Empresas portuguesas ‘sacrificam’ margem de lucro com aumento das tarifas
Mais de 80% das empresas não vão repercutir já a subida das taxas para os EUA no preço final dos produtos. Um terço assume não ter estratégia ou ações imediatas para lidar com a guerra comercial.
Apesar de as margens de lucro em Portugal já serem inferiores às da média da Zona Euro, o que significa que têm uma folga menor para absorver custos adicionais como a subida das tarifas nos Estados Unidos, mais de oito em cada dez empresas nacionais afastam a hipótese de aumentar de imediato os preços dos bens e serviços, ‘preferindo’ sacrificar a rentabilidade do negócio, pelo menos a curto prazo.
Segundo os resultados de um inquérito flash realizado entre 4 e 10 de abril pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) sobre o impacto económico das tarifas impostas pelos EUA, a que o ECO teve acesso, apenas 18% das quase 300 empresas responderam com “ajustes de preços e custos” à questão sobre as estratégias que pretendem adotar para contornar os efeitos do aumento das taxas alfandegárias.
“As empresas atuam num mercado global muito concorrencial. É razoável que, pelo menos numa primeira fase, não estejam a pensar repercutir no preço final dos produtos. Dependendo de cada setor, cada empresa terá mais ou menos a capacidade de absorver o impacto na sua margem de negócio. Mas é expectável que, mais cedo do que tarde, tenha de refletir no preço final dos produtos, sob pena de poder vir a ser colocada em causa a sua viabilidade económica e financeira”, comenta Luís Miguel Ribeiro.
É razoável que, pelo menos numa primeira fase, não estejam a pensar repercutir no preço final dos produtos. (…) Mas é expectável que, mais cedo do que tarde, tenha de refletir no preço final dos produtos, sob pena de poder vir a ser colocada em causa a sua viabilidade económica e financeira.
Por outro lado, mais de um terço (36%) das empresas assume não ter uma estratégia montada ou ações imediatas pensadas para responder, desde já, aos impactos da guerra comercial. Algo que o presidente da AEP diz ser “natural”, dado que “não estavam preparadas” para este cenário, pois “confiaram na estabilidade da aplicação das tarifas proporcionada pela globalização nas últimas décadas”.
“Perante o clima de incerteza, algumas estarão a retardar a tomada de decisões estratégicas, pelo impacto que possam ter na sua atividade”, acrescenta.
A diversificação e/ou o redirecionamento dos mercados de venda é mesmo a estratégia ‘preferida’ pelos empresários inquiridos, embora o dirigente associativo nortenho sublinhe que “não é algo que as empresas possam implementar de um dia para o outro”.
Neste inquérito, cujas conclusões já estão também no gabinete do ministro da Economia, Pedro Reis, participaram 296 empresas, das quais 71% são exportadoras e 50% do setor industrial. Na caracterização da amostra, 42% são micro e pequenas empresas; 46% médias e as restantes 12% de grande dimensão.
Apoios sim, retaliação não
Sem surpresa, os resultados do inquérito dão um “sinal claro” de como as empresas nacionais estão preocupadas quanto aos novos contornos nas trocas comerciais com os EUA. Além da exposição direta que vários setores têm a este mercado – é o caso do agroalimentar, dos têxteis, do calçado, das indústrias químicas ou da metalomecânica –, contextualiza o líder da AEP que é também “um mercado difícil de substituir devido às características dos seus consumidores, com um elevado poder de compra”.
Mais empresas apontam como “significativo” ou “muito significativo” o efeito indireto das tarifas (54%) – por afetar a atividade comercial para outros países, sobretudo da União Europeia que são o destino de mais de 70% das exportações portuguesas de mercadorias – do que o efeito direto sobre as suas vendas para os EUA (46%).
Uma preocupação justificada pelo “previsível risco de redução da procura externa dirigida às empresas [nacionais], mas também pela pressão sobre os preços, quer das matérias-primas quer dos produtos”.
Quanto ao tipo de medidas que as empresas esperam ver adotadas por parte do Governo e da União Europeia no âmbito destas tarifas, destaca-se a prioridade dada aos apoios à internacionalização e à diversificação dos mercados, complementados com “outro tipo de apoios”, nomeadamente ao financiamento do investimento.
Garantias bancárias, linhas de crédito, seguros de crédito à exportação, unificação das apólices e reforço do apoio aos projetos de internacionalização foram algumas das medidas incluídas pelo Executivo nacional no pacote de apoio às empresas para mitigar o impacto das tarifas que estão a ser impostas por Washington, que foi apresentado a 10 de abril e avaliado em dez mil milhões de euros.
No entanto, só 20% das empresas ouvidas pela AEP defendem que a União Europeia deve responder a Trump na mesma moeda, evidenciando que “as empresas preferem a via do diálogo, em detrimento de medidas de retaliação”.
“Também demonstra que as empresas acreditam no poder negocial da UE para resolver este diferendo com os EUA, procurando evitar que as empresas e os cidadãos europeus sejam afetados”, completa Luís Miguel Ribeiro.
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