Morais Leitão começa a vender tecnologia, mas nega querer ser empresa de software

A sociedade de advogados e consultores, que se tornou multidisciplinar no início de 2025, criou um portal digital de gestão corporativa para grupos empresariais e 'private equities'.

A sociedade de advogados Morais Leitão (ML) está a tornar-se cada vez mais um escritório com diferentes serviços além da assessoria jurídica. Quatro meses depois de adotar um regime multidisciplinar, a ML tem estado a apresentar às empresas algumas das tecnologias que o novo estatuto lhe permite programar e vender.

A ML começou a desenvolver software para investidores e holdings agruparem toda a informação das suas subsidiárias e participadas, inclusive atas, programas de compras de ações, cisões e fusões, compras e vendas ou apresentações de resultados e assembleias gerais. Trata-se de portal online de gestão societária (MLOne Governance) em Microsoft 365, mas a ML garante: “Não queremos ser uma software house“.

“O nosso compromisso é entregar uma solução all in one [tudo em um] que contribua para a eficiência no corporate management [gestão corporativa] e compliance de grandes grupos económicos, private equities e startups. Prestamos serviços jurídicos e tecnológicos no set-up [configuração] do portal e nas necessidades de dia a dia do cliente pós set-up“, esclareceu a ML, num encontro com jornalistas, garantindo que o sistema parte de um protótipo que pode ser alvo de personalização.

Neste caso, o clássico modelo de honorários é substituído por um preçário à moda Netflix em que o valor varia consoante as funcionalidades que o cliente escolhe ter no portal.

Além disso, a ML está a trabalhar com a empresa portuguesa Mind Over Data, especializada em ciência de dados, numa plataforma baseada na cloud que permite identificar comportamentos e relações alegadamente duvidosas entre sujeitos com base em temas, conversações e documentos. Como? Os algoritmos (combinação de machine learning e processamento de linguagem natural) identificam palavras-chave nas conversas, à moda da decriptação da Operação Lava Jato no Brasil, que podem ser úteis em processos de due diligence (diligência prévia) comercial durante uma aquisição.

A advogada Magda Viçoso, administradora e sócia da de Comercial, M&A, mercado de capitais e private equity, disse aos jornais económicos presentes na sessão que as empresas disponibilizam o arquivo (dataset) para esta ação preventiva e a ML entra em cena com apoio jurídico se se detetarem riscos. No final, os dados são eliminados do sistema informático. “O Pointer.ai permite à ML não só aumentar a eficiência dos seus processos, mas também ganhar uma clara vantagem competitiva ao oferecer aos seus clientes uma plataforma de que nenhum outro player dispõe”, explicou.

Paralelamente, está a ser criado um ‘ChatGPT’ interno (ML One AI) via Azure, embora os dados estejam sob custódia da nuvem da Morais Leitão em prol da confidencialidade. Atualmente, decorrem provas de conceito deste chatbot com 60 pessoas da sociedade pertencentes a departamentos diferentes.

A ML foi a primeira sociedade de advogados em Portugal a afastar-se do tabu da multidisciplinaridade e a afirmar-se com uma oferta equivalente à das consultoras Big Four, prestando apoio legal – como faz desde 1993 – e também outro género de advisory mais centrado na transformação digital.

Desde novembro de 2023, a ML promoveu mais de 40 reuniões com empresas para explicar em que consiste o novo modelo de negócio chamado “ML Tech and Knowledge” e renovou um dos pisos do edifício-sede, na Rua Castilho, em Lisboa. O espaço compara-se agora a qualquer escritório corporate em Lisboa com hot desks (sem lugares marcados) e zonas open space (abertas), ainda que a sociedade reconheça que (ainda) não pode replicar este conceito de design e organização a todos os pisos e áreas de prática. As primeiras ‘cobaias’ do formato são os advogados de Tecnologia, Media e Telecomunicações, Propriedade Intelectual e a equipa de inovação Team Genesis.

Sociedade de advogados e consultores desde janeiro

Foi a 9 de janeiro de 2025 que a ML, liderada pelo advogado Martim Krupenski, anunciou o reposicionamento – caracterizando-o de “evolução estratégica” – para consolidar a posição de liderança no setor jurídico português. Então, acrescentou ao ADN de advocacia “uma nova oferta de soluções de base tecnológica”, embora não tenha explicado em que consistia o ‘cardápio’ digital.

A mudança ocorreu poucos meses depois de ter passado a utilizar a descrição “sociedade de advogados e consultores de referência” nas comunicações à imprensa que foram enviadas ainda no ano passado. E a alteração não veio só no nome nem nos produtos disponibilizados aos clientes: incluiu também uma nomeação de sócios não advogados, como prevê a lei das ordens profissionais.

Carlos Eduardo Coelho, diretor de Inovação e Conhecimento e ex-responsável pelo negócio internacional da sociedade, foi promovido a sócio de indústria e passou a ser liderar os serviços de consultoria e desenvolvimento tecnológico da ML. Ou seja, foi o primeiro sócio não advogado – até porque é formado pelo Instituto de Formação Bancária – na estrutura societária da ML.

Porquê esta alteração a vários níveis? Essencialmente, pela viragem do setor jurídico nacional e estrangeiro em direção à multidisciplinaridade e ao crescente interesse e investimento na inteligência artificial, que a ML garante que faz parte da estratégia interna e dos clientes, mesmo os que ainda não sabem como a vão utilizar.

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‘Almofada’ das pensões perde 1,37% no primeiro trimestre mas atinge valor recorde sob gestão

O FEFSS tropeçou nas ações e na dívida pública no arranque do ano, mas fechou o trimestre com 39 mil milhões de euros de ativos sob gestão, o equivalente a 24,5 meses de despesa do Estado com pensões.

A ‘almofada’ financeira das pensões dos portugueses encolheu no arranque de 2025, arrastada pela forte volatilidade observada nos mercados financeiros, particularmente após meados de fevereiro.

De acordo com dados recolhidos pelo ECO junto da tutela, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) registou perdas de 1,37% entre janeiro e março, um desempenho que compara com os ganhos de 1,68% registados no mesmo período do ano passado e com a valorização de 5,9% alcançada em 2024.

A contribuir negativamente para a performance do FEFSS esteve a carteira de ações (que pesa cerca de 23% do seu portefólio), que contraiu 3,57% nos primeiros três meses do ano, um contraste face à valorização de 9,7% registada no período homólogo de 2024.

Também a carteira de dívida pública portuguesa – que representa quase 50% da carteira do FEFSS – não escapou aos efeitos da turbulência nos mercados, registando perdas de 1,5% entre janeiro e março, uma queda mais significativa que os 0,26% negativos observados no mesmo período do ano anterior.

Estes números ilustram como o FEFSS, apesar do seu perfil conservador, não está imune à volatilidade dos mercados financeiros. Além disso, a obrigação legal de manter pelo menos 50% da carteira em títulos de dívida pública da República tem sido apontada por várias entidades, inclusive pela equipa de gestão do FEFSS liderada por José Vidrago, como um fator que tem limitado o potencial de valorização do FEFSS e expõe o fundo da Segurança Social a riscos específicos do mercado nacional.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Volume do fundo atinge valores históricos apesar das perdas

Apesar do desempenho negativo no trimestre, o FEFSS fechou em março com um valor recorde de 39,4 mil milhões de euros de ativos sob gestão, que se traduz num aumento homólogo de 16,2% face aos 33,9 mil milhões registados no mesmo período de 2024. Este montante equivale a uma taxa de cobertura de pensões de 204%.

Significa que, atualmente, a carteira de ativos do FEFSS é suficiente para cobrir cerca de 24,5 meses de despesa do Estado com pensões, ficando assim acima da meta definida na Lei de Bases da Segurança Social de que o FEFSS deve procurar assegurar a cobertura das despesas previsíveis com pensões por um período mínimo de dois anos.

Grande parte deste crescimento deve-se à transferência histórica de 4.083,4 milhões de euros do saldo do sistema previdencial da Segurança Social em fevereiro, como tinha sido anunciado pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, em janeiro.

O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, frequentemente referido como a “almofada” das pensões, foi constituído em 1989, tendo como objetivo garantir a estabilização financeira do sistema Previdencial da Segurança Social. Na prática, funciona como uma reserva estratégica que visa assegurar o pagamento das pensões em cenários de crise ou desequilíbrio financeiro do sistema.

O fundo é gerido pelo Instituto de Gestão do Fundo Capitalização da Segurança Social (IGFCSS) e alimentado por diversas fontes, incluindo entre dois a quatro pontos percentuais das quotizações dos trabalhadores por conta de outrem, os saldos anuais do sistema Previdencial, as receitas do adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis, a consignação do adicional de solidariedade sobre o setor bancário, e a consignação de 2% das receitas do IRC.

Além disso, o FEFSS é ainda alimentado pelos ganhos obtidos pela equipa de José Vidrago através da gestão dos ativos financeiros do fundo. Em termos históricos, o FEFSS apresenta uma rendibilidade anualizada de 2,7% nos últimos dez anos até 2024, e de 3,9% nos últimos 25 anos.

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“É difícil” mudar lei da greve nos próximos tempos, antecipam advogados

Lei do trabalho tem sofrido dezenas de alterações nos últimos anos, mas artigos relativos à greve têm ficado intactos. Montenegro sinalizou vontade de mexer nessas regras, mas advogados têm dúvidas.

Luís Montenegro admitiu mudar a lei da greve de modo a equilibrar melhor a força dos protestos dos trabalhadores e o seu impacto na vida dos cidadãos. Os advogados ouvidos pelo ECO salientam, contudo, que já existe um mecanismo para esse fim — os serviços mínimos — e antecipam que “seria difícil” alterar as regras deste que é um direito fundamental nos próximos tempos. Do lado dos sindicatos, tanto a UGT como CGTP fecham a porta a qualquer mudança.

Esta é uma história que começa em abril. Mais de uma dezena de sindicatos que representam os trabalhadores da CP anunciaram a convocação de várias greves contra a imposição de aumentos salariais que “não repõem o poder de compra”, pela negociação coletiva de reforços remuneratórios “dignos” e pela “implementação do acordo de reestruturação das tabelas salariais”, que ficara fechado.

Estas greves arrancaram esta quarta-feira, dia 7 de maio, e com uma adesão de 100%, pelo que circulação dos comboios em Portugal ficou paralisada.

Ao segundo dia sem comboios a circular, o primeiro-ministro e candidato da AD à Assembleia da República subiu o tom da discussão.

“Francamente, um dia vamos ter de pôr cobro a isto. Temos de ter um mecanismo que garanta que o efeito da greve… O direito à greve não está em causa. Os efeitos da greve é que não podem ser de tal maneira desproporcionais que todos os outros cidadãos tenham uma compressão dos seus direitos“, atirou o social-democrata.

Os advogados ouvidos pelo ECO realçam, porém, que esse mecanismo já existe na lei do trabalho: são os serviços mínimos.

Os serviços mínimos têm esse mesmo objetivo“, frisa o advogado Gonçalo Pinto Ferreira, sócio da Telles. “Os serviços mínimos já visam [esse equilíbrio]“, concorda o advogado José Pedro Anacoreta, sócio da PLMJ. “A lei atual já contém todos os princípios e mecanismos“, corrobora ainda o advogado Pedro da Quitéria Faria, da Antas da Cunha Ecija & Associados.

Tanto Gonçalo Pinto Ferreira, como José Pedro Anacoreta reconhecem que esse mecanismo poderia ser afinado. “Se calhar, seria de encontrar uma forma menos casuística” de definir os serviços mínimos, sugere o sócio da PLMJ. Mas nenhum antecipa que haja condições para o fazer nos próximos tempos. “Tenho muitas dúvidas de que, nos temos mais próximos, se vá regular de forma diferente. Estamos a falar de um direito direito fundamental“, assinala o sócio da Telles.

Tenho muitas dúvidas que, nos temos mais próximos, se vá regular de forma diferente. Estamos a falar de um direito direito fundamental.

Gonçalo Pinto Ferreira

Sócio da Telles

Já Pedro da Quitéria Faria vai mais longe e assevera mesmo que “não existe uma necessidade urgente” de alterar a lei, o que, de resto, seria difícil de fazer, avisa.

Em alternativa, destaca que a lei do trabalho prevê que os serviços mínimos fiquem definidos, à partida, no próprio instrumento de regulamentação coletiva do trabalho, pelo que apela a que se promova “este caminho de diálogo social”. Desta forma, haveria mais previsibilidade e menor necessidade de estar permanentemente a recorrer ao tribunal arbitral, declara o advogado.

Por sua vez, a advogada Madalena Caldeira, sócia da Gómez-Acebo & Pombo, argumenta que há vários casos em que “o que se vê, na prática, é que os serviços mínimos não são cumpridos“, apesar de terem sido definidos. “O não cumprimento deve ser sancionado”, defende a advogada, que reconhece que “a breve trecho é difícil” mexer nestas regras. “É um tema politicamente muitíssimo complexo“, enfatiza.

Sindicatos fecham a porta a mudanças

Entre os muitos sindicatos que convocaram greves na Comboios de Portugal, constam estruturas afetas à CGTP, outras à UGT e outras independentes. Ambas as centrais sindicais já reagiram às declarações de Luís Montenegro, criticando-as duramente e fechando a porta a qualquer mudança à lei da greve.

Da parte da CGTP, o secretário-geral, Tiago Oliveira, afirmou que as declarações em questão constituem “um ataque do Governo ao direito à greve e às conquistas de abril“.

“Sabemos bem qual é o passado do PSD e do CDS. Conhecemos bem aquilo que têm sido as políticas, sabemos bem a quem é que eles respondem e para onde é que eles caminham. E o caminho que está a ser traçado pelo Governo está nas palavras do primeiro-ministro: é o ataque ao direito à greve, o ataque a uma conquista de abril, o ataque aos direitos dos trabalhadores“, afirmou o dirigente sindical, em Setúbal.

Já da parte da UGT, o secretário-geral adjunto, Sérgio Montes, atira em conversa com o ECO que “uma greve é para causar transtorno” e explica que os serviços mínimos já fazem o equilíbrio entre os protestos e os direitos dos demais cidadãos. Deixa ainda claro que, “para a UGT, está completamente fora de questão qualquer alteração à lei da greve“.

Para a UGT, está completamente fora de questão qualquer alteração à lei da greve.

Sérgio Monte

Secretário-geral adjunto da UGT

E lembra que, sempre que as greves causam incómodos aos Governos, é comum ser levantada a possibilidade de ajustar a lei. Foi o que aconteceu em 2019, frisa Sérgio Monte, quando os motoristas de matérias perigosas pararam o país.

O então ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, defendeu que fazia sentido pensar nessa lei, que foi desenhada nos anos 1970. O governante viria, contudo, mais tarde esclarecer que, afinal, isso não estava nos planos do Governo.

Também Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas e hoje secretário-geral do PS, admitiu rever a lei (nomeadamente, no que diz respeito aos serviços mínimos) nesse ano, de modo a evitar “situações limite“. Seis anos depois, mostra-se agora veementemente contra as mudanças sinalizadas por Luís Montenegro.

“Estamos a falar de uma greve que parou o país [em 2019], uma greve que impediu o abastecimento de infraestruturas críticas e em que os serviços mínimos não estavam a ser cumpridos. Portanto, estamos a falar de situações completamente diferentes“, esclareceu, entretanto, o socialista.

Como se definem serviços mínimos? E o que falhou na CP?

De acordo com o Código do Trabalho, em empresas ou estabelecimentos para “satisfação de necessidades sociais impreteríveis” (como é o caso dos transportes), os sindicatos devem assegurar a “prestação de serviços mínimos indispensáveis” para salvaguardar essas necessidades.

Esses serviços mínimos podem ser definidos por acordo entre os representantes dos trabalhadores e os empregadores ou, na ausência desse entendimento, o serviço competente do Ministério do Trabalho convoca essas partes para a levar a cabo negociação.

Na falta de acordo (como aconteceu nestas greves na CP), os serviços mínimos são, então, definidos, tratando-se de empresa do setor empresarial do Estado, por tribunal arbitral.

No caso da CP, o tribunal arbitral considerou que a definição de serviços mínimos nas greves de 7, 8 e 9 de maio “corria o sério risco de colocar em perigo a vida e a integridade dos passageiros”, daí que não o tenha feito.

Isto tendo em conta que a CP assumiu que um número reduzido de comboios (nessas datas houve uma coincidência das várias greves, levando a uma paralisação geral dos comboios) “conduziria ao risco de acumulação descontrolada de pessoas nas estações e nos comboios“.

Entre domingo e quarta-feira (dias em que já não há coincidências das greves dos vários sindicatos), há serviços mínimos correspondentes a 25% da circulação, por decisão do tribunal arbitral.

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Travão na procura arrefece negócio do alumínio em 10% no arranque do ano

Setor intensificou travagem dos últimos trimestres, com quebra no mercado alemão e francês a justificarem descida. Incerteza provocada pelas tarifas está a inibir novos investimentos.

O setor do alumínio e do aço foi o primeiro a sentir as tarifas de Donald Trump, com o republicano a impor taxas aduaneiras de 25% sobre as importações que chegam aos EUA. Mais um fator de incerteza que está a pesar nos negócios da indústria do alumínio, que baixaram 10% no primeiro trimestre do ano, arrastados, sobretudo, pela quebra da procura na Europa.

“É muito difícil correlacionar a instabilidade que se sente hoje na nossa indústria apenas e só com a questão das tarifas”, explica José Dias, em entrevista ao ECO. O presidente da Associação Portuguesa de Alumínio (APAL) reconhece que “a indústria tem sido já afetada nos últimos dois anos por uma baixa considerável nos consumos“. Um travão na procura justificado pela “quebra na produção dos dois maiores mercados exportadores, nomeadamente França e Alemanha, em relação à qual a indústria portuguesa, naturalmente tem-se ressentido”.

O setor tem vindo em decréscimo e estimamos que este primeiro trimestre tenha havido uma redução de cerca de 10% na atividade geral na indústria do alumínio.

José Dias

Presidente da APAL

Num arranque de ano que foi marcado pelo prolongamento da quebra registada nos trimestres anteriores, José Dias admite que “o setor tem vindo em decréscimo e estimamos que este primeiro trimestre tenha havido uma redução de cerca de 10% na atividade geral, em relação ao último trimestre“, quantifica José Dias, realçando que a travagem sentida pelo setor foi “mais acentuada e mais visível” a partir do segundo trimestre de 2024.

O presidente da associação que representa o setor do alumínio realça, porém, que seria uma “incorreção” atribuir a quebra do primeiro trimestre às tarifas, cujo impacto a associação ainda está a avaliar. “A situação deste primeiro trimestre ocorre em linha com aquilo que já tinha vindo a acontecer nos últimos dois trimestres de 2024, onde se verificou uma quebra bastante considerável nos volumes de produção, essencialmente dirigidos para os dois mercados e com as quebras mais fortes, que são a Alemanha e a França“, justifica o responsável do setor do alumínio. Com uma faturação na ordem dos 600 milhões em 2024, segundo as estimativas da APAL, cerca de 40% deste valor é gerado através da exportação, sobretudo para a Europa. Para os EUA seguem “apenas” 10%, mas o presidente da APAL admite que o impacto das tarifas pode ir além desta percentagem.

O impacto indireto das taxas “será uma questão muito difícil de contabilizar, porque naturalmente um dos setores para o qual nós temos uma produção muito significativa é o setor automóvel”, outro dos setores que está a sofrer com o aumento dos impostos e sobre o qual já é aplicada uma taxa de 25%, à imagem do que acontece com o alumínio e aço.

Assistindo-se à incerteza [criada pela política comercial nos EUA] torna-se estrategicamente muito difícil às empresas redirecionarem as suas atividades para outros mercados que podem e que irão naturalmente surgir caso esta situação nos Estados Unidos se mantenha ou se agrave, mas que naturalmente irá fazer com que as empresas demorem tempo a reagir e a decidir.

José Dias

Presidente da APAL

“Se não se verificar a recuperação desses mercados principais [França e Alemanha], naturalmente que o cenário [para 2025] não será um cenário favorável nem positivo”, admite o responsável. Em relação aos EUA, José Dias considera que “a grande penalização da questão americana é a incerteza que tem criado, quer nos mercados americanos, mas essencialmente nos mercados globais”.

Assistindo-se a essa incerteza, torna-se estrategicamente muito difícil às empresas redirecionarem as suas atividades para outros mercados que podem e que irão naturalmente surgir caso esta situação nos Estados Unidos se mantenha ou se agrave, mas que naturalmente irá fazer com que as empresas demorem tempo a reagir e a decidir. Portanto, há aqui uma dupla penalização na questão americana. Uma delas é incerteza que cria”, sustenta.

A outra penalização “tem a ver com a imprevisibilidade do decisor que hoje toma uma decisão, amanhã toma outra diferente, que não permita às empresas de alguma forma criarem estratégias seguras e sólidas e direcionadas para aquilo que seja”, lamenta.

Dirigindo-se ao caso concreto da indústria nacional, o responsável associativo do alumínio destaca que “Portugal, felizmente, tem essa capacidade e tem esse reconhecimento internacional de ser uma indústria que produz de forma bastante eficiente e com qualidade. Portanto, dentro das dificuldades, poderão aparecer aqui novas oportunidades”. “O grande dano que está a ser criado é precisamente esta volatilidade das decisões que são tomadas e a incerteza relativamente àquilo que sejam as próximas 24 horas. Isso sim é novo para todos”, reforça.

“O que estará aqui em causa pode ser todo o modelo de globalização a que nós temos assistido nas últimas duas décadas”, nota o presidente da APAL, apontando “duas respostas possíveis”. Uma delas é a Europa concertar-se e mobilizar-se para fomentar o seu mercado interno, refere, acrescentando que “não nos podemos esquecer que o mercado europeu é um mercado que tem uma dimensão considerável, é um mercado apetecível que nas últimas décadas também se abriu ao exterior”.

Aposta na sustentabilidade é oportunidade

Donald Trump, presidente dos EUA, está a inverter todas as políticas na área da sustentabilidade.EPA/JIM LO SCALZO

José Dias considera que “o que estará aqui em causa neste momento é tentar perceber qual será a ação da União Europeia no seu conjunto para que a indústria nacional também perceba exatamente qual é o seu caminho, porque naturalmente temos os mercados tradicionais de exportação exclusiva, eu diria assim, nomeadamente as comunidades africanas, que estão diretamente relacionadas ao nosso país, mas fora isso, a nossa tradição exportadora, a não ser em segmentos muito específicos, está diretamente relacionada com aquilo que é a tradição europeia”, explica.

Por isso, diz, “é importante que a Comissão Europeia se decida também sobre qual é a estratégia a seguir, até porque existem muitas outras coisas em causa, que foram de alguma forma abaladas com com as decisões americanas” como a questão da sustentabilidade.

“Temos seguido ao longo da última década uma orientação estratégica muito orientada para a sustentabilidade e para a redução dos consumos carbónicos, que naturalmente que se for abandonada pelo maior mercado mundial, que são os Estados Unidos, poderá obrigar a reconsiderar também a forma como os negócios, os produtos e as estratégias das empresas europeias podem ou não ser feitas”, destaca. Para José Dias, esta é “uma verdadeira oportunidade para a Europa se colocar numa posição muito privilegiada enquanto geografia pioneira na manutenção desse fator de diferenciação que é a sustentabilidade, mas naturalmente isso terá que ser feito dentro do espaço que verifique e que reconheça essa estratégia como um elemento diferenciador positivo”.

José Dias alerta que, “se os Estados Unidos se mantiverem na senda das últimas decisões, o mercado americano será um mercado que não irá reconhecer nem valorizar produtos e serviços orientados para a sustentabilidade”. A definição da estratégia europeia é, assim, considerada fundamental para permitir “às empresas alinharem, orientarem ou redirecionarem as estratégias que têm para então aí sim perceberem se devem focar nas mesmas estratégias, nos mesmos continentes, nas mesmas geografias ou, se porventura, teremos que assistir a uma alteração total daquilo que era a nossa tradição das últimas duas décadas”.

Mercado nacional ajuda indústria

A nível nacional, José Dias refere que estão em andamento várias atividades ligadas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “que estão em curso e que até agora não têm tido nenhuma alteração significativa por parte dos agentes”. “Ao nível dos próprios investidores, a Europa e Portugal, no concreto, podem neste momento estar a ser um destino bastante bastante seguro. Independentemente das nossas circunstâncias políticas, continuamos a ser um país com alguma estabilidade ao nível daquilo que são as decisões, as regras e as leis”, acrescenta.

“Admito que esta inconstância e esta volatilidade dos mercados internacionais possam converter-se também numa oportunidade em Portugal para investidores, nomeadamente ao nível do imobiliário e também ao nível das indústrias”, realça o responsável.

José Dias nota ainda que, apesar do momento de desaceleração vivido pelo setor, “para já, na nossa indústria, não [há despedimentos]. Pelo menos relevantes, não”. “Somos uma indústria muito resiliente que tem conseguido sempre que necessário encontrar dentro daquilo que são as oportunidades de negócio, encontrar outras soluções, outros mercados pelo menos que permitam manter ou garantir as atividades, naturalmente abdicando de algum do lucro que está diretamente associado com os níveis de produção que conseguem-se ter neste tipo de indústria quando se está a trabalhar com ocupação total ou com ocupação parcial”, explica, acrescentando que o setor tem sempre “muita dificuldade em fazer grandes alterações” nas suas equipas, “porque sobrevive com recursos humanos que requerem muita formação ao longo do tempo”.

Empresas otimistas para 2025

Apesar do arranque de ano negativo, as empresas estão otimistas para o negócio. Um inquérito realizado pela ERA Group, consultora especializada em otimização de custos, junto dos associados da APAL mostra que dois terços das empresas antecipa um crescimento dos resultados em 2025, com metade destas — 33% — a prever uma subida entre 10% e 30%. Já 24% antecipa uma estabilização e só 10% aponta para uma redução até 10%.

Em relação ao que são as principais ameaças identificadas, 76% das empresas veem a nova administração dos EUA como uma ameaça à estabilidade do setor; 58% continuam a considerar a guerra na Ucrânia como um risco direto à sua atividade; mais de 50% apontam a volatilidade dos custos energéticos e das matérias-primas como o principal desafio à gestão operacional.

Luís Dionísio, partner da ERA Group, atribui estas perspetivas de crescimento do setor ao facto de “estas empresas viverem numa indústria que trabalha para bens de investimento e como tal têm uma continuidade de longo prazo sempre no seu horizonte. Não se assustam com o primeiro balanço”.

Quanto ao momento atual, o especialista refere que “esta é uma crise que as empresas por si só não conseguem atuar sobre o problema que está em causa. Elas podem e devem é trabalhar sobre medidas que mitiguem os efeitos daquele daquele problema. E isso foi claro na última crise”.

Para Luís Dionísio “é claro agora novamente que há que trabalhar na otimização das empresas, na otimização dos resultados, na otimização da eficiência, na otimização dos custos, na otimização das cadeias logísticas“, remata.

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Segurança e Integridade Digital para o Algarve

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  • 12 Maio 2025

O empresário André Telheiro Santos explica a importância do Congresso Segurança & Integridade Digital, que acontece no próximo dia 12 de maio, em Vilamoura.

No Algarve, fala-se cada vez mais de futuro. Fala-se de sustentabilidade, de inovação, de reter talento, de atrair investimento. Mas se quisermos mesmo construir um futuro sólido para esta região, temos de ter a coragem de falar também de segurança e integridade no espaço digital. Não é um tema “de Lisboa” ou “das grandes cidades”. É um tema nosso, dos nossos territórios e das nossas comunidades. E, por isso, a realização do Congresso da Segurança e Integridade Digital no Algarve é um sinal claro de que esta região quer assumir o seu papel no centro das decisões que moldam o país.

André Telheiro Santos, Empresário, Dirigente Associativo

Este congresso não é apenas mais um evento com oradores técnicos e linguagem hermética. É um ponto de viragem. Vai reunir especialistas, decision makers, comentadores televisivos, empresas, decisores públicos e cidadãos para debater questões muito concretas: como protegemos os nossos dados? Como tornamos os nossos negócios mais digitais e mais seguros? Como usamos a tecnologia para criar coesão social e desenvolvimento económico? E, talvez mais importante ainda, como fazemos tudo isto com responsabilidade e ética?

Vivemos numa era em que a nossa vida pessoal e profissional está exposta a riscos digitais reais. Um clique errado pode significar a perda de dados, a exposição de informações sensíveis ou até a paralisação de uma empresa. No Algarve, onde muitas pequenas e médias empresas ainda estão a dar os primeiros passos na digitalização, a formação e a sensibilização sobre estes temas são absolutamente fundamentais. Este congresso vai, finalmente, trazer estas conversas para a região.

Mas a importância deste encontro vai além da prevenção. Está também nas oportunidades. O Algarve pode — e deve — posicionar-se como uma região onde a inovação digital anda de mãos dadas com a integridade. Os Bairros Comerciais Digitais, por exemplo, são uma resposta concreta à necessidade de apoiar o comércio local na sua adaptação ao mundo online. Não se trata apenas de criar lojas virtuais: trata-se de transformar a forma como os negócios comunicam, vendem, entregam e fidelizam clientes, com ferramentas modernas e seguras.

Além disso, a presença de aceleradoras digitais e o apoio a startups tecnológicas podem gerar um novo ciclo económico regional. Se conseguirmos criar um ecossistema em que as boas ideias encontram apoio, infraestrutura e segurança para crescer, o Algarve passará a ser também um polo de inovação e tecnologia.

A inteligência artificial, um dos temas centrais do congresso, está prestes a tornar-se parte integrante da forma como governamos, educamos e prestamos serviços. Não é possível ignorá-la ou deixar o seu desenvolvimento entregue apenas aos gigantes tecnológicos. Precisamos de garantir que há debate público, que há ética, que há visão estratégica. A IA pode ser uma aliada da região — na gestão de recursos, na saúde, no turismo, na proteção ambiental — se for usada com inteligência e responsabilidade.

Não há futuro digital sem confiança. E não há confiança sem segurança nem integridade. Este congresso não é apenas um espaço para debater ameaças cibernéticas ou regulamentos como o RGPD e o RGPC. É um ponto de encontro para discutir que Algarve queremos construir com a ajuda da tecnologia. Um Algarve mais seguro, mais justo, mais competitivo.

O futuro é digital, sim. Mas tem de ser feito com responsabilidade. O Algarve está pronto para esse desafio — e este Congresso é a prova disso.

André Telheiro Santos, Empresário, Dirigente Associativo

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Seguradoras começaram o ano com menor sinistralidade

Ocidental Vida, BPI Vida e Santander Totta registam os maiores cortes nas despesas com sinistros. Ageas Seguros e Allianz andam em contraciclo, registando uma subida da taxa de sinistralidade.

A taxa de sinistralidade agregada das principais seguradoras a operar em Portugal no acumulado de janeiro e fevereiro deste ano fixou-se nos 48,02%, uma queda expressiva face aos 96,29% registados no mesmo período de 2024, segundo dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tratados pelo ECOseguros.

Entre os maiores recuos, sobressaem a Ocidental Vida, que reduziu a sua sinistralidade de 122,79% para 50,32%, uma melhoria de mais de 59 pontos percentuais, e a BPI Vida e Pensões, cuja taxa caiu de 130,48% para 60,17%. Já a Santander Totta Vida registou uma das sinistralidades mais elevadas em 2024 (148,96%), mas em 2025 apresentou uma melhoria significativa para 71,28%.

A taxa de sinistralidade da Fidelidade caiu 31,92 pontos percentuais no acumulado de janeiro e fevereiro de 2025 em termos homólogos, para 60,88%. Esta inversão ocorre apesar de a seguradora ter enfrentado um volume de sinistros ainda elevado, com mais de 487 milhões de euros em montantes pagos de seguros diretos.

A exceção à tendência de descida foi a Ageas Seguros, que viu a sua sinistralidade subir ligeiramente, de 43,93% para 48,31%, acompanhando um aumento da produção. A Allianz também registou uma subida, embora moderada, com a taxa a passar de 56,86% para 62,51%.

A CA Vida, por outro lado, destaca-se pelo contraste mais extremo: passou de uma sinistralidade de 219,52% em 2024 para apenas 13,74% este ano, ainda que com uma base de produção relativamente pequena (74,5 milhões de euros em 2025).

Em termos agregados, estas dez seguradoras representam 78,6% da quota de mercado. Os custos com sinistros, no entanto, caíram de 1,41 mil milhões para 1,23 mil milhões de euros.

 

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China e EUA acordam mecanismo de consultas comerciais

  • Lusa
  • 11 Maio 2025

A China e os Estados Unidos acordaram criar um mecanismo de consultas comerciais e económicas para solucionar a guerra tarifária declarada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

A China e os Estados Unidos acordaram criar um mecanismo de consultas comerciais e económicas para solucionar a guerra tarifária declarada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou o Governo chinês.

O vice-primeiro-ministro He Lifeng, principal negociador de Pequim nas conversações realizadas este fim de semana com a delegação norte-americana em Genebra, na Suíça, manteve uma reunião “sincera, profunda e construtiva” com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, para resolver as suas divergências.

No final, He anunciou num comunicado que “ambas as partes chegaram a um acordo sobre a criação de um mecanismo de consulta económica e comercial entre a China e os Estados Unidos e realização mais consultas sobre questões de interesse mútuo”, segundo a agência oficial de notícias chinesa, Xinhua.

Esta declaração surge depois de a Casa Branca ter anunciado um “acordo” não-especificado durante as conversações que Bessent descreveu como “produtivas” com o chefe da delegação chinesa. Depois de agradecer o “interesse” manifestado pelos seus interlocutores, Bessent comprometeu-se a fornecer mais informação sobre esta matéria na próxima segunda-feira.

As perspetivas de grandes avanços nestas conversações envoltas em secretismo pareciam escassas, embora houvesse esperança de que os dois países reduzissem os impostos maciços – tarifas aduaneiras – que aplicaram aos produtos um do outro, uma medida que aliviaria os mercados financeiros mundiais e as empresas de ambos os lados do Oceano Pacífico que dependem do comércio EUA-China.

No mês passado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, aumentou os direitos aduaneiros dos Estados Unidos sobre a China para um total de 145%, e a China retaliou, com uma taxa de 125% sobre as importações norte-americanas.

Tarifas tão elevadas equivalem essencialmente ao boicote dos produtos de um país pelo outro, perturbando trocas que, no ano passado, ultrapassaram os 660 mil milhões de dólares (586 mil milhões de euros).

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Liberalizar a ferrovia, baixar o IVA da construção e o IRS, três condições da IL para entrar num Governo

  • ECO
  • 11 Maio 2025

O líder da IL está disponível para a governação se “for para mudar Portugal”, frisando que o partido vai exigir a liberalização do mercado ferroviário, baixar o IVA da construção e o IRS.

O líder da IL afirmou estar disponível para a governação se “for para mudar Portugal”, frisando que o partido vai exigir a liberalização do mercado ferroviário, baixar o IVA da construção e o IRS. “O que nós somos, e eu espero que fique claro a partir deste dia, é um partido de governação para mudar Portugal. É agora! Portanto, já sabem, se for para mudar Portugal, se for para puxar Portugal para a frente, se for para trazer mais integridade para a governação, se for para sermos mais rigorosos, mais ambiciosos… Nós temos a coragem para isso e vamos puxar os outros todos connosco”, afirmou Rui Rocha.

O líder da IL discursava num comício em Lisboa, que fez com a cara coberta de tinta verde após dois ativistas terem invadido o palco com um cartaz em que se lia “para a nossa espécie não ficar extinta, fim ao fóssil 2030”.

Entre os exemplos que deu de áreas em que considera ser necessária mudança, Rui Rocha começou por abordar o setor ferroviário, frisando que se estão a viver dias em que “aqueles que precisam da CP para chegar ao seu emprego, para ir para casa no fim de um dia de trabalho, não têm transporte”.

“Nós temos a coragem para trazer concorrência ao mercado ferroviário. Mais ninguém tem e nós exigiremos, sim, a liberalização do mercado ferroviário”, referiu, salientando que, com a IL, os portugueses poderão escolher “o melhor serviço”. “Não vão ficar num cais, num apeadeiro, à espera de um comboio que nunca vem. Os portugueses merecem melhor, vão ter melhor com a IL”, garantiu.

Na habitação, Rui Rocha disse que, com a IL, os portugueses vão ter “mais casas”, prometendo que o partido vai ter coragem para “construir mais casas” e “atacar a burocracia”. “Há casas por aí que estão vazias. Vamos criar as condições para que elas venham para o mercado de arrendamento. Os portugueses não vão estar à espera três, quatro, dez anos até que alguém decida baixar o IVA da construção”, frisou.

Depois, o líder da IL abordou a descida dos impostos para garantir que, com a IL, “o IRS vai mesmo baixar para os portugueses, sobretudo para aqueles que carregam o país às costas”. “No dia seguinte, para mudar Portugal, nós lá estaremos, para puxar Portugal para a frente. Mas, para isso, não se enganem, aqui nesta sala está a única força política com a coragem de mudar realmente o país. Quem quer mudar, vota aqui”, pediu.

Antes deste apelo ao voto, Rui Rocha tinha salientado que, desde o início da campanha, os jornalistas lhe têm perguntado o que fará “no dia seguinte” às eleições, numa alusão a se está disponível ou não para uma coligação pós-eleitoral com a AD. “Pois eu quero ser transparente com os portugueses. É o dia de sermos absolutamente transparentes”, disse.

No entanto, antes de se manifestar disponível para a governação do país “se for para mudar Portugal”, Rui Rocha referiu que é importante esclarecer o que é a IL não é. “Nós não somos um partido de protesto, nós somos um partido de pessoas e de ideias extraordinárias”, referiu, frisando seria “um desperdício” a IL ser um partido de protesto. “Somos um partido irreverente, ambicioso, sim, mas não somos um partido de protesto porque a capacidade, a competência, o rigor, a integridade que temos exige muito mais de nós do que apenas protestar”, afirmou.

Além de partido de protesto, Rui Rocha garantiu também que a IL não é um “partido de governação para fazer mais do mesmo”, assegurando que a IL não “sabe fazer mais do mesmo”. “Nós queremos muito mais. Queremos muito mais de Portugal. Para ser mais do mesmo, não contem connosco na governação”, disse.

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Rui Rocha atingido com tinta verde durante comício em Lisboa

  • Lusa
  • 11 Maio 2025

O líder da IL, Rui Rocha, foi atingido com pó de tinta verde durante um comício em Lisboa por dois ativistas que apareceram no palco com um cartaz contra os combustíveis fósseis.

O líder da IL, Rui Rocha, foi atingido este domingo com pó de tinta verde durante um comício em Lisboa, por dois ativistas que apareceram no palco onde discursavam com um cartaz contra os combustíveis fósseis. Rui Rocha estava a meio do seu discurso durante o comício de Lisboa, quando dois jovens subiram ao palco, um deles com um cartaz em que se lia “para a nossa espécie não ficar extinta, fim ao fóssil 2030”.

Após terem trocado umas palavras, e Rui Rocha ter cumprimentado os dois ativistas, o outro jovem, com uma garrafa de ‘spray’, atirou tinta verde contra a cara e o dorso de Rui Rocha, tendo depois ambos sido retirados do palco pela equipa da IL.

Rocha reagiu ao incidente afirmando que todos têm o direito a falar, retirando o ‘blazer’, mas continuando a discursar com a cara coberta por tinta verde. “Esta é a casa da liberdade, onde todos direito a falar, mas nós também temos direito a falar e a ter as nossas escolhas. Esta é a casa da liberdade“, disse, quando os dois ativistas foram retirados do palco.

Os jovens tinham interrompido Rui Rocha precisamente numa altura em que o líder da IL contava à plateia a sua história de vida e frisava que tinha sempre crescido no trabalho por mérito e com reconhecimento pela sua “competência, rigor e integridade”.

Após ser atingido com tinta, o líder da IL recuperou a parte onde estava no seu discurso para afirmar que tinha crescido no seu trabalho “contra tudo e contra todos”. “E estes que aqui apareceram nem sequer são os mais pesados, tive muitas mais contrariedades na minha vida que venci“, afirmou, perante o aplauso dos membros da IL.

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Governo britânico vai dificultar obtenção de vistos de trabalho e facilitar deportações

  • Lusa
  • 11 Maio 2025

O Governo britânico, que tem sido pressionado para conter a imigração, vai endurecer as condições para a concessão de vistos de trabalho e facilitar a deportação de estrangeiros condenados por crimes.

O Governo britânico, que tem sido pressionado para conter a imigração, vai endurecer as condições para a concessão de vistos de trabalho e facilitar a deportação de estrangeiros condenados por crimes, anunciou a ministra do Interior.

Yvette Cooper adiantou que irá apresentar, na segunda-feira, ao parlamento um novo plano sobre a imigração, menos de duas semanas depois de o partido anti-imigração Reform UK ter ganhado uma eleição local. “Este é um plano que visa (…) reduzir significativamente a imigração líquida” no país, que atingiu 728 mil pessoas entre junho de 2023 e junho de 2024, disse Yvette Cooper em declarações à televisão Sky News.

O primeiro-ministro, Keir Starmer, defendeu estas “medidas firmes” e acusou os seus antecessores, do Partido Conservador, de terem “perdido o controlo” das fronteiras. O Partido Trabalhista, que chegou ao poder em julho passado, quer combater particularmente os vistos de trabalho, a segunda fonte mais comum de estrangeiros que chegam ao país, a seguir aos vistos de estudante.

Um requerente de um visto de trabalhador qualificado terá agora de apresentar um comprovativo de um nível de qualificação equivalente a um diploma de bacharelato. Serão feitas exceções em áreas onde há escassez de mão-de-obra.

As empresas do setor da saúde (serviços de saúde e apoio pessoal, assistência domiciliária, etc.), que dependem fortemente de trabalhadores estrangeiros, deixarão de poder recrutar diretamente no estrangeiro. “Esta é uma mudança significativa“, que também ajudará a combater a exploração, argumentou a ministra, lembrando que o combate aos abusos de migrantes nestes setores é uma questão frequentemente discutida.

O Governo espera reduzir o número de trabalhadores pouco qualificados que chegam ao país em “até 50 mil” pessoas no próximo ano, acrescentou. O plano incluirá também medidas para regular melhor os vistos familiares. O Governo pretende também facilitar a deportação de estrangeiros condenados por crimes cometidos no Reino Unido.

Atualmente, o Ministério do Interior só é notificado dos crimes cometidos por estrangeiros se estes forem condenados a penas de prisão, e as deportações dizem geralmente apenas respeito aos condenados a mais de um ano. “Implementaremos procedimentos para garantir que o Ministério do Interior é informado de todos os crimes cometidos [por estrangeiros], mesmo quando não levem a penas de prisão”, e para facilitar as deportações, explicou Yvette Cooper.

Além da imigração legal, o Governo está também sob pressão para conter a chegada de migrantes que atravessam o Canal da Mancha em pequenos barcos. No ano passado chegaram as costas britânicas cerca de 36.800 pessoas por esta via e mais de 11.000 desde o início deste ano.

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Gallagher regressa às aquisições e reforça posição em dois continentes

  • ECO Seguros
  • 11 Maio 2025

A gigante de corretagem adquiriu a turca Aspera, especializada nos setores de energia, construção e aviação, e a norte-americana Dean R. Casey & Associates, de benefícios para os trabalhadores.

A Arthur J. Gallagher anunciou a aquisição das corretoras Aspera e da Dean R. Casey & Associates. Os termos do acordo não foram divulgados no comunicado lançado pela gigante de corretagem.

J. Patrick Gallagher, Jr., presidente e diretor-executivo da Arthur J. Gallagher, acredita que as aquisições vão melhorar as capacidades de corretagem na Turquia e nos benefícios para pequenos grupos.

A Aspera é uma empresa de corretagem de seguros e resseguros sediada em Istambul, Turquia, especializada em clientes que operam nos setores da energia, propriedade industrial, linhas financeiras, construção, aviação e espaço.

O sócio-fundador, Evrim Özkoç, e a equipa de corretagem permanecerão na empresa sob a direção de Gündüz Tezel, responsável pelas operações da Gallagher na Turquia.

“A Aspera é uma empresa altamente conceituada, cuja experiência de mercado irá melhorar as nossas capacidades de corretagem existentes na Turquia”, disse J. Patrick Gallagher, Jr., presidente e diretor-executivo da Arthur J. Gallagher.

Por sua vez, a Dean R. Casey & Associates é uma corretora especializada em benefícios para trabalhadores de empresas em Texas, onde é sediada. Os produtos são desenhados para grupos de pequena e média dimensão e de forma individual.

O fundador, Dean Casey, e a sua equipa vão para o escritório da Gallagher em Dallas, sob a direção de Leah Vetter, responsável pelas operações de consultoria de benefícios para empregados da região central dos Estados Unidos da Gallagher.

“Dean R. Casey & Associates é uma empresa bem conceituada que irá melhorar nossas capacidades de corretagem de benefícios para pequenos grupos”, disse J. Patrick Gallagher, Jr., Presidente e CEO.

A Arthur J. Gallagher & Co uma empresa global de corretagem de seguros, gestão de riscos e serviços de consultoria, está sediada em Rolling Meadows, Illinois. A Gallagher presta estes serviços em cerca de 130 países em todo o mundo através das suas próprias operações e de uma rede de corretores e consultores correspondentes, sendo representada em Portugal pela corretora Costa Duarte.

 

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Custo dos eventos extremos deixa de ser monitorizado nos EUA

  • Lusa
  • 11 Maio 2025

Avaliar o impacto destes eventos, alimentados pela rutura climática, é essencial para o cálculo dos prémios de seguro, em especial nos aglomerados mais sujeitos a inundações, tempestades e incêndios.

A agência federal para a Atmosfera e os Oceanos (NOAA, na sigla em Inglês) vai deixar de monitorizar os custos de eventos extremos, como inundações, ondas de calor, incêndios e outros, alimentados pela rutura climática global.

Este é o exemplo mais recente das alterações ao funcionamento desta agência e da limitação dos recursos federais destinados à ação focada naquela rutura.

A NOAA está integrada no Departamento do Comércio e tem a função de fazer previsões meteorológicas diárias, alertar para a aproximação de tempestades e monitorizar o clima. Tem ainda relações com o Serviço Meteorológico Nacional.

A agência informou que os seus Centros Nacionais para a Informação Ambiental vão deixar de atualizar a sua base de dados Desastres Meteorológicos e Climáticos com custos superiores a mil milhões de dólares além de 2024 e que, além disso, a informação, que recua a 1980, vai ser arquivada.

Durante décadas, a NOAA acompanhou centenas de eventos extremos nos EUA, incluindo furacões, tempestades de granizo, secas e nevões, que totalizaram prejuízos de biliões (milhão de milhões) de dólares.

A base de dados obtém a sua informação da agência federal de gestão de emergências (FEMA, na sigla em Inglês), companhias de seguros, agências estaduais e outras recorrem a esta para estimar o custo total dos eventos extremos individualmente considerados.

Os cientistas têm avisado que estes eventos estão a tornar-se mais frequentes, destrutivos e fortes com as alterações climáticas.

Entre os exemplos destes eventos estão, mencionaram, a recente vaga de calor, o furacão Milton, os fogos florestais no sul da Califórnia e o frio extremo.

Avaliar o impacto destes eventos, alimentados pela rutura climática, é essencial para o cálculo dos prémios de seguro, em especial nos aglomerados mais sujeitos a inundações, tempestades e incêndios.

A indústria seguradora tem sofrido com estes eventos extremos e os proprietários de casas estão em risco de ver os prémios crescerem de forma acentuada.

Uma limitação da base de dados é que apenas colige os eventos mais destrutivos.

A informação é vista como padronizada e não replicável, uma vez que a NOAA tem acesso a informação que não é pública, e outras bases de dados privadas seriam mais limitadas na dimensão e não tão difundidas, desde logo por razões de propriedade.

Jeff Masters, meteorologista na Yale Climate Connections, considerou a base de dados da NOAA como “o padrão para avaliar os custos dos eventos extremos”.

Apesar de haver fontes alternativas, como as seguradoras ou as bases de dados internacionais, a perda da base da NOAAé muito relevante, uma vez que ocorre quando se precisa de compreender melhor como é que as alterações climáticas estão a aumentar os prejuízos causados pelos desastres”.

Estas decisões também “não mudam o facto de que estes desastres estão a ser cada vez mais graves, ano após ano”, apontou Kristina Dahl, vice-presidente para a Ciência da organização ambiental com fins não-lucrativos Climate Central.

“Os eventos climáticos extremos que causam destruição elevada são uma das formas mais básicas que as pessoas têm para ver que o clima está a mudar e a afetá-las”, acentuou.

Kristina Dahl considerou “crítico” destacar estes eventos quando ocorrem, uma vez que “todas estas mudanças climáticas vão aumentar os riscos para as pessoas”.

A alteração, noticiada pela CNN, é o esforço mais recente de Donald Trump para remover referências à rutura climática e ao impacto dos gases com efeito de estufa do léxico e dos documentos oficiais.

Trump, pelo contrário, tem favorecido os aliados que operam nas indústrias poluentes do carvão, petróleo e gás, que têm sido ligadas pelos cientistas à rutura climática.

Esta alteração na capacidade da NOAA segue-se a outras, como o despedimento de mais de 10% dos trabalhadores, com analistas a apontarem a deterioração das previsões meteorológicas e o risco que aquela redução de capacidades coloca às vidas humanas e à economia dos EUA.

 

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