Descodificador: O que se passa afinal entre o Twitter e Donald Trump?
- Flávio Nunes
- 31 Maio 2020
O Twitter e o presidente dos EUA iniciaram um braço de ferro que promete acelerar a regulação sobre as redes sociais no país. Entenda o que está em causa e o que pode mudar.
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- Flávio Nunes
- 31 Maio 2020
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O que aconteceu entre o Twitter e Trump?
O Twitter decidiu aplicar um mecanismo de fact-checking abaixo de duas publicações de Donald Trump naquela rede social, confrontando diretamente o presidente dos EUA com a alegada falsidade das suas afirmações.
O sistema é composto por um botão com a inscrição “get the facts” (“conheça os factos”, em português) que passou a surgir em duas publicações de Trump. Nelas, o presidente critica o voto por correspondência na Califórnia, alegando que o sistema é propício a “fraudes substanciais”.
O chefe de Estado norte-americano alega também que os boletins de voto estão a ser enviados para todas as pessoas que vivam no estado da Califórnia.
O botão “get the facts” remete para uma página que agrega tweets e informação de órgãos como a CNN, The Washington Post e The Hill:
Proxima Pergunta: E o que se passou a seguir?
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E o que se passou a seguir?
O presidente dos EUA não gostou de ser confrontado pela rede social, uma plataforma que usa há vários anos para criticar os adversários políticos, para fazer campanha e até para governar, por considerar que os meios de comunicação social não transmitem corretamente as suas mensagens.
Ao saber da decisão do Twitter, Donald Trump publicou novos tweets a acusar a rede social de estar a querer interferir nas eleições presidenciais de novembro deste ano. O presidente dos EUA ameaçou também “fechar as redes sociais”.
Proxima Pergunta: Foi a primeira vez que o Twitter fez isto?
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Foi a primeira vez que o Twitter fez isto?
Sim. Com Donald Trump nunca tinha acontecido.
A comunidade do Twitter obedece a um conjunto de regras. Geralmente, se não as cumprirem, os utilizadores podem ser penalizados, silenciados ou banidos da plataforma.
Mas, apesar de Donald Trump já ter feito dezenas de publicações que alguns especialistas consideraram violar as regras da comunidade, o Twitter nunca tinha tomado uma atitude em relação às atitudes do presidente.
Isso tem valido ao Twitter muitas críticas, sobretudo da ala democrata dos EUA, que considerava que o presidente dos EUA usava o Twitter em regime de exceção comparativamente com toda a comunidade.
Com esta decisão, porém, o Twitter inverteu a posição, espoletando agora críticas da ala republicana e próxima de Trump, que considera que a rede social está a operar a favor dos interesses da oposição e a “censurar” os ideais mais conservadores.
Proxima Pergunta: Como é que Donald Trump retaliou?
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Como é que Donald Trump retaliou?
A resposta de Trump não tardou.
O presidente dos EUA assinou esta quinta-feira uma ordem executiva que abre a porta a uma chuva de processos em tribunal contra as redes sociais. Estas passam a poder ser judicialmente responsabilizadas pelas decisões que tomam de banir um utilizador ou de removerem uma mensagem.
A ordem executiva põe fim à chamada “proteção de responsabilidade” da qual beneficiavam estas grandes empresas de tecnologia. Até aqui, Facebook e Twitter podiam tomar decisões sobre que conteúdo podia ou não ficar na plataforma, removendo o que pudesse ser incitador do ódio e da violência, ainda que com critérios relativamente opacos.
Com esta ordem executiva, Facebook e Twitter terão de pensar duas vezes antes de eliminar uma determinada mensagem, pois poderão ser alvo de processos judiciais e multas. A ordem executiva de Trump é, por isso, um primeiro passo no sentido da regulação do conteúdo publicado nas redes sociais.
Alguns jornais especializados notam, contudo, que a própria ordem executiva deverá ser levada a tribunal. Trump poderá estar a extravasar o poder que a Constituição lhe confere enquanto presidente.
Proxima Pergunta: Os tweets de Trump eram mesmo falsos?
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Os tweets de Trump eram mesmo falsos?
Sim, de acordo com a generalidade dos órgãos de comunicação social de referência nos EUA.
Trump alegou que o voto por correspondência é propício a “fraudes substanciais”, mas os fact-checkers independentes dizem não haver evidências disso, de acordo com o Twitter.
A principal afirmação rebatida por estes órgãos é o argumento de que os boletins de voto estejam a ser enviados para todos os habitantes do estado da Califórnia. Na verdade, estão apenas a ser enviados a eleitores registados, como manda a lei.
Proxima Pergunta: O Twitter vai continuar a desafiar Trump?
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O Twitter vai continuar a desafiar Trump?
Tudo indica que sim.
Até porque, esta sexta-feira, a rede social decidiu voltar a desafiar o presidente dos EUA, aplicando um filtro por cima de um dos seus tweets.
“Este tweet viola as regras do Twitter por glorificar a violência. Contudo, o Twitter determinou que pode ser do interesse público que este continue acessível”, lê-se na mensagem.
Assim, o tweet do presidente não é imediatamente visível. Para acederem à publicação, os utilizadores têm de carregar em “Ver”.
E o que diz a publicação? É um par de mensagens relativas aos protestos que eclodiram esta sexta-feira em Minneapolis depois da morte de um cidadão afro-americano de 46 anos na segunda-feira, enquanto estava sob custódia da polícia. Na publicação, o presidente dos EUA assume a hipótese de disparar sobre manifestantes.
Proxima Pergunta: Trump pode apagar a conta no Twitter?
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Trump pode apagar a conta no Twitter?
É imprevisível. Por um lado, e pelo menos até agora, o presidente via na rede social uma forma de transmitir as suas mensagens de forma livre, sem responsabilização. O Twitter do presidente tem o “poder” de fazer subir e descer os mercados, e até de espoletar guerras.
Por outro, Trump foi questionado disso mesmo esta semana, sobre se tenciona apagar a sua conta no Twitter. Respondeu que apagaria a conta “num segundo” se os jornais transmitissem as suas afirmações com integridade, apesar de não haver evidências de uma cobertura mediática enviesada contra o presidente na imprensa de referência norte-americana.