A maior dificuldade é “garantir que as equipas sejam estáveis”, diz CEO da Mercedes-Benz.io

Silvia Bechmann elege a retenção de colaboradores como o maior desafio que enfrentou como CEO da Mercedes-Benz.io. Valorização do talento júnior e contratação de mulheres serão aposta.

O fabricante de automóveis alemão escolheu Portugal, em 2017, para instalar o coração do seu centro de desenvolvimento de software de marketing e vendas, a Mercedes-Benz.io (MB.io). Cinco anos depois, a CEO Silvia Bechmann diz que a unidade responsável pelo site global da marca, a loja online ou o configurador de veículos assumiu o protagonismo na transformação digital da área de vendas e pós-vendas no grupo. O maior desafio tem sido reter profissionais e garantir a estabilidade da equipa, no contexto da “guerra por talento”.

Na MB.io a saída de profissionais está “em torno de 15% a 18%”, revela a CEO, valor que diz ser abaixo da média do mercado, que supera os 20%. A forte travagem da economia ajuda, no entanto, à retenção. “Com a situação económica que está a ocorrer, as empresas mais sólidas, como é o nosso caso, geram um interesse maior das pessoas em ficar”, afirma, ainda que o objetivo seja atrair e reter profissionais com base na cultura da empresa.

Uma das apostas passa pela valorização do talento júnior, estando a empresa a trabalhar com a Universidade do Minho para a realização de academias. Outra prioridade será atrair mais mulheres para as áreas tecnológicas, equilibrando um rácio que Silvia Bechmann assume não ser “o ideal”.

A MB.io emprega mais de 300 pessoas em Portugal, entre Lisboa e Braga e, recentemente, mudou-se para um novo escritório na Torre Zen, no Parque das Nações. O novo espaço está com uma taxa de ocupação de 85%. Em passando os 90%, já está garantida a hipótese de expandir a área atual.

A Mercedes-Benz.io mudou-se para um escritório maior no Parque das Nações e tem também já um espaço em Braga. Estão previstos outros investimentos em Portugal nos próximos anos?

Temos um foco nestas quatro unidades. Dentro de Portugal, Lisboa e Braga, na Alemanha, Berlim e Estugarda. O nosso objetivo, com este modelo de flexibilidade, é que as pessoas que estejam a trabalhar no norte, em Coimbra, no Porto, tenham como referência física Braga. Pessoas que estejam mais no sul tenham como referência Lisboa. Vamos adaptar o espaço físico em função do que for a frequência dos escritórios.

Em Braga também será necessário aumentar o espaço?

Com o crescimento que estamos a ter vamos precisar de um espaço maior.

As instalações permitem a expansão ou será necessário mudar?

Em Lisboa, permite. Estamos a ocupar dois andares, mas temos a oportunidade de negociar outros andares. Tivemos recentemente uma proposta. Vamos observando a presença das pessoas no escritório e, se for necessário, podemos estender.

Se tivermos uma taxa de ocupação superior a 90%, precisamos de aumentar o espaço. Neste momento, estamos com cerca de 85%. Ainda não chegámos ao momento em que olhamos e dizemos “hoje está cheio”. As pessoas vêm em dias diferentes.

Nos novos escritórios há 100 posições de trabalho, mas há muito mais pessoas a trabalhar em Lisboa. Isso acontece porque nem todas estão fisicamente no escritório?

São 100 postos de trabalho e 14 salas de reunião. Temos salas que têm capacidade para mais de 20 pessoas. Este modelo permite-nos observar quantas pessoas estão a ir ao escritório. Se tivermos uma taxa de ocupação superior a 90%, precisamos de aumentar o espaço. Neste momento, estamos com cerca de 85%. Ainda não chegámos ao momento em que olhamos e dizemos “hoje está cheio”. As pessoas vêm em dias diferentes.

Há 140 vagas abertas. São só em Portugal ou também na Alemanha?

Trabalhamos com um conceito de best fit. É óbvio que o crescimento está orientado para Portugal, mas quando temos alguns perfis que são difíceis de encontrar neste mercado, abrimos também a possibilidade de contratar na Alemanha. Não temos uma fixação de produto por localização.

É mais difícil contratar agora do que há cinco anos?

Após a pandemia, todas as pessoas com um trabalho remoto vão ter muito mais oportunidades. É um facto que existe uma guerra de talento no mercado tecnológico. No entanto, em Portugal somos muito exigentes com o recrutamento, temos três fases — screening, challenge e a parte cultural — e mesmo assim temos muitas pessoas interessadas em se juntar à MB.io.

Qual a maior dificuldade que enfrentou nestes cinco anos?

É, de facto, conseguir que as equipas sejam estáveis. Estamos a trabalhar com culturas diferentes. Temos de olhar para as nossas metas com propósito e gerar equipas que fiquem mais estáveis. Acho que agora estamos no caminho certo.

Com a situação económica que está a ocorrer, as empresas que são mais sólidas, como é o nosso caso, geram um interesse maior das pessoas em ficar.

Conseguir reter os colaboradores.

Exato. E ter uma identificação das equipas. Conversei com alguns concorrentes e estamos melhor do que o mercado em termos da percentagem de pessoas que saem.

Qual é essa percentagem?

Estamos em torno de 15% a 18%. No mercado já está mais do que 20%. Com a situação económica que está a ocorrer, as empresas que são mais sólidas, como é o nosso caso, geram um interesse maior das pessoas em ficar.

A dimensão e solidez da marca Mercedes-Benz facilitam a retenção neste contexto.

Sim, embora esse não seja o nosso objetivo. Queremos que as pessoas fiquem por causa da nossa cultura e dos produtos que temos.

Tiveram de aumentar os salários para conseguir recrutar?

Olhamos para os dados do mercado e temos o compromisso de ter salários competitivos. Todos os anos temos revisões salariais, mas também ajustes em função do mercado, sim.

Vou investir fortemente na participação da mulher na parte da tecnologia. Acreditamos extremamente na diversidade e, para isso, tenho de explorar outras áreas para conseguir atrair mais mulheres, como fizemos com o programa Returnship.

Lançaram o programa Returnship, para recrutar pessoas fora do mercado de trabalho. Há outras iniciativas para reforçar a capacidade de recrutamento?

Estamos a trabalhar com a Universidade do Minho para fazermos academias específicas. Queremos valorizar muito o talento júnior. Temos muitos seniores e isso é muito importante, mas queremos também formar mais juniores, que não estejam há tanto tempo no mercado de trabalho. Além disso, vou investir fortemente na participação da mulher na parte da tecnologia. Acreditamos extremamente na diversidade e, para isso, tenho de explorar outras áreas para conseguir atrair mais mulheres, como fizemos com o programa Returnship.

Tem ideia de qual a percentagem de homens e mulheres?

Não é a ideal. Estamos com uma percentagem que temos de trabalhar.

Quais os protocolos atuais que têm com as universidades?

Temos com a Universidade do Minho, com a Escola 42, com a Universidade de Tomar, a Nova IMS, mas vamos abrir mais portas.

Noutras zonas do país ou centradas em Lisboa e Braga?

Estamos a trabalhar de forma mais focada [onde já estamos], ainda que Tomar já seja uma localização diferente.

Sílvia Bechmann, CEO da Mercedes-Benz.io, em entrevista ao ECO - 07NOV22
Sílvia Bechmann, CEO da Mercedes-Benz.io, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

Qual diria que é a maior conquista da Mercedes-Benz.io nestes últimos cinco anos?

Diria que é a confirmação, dentro da Mercedes-Benz, de sermos identificados como os atores da transformação digital para a área de vendas e agora pós-vendas. É um papel crucial. Queremos vender uma grande parte dos carros elétricos online e nós somos as pessoas que estão a construir todas essas ferramentas. É uma conquista de grande diferenciação.

A inteligência artificial está a crescer, também se fala cada vez mais no blockchain, no metaverso… Estas novas tecnologias já entram no desenvolvimento do software?

Destacaria toda a área de data insights onde trabalhamos com ferramentas de inteligência artificial. É muito importante. Quando fazemos um site usamos a ciência de dados para fazer testes e verificar que funções vale a pena desenvolver. Permite-nos ver qual o impacto no negócio antes mesmo de desenvolver o software. Sabemos, através de dados do mercado, que mais de 50% das funções desenvolvidas para o software acabam por não ser utilizadas. Vemos pelas ferramentas, por exemplo, da Microsoft o seu potencial e o que acabamos por usar. O nosso objetivo é estar sempre a olhar para o valor agregado para o cliente e para o negócio.

Há novos desenvolvimentos ou produtos a serem pensados?

Temos um grande desenvolvimento aplicando uma linha de seamless, que são componentes que vão ser trabalhados de forma leve e não serão repetidos constantemente. Tem também a ver com o nosso compromisso com a sustentabilidade. Este movimento no software é importantíssimo para a qualidade dos nossos códigos. Quais os conteúdos, as imagens, que estamos a carregar, estão muito pesados ou são leves? Gera valor para o cliente e para a sustentabilidade.

Os serviços vão continuar a assumir uma importância crescente na indústria automóvel, incluindo como fonte de receita?

Sim, acredito muito nesse potencial. Encaramos os serviços como um produto, tal como o automóvel. Toda a parte das aplicações, com a Mercedes Me Service App, e de conectividade, a que nos iremos cada vez mais dedicar.

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