Tarifas. CEO do grupo da Louis Vuitton é a favor de “uma zona de comércio livre” entre UE e EUA

  • Lusa
  • 17 Abril 2025

“Estas negociações são vitais para muitas empresas em França e, infelizmente, tenho a impressão de que os nossos amigos britânicos são mais concretos no progresso das negociações”, lamentou Arnault.

O presidente executivo (CEO) da LVMH apelou esta quinta-feira para que os líderes europeus resolvam “amigavelmente” as tensões comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos, dizendo-se a favor de “uma zona de comércio livre” entre ambos.

“Estas negociações são vitais para muitas empresas em França e, infelizmente, tenho a impressão de que os nossos amigos britânicos são mais concretos no progresso das negociações”, lamentou Bernard Arnault à margem da assembleia-geral Anual (AGM).

O grupo LVMH, número um mundial de artigos de luxo, realizou esta quinta a assembleia-geral anual num contexto delicado de queda das vendas, enquanto esperava um acordo sobre os direitos aduaneiros e procurava tranquilizar os acionistas sobre a sucessão de Bernard Arnault. “O ano de 2025 está a ter um início atribulado, se preferirem”, afirmou o presidente executivo do grupo.

“Até ao final de fevereiro, tudo correu muito bem, depois, deparámo-nos com uma situação geopolítica e económica mundial que foi virada do avesso por potenciais direitos aduaneiros e pelo agravamento das crises internacionais”, acrescentou. O grupo francês de artigos de luxo realiza 25% das suas vendas nos Estados Unidos e na terça-feira anunciou uma queda de 2% nas vendas do primeiro trimestre, para 20,3 mil milhões de euros.

“Temos absolutamente de chegar a um acordo, tal como os dirigentes de Bruxelas parecem estar a tentar chegar a um acordo para o automóvel alemão, é vital para a viticultura francesa”, insistiu Arnault. A LVMH realiza 34% das vendas dos seus vinhos e bebidas espirituosas (Dom Pérignon, Hennessy, Krug, etc.) nos Estados Unidos.

Se “acabarmos com direitos aduaneiros elevados (…) teremos de aumentar a nossa produção americana e não podemos dizer que a culpa é das empresas, a culpa será de Bruxelas se isto acontecer”, afirmou o empresário, que assistiu na primeira fila à tomada de posse de Donald Trump, em janeiro.

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FMI espera reduções “significativas” do crescimento, mas descarta recessão

Diretora-geral do FMI alerta que tarifas levarão a menos crescimento económico e que setores de alguns países podem ser inundados por importações baratas, enquanto outros sofrerão de escassez.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a incerteza e as tarifas custam “caro” à economia, pelo que antecipa uma desaceleração do crescimento global. Contudo, descarta um cenário de recessão. Em simultâneo, admite que a guerra comercial se irá traduzir numa subida da inflação em alguns países.

No tradicional discurso que antecede as reuniões de primavera da instituição e do Banco Mundial, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, considerou que a resiliência é novamente testada, desta vez, por um novo capítulo no sistema global de comércio, e que este “é como a água”: “quando os países colocam obstáculos na forma de barreiras tarifárias e não tarifárias, o fluxo desvia-se“, afirmou.

Alguns setores em alguns países podem ser inundados por importações baratas, outros podem sofrer escassez. O comércio continua, mas as interrupções geram custos“, acrescentou a diretora-geral do FMI, acrescentando que o fundo quantificará esse impacto no World Economic Outlook, que será divulgado na próxima terça-feira, 22 de abril.

Georgieva adianta que “as novas projeções de crescimento irão incluir reduções significativas, mas não recessão“. Serão ainda registados “aumentos nas previsões de inflação para alguns países“.

A responsável da instituição de Bretton Woods alerta que a incerteza elevada e prolongada aumenta o risco de stress no mercado financeiro. “No início deste mês, observámos movimentos incomuns em alguns mercados importantes de títulos e moedas. Vemos como, apesar da elevada incerteza, o dólar se desvalorizou e as curvas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA ‘sorriram’ — não é o tipo de sorriso que se deseja ver. Tais movimentos devem ser interpretados como um alerta. Todos sofrem se as condições financeiras piorarem”, referiu.

Alguns setores em alguns países podem ser inundados por importações baratas, outros podem sofrer escassez. O comércio continua, mas as interrupções geram custos.

Kristalina Georgieva

Diretora-geral do FMI

Georgieva alertou ainda que a complexidade das cadeias de abastecimento modernas implica que bens importados alimentam uma ampla gama de produtos nacionais, pelo que o custo de um produto acabado pode ser afetado por tarifas em dezenas de países.

“Num mundo de tarifas bilaterais, cada uma das quais pode estar a subir ou descer, o planeamento torna-se difícil. O resultado? Navios no mar sem saber para que porto navegar, decisões de investimento adiadas, mercados financeiros voláteis, poupanças preventivas em alta. Quanto mais tempo a incerteza persistir, maior será o custo”, advertiu.

A diretora-geral do FMI realçou igualmente que o aumento das barreiras comerciais afeta antecipadamente o crescimento, argumentando que as tarifas não são pagas apenas pelos parceiros comerciais. Os importadores pagam parte com lucros menores e os consumidores pagam parte com preços mais altos. Ao aumentar o custo dos bens importados, as tarifas agem antecipadamente”, assinalou, considerando também que “o protecionismo corrói a produtividade a longo prazo”, sobretudo em economias de menor dimensão.

Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMIBanco Mundial

União Europeia “precisa de menos restrições” ao comércio interno de serviços

Kristalina Georgieva recomenda ainda que a União Europeia (UE) avance com a união bancária e a união do mercado de capitais, ao mesmo tempo que faça progressos no mercado único. “A Europa precisa de menos restrições ao comércio interno de serviços“, apontou.

Ademais, a responsável do FMI vaticinou que “a expansão orçamental assertiva da Alemanha para facilitar os gastos com defesa e infraestrutura impulsionará a procura interna, assim como as políticas em toda a UE para melhorar a competitividade através do aprofundamento do mercado único”.

“Em conjunto, a flexibilização orçamental e uma integração mais forte impulsionariam o crescimento, aumentariam a resiliência e melhorariam os equilíbrios interno e externo”, argumentou.

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Lagarde: “Prontidão e agilidade” vão determinar decisões do BCE numa altura de “incerteza excecional”

Christine Lagarde sublinhou que, mais do que nunca, o BCE terá de depender de dados para navegar neste momento de extrema incerteza causada pela guerra comercial.

Num momento de “incerteza excecional” para as perspetivas económicas, provocada pela guerra comercial lançada pelos Estados Unidos, o Banco Central Europeu estará especialmente dependente de dados fiáveis, numa postura que será determinada pela prontidão e pela agilidade, afirmou esta quinta-feira a presidente da instituição, Christine Lagarde.

“As perspetivas económicas estão ensombradas por incerteza excecional“, afirmou Lagarde numa conferência de imprensa depois de o banco central ter cortado as taxas de juro em 25 pontos base pela sexta reunião seguida.

Em relação às tarifas aduaneiras impostas pela Administração Trump, Lagarde afirmou que o BCE sabe que se trata de um choque negativo na procura: “Podemos prever que terá algum impacto no crescimento, mas o impacto líquido na inflação só se tornará mais claro com o passar do tempo.”

Questionada repetidamente pelos jornalistas sobre a estratégia do banco central da Zona Euro durante esse período, Lagarde evitou dar pistas concretas. “Não vou comentar a direção da viagem, vou comentar o destino, que — como sabem — é o nosso objetivo de 2%”, respondeu a uma das perguntas.

A presidente do BCE reconheceu que a sua constante referência à dependência dos dados para o BCE tomar decisões “pode ser irritante” para alguns, mas sublinhou que, “mais do que nunca, agora temos de ser dependentes dos dados e temos de confiar em dados seguros e fiáveis”.

“Vamos estar particularmente atentos a tudo isso neste momento, e vamos decidir reunião a reunião, o que é certo é o destino”, adiantou.

Com esses dados na mão, a posição do BCE terá de ser determinada por dois atributos fundamentais, explicou a francesa. “E o primeiro é a prontidão, temos de estar atentos a todos os desenvolvimentos e, em particular, ao desenvolvimento desses novos choques e ser capaz de tomar as decisões adequadas”, disse. “Este é o primeiro. O segundo é a agilidade.”

Lagarde confirmou que o corte de 25 pontos base, que levou a taxa de facilidade de depósito para 2,25%, o nível mais baixo desde fevereiro de 2023, foi unânime no Conselho.

“Foram debatidas opções, mas não houve ninguém que defendesse um corte de 50 pontos base, por exemplo, pelo que 25 pontos base foi definitivamente o corte de taxas com o qual todos na sala concordaram”, sublinhou.

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Lagarde explicou 6.º corte seguido de juros. Reveja aqui

  • ECO
  • 17 Abril 2025

Presidente do Banco Central Europeu falou sobre o racional por detrás do novo corte nas taxas de juro e os próximos passos na política monetária numa altura de incerteza global.

Os potenciais impactos da guerra comercial no crescimento económico e na inflação na Zona Euro estiveram em foco na conferência de imprensa de Christine Lagarde em Frankfurt, após o Banco Central Europeu ter anunciado mais um corte de 25 pontos base nas taxas de juro. Reveja aqui a conferência de imprensa.

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Viticultores do Douro recebem cartas a cancelar encomendas e admitem boicotar eleições

  • Lusa
  • 17 Abril 2025

Mais de 150 viticultores do Douro viram encomendas serem canceladas e ameaçam agora boicotar as eleições legislativas de 18 de maio, caso o Governo não proteja a fileira do vinho.

Mais de 150 viticultores do Douro receberam cartas a cancelar encomendas de uvas para este ano, o que está a gerar receio e indignação, podendo até levar a um boicote às eleições legislativas de 18 de maio.

“Está-se a iniciar a catástrofe que já tínhamos previsto na última campanha, que no ano passado foi próximo da vindima, em que as casas compradoras de uvas disseram que não queriam comprar uvas. Este ano estamos em abril e o cenário já se está a tornar negro”, disse à Lusa Marinete Alves, que faz parte do Conselho Regional da Casa do Douro.

De acordo com a também dinamizadora da petição de 2024 “Salvem os viticultores do Douro”, que chegou às 2.600 assinaturas, “ainda se iniciou agora o abrolhamento da vinha e [os viticultores] estão na iminência de não ter a quem vender as uvas, seja para a produção de vinho do Porto seja de vinho do Douro”.

Em causa estão cartas enviadas por pelo menos cinco produtores de vinho a mais de 150 viticultores do DouroLusa

Os produtores “simplesmente não querem porque dizem que estão com stock“, referiu, confirmando que em causa estão cartas enviadas por pelo menos cinco produtores de vinho a mais de 150 viticultores.

Uma delas, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira, fala no “acentuado decréscimo de consumo de vinho do Porto a nível global nos últimos dois anos”, frisando a empresa que não irá “comprar quaisquer uvas brancas ou tintas DOC Porto, ou quaisquer uvas brancas ou tintas DOC Douro, em 2025”.

“A verdade é que a esta empresa não resta outra alternativa que não esta decisão drástica, que lamentamos e para a qual apelamos à sua compreensão”, refere a missiva enviada aos viticultores, no caso dos Vinhos Messias.

Para os viticultores, na sua maioria pequenos e médios, os próximos passos são “alertar as entidades responsáveis, nomeadamente o Governo, pela falta de medidas implementadas para resolver a curto prazo e minimizar os prejuízos que os viticultores estão a ter”.

“Ponderamos manifestar-nos junto do Governo e, neste momento, com as eleições que agora [estão] à porta, as legislativas, mostrar o nosso desagrado e descontentamento boicotando as eleições”, admitiu Marinete Alves, referindo que pode estar em causa evitar “a abertura das mesas de voto”.

Ponderamos manifestar-nos junto do Governo e, neste momento, com as eleições que agora [estão] à porta, as legislativas, mostrar o nosso desagrado e descontentamento boicotando as eleições.

Marinete Alves

Conselho Regional da Casa do Douro

Os viticultores pedem “apoio direto, porque um viticultor que viva exclusivamente da viticultura não ter onde vender as suas uvas fica sem o seu modo de sobrevivência”.

“O que vai ser destas famílias? É uma situação mesmo preocupante”, alertou ainda, apontando que “as casas começam por prescindir dos pequenos viticultores”, mas os “que tenham uma área considerável são os últimos a serem prescindidos por estas casas”.

Segundo a viticultora, “os mais pequenos, que são realmente os que têm mais dificuldades, são os primeiros a serem penalizados”.

A também presidente da associação Lutar pelo Douro deu nota que as pessoas estão a ficar “revoltadas pela falta de comportamento mais correto” por parte do Governo e do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), acusando-os de não “assumir e resolver os problemas, que são sérios e graves”.

“Sabem da situação e nada tem sido feito”, sendo a situação “muito anterior” à possibilidade de imposição de taxas alfandegárias nos Estados Unidos da América, um dos principais mercados de exportação dos vinhos portugueses.

Os viticultores continuam a “aguardar o estudo que o senhor ministro [da Agricultura, José Manuel Fernandes] pediu sobre a aguardente ser produzida com uvas exclusivas da região do Douro” há quatro meses.

“Não podemos exigir a compra das uvas pelas entidades, evidentemente. A lei do mercado é esta, compra e venda, é assim, no entanto, até agora têm sido adotadas medidas de apoio ao comércio, nomeadamente com a destilação de crise. Nós exigimos, numa situação como a que está a acontecer, pelo menos a ajuda ao viticultor diretamente”, vincou.

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“Portugal tem de estar no ciclo produtivo” da defesa europeia, diz Nuno Melo

O ministro da Defesa afirma que há “margem brutal” e “oportunidade” para a indústria portuguesa produzir componentes ou fazer manutenção de equipamentos para segurança europeia.

Portugal deve ‘premir o gatilho’ das linhas de produção de maquinaria e componentes para a defesa. É esta a mensagem do ministro Nuno Melo, que acredita que o país tem uma nova oportunidade de reindustrialização perante os desafios que a segurança europeia enfrenta.

“Temos de produzir mais na Europa e comprar mais na Europa. As opções têm de ser as europeias e Portugal tem de estar no ciclo produtivo. Não quer dizer que esteja de A a Z, mas na produção de componentes ou manutenção”, apelou esta quinta-feira o ministro da Defesa, na conferência “Relatório Draghi” sobre segurança e defesa, organizada pelo ECO.

As aquisições da União Europeia (UE) na área da defesa, a maioria provinda de países extra-UE, também são uma preocupação do atual Governo, que considera Portugal uma nação com capacidade exportadora neste setor. “Cerca de 80% das aquisições da UE vêm de fora da UE, portanto há uma margem brutal. E têm de ser nossas também”, disse.

O ministro da Defesa referia-se a aquisições no âmbito da Lei de Programação Militar (LPM) e fora deste quadro legislativo, nomeadamente de aeronaves de instrução, simuladores, bombardeiros para combate aos fogos, sistema de artilharia, viaturas blindadas e não blindadas, drones ou navios reabastecedores.

Fabricam-se em Portugal alguns dos melhores drones que se produzem no mundo inteiro, para contextos de guerra ou de paz. Devemos encarar as fragilidades nas indústrias da defesa na União Europeia como uma oportunidade. Não a podemos perder. Portugal não pode ficar à margem da dinâmica de um processo que não volta atrás”, advertiu o governante.

Segundo Nuno Melo, o investimento nacional na defesa – atualmente de 3,1 mil milhões de euros – não requer retirar verbas de outros setores nem “se compara com outras áreas da soberania”, como a educação, para onde estão alocados mais de sete mil milhões de euros, anualmente. “Queremos gerar retorno para a economia e não retirar dinheiro do Orçamento do Estado”, reiterou.

Nuno Melo, ministro da Defesa, na conferência do ECO “Relatório Draghi: Segurança e Defesa”Hugo Amaral/ECO

“Cada KC vendido são 10 milhões para o Estado”

E deu como exemplo da recente aquisição de 12 aeronaves A-29N Super Tucano por 200 milhões de euros, cuja reforma será realizada em Portugal. Ou seja, a reconfiguração das aeronaves da Embraer para o contexto da NATO será feita exclusivamente por empresas portuguesas e 75 milhões de euros serão investidos nos privados para o desenvolvimento de tecnologias de defesa. “Mesmo na política de aquisições queremos assegurar retorno para a economia”, explicou Nuno Melo, esclarecendo que as compras em Portugal são de dimensão militar e civil.

O ministro da Defesa disse ainda que Portugal opera quase como uma agência de vendas de aviões militares KC na Europa. “Cada KC que é vendido significam 10 milhões que entram nos cofres do Estado”, revelou.

A propósito do relatório Draghi sobre a competitividade europeia, Nuno Melo elencou uma série de tópicos que se relacionam com o país, entre os quais o capital – importância da “indústria intensiva que requer reforço do investimento e financiamento” -, o controlo das contas públicas – pasta entregue a Miranda Sarmento, com quem se está a coordenar – e a contratação pública com a ‘via verde’, “que envolve transparência” e desburocratização.

Destacou ainda a estreita ligação do Ministério que dirige com o Ministério da Economia, liderado por Pedro Reis, de forma a maximizar o retorno económico do reforço do investimento em Defesa.

 

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BCE volta a cortar taxas de juro em 25 pontos base. Facilidade de depósito desce para 2,25%

Escalar da guerra comercial enfraqueceu o 'outlook' económico e aumentou a pressão deflácionária, duas razões que levaram o banco central a decidir cortar as taxas de juro pela sexta reunião seguida.

O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) voltou esta quinta-feira a cortar as taxas de referência em 25 pontos base, numa decisão que era antecipada pelos investidores e analistas. Trata-se da sexta vez consecutiva (e a sétima em oito reuniões) que a autoridade da política monetária corta o custo do euro.

Com esta decisão, anunciada pelo Conselho do BCE em Frankfurt, na Alemanha, a taxa de juro da facilidade permanente de depósito desce para 2,25%, o nível mais baixo desde fevereiro de 2023.

A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e a taxa de juro da facilidade permanente de cedência marginal de liquidez fixam-se em 2.40% e 2,65%, respetivamente.

Este é o topo do intervalo 1,75%-2,25% que o banco central definiu como “neutro”, não impulsionando nem restringindo a atividade económica e, por conseguinte, o BCE retirou do comunicado de imprensa a referência ao facto de as taxas de juro serem “restritivas”.

Tensões pioraram perspetivas

O banco central referiu que a economia da Zona Euro tem vindo a ganhar alguma resistência aos choques mundiais, mas alertou que “as perspetivas de crescimento deterioraram-se devido ao aumento das tensões comerciais“.

“O aumento da incerteza é suscetível de reduzir a confiança das famílias e das empresas, e a reação adversa e volátil do mercado às tensões comerciais é suscetível de ter um impacto restritivo nas condições de financiamento”, explicou, adiantando que estes fatores podem continuar a pesar sobre as perspetivas económicas da Zona Euro.

Em relação ao processo da desinflação, a instituição liderada por Lagarde afirmou que está “bem encaminhado”.

“A inflação continuou a evoluir de acordo com as expectativas dos especialistas, tendo tanto a inflação global como a inflação subjacente diminuído em março”, acrescentou, recordando ainda que a inflação dos serviços também registou um abrandamento acentuado nos últimos meses.

“A maioria das medidas da inflação subjacente sugere que a inflação se fixará, de forma sustentada, em torno do objetivo de médio prazo de 2% fixado pelo Conselho do BCE”, vincou, notando também que o crescimento dos salários está a moderar e os lucros estão a amortecer parcialmente o impacto do crescimento ainda elevado dos salários na inflação.

“Mais por vir”

“O que começou em junho do ano passado como uma tentativa muito ponderada do BCE de reduzir gradualmente o nível de restritividade da política monetária transformou-se numa corrida em direção a taxas de juro neutras, e ainda há mais por vir”, afirmaram os analistas do banco de investimento neerlandês ING.

“Com os últimos acontecimentos, a escalada das tensões comerciais, a incerteza política sem precedentes e o fortalecimento da taxa de câmbio do euro, a decisão de hoje do BCE de cortar as taxas de juros em 25 pontos base não foi nenhuma surpresa“, adiantaram.

(Notícia atualizada às 13h40 com mais informação)

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Worten tem 50 vagas para estágios remunerados. Procura finalistas e recém-graduados

Inscrições para programa de estágios "Play Your Future" da Worten estão abertas até 26 de abril. Há 50 vagas, sendo que os selecionados receberão bolsa e subsídio de refeição.

A Worten está à procura de finalistas de licenciatura ou mestrado e recém-graduados para as 50 vagas de estágio que acaba de abrir. Em declarações ao ECO, a head of people, Inês de Castro, explica que os selecionados terão direito a bolsas de estágio, às quais acrescerão o subsídio de refeição.

“Nos estágios da Worten, procuramos essencialmente jovens curiosos, criativos, que gostem de tecnologia e que se revejam na área de retalho, podendo ter um background académico nas mais variadas áreas: gestão, engenharia, IT, marketing e tantas outras”, salienta a responsável, que detalha que as referidas 50 vagas dizem respeito a diferentes departamentos, da comunicação aos serviços financeiros, passando pelas operações.

As candidaturas estão abertas até 26 de abril, sendo que os estágios — que terão lugar na Azambuja, Carnaxide e Matosinhos (em modelo híbrido) — arrancarão em setembro. Terão a duração de 12 meses.

“Além do modelo de trabalho híbrido e da formação inicial e contínua, os trainees terão o acompanhamento de um orientador para todo o plano de trabalho idealizado, numa componente mais formal, e ainda de um buddy, que os poderá ajudar com os temas mais informais do dia-a-dia”, destaca a Worten, em comunicado.

No decorrer do estágio, os selecionados terão ainda a oportunidade de realizar um projeto de inovação em conjunto com estagiários de outras áreas de negócio e a possibilidade de integrar a empresa após o término do programa.

“Desde o lançamento do programa, em 2019, o balanço tem sido bastante positivo. Sabemos que, ao ritmo a que o mercado se encontra, há um desafio generalizado no que diz respeito à atração e seleção dos melhores talentos nas mais variadas áreas. Em 2024, contámos com mais de 1.980 candidaturas e com a colaboração de aproximadamente 360 jovens nas nossas diferentes modalidades de estágio“, afirma Inês de Castro.

Segundo a responsável, este programa de estágios já é “principal fonte de atração e retenção de talento jovem na Worten“, contando com uma taxa média de retenção após o estágio de 59%. “Significa que muitos destes jovens ficam, após o estágio, a trabalhar na empresa”, remata a head of people.

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Consórcios criam “rede de fornecedores” para acelerar produtos inovadores na indústria

No âmbito do Programa Acelerar a Economia, consórcios de inovação vão desenvolver e fornecer bens e serviços inovadores de média e alta tecnologia a polos de produção industrial.

O Governo vai lançar a iniciativa Rede de Fornecedores Inovadores (CCRFI), no âmbito do Programa Acelerar a Economia. O objetivo passa por criar consórcios de inovação para desenvolver e fornecer bens e serviços inovadores de média e alta tecnologia a polos de produção industrial.

“A Rede de Fornecedores Inovadores visa a criação de consórcios de inovação liderados por empresas de dimensão relevante, designadas de empresas nucleares, e participação de PME, Small MidCaps e centros de investigação e desenvolvimento (I&D)”, lê-se no despacho publicada esta quinta em Diário da República.

Numa primeira fase, são selecionados através de um processo aberto e competitivo, empresas nucleares que atuem em polos de especialização, inseridas em cadeias de valor internacionais e com forte vocação exportadora.

Após o processo de seleção, numa segunda fase, serão lançados avisos específicos para apresentação de projetos, no âmbito das diversas tipologias dos sistemas de incentivos do Portugal 2030 (PT2030), visando o financiamento das empresas que irão integrar os consórcios e desenvolver os projetos.

Com esta aposta, o Executivo espera que “a rede de fornecedores inovadores potencie as oportunidades decorrentes da reorganização das cadeias de abastecimento e dos planos de reindustrialização europeus”.

A Rede de Fornecedores Inovadores será constituída pelo presidente da comissão diretiva da Autoridade de Gestão do Programa Inovação e Transição Digital (Compete 2030) e irá coordenar nove membros, em representação da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI), Agência Nacional de Inovação (ANI), Turismo de Portugal e um representante de cada Comissão de Desenvolvimento Regional (CCDR).

No entanto, a Rede de Fornecedores Inovadores “pode solicitar a colaboração ou proceder à consulta de outras entidades, públicas ou privadas, ou de especialistas de comprovada competência, cujo contributo seja considerado de relevância na análise e acompanhamento técnico dos investimentos apoiados”, lê-se no despacho.

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Banco de Fomento já aceitou 3.072 candidaturas às garantias pré-aprovadas

Banco Português de Fomento recebeu um total de 6.155 candidaturas às garantias pré-aprovadas, das quais 3.900 são de novos clientes da garantia mútua.

O Banco de Fomento recebeu 6.155 candidaturas desde o arranque das garantias pré-aprovadas no âmbito da linha BPF InvestEU, a 31 de março. Em causa estão 1,88 mil milhões de euros. Nas duas primeiras semanas foram aprovadas 3.072 candidaturas, revelou o presidente do Banco de Fomento, Gonçalo Regalado.

“Foram aprovadas 3.072 candidaturas nas duas primeiras semanas”, disse Gonçalo Regalado, explicando que as candidaturas são aprovadas numa lógica first in, first out. Em média, as candidaturas rondam os 300 mil euros, revelou ainda o presidente do Banco de Fomento na conferência de imprensa que assinala os 100 primeiros dias de mandato.

O BCP, de onde vem Gonçalo Regalado, continua a ser o banco largamente destacado com o maior número de candidaturas (3.363) seguido da Caixa (748) e do Santander (581). O presidente executivo do BPF garante que o lugar de destaque do BCP se justifica pelo facto de o banco ter um modelo de garantias pré-aprovadas o que lhe permitiu adaptar-se melhor, mas com o tempo os outros bancos irão reagir. “O que mudou não foi a performance do BCP, mas do BPF que passou a ter garantias pré-aprovadas. O BCP, que sempre teve crédito aprovado, adaptou-se melhor e mais rapidamente”, explicou quando questionado sobre o desempenho destacado do Banco liderado por Miguel Maya.

“As administrações dos bancos comerciais dizem-me que começou assim, mas não vai acabar assim”, frisou Regalado. “A competitividade na banca comercial é boa para que o empresário não tenha uma mas várias opções para escolher a sua melhor solução. A nossa expectativa e de que de 100 em 100 dias as barras sejam alisadas”, acrescentou.

Foi possível fazer em três meses mais do que em dois anos e a probabilidade de fecharmos este trimestre com um balaço que é o dobro é a grande ambição”, disse Regalado, sublinhando que estão mais dois milhões em avaliação, que poderão somar aos mil milhões aprovados.

A meta no segundo trimestre é ter “três mil milhões de euros de candidaturas aprovadas e mais de dez mil empresas servidas”, disse Regalado.

Há candidaturas de todos os setores — dos serviços à construção, passando pela logística e pela agricultura – e de norte a sul do país. Mas o destaque vai para o comércio e a indústria, que lideram em número de candidaturas e no valor. O comércio apresentou candidaturas de 528 milhões de euros (28% do total). As 1.758 candidaturas, têm um valor médio de 300,5 mil euros. Já na indústria as candidaturas somam 485 milhões (26% do total) e ascendem a 1.128. Assim, o valor médio é o mais elevado de todos os setores 430 milhões.

Das 6.155 candidaturas no portal, 3.900 candidaturas são de novos clientes da garantia mútua com um valor de 1.118 milhões de euros.

Em termos regionais há uma maior incidência das candidaturas em Lisboa (429) e no Porto (383), mas também em Braga (223) e Aveiro (139) que apesar de terem valores distintos têm quase o mesmo valor: 566 e 525 milhões, respetivamente.

(Notícia atualizada com mais informação)

 

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Empresas turísticas atingidas pela Tempestade Martinho vão ter apoios de cinco milhões. Veja as condições

Linha de apoio cobre até 85% do investimento para reabilitar os ativos turísticos danificados pela tempestade de março, até um limite máximo de 50 mil euros por empresa.

O Governo lançou uma linha de apoio no valor de cinco milhões de euros para ajudar as micro, pequenas e médias empresas com atividades turísticas que foram atingidas pela Tempestade Martinho no passado mês de março. Os apoios cobrem até 85% das despesas elegíveis, com um teto máximo de 50 mil euros por empresa.

“A natureza imprevisível da intempérie em causa e a severidade anormal da tempestade Martinho, associadas à extensão dos danos provocados e ao facto de as empresas atingidas serem sobretudo de micro e pequena dimensão, justifica que se promova a criação de um instrumento de apoio financeiro que permita criar as condições para a recuperação dos ativos atingidos e a reposição da normal atividade económica das empresas“, adianta o regulamento da Linha de Apoio ao Investimento de Reposição das Empresas Turísticas 2025 – Tempestade Martinho, publicado em portaria no Diário da República.

Com uma dotação de cinco milhões de euros, verba assegurada pelo Turismo de Portugal, a nova linha destina-se a ajudar as empresas a recuperar e reabilitar os ativos atingidos pela tempestade Martinho, que atingiu Portugal entre os dias 18 e 20 de março de 2025, permitindo a estas empresas retomar a sua atividade económica normal.

Podem candidatar-se a estes apoios “micro, pequenas e médias empresas que exerçam atividades turísticas”, que sofreram danos com a tempestade de março, podendo aceder até um apoio máximo de 50 mil euros por empresa, ou 85% das despesas para reabilitar o seu negócio.

O regulamento explica que os apoios destinam-se a “necessidades de financiamento que visem exclusivamente a realização de investimentos para a recuperação dos ativos empresariais danificados, total ou parcialmente, pela citada tempestade”.

São assim consideradas despesas elegíveis os custos diretamente relacionados com a execução do projeto:

  • Execução de estudos, projetos e assistência técnica, bem como fiscalização externa da execução dos investimentos, até ao limite de 10 % do valor total das despesas elegíveis;
  • Obras de construção e de adaptação; aquisição de bens e de equipamentos, incluindo a aquisição de sistemas de informação, software e equipamentos informáticos;
  • Material circulante que constitua a própria atividade turística a desenvolver, desde que diretamente relacionadas com o exercício dessa atividade e desde que não movidos por combustíveis fósseis;
  • Intervenção de revisores ou contabilistas certificados externos, no contexto do desenvolvimento do projeto até ao limite de 2500 euros.

No apuramento das despesas elegíveis é deduzido o montante das indemnizações dos seguros ou de outras doações ou compensações recebidas para cobrir total ou parcialmente os danos causados pela situação adversa.

Por outro lado, “as aquisições de bens e serviços são efetuadas em condições de mercado e a entidades fornecedoras com capacidade para o efeito” e “os custos incorridos com investimentos em ativos intangíveis só são considerados elegíveis caso fique demonstrado que foram adquiridos em condições de mercado e a terceiros não relacionados com o adquirente“.

A apresentação de candidaturas terá de ser formalizada por via eletrónica junto do Turismo de Portugal, que tem um prazo de 20 dias úteis para dar uma resposta à candidatura.

Em termos de pagamentos, “é processado um adiantamento automático inicial após a validação do termo de aceitação, no montante equivalente a 75% do incentivo aprovado”. O pedido de pagamento final deve ser apresentado pelo beneficiário no prazo máximo de 30 dias úteis após a data de conclusão do projeto, sendo o montante de incentivo a disponibilizar apurado com base em declaração de despesa de realização de investimento elegível subscrita pela empresa e confirmada por contabilista certificado ou por revisor oficial de contas.

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“É preciso coragem para por mulheres à frente dos negócios”

  • Rita Ibérico Nogueira
  • 17 Abril 2025

Fomos experimentar o menu de 12 momentos criado pela chef do momento, Marlene Vieira. O Marlene entrou diretamente para o nosso top 3: é fora de série e merece cada estrela que ainda esteja por vir.

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Não foi fácil, mas conseguimos. Nas semanas que se seguiram à atribuição da primeira Estrela Michelin ao Marlene, a agenda de reservas do restaurante da chef Marlene Vieira – a primeira mulher portuguesa a receber a estrela do Guia francês em mais de 30 anos – estava mais cheia que as urgências hospitalares no pico do Inverno. Conseguir uma reserva ao balcão, para ver trabalhar (e conversar com) a chef de quem se fala, foi uma enorme sorte. O mediatismo é tanto que as reservas dispararam e preencheram a agenda até ao Verão. “Temos sido muito mimados”, diz a chef, do lado de lá do balcão, confessando, com a sua pronúncia do norte, que a estrela era muito desejada. “Foi algo que fui adiando ao longo do tempo por outras prioridades, mas que estava sempre ali, como um objetivo que nunca perdi de vista”.

A abertura do Marlene, em 2022, foi o cumprir de um sonho que levou tempo a construir. “Eu sabia exatamente o que queria. Precisava de um espaço amplo e elegante, com bom ambiente, onde pudesse escolher materiais de qualidade, que mostrassem a cultura portuguesa. Precisava de tempo para selecionar a equipa certa. Mas sobretudo precisava de juntar recursos. Eu e o João [o marido, João Sá, proprietário do SÁLA, também galardoado, em 2024, com uma Estrela Michelin] fomos gerindo a nossa empresa, fomos criando prioridades para termos uma base sólida financeira para avançar”.

O esforço compensa e o Marlene nasceu. O espaço de fine dining – que, para já, só serve jantares, de terça a sábado – fica no Terminal de Cruzeiros de Lisboa, mesmo em frente ao Tejo. Mas, ao contrário do que se possa esperar, o rio não tem aqui o protagonismo. O restaurante, de paredes negras que vão do teto até meio-metro do chão, está mergulhado numa semi-penumbra e os holofores estão voltados para os atores principais deste bailado cronometrado que decorre na ilha central da cozinha, no meio da sala. Um balcão em nogueira rodeia a cozinha aberta, como um palco, onde os comensais sentados à volta conseguem acompanhar a azáfama dos cozinheiros, entre pinças, facas, bisnagas e tenazes. Mais atrás, as mesas, também em nogueira, com suaves focos de luz para quem prefere um jantar mais intimista.

“Não é bem como se fosse a minha casa, porque eu separo muito bem o que é trabalho e o que é casa, mas o Marlene é como se fosse a sala onde eu gosto de receber as pessoas. Tinha que combinar comigo, com a minha maneira de ser, descontraída. Tinha de ter uma cozinha central, para poder estar conectada com as pessoas, com tudo exposto, como se fosse uma galeria. E tinha de refletir também o talento e a cultura portuguesa. Ser uma montra do que de tão bom se faz por cá, desde a arquitetura [desenvolvida pelo estúdio português ForStudio Architects], passando pelas madeiras e pelas cerâmicas, tudo materiais artesanais, que fazem parte da experiência sensorial que damos aos clientes. E acho que isso marca aqui a excelência”, frisa a chef no momento em que chega a nossa oshibori húmida para lavarmos as mãos e darmos o tiro de partida do menu de 12 momentos que vamos provar em seguida.

‘Huumm’ vezes 12
O primeiro momento deu o mote para o resto da noite. O choux de trufa e creme de queijo da serra da Estrela curado foi logo uma explosão de sabores e cremosidade, a fundir-se com a crocância, a desfazer-se na boca. Algures durante a nossa conversa, a chef referiu que para si, o mais importante era escutar as reações dos clientes. “Ouvir aquele ‘huumm’ que fazemos quando gostamos”, explicou. E, no nosso caso, prova superada: acabávamos de pronunciar o primeiro de vários ‘huumms’ da refeição.

Os elementos típicos da mesa portuguesa – onde, de acordo com a chef, “não faltam marisco, presunto e patés, mas com um twist, feitos à nossa maneira” –, continuaram a chegar à mesa. Seguiu-se uma espécie de presunto de atum, ou seja, uma fatia de barriga de atum rabilho, seca, curada e fumada, envolta num crocante de arroz tufado, acompanhada de um original gaspacho clarificado – que é um caldo fresco e incolor onde prevalecem os sabores e aromas do gaspacho tradicional. Nova interjeição de prazer, a anteceder a chegada dos dois snacks que constituem o terceiro momento: a estaladiça estrela do mar crocante de cenoura com recheio de ovas e carne de sapateira, creme de abacate e wasabi; e a deliciosa tartelete de couve-flor com gamba vermelha do Algarve, creme de camarão e caviar imperial. Impossível decidir qual deles o melhor. Os sabores. As texturas. O equilíbrio. Tudo a ligar na perfeição com a seleção de vinhos que ia acompanhando cada momento. Frescos, minerais, secos ou com mais doçura, consoante a iguaria.

A Estrela Michelin tem menos de um mês, mas Marlene Vieira confirma que o efeito já se faz sentir na agenda. “Temos mais procura internacional. Chegam-nos pessoas que vêm cá propositadamente, que acompanharam o nosso percurso e depois da Estrela quiseram cá vir prestar homenagem”. O casal de meia-idade que se senta ao nosso lado confirma. Vêm da Bélgica e contam que, depois de lerem um artigo, há uns meses, numa publicação do género da Fora de Série que dizia que Marlene seria a próxima chef-estrela de Portugal, decidiram que tinham de a vir conhecer. O storytelling envolvido deu ainda mais força à história. Uma mulher num mundo onde brilham os homens, onde as mulheres se encolhem na sombra dos chefs. Porque demorou tanto a Estrela a chegar a uma mulher portuguesa? Marlene lamenta que, infelizmente, o mundo da cozinha portuguesa ainda seja muito patriarcal. “Temos de mudar o chip das pessoas que investem neste segmento, que muitas vezes querem retorno rápido e acham que os homens – que são mais mediáticos – entregam mais e que o feminino não dá tantas garantias. Isso acontece porque o mundo não deixa as mulheres brilharem. É preciso ter coragem para por mulheres à frente dos negócios. Ainda há um grande caminho a percorrer nesta matéria”.

Entretanto, sobre a mesa, coloca outra ode à perfeição: um Chawanmushi de presunto, que é um pudim salgado japonês com uma glace de tomate, com ervilhas-lágrima e um óleo de alho-francês, diferente de tudo o que já provámos, com as ervilhas a provocarem sensações estaladiças no palato. Terminados os snacks de entrada, chega então o couvert típico português, com pão de massa de fermentação lenta, broa de milho branco, manteiga da ilha do Pico e um azeite biológico da zona de Mirandela. Uma espécie de pausa dramática que antecede a chegada dos pratos principais. Deste primeiro mergulho no ADN gastronómico da chef, destacamos a suavidade das texturas, que são sem dúvida o seu grande talento. E que, segundo a própria, tem uma explicação muito simples. “Costumo dizer que sou tinhosa com as texturas. Sou muito exigente em relação às coisas estarem no ponto certo: o ponto da carne, do peixe, do arroz. Fui sempre assim… Se tiver grumos, se estiver muito líquido, já não gosto. Por isso tenho muita dificuldade em comer arroz fora de casa”, confessa a chef, cujo prato favorito da vida é Arroz de Cabidela. “É um prato que até em criança comia sem esforço e onde ainda hoje vou buscar inspiração, pela sua simplicidade. É um prato perfeito e tão simples na composição e na construção. No fundo eu procuro esse prazer que tinha em criança. Foi isso que me puxou para a cozinha”, revela.

Rainha das texturas
Longe vão os tempos em que, ainda criança, fazia entregas de carne do talho do pai, aos restaurantes da Maia. Um, em específico, despertou-lhe a curiosidade. Era diferente de tudo o que conhecia, praticava cozinha francesa. Daí a um estágio nas férias de verão, foi um passo. “O que me apaixonou ali foram os cheiros, as técnicas. Era tudo diferente do que eu via em casa”, conta. Terá sido aí que lançou as bases da chef que é hoje, rigorosa, sem margem para erros técnicos, dona de uma cozinha surpreendente e impactante. Aos 16 anos apostou na sua formação, na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Em 2001, dias depois do 11 de Setembro, rumaria a Nova Iorque, onde alargou os seus horizontes gastronómicos. De volta a Portugal, passou por vários hotéis e restaurantes, até chegar, em 2012, ao Avenue, restaurante que a marcou. “Porque já na altura trabalhávamos neste nível de exigência. Os tempos eram diferentes e as estrelas não tinham muito impacto cá. Mas o Avenue foi restaurante para ter Estrela Michelin. Acabou por fechar ao fim de três anos, na altura em que fui mãe”, conta.

Para a mesa, ainda estariam por vir alguns dos pratos mais show-stopper da chef. O Escabeche desconstruído com lírio dos Açores; a abrir espaço para outro dos nossos preferidos do menu, as cocochas de bacalhau (que são as queixadas, junto à boca), cozinhadas em azeite e alho e servidas com um molho muito guloso e três diferentes texturas de alho: puré de alho negro, folha de alho selvagem e flor de alho; a ganhar fôlego ainda para os aveludados cogumelos morilles recheados com avelã. Isto antes de chegar a Feijoada de Lula – que é, segundo Marlene Vieira, o ex-libris que não pode sair da carta, “o nosso maior cartão-de-visita –, que se inspira na feijoada de choco de Setúbal, mas que é feita com a lula gigante dos Açores cortada finamente como um tagliatelle, com o feijão em puré, tudo regado com um aromático caldo feito com a gordura do chouriço preto alentejano. À prova de inspetor Michelin.

Por falar nisso, não queremos deixar de perguntar à chef o que acha que falta a Portugal para ter um restaurante com três estrelas? “Não sei exatamente. Percebo que haja desilusão, se pensarmos que a Áustria, este ano, ganhou 53 estrelas de uma assentada. E alguns logo com três estrelas, à primeira. O que é que isto diz? Diz que nós temos uma cozinha tradicional muito boa e a verdade é que não precisamos das estrelas para nos afirmarmos. A estrela está num certo segmento de luxo, de excelência, de qualidade, não vamos aqui ser hipócritas. O luxo está nos produtos. Portugal nunca foi um país de luxo e exuberância gastronómica. Só de há dez anos para cá é que estamos a desenvolver esta arte. O que é bom para nós, mas é um caminho”.

Continua o bailado na cozinha e as surpresas a chegar à mesa. O incrível Salmonete do Algarve grelhado com sal com um molho de cabeças e fígados do peixe. Por baixo, uma cama de arroz de algas e tudo polvilhado com yuzu desidratado. Um prato com muita personalidade, sabor e autenticidade nos ingredientes. E, claro, um arroz perfeito, al-dente. Segue-se a surpreendente Cebola recheada com puré de castanha com enguia grelhada e mandioca frita, num delicado balanço de texturas que ligam com o travo adocicado-caramelizado da cebola. Antes de chegarmos ao último prato, trazem-nos um estojo de facas artesanais, desenhadas por Paulo Tuna, um artista das Caldas da Rainha, para escolhermos a nossa. Está para chegar o único prato de carne do menu, um Wagyu beef grelhado com couve kimchi ligeiramente picante, alho negro e um ultra-cremoso puré de topinambur. O ponto da carne? Obviamente perfeito.

A azáfama da cozinha está a acalmar. Arrumam-se os tachos, limpam-se os balcões com a sensação de dever cumprido. Preparam-se as sobremesas. Ou melhor, a pré-sobremesa limpa-palato e a sobremesa propriamente dita. A primeira, uma fresca combinação de texturas de framboesa – em crumble, em gel e cristalizada – acompanhada de um gelado de pimenta rosa e pétalas de rosa. Terminamos em beleza, com uma gulosa esfera de chocolate com ganache e chocolate líquido por dentro, avelãs panizadas em cacau, gelado de avelã e mousse de kirsh. No topo, a cereja: uma colher de chá de caviar, para dar o travo salgado no bouquet de sabores. Tudo tão genial que nos sobra a pergunta: como é que esta estrela só chegou agora? Pedimos à chef que deixe um conselho a outras chefs que trilham o mesmo caminho em direção à glória. “Sejam persistentes. Não se deixem cair por terra aos primeiros desafios, porque eles vão existir sempre. Ignorem o ruído à volta, confiem no que sabem, no que conhecem. Se acreditarem, vai acontecer. Mais cedo que tarde”.

Marlene
Avenida Infante D. Henrique, Doca do Jardim do Tabaco, Terminal de Cruzeiros
Lisboa
De terça a sábado, das 19h30 às 23h30
Reservas: [email protected] ou 912 626 761

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