“Há sempre espaço para reduzir as margens, mas os operadores de retalho não querem”, diz presidente da Centromarca

  • ECO
  • 26 Novembro 2023

Presidente da Centromarca fala de um choque inflacionista "brutal" com impacto nas decisões de compra dos portugueses muito superior ao período da troika.

“Há sempre espaço para reduzir as margens, mas os operadores de retalho não querem reduzir as margens”, aponta Nuno Fernandes Thomaz. O presidente da Centromarca aponta ainda que o impacto da inflação nas decisões de compra dos consumidores foi muito superior ao período da troika.

“Há sempre espaço para reduzir as margens, mas os operadores de retalho não querem reduzir as margens, pelo contrário. Ainda há pouco tempo vimos no relatório e contas de dois grandes grupos de distribuição que a pressão para aumentar a margem é grande. Eles próprios referem no relatório que têm de aumentar a margem. Portanto, não é algo que que nós prevemos, num período muito curto, que possamos ver reduções de margens”, disse Nuno Fernandes Thomaz, presidente da Centromarca, em entrevista à Antena 1/Jornal de Negócios.

A subida da inflação teve um impacto profundo nas decisões de compra dos consumidores. Nuno Fernandes Thomaz fala de um choque “brutal”.

“O choque inflacionista foi brutal. Nós ainda não tínhamos experimentado isto no quadro do Euro”, diz o presidente da associação que representa as marcas de fabricante.

“Os consumidores tiveram de se adaptar. Deixaram de consumir fora, para voltarem a consumir em casa, a consumir menos em termos de volume e aqui os números enganam muitas vezes, porque em termos de valor houve um crescimento das vendas ao retalho, mas em termos de volume houve uma quebra grande”, diz.

No período de ajustamento, portanto a troika, houve uma redução das vendas ao retalho em volume de cerca de 5%, tendo em conta o período inflacionista houve uma redução em volume de cerca de 9%”, refere.

Ganho de quota das marcas próprias e as ‘alcavalas’ às marcas de fabricante

Os consumidores têm vindo a comprar mais marcas próprias, isto é, as marcas das cadeias de supermercados.no ano passado a procura passou de 35% para 45%. Preço, qualidade das marcas próprias e mudança de hábitos de consumo são os motivos apontados por Nuno Fernandes Thoma, a que acresce o chamado modelo “sortido curto”, que faz com que os produtos de fabricante saltem da prateleira em detrimento das marcas próprias.

O presidente da Centromarca acusa os retalhistas de cobrarem “uma portagem” para as marcas de fabricante ocuparem uma prateleira, levando a um aumento dos preços às vezes significativo por comparação com as marcas próprias.

Nuno Fernandes Thomaz lamenta as “alcavalas” colocadas às marcas de fabricante, até para conseguir um local na prateleira, e justifica o preço mais elevado dos produtos de marca de fabricante com as margens que os próprios retalhistas fazem incidir sobre as marcas de fabricante por comparação com as suas marcas próprias.

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Propostas do PSD sobre pensões têm “falta de credibilidade”

  • Lusa
  • 26 Novembro 2023

"Pedro Passos Coelho tinha dito exatamente o mesmo que Luís Montenegro: que tinha feito as contas, e que em 2015 não seria necessário cortar pensões", atira Pedro Nuno Santos.

O candidato a secretário-geral do PS Pedro Nuno Santos disse hoje aos jornalistas, em Matosinhos (distrito do Porto), que as propostas do PSD em matéria de pensões, apresentadas no congresso de sábado, têm “falta de credibilidade”.

“O problema das promessas do PSD, nomeadamente em matéria de pensões, é que têm um problema de falta de credibilidade”, acusou hoje o candidato a líder do PS, à chegada ao Pavilhão Municipal da Senhora da Hora, em que participa num almoço com apoiantes.

No sábado, o presidente do PSD, Luís Montenegro, afirmou que quer aumentar para 820 euros o rendimento mínimo garantido dos pensionistas até 2028, assegurando que o seu partido não vai cortar “um cêntimo a nenhuma pensão”.

Para Pedro Nuno Santos, o PSD foi “o partido que mais maltratou esse grupo de cidadãos portugueses, os pensionistas”.

É importante que nós não nos esqueçamos que Pedro Passos Coelho [ex-primeiro-ministro] tinha dito exatamente o mesmo que Luís Montenegro: que tinha feito as contas, e que em 2015 não seria necessário cortar pensões. Mas aquilo que fizeram logo a seguir às eleições foi cortar pensões”, disse Pedro Nuno Santos.

O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação e adversário de José Luís Carneiro e Daniel Adrião nas diretas do PS marcadas para 15 e 16 de dezembro acusou ainda o PSD de, “não satisfeito com o corte de pensões”, tentar “tornar esse corte permanente”.

“Não conseguiram, foram travados pelo Tribunal Constitucional”, recordou, acrescentando que o PSD quis ainda “fazer um corte adicional de mais 600 milhões de euros”, travado pelo Governo PS.

Pedro Nuno Santos acusou Luís Montenegro de fazer “o mesmo número que Passos Coelho fez em 2011”, considerando “muito importante que o PSD apresentasse essas contas” para se fazer “um debate sobre a viabilidade da proposta”.

O candidato à liderança do PS considerou ainda “caricato” que o PSD apresente uma proposta para equivaler a pensão mínima ao salário mínimo nacional, quando “nunca o quiseram aumentar”.

“O pior que podia acontecer aos pensionistas era fazermos um aumento de pensões e voltar a recuar mais tarde”, considerou.

Durante o discurso para uma plateia de cerca de 1.300 que lotaram o pavilhão na Senhora da Hora, Pedro Nuno Santos acrescentou que “o PSD tem que dizer um pouco mais” sobre “a sua estratégia para a Segurança Social e para o sistema público de pensões”.

“Ao longo dos anos, aquilo que eles sempre defenderam foi entregar parte das nossas pensões aos mercados financeiros, privatizar parte das nossas pensões”, acusou Pedro Nuno Santos.

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PEPP: Governo ainda pode aprovar o arranque do PPR Europeu

  • ECO Seguros
  • 26 Novembro 2023

A crise política provocada pela demissão do Governo deixa pendentes dois importantes diplomas relacionados com seguros, mas há forma de a atrasada regulação do PEPP ser desbloqueada este mês.

Dois atos legislativos, a transposição de uma diretiva europeia relativa ao seguro automóvel e a proposta de Lei sobre Produto Individual de Reforma Pan-Europeu (PEPP), foram enredados pela recente crise política provocada pela queda do Governo, dissolução do atual Parlamento e convocação de eleições gerais para 1º de março de 2024.

De acordo com a ASF, entidade reguladora do setor, o processo legislativo referente à execução na ordem jurídica interna do Regulamento (UE) 2019/1238 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de junho de 2019, relativo a um Produto Individual de Reforma Pan-Europeu (PEPP) deu entrada na Assembleia da República em 3 de novembro passado através da Proposta de Lei do Governo 112/XV/2).

Esta Proposta de Lei poderá ser aprovada antes da demissão do Governo e antes dissolução da Assembleia da República, refere a ASF, acrescentando que caso a Proposta de Lei caduque, por demissão do Governo ou dissolução da Assembleia da República, o processo legislativo terá que ser renovado na próxima legislatura.

Quanto ao processo legislativo referente à transposição da Diretiva (UE) 2021/2118, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 de novembro de 2021, que altera a Diretiva 2009/103/CE, relativa ao seguro de responsabilidade civil que resulta da circulação de veículos automóveis e à fiscalização do cumprimento da obrigação de segurar esta responsabilidade, o prazo de transposição é 23 de dezembro de 2023.

Este diploma deverá designar a entidade competente para celebrar o acordo previsto na Diretiva relativo à indemnização dos lesados em caso de insolvência ou liquidação de uma empresa de seguros.

O Decreto-Lei que assegura a transposição desta Diretiva poderá ser ainda aprovado pelo Governo em funções, afirma a ASF.

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Montenegro promete pensão mínima de 820 euros

Foi a primeira promessa de Montenegro. No congresso do PSD, prometeu aumentar a pensão mínima para 820 euros até 2028, mas ainda não revelou qual é o seu impacto orçamental.

Luís Montenegro fez algumas promessas eleitorais no discurso de encerramento do 41.º congresso do PSD, mas as propostas para os aumentos de pensões — os pensionistas são um dos grupos eleitorais mais afastados do partido desde a troika — foram os mais definidos, quer nos valores, quer no calendário. Até ao final da legislatura, a pensão mínima do regime geral vai atingir os 820 euros, promete Montenegro.

O Complemento Solidário para Idosos passará a 550 euros em 2024 e custará cerca de 300 milhões de euros, um valor que corresponde grosso modo, a 0,1% do Produto Interno Bruto. “Admito que muitos saltem, já, a questionar-nos sobre as contas para financiar estas medidas. Nós temos as contas feitas e vamos apresentá-las com detalhes, acreditem. Face à despesa que há hoje em Portugal com as pensões e com o Complemento Solidário para idosos, estes objetivos, não sendo fáceis, exigindo boas políticas públicas e exigindo cuidado financeiro, são realizáveis. São mesmo realizáveis“, promete o líder do PSD, sem revelar quaisquer números.

Nós não vamos cortar um cêntimo em nenhuma pensão. Nós vamos aumentar de acordo com a lei as pensões de uma forma geral, mas vamos também, de forma gradual e até ao final da legislatura, colocar a referência do Complemento Solidário para Idosos nos 820 euros. Isto traduz-se no seguinte: Até 2028, o rendimento mínimo garantido dos pensionistas Portugueses será de 820 euros“, afirmou Luís Montenegro perante um pavilhão municipal de Almada cheio, e com figuras do partido como Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite e Carlos Moedas. Mas ainda não apresentou quanto é que esta medida vai custar ao Orçamento da Segurança Social, já pressionado pela dinâmica do aumento de pensões fixado na lei e pela demografia, que leva à degradação do rácio dos ativos (os que pagam contribuições) face aos pensionistas.

Montenegro espera, aliás, críticas relativamente aos custos desta promessa. “Este objetivo é realizável, não coloca em causa o equilíbrio das contas públicas“, garantiu. Para, logo a seguir, fazer um anúncio para duas legislatura. “E, para futuro, eu vejo como intercalar para que, numa legislatura seguinte, o rendimento mínimo garantido de um pensionista possa ser equivalente ao salário mínimo nacional atualizado“. “É um objetivo para cumprir em duas legislaturas”, insistiu Montenegro.

O que é o Complemento Solidário para Idosos? É uma prestação social destinada a pessoas idosas de baixos recursos que já tenham feito 66 anos e 4 meses residentes em Portugal. Genericamente, é acessível a pensionistas que tenham recursos inferiores ao valor limite deste complemento social, fixado, no máximo, em 488,22 euros por mês (valor de referência mensal de 2023). O valor previsto para 2024 é de 550,67 euros, para convergir para o valor de referência do limiar de pobreza. O valor do complemento atribuído corresponde à diferença entre os rendimentos anuais dos pensionistas e o valor de referência anual do CSI (em 2023 é, portanto, de 5.858,63 euros, ou seja, 12 vezes 488,22 euros).

Taxa de IRS baixa até ao 8.º escalão

Antes da promessa de aumento do Complemento Solidário para Idosos, o líder do PSD tinha assumido compromissos na área fiscal. “Nós vamos, sem truques, repito, a época dos truques vai acabar, nós vamos, sem truques, baixar a taxa de IRS até ao oitavo escalão, aliviando a carga fiscal de quem trabalha, aliviando a carga fiscal de quem dá muito do seu esforço para colocar os serviços públicos e as empresas de pé, todos os dias“.

Montenegro fez, pela primeira vez, um elogio público ao aumento do salário mínimo. “Eu quero aqui dizer, com humildade democrática: o aumento do salário mínimo nacional que aconteceu nos últimos anos em Portugal, e que foi uma decisão do governo do Partido Socialista, foi uma boa decisão”, o que mereceu aplausos dos congressistas. E acrescentou. “O problema de Portugal é que, enquanto o salário mínimo aumentou muito, os outros estagnaram ou ficaram quase na mesma, e hoje são cada vez mais portugueses que estão no nível do salário mínimo ou muito pouco acima do nível do salário mínimo. E esse é que é o problema de Portugal.

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Planos do novo Presidente argentino para controlar a inflação em risco sem maioria no Congresso

  • Joana Abrantes Gomes
  • 26 Novembro 2023

A Argentina rompeu com o peronismo e optou por um ultraliberal para mudar economia. Mas os planos de privatizações e do fim do banco central de Milei esbarram na falta de apoio no Congresso.

Há uma semana, a Argentina entrou em terreno desconhecido com a eleição de Javier Milei como novo Presidente. O economista de 53 anos, que se autointitula como um “anarcocapitalista” e tem em Trump e Bolsonaro as suas referências políticas, vai herdar uma economia com uma inflação de três dígitos e uma moeda em desvalorização, além de uma enorme dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Porém, com um partido em minoria no Congresso, terá dificuldades em levar a cabo a prometida revolução liberal, que inclui planos para acabar com o banco central e substituir o peso argentino pelo dólar norte-americano.

“Boa noite a todos os argentinos de bem. Hoje começa a reconstrução da Argentina”, começou por dizer Milei, no discurso de vitória na noite do passado domingo, agradecendo aos 14,5 milhões de eleitores que votaram em si o “milagre de terem um presidente liberal libertário”. Com 55,69% dos votos, o primeiro Presidente economista do país latino-americano derrotou Sergio Massa (44,30%), o ministro da Economia que até tinha sido o candidato mais votado na primeira volta das eleições.

O novo Presidente da Argentina, Javier Milei, discursa após a vitória na segunda volta das eleições, em Buenos Aires, ArgentinaEPA/Juan Ignacio Roncoroni

Milei fez-se famoso com as suas participações em programas e noticiários televisivos, especialmente nas farandulas, como são conhecidos os talk-shows da TV argentina, sendo frequentes o uso de palavrões e insultos às figuras políticas. Foi como comentador que deu a conhecer várias das suas ideias radicais para resolver os problemas crónicos da economia argentina, tendo chegado a dizer que não se opunha à liberalização do mercado de venda de órgãos humanos.

Só em 2021 é que acabaria por entrar na cena política, quando criou o partido “La Libertad Avanza” (“A Liberdade Avança”, em português), com o qual garantiu o terceiro lugar na cidade de Buenos Aires, com 13,66% dos votos, nas eleições primárias em setembro desse ano.

Dois anos depois, conseguiu reunir o voto popular, descontente com o peronismo. “O que se votou foi uma mudança radical. Votou-se num outsider que ninguém consegue ainda definir com critério. Trata-se de uma rutura com o passado“, afirma o investigador argentino Marcelo Moriconi, do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Lisboa, em declarações ao ECO.

Mas o partido de Milei ocupa apenas 38 do total de 257 lugares na Câmara dos Deputados e sete dos 72 assentos no Senado, o que o deixa dependente de acordos com forças políticas mais moderadas para conseguir governar. Um dos apoios possíveis será o da coligação anti-peronista “Juntos por el Cambio” (“Juntos pela Mudança”, em português) que saiu derrotada na primeira volta das eleições.

Os principais líderes dessa coligação, Patricia Bullrich e o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), ajudaram ao triunfo do novo Chefe de Estado, já que declararam o seu apoio a Milei na segunda volta. Por isso, não será uma surpresa se se firmarem acordos entre ambos no Congresso. A imprensa argentina avança, aliás, que Bullrich será ministra da Segurança no próximo Governo, um cargo que já exerceu durante o executivo de Macri.

Ainda assim, dificilmente reunirá maioria em qualquer uma das câmaras do Congresso: mesmo juntando-se ao “Juntos pela Mudança”, Milei garante apenas 30% da Câmara dos Deputados, abaixo do mínimo necessário de 33% para evitar um impeachment; no Senado, seria apoiado por perto de 20% dos senadores, ainda muito longe dos 33%.

Por outro lado, é um Presidente sem raízes nas instituições de poder do país, pois em 24 governadores e 2.300 presidentes de câmara, nenhum é do partido de Milei. Ou seja, a Argentina corre o risco de um ficar num cenário de ingovernabilidade.

A Argentina tem um problema sério de gasto. Gasta muito mais do que entra, emite moeda sem parar (o que causa inflação) e teve fatores externos negativos muito significativos: a pandemia, primeiro, e, depois, uma das maiores secas de sempre, sendo que o campo é um dos motores económicos do país e uma das principais fontes de exportação e, portanto, de divisas.

Marcelo Moriconi

Investigador argentino do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Lisboa

Maioria peronista dificulta privatizações

Para evitar a destituição, Milei precisará de mais alianças frente aos peronistas que continuam em maioria e que deverão procurar bloquear a generalidade das suas propostas. Isso pode levá-lo a suavizar algumas das suas ideias mais controversas — o que já se verificou ao longo da campanha eleitoral para a segunda volta.

Nos comícios, a motosserra que costumava transportar, para simbolizar os cortes aos gastos do Estado que planeia fazer, deixou de ser vista, precisamente para ajudar a promover uma imagem mais moderada. E, logo no dia seguinte às eleições, recuou também na privatização dos setores de educação e saúde, lembrando que estes “são responsabilidade das províncias”, sendo a Argentina um Estado federal, pelo que não podem ser privatizados.

Não obstante, “tudo o que puder estar nas mãos do setor privado, estará“, reafirmou Milei, em entrevista à rádio Mitre, dando como exemplos a gigante petrolífera YPF, nacionalizada em 2012 sob a presidência de Cristina Kirchner, meios de comunicação social públicos como a agência noticiosa oficial Telam e a televisão TVP, “que se tornaram um mecanismo de propaganda”.

O encerramento do banco central, que acusa de ter imprimido dinheiro de forma desenfreada para financiar as despesas governamentais, mantém-se também como prioridade. “A moeda será aquela que os argentinos escolherem livremente. Basicamente, estaremos a dolarizar para nos livrar do banco central“, reiterou. Mas este processo implicaria uma mudança constitucional, para a qual não existe maioria parlamentar, além de que o ex-presidente Macri, que apoiou Milei, é contra a ideia.

Andrés Malamud, investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), explica ao ECO que a dolarização só seria possível “se a Argentina emitisse dólares, tivesse reservas dessa moeda ou recebesse remessas”. “Mas nada disso acontece”, assinala o politólogo argentino, apontando que contrasta com outros países latino-americanos — como o Equador, El Salvador e Panamá — que têm muitos emigrantes no estrangeiro e, por isso, usam o dólar como moeda.

Assumindo a necessidade de o país corrigir o seu rumo “o mais rapidamente possível”, Javier Milei quer começar por pôr “as contas públicas em ordem muito rapidamente”, cortando na despesa em 15 pontos percentuais do PIB. Logo no dia seguinte às eleições, adiantou que a sua equipa está já a trabalhar “com as linhas de orientação” do FMI, com quem a Argentina tem uma dívida de cerca de 42.000 milhões de euros, enquanto a diretora-geral da instituição, Kristalina Georgieva, manifestou vontade de trabalhar “em estreita colaboração” com Milei para desenvolver um plano que “garanta a estabilidade macroeconómica” do país.

Foi em 2022 que a Argentina selou um acordo com o FMI para refinanciar a dívida de 45 mil milhões de dólares (cerca de 41.000 milhões de euros) que o país sul-americano tinha contraído quatro anos antes e que, com juros acumulados, ronda agora os 46 mil milhões de dólares (cerca de 42.000 milhões de euros). O programa de financiamento contempla o cumprimento de metas trimestrais — deficit primário, reservas internacionais e emissão monetária para financiar o Tesouro — que a Argentina está a caminho de não cumprir no final deste ano.

A terceira maior economia da América Latina tem atualmente uma inflação anual de cerca de 143%, que o Presidente eleito prevê que demore “entre 18 e 24 meses” a controlar. Esta crise do custo de vida deixa mais de 40% da população a viver em condição de pobreza. Além disso, a situação de seca no país levou a uma quebra nas receitas com as exportações de cereais.

Marcelo Moriconi fala do “problema sério de despesa” que a Argentina tem.Gasta muito mais do que entra, emite moeda sem parar (o que causa inflação) e teve fatores externos negativos muito significativos: a pandemia, primeiro, e, depois, uma das maiores secas de sempre, sendo que o campo é um dos motores económicos do país e uma das principais fontes de exportação e, portanto, de divisas“, nota.

A situação de seca não prejudicou apenas o lado da produção, seja na agricultura ou no gado, como também o transporte de toda a maquinaria necessária. Como afirmou o também investigador no ISCTE, “as secas foram cereais e legumes que não cresceram, mas também foram camiões para as transportar que não circularam, aldeias inteiras que vivem desse movimento que não receberam clientes“.

Em agosto deste ano, altura em que foi aprovado um novo desembolso de 7,5 mil milhões de dólares para a Argentina — que, no total, ascendem a cerca de 36 mil milhões de dólares –, o FMI reconheceu que “os principais objetivos do programa não foram atingidos até ao final de junho de 2023“, apontando como causas a “seca histórica, juntamente com as derrapagens das políticas”.

Apesar disso, a instituição apelou à contenção das despesas com salários e pensões, bem como à atualização das tarifas energéticas para atingir os objetivos fiscais fundamentais e ajudar a economia do país a compensar as enormes perdas causadas pela seca. Tal como na quarta revisão do programa, várias metas económicas foram flexibilizadas e foram concedidas derrogações por incumprimento.

Neste cenário, Milei acusou o governo cessante de “abandonar” o acordo com o FMI “porque não cumpriu a meta fiscal [orçamental]”, apontando que o défice primário previsto para o final de 2023 era de 1,9% do PIB, mas acabará, afinal, em 2,9%. A próxima revisão do programa está prevista ainda para este mês, antes da tomada de posse do novo Presidente a 10 de dezembro.

Ainda que o cenário dominante seja de incerteza com as mudanças que o autodenominado “anarcocapitalista” trará ao país, a primeira reação do mercado financeiro argentina foi otimista. No dia seguinte às eleições foi feriado, mas, logo na terça-feira, a bolsa de valores abriu em alta de 20% e manteve os fortes ganhos, fechando em alta de 17,7%. Esta subida foi liderada pela valorização de 36,5% das ações da petrolífera YPF, uma das empresas estatais que Milei quer privatizar.

Ajuda da China em risco

Antes do mais recente desembolso do FMI, as reservas líquidas de divisas da Argentina estavam no vermelho e o país sul-americano acordou uma série de empréstimos para efetuar um pagamento à instituição. Um desses empréstimos veio da China, no valor de 1,7 mil milhões de dólares. Esta é outra questão que fica em causa com a vitória de Milei, que há dois anos afirmava que “não faria negócios com a China”, garantindo que o corte de relações com o gigante asiático “não seria uma tragédia macroeconómica”.

A questão-chave para Milei é ver quanto tempo aguenta a sociedade, quanto dura a carta branca que o eleitorado lhe deu para mudar coisas, quanto tempo aguenta a sociedade sem soluções e com medidas de força que são apresentadas como a única maneira de conseguir melhoras no futuro… O “bom futuro” de Milei tem data de caducidade, e ele vai ter de ter respostas e resultados positivos antes dessa data.

Marcelo Moriconi

Investigador do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Lisboa

Durante a campanha eleitoral, aligeirou o discurso, declarando que, se ganhasse, o país continuaria a fazer parcerias comerciais com o setor privado chinês, mas que o Estado não negociaria com Pequim, por ser um “regime comunista”. No entanto, importa notar que Pequim é o segundo maior parceiro comercial da Argentina e o principal mercado de exportação dos seus produtos agrícolas.

Além disso, a China tem investimentos no país sul-americano em áreas estratégicas como desenvolvimento de infraestruturas e exploração mineira, e um acordo para pagar as suas importações da Argentina na moeda chinesa, o yuan, e não em dólares norte-americanos. Muitas empresas chinesas estão interessadas na Argentina, especialmente no setor agrícola e em recursos naturais como o lítio, matéria-prima fundamental para a indústria chinesa de carros elétricos, do qual o país é o quarto maior produtor do mundo.

Antes da mensagem do Presidente chinês, Xi Jinping, a felicitar Javier Milei pela eleição, manifestando interesse em trabalhar para “promover a amizade e a cooperação entre os dois países”, Pequim avisou que a Argentina cometeria um “grande erro” se cortasse relações com “países tão grandes como China e Brasil”.

A contração de empréstimos em renminbi através de linhas de swap do Banco Popular da China, como parte de uma suposta desdolarização do sistema financeiro global, remonta à presidência de Fernández. Por isso, a eleição de um Presidente que deseja adotar a moeda norte-americana é uma reviravolta abrupta, mesmo sendo pouco provável que consiga apoio para levar a cabo a sua promessa de substituir o peso.

A retirada do Mercosul, bloco de países que compõe a par com Brasil, Paraguai e Uruguai, é outra posição polémica de Milei, considerando-o “uma união aduaneira de má qualidade, que cria distorções comerciais e prejudica os membros”. Ao mesmo tempo, tem criticado o acordo comercial “desfavorável” deste bloco com a União Europeia, que estará na fase final de longas negociações. Milei sugeriu ainda a saída do BRICS, cuja adesão da Argentina foi aprovada este ano.

Segundo Marcelo Moriconi, as propostas de Milei “não vão acalmar a inflação, nem dar soluções imediatas”, trazendo antes “conflitos políticos e sociais”. “O ‘bom futuro’ de Milei tem data de caducidade, e ele vai ter de ter respostas e resultados positivos antes dessa data. A questão-chave é ver quanto dura a carta-branca que o eleitorado lhe deu para mudar coisas, quanto tempo aguenta a sociedade sem soluções e com medidas de força que são apresentadas como a única maneira de conseguir melhorias no futuro”, conclui.

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Apostas hípicas custaram 8,4 milhões à Santa Casa e projeto está na gaveta

  • ECO
  • 26 Novembro 2023

Cinco mil jóqueis publicitários para promover as apostas hípicas nos mediadores estão armazenados num espaço dos CTT que irão começar a cobrar pelo armazenamento.

Autorizadas há mais de oito anos pelo Governo de Passos Coelho, as apostas hípicas ainda não saíram do papel e já terão custado à Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML) 8,4 milhões de euros para a preparação do jogo. O projeto está na gaveta.

Para preparar o lançamento deste novo jogo, a SCML criou uma equipa dedicada, adquiriu serviços técnicos para implementar uma estratégia de marketing digital, realizou estudos sobre a importância do cavalo na história de Portugal, criou um site e uma aplicação mobile para o jogo, preparou o sistema informático e até instalou televisões em cinco mil mediadores. O projeto já resultou num custo de 8,4 milhões, mas ainda nem saiu do papel, noticiou o Público.

Ainda de acordo com o jornal, a SCML desmantelou a unidade que estava a trabalhar no projeto e que foram feitas avaliações aos custos que pode ter com o lançamento do jogo ou com o eventualmente cancelamento do mesmo.

Os custos que podem ainda subir. A SCML, como parte da estratégia de marketing de promoção das apostas hípicas, comprou cinco mil jóqueis publicitários, com cerca de 1,70 metros de altura, para colocar nos mediadores quando o jogo fosse lançado, mas que estão num armazém dos CTT, em Lisboa. Se os não forem distribuídos aos mediadores, a Santa Casa terá de começar a pagar cerca de dois mil euros por mês, noticiou ainda o diário.

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IVA zero deverá prolongar-se por mais nove dias em janeiro

  • ECO
  • 26 Novembro 2023

A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) solicitou ao Governo o seu prolongamento e a entrada em vigor dos novos preços a 10 de janeiro de 2024.

O IVA zero num lote de 46 produtos alimentares deverá prolongar-se durante mais nove dias do que previsto, dando tempo aos retalhistas alimentares para adaptar a reposição dos preços nas lojas. O fim da medida para combater os efeitos da subida de preços estava previsto para o final de 2023, mas a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) solicitou ao Governo o seu prolongamento e a entrada em vigor dos novos preços a 10 de janeiro de 2024.

“O Governo foi sensível aos nossos argumentos de que não estaríamos em condições de, a 2 de janeiro, ter as nossas operações e pessoas com capacidade para reporem o IVA em mais de sete mil produtos em loja”, refere Gonçalo Lobo Xavier, o diretor-geral da APED, citado pelo Dinheiro Vivo.

Já no arranque da medida foi necessário dar tempo aos operadores para adaptar a oferta aos novos preços. O Pacto para a Estabilização e Redução de Preços dos Bens Alimentares, firmado entre o governo, cadeias e produtores agrícolas, foi assinado a 27 de março, mas o IVA zero só entrou em vigor a 18 de abril.

Com o fim do IVA zero o Executivo vai canalizar “os apoios no domínio alimentar para as famílias mais carenciadas, mediante a substituição do IVA Zero no cabaz alimentar, pelo reforço das prestações sociais”.

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Sindicato dos médicos diz que 419 vagas para especialidades ficaram por preencher

  • Lusa
  • 26 Novembro 2023

"Por aqui se vê a atratividade que tem o trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que todos os recursos humanos médicos deveriam ser aproveitados”, diz o SIM.

Mais de 400 vagas ficaram por preencher no concurso para a escolha de especialidades, denunciou hoje o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), um resultado que considerou ser uma “hecatombe” para o Serviço Nacional de Saúde.

“As escolhas para as especialidades terminaram e, dos 2.330 candidatos, houve 501 que decidiram não escolher qualquer vaga, tendo sobrado 419 vagas”, adiantou o SIM em comunicado.

De acordo com o sindicato liderado por Roque da Cunha, em 2021 tinham ficado por preencher 51 vagas para o internato médico, um número que aumentou para as 161 em 2022.

“A previsível e anunciada hecatombe aconteceu”, salientou o SIM, um dos dois sindicatos envolvidos nas negociações com o Governo para a valorização da carreira e das tabelas salariais dos médicos que decorrem há vários meses, com dezenas de reuniões a terminarem sem acordo.

De acordo com os dados divulgados pelo SIM, as vagas não escolhidas pelos novos médicos representam 18,2% do total de lugares colocados a concurso e, em algumas especialidades, atingem “números nunca vistos”.

O sindicato apontou os exemplos da medicina geral e familiar (médicos de família), da medicina interna, da saúde pública e da patologia clínica e adiantou que, na região de Lisboa e Vale do Tejo, ficaram por preencher 178 vagas.

“Por aqui se vê a atratividade que tem o trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que todos os recursos humanos médicos deveriam ser aproveitados”, lamentou a estrutura sindical.

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“A mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser”

"Paroquial e mesquinho" é como o ex-ministro da Economia Pedro Siza Vieira considera o argumento do custo para por fim às Parcerias Internacionais com universidades americanas.

“A mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser, num governo que não merecia chegar ao fim de vida contrariando tudo o que defendeu nos últimos anos” é como Pedro Siza Vieira, antigo ministro da Economia de António Costa, classifica a decisão da ministra da Ciência e do Ensino Superior cancelar as parcerias com as universidades norte-americanas. “Paroquial e mesquinho” é como o antigo ministro considera o argumento do custo para cancelar as parcerias.

“Não consigo conformar-me com esta decisão. Este programa expôs cientistas portugueses às melhores práticas mundiais; criou dinâmicas de aplicação de conhecimento a produtos orientados para o mercado; e educou gerações de cientistas e engenheiros na noção de empreendedorismo ligado à ciência”, diz o antigo governante numa publicação na rede social LinkedIn.

Em causa estão parcerias com universidades norte-americanas como University of Texas at Austin, Carnegie Mellon University e MIT firmadas ainda no tempo do ministro Mariano Gago para promover a internacionalização da ciência e da tecnologia nacionais. Os contratos terminam no final do ano e não serão renovados.

Em junho, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o Conselho dos Laboratórios Associados entregaram ao ministério liderado por Elvira Fortunato um parecer desfavorável à continuidade dos programas, alegando que estes já custaram a Portugal, desde 2006, cerca de 310 milhões de euros, segundo noticia o Expresso. Mas como o ECO revelou em primeira mão, este parecer não foi apoiado por todos os reitores e há um segundo, de um conjunto de personalidades independentes, da academia, dos laboratórios e das empresas, que defende a continuidade destes projetos. Só que a ministra Elvira Fortunato escondeu-o do debate público. “As Parcerias Internacionais (PI) constituem um elemento basilar da estrutura do orçamento da FCT, e a parte do orçamento dedicado às PI deve manter no mínimo o mesmo grau de materialidade que no passado (5% do orçamento da FCT)”, conclui o estudo.

“O mais triste nesta notícia é o argumento de que havendo pouco dinheiro para a ciência não faz sentido financiar universidades americanasEste argumento é paroquial e mesquinho e próprio de quem não percebe que a transformação da economia portuguesa vem da valorização pelas empresas do investimento na educação e da ciência. Foi o trabalho nas universidades americanas que permitiu a portugueses adquirir os hábitos e o espírito que criaram algumas das mais valiosas empresas portuguesas”, considera o governante.

“Depois da desvalorização do ecossistema tecnológico e do apagamento da ciência no discurso político, esta notícia é a mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser, num governo que não merecia chegar ao fim de vida contrariando tudo o que defendeu nos últimos anos e enterrando o legado de Mariano Gago”, atira Siza Vieira.

Que dizem o Ministro da Economia e o Primeiro-Ministro? Não conseguem reverter esta decisão, que contraria tudo o que sempre defenderam?”, questiona.

Siza Vieira é a mais recente voz a juntar-se à contestação da decisão da atual ministra da Ciência e do Ensino Superior, Elvira Fortunato. Também o fundador e CEO da Feedzai, Nuno Sebastião, já tinha criticado a decisão apontando o papel das parcerias com as instituições de ensino norte-americanas.

“Vale muito mais um investimento numa parceria com a CMU (Carnegie Mellon University) ou UT Austin (University of Texas Austin) do que vale uma Web Summit. Mas como somos um pais sem profundidade, o que é importante são as politicas que dão para a fotografia hoje e não politicas de longo prazo”, disse.

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Elvira Fortunato esconde parecer que defende parcerias da FCT com escolas americanas

A ministra da Ciência cancelou as Parcerias Internacionais com três universidades americanas, contrariando um parecer de personalidades independentes que recebeu em junho, mas meteu na gaveta.

Elvira Fortunato decidiu cancelar as parcerias da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT) com três universidades norte-americanas, a Carnegie Mellon University, o MIT e a University of Texas at Austin, em plena crise política e contra um parecer encomendado pelo Conselho Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNTI) a um grupo de personalidades independentes como Maria Manuel Mota, Isabel Furtado e João Barros, que foi escondido pela ministra. A decisão da ministra da Ciência, tomada depois de o Presidente da República aceitar a demissão do Governo e marcar eleições antecipadas, está a gerar uma onda de indignação de empresários, investigadores e académicos que consideram o programa de Parcerias Internacionais um fator crítico para o desenvolvimento da ciência e inovação em Portugal.

O parecer do grupo de personalidades independentes que analisou as Parcerias Internacionais — programa que existe desde 2006 e já foi renovado por duas vezes — é claro nas suas conclusões. O parecer a que o ECO teve acesso, entregue ao conselho liderado por José Manuel Mendonça e dependente da tutela política de Elvira Fortunato e do ministro da Economia, Costa Silva, foi escondido nos últimos meses.

Quem integrou este grupo que fez o parecer a pedido do conselho de ciência? Guy Villax, João Barros, Isabel Sousa Pinto, Maria Manuel Mota, Teresa Pinto Correia e Isabel Furtado. E o que concluiu o parecer que Elvira Fortunato mandou ‘meter na gaveta’? Segundo o grupo de personalidades independentes, “com base nos elementos fornecidos pela FCT e nos testemunhos adicionais que recolhemos, estamos convictos que o impacto destas parcerias foi altamente expressivo e multifacetado. Isto aplica-se tanto ao Sistema de Ciência e Tecnologia Nacional (SCTN) como aos parceiros industriais e empresariais do ecossistema nacional de inovação“. E quais foram as conclusões?

O CNCTI é de opinião que:

  1. As Parcerias Internacionais (PI)constituem um elemento basilar da estrutura do orçamento da FCT, e a parte do orçamento dedicado às PI deve manter no mínimo o mesmo grau de materialidade que no passado (5% do orçamento da FCT);
  2. As Parcerias Internacionais devem ser de número limitado a 3 ou 4, de mesma ordem de grandeza de valor ou daquele valor que garanta que as instituições parceiras atribuam prioridade a Portugal e às suas obrigações nas Parcerias Internacionais;
  3. As áreas do conhecimento a privilegiar devem incluir i) aquelas que devem continuar por terem sido e permanecerem apostas certas, nomeadamente digitalização, manufatura e inteligência artificial, ii) novas que equipem o país para fazer face aos desafios novos, nomeadamente o mar, as alterações climáticas, a degradação continuada dos recursos naturais e a perda de biodiversidade, e iii) alinhadas com a União Europeia onde Portugal pode contribuir e desenvolver vantagens comparativas para o futuro.

Este parecer, acrescentam os membros independentes que produziram o relatório, “recebeu a maioria dos votos dos seus membros independentes (isto é excluindo [as entidades públicas] ANI; FCT e IAPMEI)“.

A notícia do cancelamento destes programas foi revelada pelo Expresso e mereceu uma crítica pública severa do fundador da Feedzai nas redes sociais. Nuno Sebastião assinala, desde logo, que este unicórnio (vale mais de mil milhões de euros) só existe por causa da parceria com Austin. “A Feedzai existe porque em 2013 emigrei para os Estados Unido, inicialmente para Austin, onde estive nas instalações da incubadora da The University of Texas at Austin”, escreve na sua conta pessoal do Facebook.

Nuno Sebastião considera que “só mesmo uma falta de conhecimento e miopia [de Elvira Fortunato] é que pode ter uma interpretação diferente e que justifique o cancelamento (a um mês de serem renovadas) destas parcerias”, atira o empreendedor. “Agora digam-me o número de patentes ou uma que seja a empresa de sucesso criada por esses laboratórios e laboratoriozinhos que existem por essas universidades portuguesas. A resposta é simples. Não existem porque não criam valor nenhum para além de alimentar empregos e serem usados nas disputas de poder dentro das universidades“, acusa.

A comunidade empresarial e académica foi apanhada de surpresa pela decisão de Elvira Fortunato, pelos resultados destes programas, e também pelo momento escolhido, isto é, o Governo está ainda formalmente em funções, mas vai passar à condição de governo de gestão em meados de dezembro, e as eleições legislativas estão marcadas para 10 de março. Para já, os membros independentes do Conselho Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação escusam-se a fazer comentários públicos, mas já estará marcada uma reunião de emergência na próxima semana, e são admitidos todos os cenários, incluindo colocar os seus lugares à disposição ou até uma demissão em bloco.

Os resultados das três Parcerias Internacionais em 11 imagens

Outro dos documentos relevantes na avaliação dos resultados destas três parcerias internacionais é um memorando, a que o ECO teve acesso, com uma análise detalhada e números. “Ao todo, e até hoje, as três Parcerias concederam financiamento a mais de 330 projetos de investigação — vários dos quais liderados por empresas portuguesas — e apoiaram mais de 1.500 alunos de mestrado e doutoramento, e mais de 500 intercâmbios de professores e estudantes“, lê-se neste memorando. “Em 2012, e na sequência de uma transição de governo, o Ministério da Educação e a FCT encomendaram à Academia da Finlândia um relatório de avaliação independente sobre as Parcerias. No resumo, de um parecer manifestamente positivo, pode ler-se: “A colaboração portuguesa com universidades dos E.U.A. em ações de investigação e educação é o exemplo de um programa internacional ambicioso, entre entidades de ensino e governos, com objetivos políticos de ciência e inovação de alto perfil“, recorda.

Os números dos resultados na criação de empresas são expressivos, de acordo com os dados oficiais que constam deste memorando. “Se Portugal dispõe, atualmente, de um ecossistema vibrante de criação de startups na Europa, ocupando a 28.ª posição no Global Startup Ecosystem Index 2022, muito do crédito deve ser dado às Parcerias que contribuíram para a formação de uma geração de investigadores-empreendedores, converteram tecnologias em produtos e serviços inovadores e lançaram ou apoiaram startups de base científica com um perfil internacional claramente dominante (e.g. DoDoc, Feedzai, Mambu, Outsystems, Remote, Sword Health, Talkdesk, Unbabel e Veniam)“.

Neste memorando, são ainda recordados os números antes e depois das Parcerias Internacionais. “O percurso das Parcerias Internacionais da FCT coincide, em grande medida, com a melhoria da balança de pagamentos tecnológica de Portugal. Negativa até 2007, veio a registar uma tendência ascendente desde aí, passando de 750 milhões de euros em 2015 para 1,3 mil milhões de euros em 2021 (0,6% do PIB) — um crescimento impulsionado, em grande parte, pelas exportações de serviços de Tecnologias de Informação e Comunicações (no valor de, aproximadamente, 3 mil milhões de euros em 2021), fortemente apoiadas por projetos e iniciativas que se inscrevem também no âmbito daquelas parcerias“.

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Cavaco Silva marca presença surpresa e recebe maior ovação

  • Lusa
  • 25 Novembro 2023

Aníbal Cavaco Silva marcou presença no 41.º Congresso do partido, entrando ao som do hino do PSD e surpreendendo os congressistas, que o receberam com uma ovação.

O antigo presidente e líder histórico do PSD, Aníbal Cavaco Silva, marcou presença no 41.º Congresso do partido, entrando ao som do hino do PSD e surpreendendo os congressistas, que o receberam com uma ovação. A presença de Cavaco Silva no congresso do PSD foi anunciada pelo presidente da mesa, Miguel Albuquerque, cerca das 19h50. O líder do partido, Luís Montenegro, e o secretário-geral, Hugo Soares, acompanharam o ex-primeiro-ministro da sua viatura até ao pavilhão onde decorre a reunião, em Almada.

Ladeado pelo presidente do partido, Cavaco Silva entrou no Congresso sem prestar declarações à comunicação social. Na sala, os congressistas, que se viraram para trás para ver a chegada, aplaudiram de pé e gritaram “Portugal/Portugal” e “PSD/PSD”.

O congresso dá as calorosas boas-vindas ao antigo presidente e ao grande estadista do século XX Cavaco Silva que muito nos honra com a sua presença. A sua ação política é sempre uma inspiração para o presente e para o futuro”, declarou Miguel Albuquerque.

Sorridente, Cavaco Silva sentou-se na primeira fila, ao lado da ex-ministra social-democrata Manuela Ferreira Leite, para assistir ao discurso do presidente do partido, Luís Montenegro. A ex-ministra Leonor Beleza também chegou pouco depois ao conclave social-democrata.

A última vez que Cavaco Silva tinha ido a um congresso social-democrata foi em 1995, ano em que abandonou a liderança do PSD para se candidatar a Presidente da República. Foi no 37.º Congresso, que decorreu entre 17 e 18 de fevereiro daquele ano no Coliseu dos Recreios em Lisboa.

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“Nós vamos baixar o IRS até ao 8º escalão”. Montenegro antecipa propostas eleitorais

Luís Montenegro revela no 41º congresso do PSD que vai propor a redução do IRS até ao 8º escalão e promete aos pensionistas que não vai cortar "um cêntimo" das pensões.

Depois de uma fotografia rápida com a surpresa do congresso do PSD, Cavaco Silva, o líder do partido aproveitou o discurso de encerramento para falar ao país, com as primeiras propostas e compromissos políticos a olhar para as eleições de 10 de março. Montenegro promete a redução do IRS até ao 8º escalão e garante a todos os pensionistas que não vai cortar “um cêntimo” das pensões.

Perante um pavilhão de Almada cheio, Luís Montenegro garante que “a alternativa que conta é abrangente e agregadora” e, assume o risco: “Serei o primeiro-ministro que Portugal precisa nos próximos anos“. Falou de política, de economia, de propostas, mas também falou de exemplo, de ética, e prometeu transparência e o Estado fora dos negócios, numa alusão implícita aos casos que estão hoje sob investigação judicial por causa do investimento do investimento do Data Center em Sines.

Antes, Montenegro fez as primeiras promessas eleitorais, e fez saber que o PSD vai apresentar as contas que suportam estas medidas. A primeira foi mesmo para os jovens, que vão passar a pagar “1/3 do que pagam hoje”.

A “época dos truques vai acabar”, garante Montenegro, para, depois, prometer “baixar a taxa de IRS até ao 8.º escalão”. E, aqui, surpreende os congressistas. O aumento do salário mínimo decidido pelo Governo foi uma boa decisão. “O problema é que quando salário mínimo aumentou muito os outros estagnaram”, alerta o líder social-democrata.

Um dos segmentos eleitorais mais afastado dos social-democratas é mesmo o dos pensionistas, e Montenegro quis falar diretamente para os que já estão na reforma. “Não vamos cortar um cêntimo a nenhuma pensão”, garante, sublinhando que o PSD vai “aumentar de acordo com a lei as pensões de uma forma geral e, de forma gradual, colocar a referência do complemento solidário para idosos nos 820 euros”. E acrescenta que o PSD quer “fazer esforço para que esse acréscimo tenha um significado maior nas pensões mais baixas”. “Não vamos cortar um cêntimo a nenhuma pensão”, garante, sublinhando que o PSD vai “aumentar de acordo com a lei as pensões de uma forma geral e, de forma gradual, colocar a referência do complemento solidário para idosos nos 820 euros”.

Luís Montenegro não perdeu a oportunidade para atirar críticas às políticas do Governo nas áreas sociais. “Quando nos empenhamos em unir os setores público, privado e social e queremos celebrar um novo contrato social o que queremos é que na saúde, educação, habitação e transportes é que o serviço público seja assegurado pelo Estado, mas também pelo setor privado e social”, continua Montenegro. Em diversos momentos, o líder do PSD ‘chamou’ as empresas e as instituições sociais para desempenharem um papel de relevo na prestação de serviços públicos. Para Montenegro, o PS revelou “teimosia ideológica” e garante que se “seguíssemos este princípio tínhamos um SNS com mais capacidade e uma educação com menos problemas, mais oferta no arrendamento e de compra de habitação”.

Com o Chega como uma espécie de ‘elefante na sala”, Montenegro defende uma política de natalidade e, neste contexto, abordou a política de imigração. “Mesmo que sejamos bem sucedidos na inversão das políticas que removem os obstáculos à natalidade temos de atrair, acolher e integrar imigrantes. É necessário regular e dignificar. Nem podemos ter a porta escancarada nem a porta fechada à imigração e há caminhos que podemos seguir”, disse Montenegro.

A falar para os congressistas, e para os militantes social-democratas, o líder do PSD admitiu que pode fazer mais. “Também sei que as pessoas pedem mais de mim do que aquilo que fui capaz de mostrar até agora. Tenho noção disso, mas estou aqui para fazer isso”, garantiu Montenegro, ovacionado de pé.

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