O que são e como vão funcionar as Contas de Poupança e Investimento para os pequenos investidores

- Luís Leitão
- 6:46
Investir deixou de ser só para grandes bolsos. Custos mínimos, incentivos fiscais e mais oportunidades à distância de uma conta inovadora. Quer saber como? Descubra tudo neste descodificador.
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O que são as Contas de Poupança e Investimento (CPI)?
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Por que decidiu a Comissão Europeia promover estas contas agora?
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Como funcionam as CPI?
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Que produtos poderei comprar através destas contas?
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E que produtos estão excluídos?
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Em que instituições poderei abrir uma Conta de Poupança e Investimento?
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Há valores mínimos para abrir uma destas contas?
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E há valores máximos para o montante aplicado nas CPI?
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Como pequeno investidor posso ter várias CPI?
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Como funciona a transferência de ativos e de CPI entre prestadores?
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Posso manter a minha CPI com todas as suas vantagens se for viver para outro país?
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Há uma idade mínima para ser titular de uma Conta de Poupança e Investimento?
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Que vantagens fiscais estarão associadas a estas contas?
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Como é simplificada a questão fiscal?
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Qual será o custo destas contas?
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Quando estarão disponíveis as CPI em Portugal?
O que são e como vão funcionar as Contas de Poupança e Investimento para os pequenos investidores

- Luís Leitão
- 6:46
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O que são as Contas de Poupança e Investimento (CPI)?
As Contas de Poupança e Investimento (CPI) são contas especiais oferecidas por intermediários financeiros autorizados que permitem aos cidadãos investir em instrumentos financeiros como ações, obrigações e fundos de investimento.
A principal característica distintiva é que estas contas vêm frequentemente acompanhadas de benefícios fiscais significativos, tornando-as muito mais atrativas do que as contas tradicionais usadas pelos investidores junto dos bancos e corretoras.
Proxima Pergunta: Por que decidiu a Comissão Europeia promover estas contas agora?
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Por que decidiu a Comissão Europeia promover estas contas agora?
Há algum tempo que a criação das CPI está nos planos da União Europeia. Porém, só mais recentemente é que a questão da literacia financeira ganhou destaque entre as prioridades de Bruxelas. Esta iniciativa surge por iniciativa da Comissária dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos, Maria Luís Albuquerque, que decidiu promover estas contas para fomentar uma melhor aplicação das poupanças dos cidadãos.
Segundo a Comissão Europeia, os cidadãos da União Europeia têm uma das taxas de poupança mais elevadas do mundo (14,7% em 2024), mas mantêm a maioria dessas poupanças (cerca de 10 biliões de euros) em depósitos bancários que oferecem retornos baixos e não protegem da inflação.
Segundo o estudo que serviu de base à Comissão Europeia para promover as Contas de Poupança e Investimentos, um cabaz constituído por fundos de ações de baixos encargos de gestão (menos de 0,5%) e de outros fundos com pelo menos 20% da carteira exposto a ações da União Europeia, entregou retornos médios anualizados de 6% nos últimos dez anos, substancialmente superiores às taxas de juro dos depósitos.
Proxima Pergunta: Como funcionam as CPI?
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Como funcionam as CPI?
As Contas de Poupança e Investimento que, em breve, poderão ser disponibilizadas em Portugal, consistem em “plataformas de investimento fornecidas por prestadores autorizados” que darão acesso a, pelo menos, a ações, obrigações e fundos UCITS/ETF, refere a Comissão Europeia. Além disso, as CPI deverão proporcionar uma experiência “simples, fiável, segura e facilmente acessível online e offline”.
Proxima Pergunta: Que produtos poderei comprar através destas contas?
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Que produtos poderei comprar através destas contas?
No mínimo, as contas devem permitir acesso a ações, obrigações e unidades de organismos de investimento coletivo em valores mobiliários (OICVM), incluindo fundos negociados em bolsa (ETF).
Os Estados-membros podem ainda estender o âmbito a outros instrumentos financeiros adequados para investidores particulares, como fundos europeus de investimento de longo prazo (ELTIF) — que investem em empresas e projetos não cotados, como infraestruturas e pequenas e médias empresas, que necessitam de capital a longo prazo — e fundos de investimento alternativos (FIA) para o retalho.
Proxima Pergunta: E que produtos estão excluídos?
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E que produtos estão excluídos?
As CPI excluem deliberadamente instrumentos financeiros altamente arriscados ou complexos, como certas derivadas complexas e criptoativos (exceto aqueles que se qualifiquem como instrumentos financeiros elegíveis para serem detidos numa conta de poupança e investimento). Esta exclusão visa proteger os investidores particulares de riscos difíceis de compreender.
Proxima Pergunta: Em que instituições poderei abrir uma Conta de Poupança e Investimento?
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Em que instituições poderei abrir uma Conta de Poupança e Investimento?
Estas contas poderão ser constituídas numa ampla gama de prestadores de serviços financeiros autorizados, incluindo bancos, corretoras, seguradoras, gestoras de ativos e outros intermediários financeiros. Além disso, os prestadores autorizados noutros Estados-membros podem também oferecer estas contas nas mesmas condições que os prestadores nacionais, promovendo assim concorrência transfronteiriça.
Proxima Pergunta: Há valores mínimos para abrir uma destas contas?
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Há valores mínimos para abrir uma destas contas?
Não. A recomendação da Comissão Europeia estabelece claramente que não devem ser impostos valores mínimos para a abertura de uma Conta de Poupança e Investimentos ou para pagamentos regulares nas mesmas. Este princípio visa garantir que todos os investidores particulares possam utilizar estas contas, independentemente do seu nível de riqueza.
A investigação que serviu de base à recomendação da Comissão Europeia refere que as contas mais bem-sucedidas em termos de adesão não impõem períodos mínimos de detenção nem limites de contribuição muito restritivos. O exemplo dinamarquês é ilustrativo disso mesmo: apesar de ter uma boa adesão (8% da população), o limite relativamente baixo de 22.300 euros resulta em níveis de ativos sob gestão mais baixos (0,9% do PIB) comparado com outros países.
Proxima Pergunta: E há valores máximos para o montante aplicado nas CPI?
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E há valores máximos para o montante aplicado nas CPI?
Não necessariamente. A questão dos limites máximos CPI não é obrigatória, segundo a recomendação da Comissão Europeia, sendo deixada à discrição de cada Estado-membro. A análise dos documentos da Comissão Europeia refere, no entanto, que há uma grande variedade de abordagens entre os países que já têm contas similares:
- Países com limites totais: França (PEA) com 150 mil euros, Dinamarca (ASK) com 22.300 euros e a Finlândia (OST) com 100 mil euros no total.
- Países com limites anuais: Reino Unido (ISA) com 23.200 euros por ano, Japão (NISA) com 21 mil euros por ano, Canadá (TFSA) com cerca de 4.400 euros por ano e Eslováquia (DIS) com 6 mil euros por ano.
- Países sem limites: Suécia (ISK), Estónia (Investeerimiskonto) e Lituânia (Investicin Sskaita)
A Comissão Europeia defende que uma das características das CPI de maior sucesso é a sua flexibilidade, incluindo a ausência de limites de contribuição restritivos. O argumento é que tais limitações podem desencorajar investidores que pretendam investir acima desses patamares, reduzindo o montante global de financiamento disponível para a economia.
Em suma, Portugal terá liberdade para definir se implementa ou não limites máximos nas suas futuras Contas de Poupança e Investimentos, devendo equilibrar objetivos de política fiscal com a atratividade do produto para os pequenos investidores.
Proxima Pergunta: Como pequeno investidor posso ter várias CPI?
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Como pequeno investidor posso ter várias CPI?
A Comissão Europeia defende que sim. Segundo a recomendação da equipa de Maria Luís Albuquerque, os Estados-membros devem permitir que os investidores abram múltiplas Contas de Poupança e Investimentos, incluindo com diferentes prestadores. Esta flexibilidade encoraja a concorrência entre prestadores e permite aos investidores aceder a uma maior variedade de produtos de investimento.
Proxima Pergunta: Como funciona a transferência de ativos e de CPI entre prestadores?
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Como funciona a transferência de ativos e de CPI entre prestadores?
Os Estados-membros devem facilitar a transferência de instrumentos financeiros individuais ou de toda a carteira de um prestador de Contas de Poupança e Investimento para outro, defende Bruxelas.
Na sua recomendação, a Comissão Europeia defende que o processo deve ser simplificado, incorrer em taxas mínimas (limitadas aos custos administrativos) e não criar um evento tributável, sublinha a Comissão Europeia. Esta portabilidade promove a concorrência e permite aos investidores procurar as melhores ofertas, alerta a equipa da comissária europeia Maria Luís Albuquerque.
Proxima Pergunta: Posso manter a minha CPI com todas as suas vantagens se for viver para outro país?
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Posso manter a minha CPI com todas as suas vantagens se for viver para outro país?
Os Estados-membros são encorajados a trabalhar em conjunto para evitar o risco de dupla tributação quando um investidor particular muda de residência fiscal na União Europeia. “O tratamento fiscal não deve desencorajar os cidadãos de exercer o seu direito à livre circulação”, refere a Comissão Europeia.
Contudo, a mudança de residência fiscal entre Estados-membros do espaço europeu é uma situação complexa que a Comissão Europeia reconhece como um desafio potencial para os titulares de CPI. Mesmo assim, Bruxelas aponta como referência as abordagens do Reino Unido e França que “oferecem uma solução prática que pode encorajar o investimento a longo prazo e também fornecem uma solução para indivíduos mais móveis que procuram certeza de investimento”.
- No Reino Unido, as contas ISA permitem que numa situação de mudança de residência para outro país, os titulares dessas contas possam manter a conta aberta mas não podem depositar mais dinheiro. Além disso, continuam a beneficiar dos benefícios fiscais britânicos sobre o dinheiro já investido e o novo país de residência pode tributar os rendimentos da conta.
- Já em França, que oferece contas PEA, quem muda de residência fiscal pode continuar a beneficiar do tratamento fiscal destas contas, mas não pode fazer mais contribuições para a conta. Esta proteção aplica-se desde que o novo país de residência não seja um estado ou território não-cooperante, cabendo ainda ao novo país de residência a possibilidade de tributação dos rendimentos.
Proxima Pergunta: Há uma idade mínima para ser titular de uma Conta de Poupança e Investimento?
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Há uma idade mínima para ser titular de uma Conta de Poupança e Investimento?
A recomendação da Comissão Europeia não estabelece uma idade mínima específica para a abertura de Contas de Poupança e Investimento (CPI), deixando essa decisão aos Estados-membros. No entanto, a recomendação incentiva explicitamente que os países facilitem o acesso destas contas aos jovens.
“Poupar e investir desde tenra idade pode ajudar a construir riqueza de forma sustentável e contribuir para aumentar a literacia financeira e fomentar uma cultura de investimento. Os Estados-membros são encorajados a criar um enquadramento que facilite a adesão às CPI por parte dos jovens, sujeita a salvaguardas apropriadas”, lê-se no documento de recomendações da Comissão Europeia.
Alguns países já oferecem versões especiais para jovens, como o PEA JEUNE francês (para jovens entre 18-25 anos que permanecem no agregado fiscal dos pais) com um limite de investimento reduzido de 20 mil euros.
Proxima Pergunta: Que vantagens fiscais estarão associadas a estas contas?
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Que vantagens fiscais estarão associadas a estas contas?
Os Estados-membros são encorajados a dar às CPI um tratamento fiscal vantajoso, pelo menos equivalente ao tratamento fiscal mais favorável disponível para rendimentos de qualquer classe de ativos.
As medidas podem incluir: deduções fiscais (permitindo deduzir um montante investido do rendimento tributável), isenções fiscais (isenção do imposto sobre o rendimento gerado pelos ativos), diferimentos fiscais (adiando a tributação até ao levantamento dos ativos) ou aplicação de uma taxa de imposto uniforme.
Proxima Pergunta: Como é simplificada a questão fiscal?
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Como é simplificada a questão fiscal?
Uma das características mais atrativas das CPI é a simplificação dos procedimentos de conformidade fiscal. Os prestadores destas contas devem poder recolher impostos em nome do titular da conta e/ou partilhar todos os dados relevantes com a autoridade fiscal para pré-preencher a declaração de impostos. Com este processo a funcionar de forma automática, a Comissão Europeia considera que irá reduzir significativamente a complexidade fiscal para os investidores.
Proxima Pergunta: Qual será o custo destas contas?
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Qual será o custo destas contas?
A questão dos custos das Contas de Poupança e Investimento (CPI) é uma das preocupações centrais da recomendação da Comissão Europeia, que estabelece princípios rigorosos para garantir que estas contas sejam acessíveis e transparentes para todos os investidores.
A recomendação de Bruxelas estabelece claramente que os Estados-membros devem assegurar que os possíveis custos e taxas de abertura e operação de uma CPI sejam justos, proporcionais, transparentes e fáceis de compreender.
Este princípio básico visa proteger os pequenos investidores de taxas excessivas que possam desencorajar a sua participação nos mercados de capitais, havendo a salvaguarda de que a transferência de uma carteira entre prestadores, seja nacional ou transfronteiriça, não deve criar um evento tributável nem desafiar os benefícios fiscais existentes. Para efeitos de referência, a Comissão Europeia revela diferentes estruturas de custos entre os países que já têm sistemas similares:
- França (PEA): Taxa de custódia média de 0,4%, taxa de transação limitada a 0,5% do valor da transação e uma pequena taxa simbólica de abertura de conta de 10 euros. O advento de novas corretoras e bancos online introduziu maior concorrência e redução destas taxas.
- Eslovénia (INR): As transferências de contas entre prestadores são gratuitas para contas apenas com dinheiro, enquanto contas com instrumentos financeiros podem incorrer apenas em custos técnicos diretos de transferência.
- Suécia (ISK): O sistema aplica uma taxa anual padronizada sobre ativos acima de 13 mil euros, calculada como 30% da taxa de empréstimo do governo mais 1%, resultando numa taxa de 0,888% em 2025 sobre o valor médio dos títulos detidos.
Proxima Pergunta: Quando estarão disponíveis as CPI em Portugal?
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Quando estarão disponíveis as CPI em Portugal?
A recomendação da Comissão Europeia não estabelece prazos específicos para a implementação das Contas de Poupança e Investimento (CPI) pelos Estados-membros, deixando essa decisão ao critério de cada país. No entanto, Portugal já demonstrou interesse nesta iniciativa há vários anos.
A criação de contas poupança fiscalmente mais atrativas foi uma das propostas do programa eleitoral da Aliança Democrática em 2024, à imagem das “ISA Accounts” no Reino Unido ou nas contas “401k” nos EUA. Esta proposta mantém-se no programa do atual Governo. Além disso, a CMVM tem promovido esta iniciativa há vários anos, embora poucos ou nenhuns passos concretos tenham sido dados nesse sentido.
Com a recomendação europeia agora formalizada, o cronograma português dependerá da vontade política e das prioridades legislativas do Governo. Alguns países como a Eslovénia planeiam lançar contas no início de 2026, enquanto a Polónia anunciou a introdução do sistema OKI para meados de 2026. Outros países como França, Suécia e Hungria já têm sistemas estabelecidos.