação da agência de rating francesa destaca Portugal como uma estrela europeia, mas avisa que as tarifas de Trump e a instabilidade política podem deitar por terra o otimismo nacional.

Portugal continua a destacar-se no panorama europeu ao ver confirmada a sua notação soberana em “A-”, com perspetiva “Estável”, pela agência de notação creditícia EthiFinance. No entanto, a agência francesa deixa um alerta: as políticas comerciais dos EUA podem travar o ritmo de crescimento da economia nacional, num contexto global cada vez mais incerto.

A decisão dos analistas da EthiFinance assenta no “desempenho favorável” da economia nacional, “que supera a maioria das economias europeias, com um crescimento do PIB projetado de 2,3% em 2025 e de 2% em 2026, impulsionado pelo consumo privado, dinamismo do turismo, investimento direto estrangeiro e execução dos fundos de recuperação da União Europeia”, lê-se no relatório a que o ECO teve acesso.

Esta avaliação positiva é reforçada por uma “tendência sustentada de crescimento económico” e pela “consolidação de uma política orçamental prudente, com excedentes previstos para 2025 e 2026”, destacam ainda os analistas da EthiFinance.

Contudo, a agência de rating sublinha que “as políticas comerciais da Administração Trump podem levar a uma revisão em baixa destas previsões”, reforçando esse argumento com as estimativas do Banco de Portugal, que apontam para que o PIB possa reduzir “em 1,1 pontos percentuais em três anos”, afetando sobretudo “os setores têxtil, produtos minerais não metálicos e bebidas”.

A instabilidade política, após a convocação das terceiras eleições legislativas para 18 de maio, e o seu impacto no futuro das políticas públicas, podem afetar a classificação de crédito num contexto global de elevada incerteza.

EthiFinance Ratings

A EthiFinance assinala que “a notação continua limitada pelo elevado nível da dívida pública, prevista em 92,9% do PIB em 2025, segundo a Comissão Europeia, embora o governo mantenha o ambicioso objetivo de reduzir a relação dívida/PIB para menos de 80% até ao final da década”, o que, segundo o relatório, colocaria Portugal numa posição mais favorável em comparação com outros países europeus, como França ou Itália, cujas dívidas públicas poderão ultrapassar 120% do PIB.

No plano macroeconómico, os analistas da EthiFinance prevê uma manutenção da robustez do mercado de trabalho, com “uma taxa de desemprego prevista de 6,3% em 2025 e de 6,1% em 2026”, e destaca a “redução progressiva da taxa de inflação, já próxima do objetivo de 2% do Banco Central Europeu”. Ainda assim, persiste “um fosso estrutural ainda por resolver na convergência económica”, com o rendimento per capita (28.643 €) a situar-se abaixo da média da União Europeia.

A agência salienta também a melhoria da posição externa do país, com “um excedente da balança corrente esperado de 1,6% do PIB em 2025 e 2026, além de uma melhoria significativa da Posição de Investimento Internacional Líquida (-56% do PIB em 2024 face a -102% em 2020), o que contribui para reforçar a resiliência face a desequilíbrios externos”.

No setor bancário, o relatório aponta para “um aumento da eficiência e da rentabilidade, favorecidos por taxas de juro elevadas e pelo desalavancamento do setor privado”, com a taxa de incumprimento a descer para 2,4% em 2024 e a rentabilidade sobre ativos (ROA) a subir para 1,38%.

O perfil ESG nacional é considerado sólido pelos analistas da agência francesa, embora “a componente ambiental seja limitada pela elevada intensidade das emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo nos setores dos transportes e da indústria”.

Por fim, a EthiFinance não ignora o ambiente político, marcado por uma crise política desencadeada pela queda do governo, referindo que “a instabilidade política, após a convocação das terceiras eleições legislativas para 18 de maio, e o seu impacto no futuro das políticas públicas, podem afetar a classificação de crédito num contexto global de elevada incerteza”.

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Famílias portuguesas lideram subida da poupança na Zona Euro

Portugal registou o maior aumento (2,1 pontos percentuais) na taxa de poupança no último trimestre do ano passado, com os dados publicados pelo Eurostat a registarem uma taxa de 12,2%.

As famílias portuguesas pouparam mais na reta final do ano passado, contrariando a tendência de diminuição verificada na média da Zona Euro. O crescimento da taxa de poupança em Portugal foi mesmo o mais elevado no quarto trimestre face aos três meses anteriores, de acordo com dados divulgados esta segunda-feira pelo Eurostat.

Entre os Estados-Membros para os quais existem dados disponíveis, a taxa de poupança das famílias aumentou em cinco países e diminuiu em oito. Portugal registou o maior aumento (2,1 pontos percentuais), com uma taxa de 12,2%. Nas maiores subidas registadas seguiu-se a Finlândia (1,5 pontos) e a Dinamarca (um ponto). Ao mesmo tempo, a maior diminuição foi observada na Bélgica (- dois pontos) e na Grécia (-1,3 pontos).

Na média da Zona Euro, a taxa de poupança fixou-se em 15,2% no quarto trimestre, que compara com os 15,3% registados no terceiro trimestre e com os 14,8% no quarto trimestre de 2024.

Por sua vez, o consumo per capita das famílias aumentou 0,4% na Zona do Euro, após um aumento de 0,7% no trimestre anterior. No mesmo período, o rendimento das famílias (ajustado de sazonalidade) aumentou 0,3%, após um aumento de 0,4% no terceiro trimestre de 2024. Já o investimento das famílias nos países do euro caiu 0,1 pontos, para 9,1%.

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Abanca triplica crédito a empresas em Portugal no arranque do ano. Lucro sobe 39% para 220 milhões até março

Banco espanhol, que no ano passado conclui a aquisição do Eurobic, revela que as novas operações de crédito a longo prazo com empresas no país triplicaram. Crédito à habitação subiu quase 8%.

O Abanca fechou o primeiro trimestre do ano com um lucro de 220 milhões de euros, um resultado que supera em 39% os 158,4 milhões de euros registados no período homólogo. Em Portugal, o banco que comprou o Eurobic no verão passado triplicou as novas operações de crédito a longo prazo com empresas, enquanto o crédito à habitação cresceu 7,9% face aos primeiros três meses de 2024.

O banco galego atingiu uma rentabilidade dos capitais próprios tangíveis (ROTE) de 15,2%, que “reflete o crescimento eficiente do negócio, que já atingiu os 130 mil milhões de euros, com um crescimento em todas as áreas de negócio e geografias”, adianta a entidade em comunicado.

No primeiro trimestre do ano, o Abanca conquistou 11 mil novos clientes em Portugal e 25 mil em Espanha, o que representa um aumento de 23% face ao mesmo período de 2024, elevando para 141 mil o número de novos clientes adicionados nos últimos 12 meses.

O negócio em Portugal contribuiu para o crescimento registado no arranque do ano, sobretudo no crédito. Segundo o comunicado, “as novas formalizações multiplicaram-se por cinco em relação ao mesmo período do ano anterior”. As novas operações de crédito a longo prazo com empresas triplicaram e o crédito habitação cresceu 7,9%, face a igual período do ano passado.

Já a quota de mercado de formalizações aumentou 105 pontos base no ano, “refletindo o dinamismo registado pelo ABANCA no país”, justifica o banco.

O crédito a clientes ascendeu a 50 mil milhões de euros, enquanto os recursos de clientes subiram 17% para 79,7 mil milhões de euros. Do total dos recursos de clientes, 78% correspondiam a depósitos à ordem e a prazo, e os restantes 22% a recursos fora do balanço.

O Abanca destaca que a “instituição enfrenta o atual contexto de incerteza geopolítica e comercial com uma posição de solidez”, apresentando um rácio de crédito malparado de 2,6%. O crédito malparado diminuiu 1% face ao período homólogo, excluindo o efeito da incorporação do EuroBic no Grupo.

Em termos de solvabilidade, o rácio de capital total fixou-se nos 17,5%, apresentando “uma almofada de capital de 502 pontos base acima dos requisitos regulamentares, mais 67 pontos de base do que há um ano, o que equivale a 1.925 milhões de euros (mais 30,2% face ao ano anterior)”.

(Notícia atualizada às 10:55)

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Mais de 130 trabalhadores candidataram-se a plano de saídas voluntárias da RTP

  • Lusa
  • 28 Abril 2025

Número de candidaturas ficou acima do previsto pela empresa. Nem todos os trabalhadores que se candidataram ao plano deverão sair, desde logo devido ao teto máximo de 115 pessoas na primeira fase.

Mais de 130 pessoas candidataram-se ao plano de saídas voluntárias da RTP na primeira fase, de acordo com fontes contactadas pela Lusa, e fonte oficial da empresa adianta apenas que o número foi acima do previsto.

As candidaturas terminaram em 18 de abril e têm um custo previsto para esta fase na ordem dos 5,5 milhões de euros. O teto máximo de saídas nesta primeira fase é de 115 trabalhadores.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da RTP adiantou que as candidaturas foram acima do previsto, sem adiantar pormenores.

Neste momento encontra-se a decorrer uma análise de candidaturas pela administração e pelos respetivos diretores.

Nem todos os trabalhadores que apresentaram candidaturas deverão sair. Em primeiro lugar, porque há um teto máximo de 115 pessoas e, em segundo, nem todas as candidaturas serão aceites por causa do grau de especialização da função e da necessidade de o trabalhador ser substituído e haver essa possibilidade de contratação no mercado.

O número de candidaturas aceites será conhecido em meados de maio e os trabalhadores deverão sair até ao fim do primeiro semestre.

Uma segunda fase de saídas voluntárias está prevista para o final do ano, mas dependerá de financiamento.

A RTP inaugura o novo estúdio da Praça da Alegria, projeto que se enquadra nas obras de requalificação de vários espaços do Centro de Produção do Norte que irão receber esta segunda-feira a visita do presidente da empresa, Nicolau Santos.

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Arte contemporânea em transição: menos milhões, mais significado

  • Rita Ibérico Nogueira
  • 28 Abril 2025

O mercado da arte contemporânea muda de ritmo: caem as vendas milionárias, cresce a diversidade e o interesse por obras acessíveis. O colecionador atual procura sentido, não só retorno.

O mais recente relatório da Hiscox revela uma viragem no mercado da arte contemporânea: caem as vendas milionárias e os retornos do investimento, mas cresce a procura por obras mais acessíveis e por artistas fora do radar. A emoção dá lugar à ponderação e a arte reencontra, talvez, o seu tempo.

Nos bastidores do mercado de arte contemporânea, onde valores astronómicos e leilões hiper-concorridos têm pautado o ritmo da última década, 2024 trouxe uma mudança de tom — ou, para os mais atentos, um regresso a valores mais fundacionais. Segundo a edição de 2025 do relatório Hiscox Artist Top 100 (HAT 100), referência anual no setor, o segmento de obras produzidas depois do ano 2000 sofreu uma queda abrupta de 27% nas vendas em leilão, descendo de 840 milhões de euros em 2023 para 613 milhões em 2024. Mais do que uma contração financeira, este abrandamento parece traduzir um reajuste de prioridades e práticas no mundo do colecionismo.

A febre da arte enquanto ativo financeiro — potenciada por um misto de especulação, marketing agressivo e celebridade — parece estar a dar lugar a um novo paradigma: o da escolha consciente, criteriosa e, paradoxalmente, mais pessoal. Pela primeira vez em décadas, o retorno médio das obras revendidas caiu para valores negativos (-0,3%), em nítido contraste com os 9% positivos registados no ano anterior. Uma mudança que coloca em perspetiva o verdadeiro valor da arte: o simbólico, o cultural, o intangível.

Curiosamente, o arrefecimento das vendas coincidiu com um recorde de transações no segmento mais acessível — obras abaixo dos 50 mil dólares. Esta aparente contradição esconde uma verdade mais profunda: a arte continua a atrair colecionadores, mas agora sob um novo prisma. “Estamos a assistir a um regresso de uma forma mais ponderada de colecionar arte, em contraste com a especulação desenfreada dos últimos anos”, afirma Robert Read, Diretor de Arte e Clientes Privados da Hiscox. “O interesse na arte contemporânea mantém-se, mas com foco no segmento mais acessível.”

Este novo colecionador — menos impulsivo, mais informado — prefere descobrir do que seguir, prefere valor simbólico a fama de mercado. A sua escolha é curadoria, não apenas investimento. É, porventura, um sinal de maturidade do setor, mas também um reflexo do mundo atual: mais volátil, mais cético, mais atento à autenticidade do que ao ruído.

Mais vozes, novas narrativas
O relatório Hiscox traz também boas notícias no campo da diversidade artística. Apesar de uma quebra de 29% no valor das vendas de obras assinadas por mulheres, o número de artistas femininas no Top 100 aumentou para 32 — uma representação recorde. A liderança do ranking pertence, aliás, à veterana Yayoi Kusama, seguida de nomes como Cecily Brown (7ª posição), Lynette Yiadom-Boakye (9ª) e Claude Lalanne (10ª). Além disso, registou-se um aumento de 13% no número de mulheres com obras contemporâneas (pós-2000) levadas a leilão.

Estes números contam uma história de reequilíbrio e alargamento do cânone contemporâneo. À medida que o olhar dos colecionadores se torna mais criterioso e menos condicionado pelo efeito de “marca” de um nome, abrem-se novas possibilidades para artistas cuja presença foi, durante décadas, marginal.

O relatório da Hiscox reflete ainda uma outra transformação: a digitalização acelerada do mercado, marcada pela ascensão dos leilões on-line, pela introdução da inteligência artificial na avaliação de obras e pela multiplicação de plataformas digitais de compra, venda e fruição artística. Um novo ecossistema em construção, onde a arte circula com outra velocidade — mas onde, paradoxalmente, o tempo de escolha e de contemplação parece recuperar espaço.

Nesta nova fase do colecionismo, há algo de contracorrente. Enquanto o mundo insiste na pressa, a arte convida à demora. Enquanto a cultura dominante empurra para a acumulação, o colecionador de hoje parece procurar significado. Talvez este seja o traço mais marcante da mudança em curso: a arte volta a ser escolhida pelo que diz, não apenas pelo que vale.

A edição de 2025 do Hiscox Artist Top 100 não anuncia o fim de uma era dourada, mas sim o início de um tempo mais sereno, mais sofisticado, mais plural. A arte continua a ser um espelho dos nossos tempos — e neste espelho começa agora a vislumbrar-se um novo reflexo: menos euforia, mais exigência; menos gritaria, mais escuta. Talvez seja este o verdadeiro luxo: ter tempo — e critério — para escolher o que vale a pena guardar.

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Italiano Mediobanca oferece 6,3 mil milhões para comprar Banca Generali e formar “líder do mercado europeu”

  • ECO
  • 28 Abril 2025

Proposta do Mediobanca passa pela venda das suas ações na Assicurazioni Generali, a empresa-mãe do Banca Generali. Acionistas votam a proposta numa reunião agendada para 16 de junho.

O banco italiano Mediobanca anunciou esta segunda-feira uma oferta de 6,3 mil milhões de euros para comprar o concorrente Banca Generali. “A fusão entre as duas empresas dará origem a um líder do mercado europeu” e vai gerar cerca de 300 milhões de euros em sinergias, declara o Mediobanca, num comunicado citado pelo Financial Times.

A proposta surge numa altura em que o Mediobanca procura evitar uma oferta que considera “hostil” do Monte dei Paschi di Siena, que em janeiro ofereceu 13,3 mil milhões de euros para adquirir a totalidade das ações do banco especializado em investimento e gestão de fortunas.

O Mediobanca é o maior acionista da Assicurazioni Generali, a empresa-mãe do Banca Generali. Para financiar a sua proposta de aquisição do Banca Generali, o Mediobanca pretende vender a sua participação no Assicurazioni Generali.

A concretizar-se, a aquisição permitirá expandir o negócio de gestão de fortunas do Mediobanca, além de poder contrariar as críticas dos acionistas de que se tornou demasiado dependente da sua participação na Generali para obter lucros.

Os acionistas do Mediobanca vão votar a proposta numa reunião agendada para 16 de junho.

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Aicep aprova apoios a investimentos industriais de 300 milhões e 1.200 empregos. Conheça os projetos

Agência pública contratualiza ajudas a investimentos da Coloplast (Felgueiras), da Testo (Albergaria-a-Velha), da Biotek (Vila Velha de Rodão) e da Preh (Trofa), que criam 1.200 postos de trabalho.

A Aicep aprovou a contratualização de quatro novos investimentos num valor que supera os 300 milhões de euros nos setores de componentes para automóveis, fibras celulósicas, equipamentos médico-hospitalares e aparelhos de medição.

De acordo com um comunicado do Ministério da Economia, este pacote reparte-se por quatro empresas — Coloplast, Biotek, Preh e Testo –, sendo que os apoios têm como contrapartida a criação de 1.263 novos postos de trabalho, dos quais 152 qualificados, e a manutenção de outros 1.211 empregos.

“Estes investimentos demonstram que Portugal continua a ser visto pelos investidores como um porto seguro e que as empresas instaladas no país estão empenhadas em criadas mais emprego, parte do qual qualificado. Permite ainda que 2025 seja um ano de resiliência, apesar dos potenciais embates de uma conjuntura externa desafiante”, sublinha o ministro da Economia, Pedro Reis.

A multinacional dinamarquesa Coloplast, que está a investir 110 milhões de euros em Felgueiras, já começou a contratar para poder alcançar os 800 colaboradores em 2028. Já a alemã Testo escolheu Albergaria-a-Velha para instalar uma nova fábrica de 44 milhões que vai produzir equipamentos de medição portáteis, prevendo criar até 500 novos postos de trabalho na região.

A produtora de fibras celulósicas de eucalipto para papel de uso doméstico e de impressão e escrita Biotek — participada do grupo Altri, que em 2024 duplicou os lucros para 107,2 milhões — está a aplicar 75 milhões de euros na transformação de uma linha de produção em Vila Velha de Ródão. Um pouco mais baixo (72 milhões) é o investimento da Preh Portugal para expandir a fábrica de peças e acessórios para automóveis na Trofa.

Na nota enviada às redações, o Ministério da Economia sublinha que “o volume de contratualização de investimentos nestes primeiros quatro meses do ano é um bom sinal de que a economia portuguesa poderá manter a trajetória de crescimento em 2025, apesar de uma conjuntura externa particularmente desafiante”.

Em fevereiro arrancou o investimento de 2.000 milhões de euros da chinesa CALB para a construção de uma fábrica de última geração de baterias de lítio em Sines, que permitirá a criação de 1.800 postos de trabalho diretos e poderá valer mais de 4% do PIB português. No mês passado, foi a vez de a Volkswagen anunciar que irá produzir o novo carro elétrico na Autoeuropa, em Palmela.

Através da agência liderada por Ricardo Arroja foi contratualizado em 2024 um pacote total de investimento de 420 milhões de euros, que corresponde à criação de mais de mil postos de trabalho em seis áreas diferentes de atividade e com afetação permanente de 600 desses postos a atividades de investigação e desenvolvimento tecnológico.

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Sondagem: AD e liberais juntos estão mais perto da maioria absoluta

  • ECO
  • 28 Abril 2025

Aliança Democrática (34,8%) à frente do PS, agora com uma vantagem de sete pontos percentuais. Somando a IL à coligação, superam em oito décimas a cifra que deu a maioria absoluta a António Costa.

A mais recente sondagem da Pitagórica para o Jornal de Notícias, a TSF e a TVI/CNN coloca a AD – Aliança Democrática (34,8%) à frente do PS (28,1%), agora com uma vantagem de sete pontos percentuais. Somando as intenções de voto na Iniciativa Liberal (7,4%) às da coligação que junta o PSD e o CDS-PP, o resultado supera em oito décimas o que permitiu a António Costa conquistar a maioria absoluta em 2022.

Por outro lado, o Chega estagnou nos 15,2% e continua a ser o partido que mais perde face às eleições legislativas realizadas no ano passado. Já entre os partidos de esquerda é projetado o crescimento do Livre (4,4%) e da CDU (4,1%), enquanto o BE, com uma intenção de voto de 1,9%, arrisca perder relevância na próxima legislatura. O PAN (0,6%) pode perder a representação parlamentar. Ainda assim, apesar de ter baixado para 15,4%, o número de indecisos ainda é elevado a poucas semanas da ida às urnas.

O debate mais importante destas eleições legislativas antecipadas, agendada para 18 de maio, acontece esta segunda-feira, a partir das 21 horas e será transmitido em simultâneo pela RTP, SIC e TVI. É a segunda vez que Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos se enfrentam nas televisões, embora as circunstâncias sejam diferentes do debate que aconteceu há pouco mais de um ano, já que Montenegro passou a ser primeiro-ministro e o PS está agora na oposição.

 

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Centeno avisa partidos: “é o momento de não ter ilusões” nas contas públicas

  • ECO e Lusa
  • 28 Abril 2025

Governador do Banco de Portugal assume provável cenário de novo corte nas projeções económicas e lembra que a estabilidade financeira é um capital que Portugal adquiriu e "não pode ser desbaratado".

O governador do Banco de Portugal evita avaliar os programas eleitorais da AD e do PS, mas deixa o aviso de que “é o momento de não ter muitas ilusões” sobre a sustentabilidade das contas públicas. Mário Centeno lembra que, ao olhar para propostas e medidas políticas, deve-se “ter sempre presente a ideia da estabilidade financeira” e lembra que a instituição “vem dizendo há décadas que as políticas devem ser contracíclicas e não pró-cíclicas”.

Perto de serem conhecidas novas previsões do supervisor financeiro, o governador assume que é mais provável um cenário de novo corte nas projeções económicas. “Nós antevemos uma desaceleração da economia nos próximos trimestres, que se prolongará durante 2026. Fazer algo para que isto não seja assim obriga a que os decisores de políticas, não apenas de política monetária, mas também de política orçamental, possam ser mais previsíveis”, afirma.

Em entrevista conjunta à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Mário Centeno disse que a estabilidade financeira é um capital que Portugal adquiriu e que “não pode ser desbaratado” quando se apresentam propostas e medidas para o futuro.

“Não há nenhuma medida em si mesma que seja má, nem espetacular. Elas só funcionam no seu conjunto se, no fim do dia, respeitarem um equilíbrio que o Banco de Portugal desde há muitas décadas sempre sublinhou”, referiu, quando questionado sobre os programas eleitorais dos partidos para as legislativas de 18 de maio.

Na mesma entrevista, o governador do Banco de Portugal disse que a economia portuguesa vive “um momento bom, mas em desaceleração”.

“Antevemos uma desaceleração da economia nos próximos trimestres que se prolongará em 2026”, disse, sublinhando, no entanto, que “as contas públicas portuguesas estão a beneficiar de uma posição cíclica positiva”, nomeadamente com as contribuições para a Segurança Social, as receitas de impostos e a receita de IRC, “que nunca foi tão grande em Portugal”.

O Banco de Portugal prevê que a economia portuguesa vai crescer 2,3% este ano, projeção mais otimista do que os 2,1% apontados pelo Governo, e que a inflação vai abrandar para 2,3%. Segundo o Boletim Económico de março, divulgado no dia 20 do mês passado, o banco central prevê que a economia portuguesa cresça 2,3% este ano, abrandando para 2,1% e 1,7% em 2026 e 2027.

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No marketing em paralelo com a música, Inês Fonseca, da Johnnie Walker, na primeira pessoa

Passo a passo, Inês Fonseca foi construindo uma carreira no marketing a par da atividade musical, que sempre a acompanhou.

Inês Fonseca é head of marketing da Johnnie Walker para o sul da Europa (Espanha, França, Grécia, Portugal e Itália) há mais de três anos, tendo começado a trilhar o seu percurso nesta área em 2007. Mas muito antes do marketing, já a música fazia parte da sua vida — tanto académica como profissionalmente –, pelo que ainda hoje vai conciliando as duas profissões: se num dia está a liderar a estratégia de marketing da marca de whisky no sul da Europa, no outro está a gravar um disco ou a dar um concerto.

Tendo crescido numa casa em que “a forma de expressão e quase de relação é através da música” — a sua mãe é a violinista e política Idália Serrão e o seu pai o guitarrista clássico Silvestre Fonseca — Inês Fonseca sempre viu a sua vida girar em volta da música.

Estudou música clássica durante quase duas décadas, canta desde os quatro anos, compõe desde os 12 e fez dobragens (a cantar) em várias séries e filmes de animação. Como exemplo dá as dobragens que fez nas cenas em que cantou pelas personagens Kiara, no filme “Rei Leão II”, e Mirim, no filme “O Príncipe do Egito”.

Ou seja, foi trilhando um caminho no mundo da música, tanto de forma académica como profissional. Mas, perto de atingir a maioridade e de ter de escolher um futuro, a mãe aconselhou-a, “pelo sim pelo não”, a estudar outra coisa em paralelo com a música.

“E foi uma escolha muito difícil, porque música foi a única coisa que eu tinha aprendido a estudar com afinco. Foi todo um processo de descobrir aquilo de que eu poderia gostar. Acabei por estudar marketing no ISCTE, uma disciplina que fui descobrindo e pela qual me fui apaixonando, porque achei que poderia misturar várias das coisas que eu mais gostava, como arte, literatura, poesia e matemática“, diz em conversa com o +M.

O ISCTE foi para si “a melhor escola possível”, quem lhe “abriu as portas” e quem lhe deu a sua “primeira grande lição”. Numa altura em que muitas empresas pediam recomendações aos professores universitários para integrar alunos em alguns estágios, houve um professor que a recomendou, mesmo sendo uma aluna “mediana”.

“Aquele professor, embora eu não fosse dos alunos que tinham melhores notas, via que eu tinha qualquer coisa. Não tinha as notas, mas tinha qualquer coisa. E é uma lição que ainda hoje me acompanha de como o talento nem sempre se mede com as escalas tradicionais“, recorda.

Foi graças a esse “empurrão” que fez o seu primeiro estágio na Coca-Cola, tendo depois feito outro estágio na Central de Cervejas. Entrou de seguida na Nobre como gestora de produto e, após quatro anos, rumou em 2012 para Espanha, não por uma “jogada profissional” mas por que se tinha “apaixonado por um espanhol”.

Na procura por trabalho em Espanha acabou por entrar na Lego, como brand manager para Portugal e Espanha, naquele que foi o seu primeiro trabalho ibérico e onde esteve durante quase cinco anos. Foi durante esse período que foi seis meses para São Paulo, no Brasil, para montar a estratégia e formar a equipa para um projeto que a marca queria desenvolver.

Quando regressou a Espanha integrou a McDonald’s como marketing manager no mercado espanhol. Dois anos depois foi liderar o marketing da Subway em seis países da zona do Mediterrâneo, até que entrou para o grupo Diageo. Primeiro assumiu a responsabilidade de reposicionar a marca J&B, até que lhe entregaram a direção de marketing da Johnnie Walker, onde continua até agora, liderando, a partir de Madrid, o marketing da marca de whisky em Portugal, Espanha, França, Grécia e Itália.

E numa verdadeira “conciliação” entre as suas duas profissões, quando Inês Fonseca assumiu a função de diretora de marketing da Johnnie Walker, a ideia passava por desenvolver uma estratégia para a marca através do olhar de um músico, o que depois acabou por “dar origem a uma série de coisas”.

Entender o significado do famoso slogan da marca, “keep walking”, foi a primeira pedra na construção da sua estratégia. “O que quer dizer é que muitas vezes nós estamos confortáveis no nosso lugar, estamos bem, mas não acontece nada. Mas, de vez em quando, há pessoas que dão o passo que é mais corajoso, que é incómodo, e é graças a esses passos que essas pessoas avançam e fazem com que os outros avancem também. É esse progresso coletivo que o ‘keep walking’ defende e percebi que tinha uma ligação muito natural ao caminho que fazem os artistas“, diz.

“Depois de pensar imenso sobre diferentes insights que poderiam dar origem à estratégia, acabámos por aterrar nesta ideia de que na indústria musical parece que há um caminho ou uma noção de sucesso específica, que se nós não tivermos parece que estamos a fracassar. Tem de se ter uma editora e encher uma grande sala de espetáculos e tudo o resto parece que é não avançar, quando na verdade, na música e na vida, há milhões de maneiras de avançar“, explica.

Foi esta ideia que deu assim origem à estratégia que a marca desenvolveu na música. O objetivo passava por “dar um novo significado ao sucesso, mostrar que em vez de um caminho de sucesso na música, é possível criar infinitos caminhos, porque havendo infinitos caminhos, há infinitas pessoas que estão a avançar, ninguém está a parar e isso era muito fiel ao nosso keep walking“, refere ainda a diretora de marketing de 38 anos.

A ideia acabou por ganhar vida essencialmente através de uma série documental com oito episódios de meia hora de duração. “E foi todo um sucesso, em tempos em que nos dizem que só podemos fazer coisas de cinco segundos porque as pessoas não aguentam mais. Foi uma série espetacular em que pudemos mostrar caminhos de vários artistas super diferentes, noções de sucesso muito diferentes e correu-nos muito bem”.

Quanto à comunicação da Johnnie Walker, Inês Fonseca entende que esta é “muito pensada“, funcionando como um “puzzle onde diferentes peças trabalham diferentes objetivos“. “Diria também que mais do que estar obcecada com o como, os formatos, os meios ou a IA, é uma comunicação que nasce sempre de um lugar muito honesto, muito consistente, muito coerente com aquilo em que a marca acredita e defende. Diria que isso é o nosso farol e tudo o resto é uma consequência natural“, acrescenta.

Sendo responsável pelo marketing em cinco países europeus, Inês Fonseca diz que são notórias algumas diferenças. Desde logo, Portugal, a par de França, destaca-se como um dos países em que mais whisky se bebe. Além disso, Portugal é também o mais tradicionalista no consumo, uma vez que a generalidade dos portugueses consumidores de whisky o faz sem misturas, enquanto noutros países, como em Espanha, é habitual misturar o whisky com outras bebidas, como Coca-Cola ou Ginger Ale.

E estas diferenças, embora possam não parecer, são algo muito importante de ter em conta. “Quando estamos a gerir vários países é muito importante entender e adaptar as marcas aos países. Não é só traduzir as coisas, é preciso fazer mesmo um trabalho quase psicológico/sociológico de entender as culturas, entender as pessoas, as suas dores, sonhos e passado, porque se não entendermos essas ‘pequenas grandes’ coisas é depois muito difícil fazer um trabalho que seja realmente relevante e que ligue mesmo com as pessoas“, diz a responsável, que lidera uma equipa também ela muito “multicultural”, composta por uma pessoa espanhola, outra grega e outra francesa.

Em termos de agências, a Johnnie Walker trabalha em Portugal com a PHD, enquanto agência de meios, e com a Staff Global, em termos de festivais e eventos.

Passo a passo, Inês Fonseca foi assim trilhando a sua carreira no marketing a par da atividade musical, sendo que hoje em dia continua a fazer os dois trabalhos de maneira profissional, com discos gravados e a dar concertos.

Consegue esta conciliação “dormindo pouco, com muita organização, pouca vida social e muita ajuda”. É a vida que eu escolhi, acho que não sei ser de outra maneira e por agora não tenciono mudar nada. A música é uma mistura de ofício e identidade, não dá para separar daquilo que eu sou“, afirma.

Além do marketing e da música, Inês Fonseca também adora o ensino. O sonho que sempre teve de dar aulas começou a ser cumprido há cerca de um ano e meio quando iniciou a sua atividade como professora na Miami Ad School Madrid. Atualmente é também co-diretora do mestrado de Estratégia de Marca.

“Adoro contar histórias, falar com os estudantes e dar aulas. Às vezes penso no quanto me faltou ao longo do meu caminho alguém que me dissesse ‘olha, não tens que ser nada de concreto, há lugar para muitos tipos de pessoas, podes ser tu e ter sucesso à tua maneira’. Adorava que alguém me tivesse trazido estas reflexões e é o que eu tento trazer sempre que posso para o mundo do ensino e das faculdades“, explica.

Para lá destes três ofícios “tão mentais e que exigem tanto do interior de uma pessoa”, adora “não fazer nada”. “Tanto o marketing como a música não são profissões que lidem com uma coisa mecânica e em que eu possa não pensar, pelo que tenho imensa necessidade de estar sozinha e não fazer nada. Deitar tempo para o lixo é o meu hobbie preferido“, relata.

Já com “um divórcio às costas de um espanhol” — que continua a ser um dos seus grandes amigos e um dos seus grandes mentores no marketing — do qual “não se arrepende nada”, Inês Fonseca tem hoje em dia um namorado, também ele espanhol e também ele músico (além de motorista de autocarros).

A viver em Madrid, o regresso a Portugal não é algo que “esteja em cima da mesa no curto prazo”, embora seja algo que queira fazer no futuro. “Conheço pessoas que foram para fora e que têm a sensação de que Portugal já fica pequenino para elas. Eu nunca tive essa sensação. Sinto um grande amor por Portugal, acho que é enorme e um dia adorava voltar. Antes de começar a namorar pus logo a condição de que para o Sérgio [o atual namorado] estar comigo tinha de estar aberto à possibilidade de um dia viver em Portugal. E ele adora a ideia, portanto um dia vou voltar”, diz.

Ao longo do seu percurso, a maior provação que tem sentido é a de conseguir “continuar a andar para a frente” sem trair quem é, os seus valores e aquilo em que acredita. Chegada a um ponto na sua vida em que se sente “de forma plena” com as suas duas profissões, e em que a respeitam e valorizam por isso, tem o “sonho” de conseguir que mais pessoas que se cruzem consigo se consigam sentir-se mais reconciliadas com elas próprias e com o seu próprio caminho.

Penso imenso no momento da minha morte e naquilo que eu gostava de sentir e aquilo que eu gostava que as pessoas sentissem quando partir. E passa muito por aqui: gostava de sentir que não cedi naquilo que não queria ceder, que fui inteira e que fui honesta. Vivi sempre com este propósito em mente e gostava que um dia, quando partir, as pessoas me recordem como alguém que as fez sentir vistas e reconciliadas“, conclui.

Inês Fonseca em discurso direto

1- Que campanhas gostava de ter feito/aprovado? Porquê?

A nível nacional, “Quando for grande quero ser contabilista”, da Stream and Touch Guy. Achei brilhante dirigir a campanha aos contabilistas em vez dos contribuintes, usar o humor como veículo de emoção (em vez do clássico apelo à causa em questão), e aproveitar o poder da georreferenciação. Teve resultados brutais (+126% nas doações) e tudo isto baseado num insight muito bom: nunca nenhuma criança disse a frase da campanha. Grande exemplo do poder do storytelling.

Já em termos internacionais, destaco a campanha “Reindeer ready”, da McDonald’s (2018). Com o objetivo de tentar que as crianças pedissem mais cenouras (baby carrots) como acompanhamento, decidiram não só fazer uma campanha (muito bem integrada digitalmente), como até mudaram o nome das cenouras para “Reindeer treats”. Além de me parecer brilhante o insight (em Inglaterra deixam-se cenouras para as renas do Pai Natal, na noite de 24 de dezembro), poucas vezes vi uma ideia tão bem integrada (ao ponto de mudarem o próprio packaging e o nome do produto). Os resultados foram brutais, com um aumento de 240% nos pedidos de cenouras, entre outros resultados impressionantes.

2 – Qual é a decisão mais difícil para um marketeer?

A decisão arriscada, sem o conforto dos dados objetivos, em que entra em jogo a visão, a aposta, a intuição e a capacidade de assumir a responsabilidade, para o bem e para o mal.

3 – No (seu) top of mind está sempre?

O “porquê” por trás de tudo o que faço e os “KPI’s de vida” que tenho. Se não trair nenhum dos dois, no triunfo e no fracasso, está tudo bem.

4 – O briefing ideal deve…

Ser honesto, valente e com espaço para questionar, incendiar, e melhorar entre todos.

5- E a agência ideal é aquela que…

Luta pelas suas ideias e consegue ter uma energia criativa resiliente, coisa que é todo um esforço hercúleo nesta indústria e nos tempos que correm.

6 – Em publicidade é mais importante jogar pelo seguro ou arriscar?

Diria que é mais importante arriscar – mas sempre com uma noção clara e honesta do que a marca representa, que valores tem, que “linhas vermelhas” não pode cruzar, por que propósito se levanta cada dia. Se isso estiver no sítio, o risco é sempre calculado. Mas sem risco, é tudo água morna que não ferve nem cozinha nada.

7 – O que faria se tivesse um orçamento ilimitado?

Dar-me-ia ao luxo de levar a cabo muito mais ideias criativas que não necessariamente dão resultados a curto prazo, mas que oxigenam a marca, a indústria, que desenvolvem talento criativo e o põe no mapa. É muito bom termos cada vez melhor tecnologia e medições; às vezes, penso que isso também é o maior inimigo da criatividade pura e do risco necessariamente associado a ela.

8 – A publicidade em Portugal, numa frase?

Sinto sempre que é uma espécie de bebida fresca com um sabor exótico que, sendo-nos familiar, nos faz sempre arregalar os olhos e dizer “wow! Que surpresa”.

9 – Construção de marca é?

Paciência, verdade, identidade e sociologia.

10 – Que profissão teria, se não trabalhasse em marketing?

Como também sou cantora, não vale dizer a música. Mas se não fosse nada disto, acho que gostava de ser professora ou psicóloga.

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