O líder da ACEMEL afirma que a tendência, no próximo ano, será para manter os preços da luz. João Serra olha ainda com expectativa as possibilidades que os contadores inteligentes abrem.
As comercializadoras do mercado livre têm condições para que, em 2025, não existam alterações substanciais nos preços da eletricidade que praticam face ao ano atual, avalia o presidente da ACEMEL — Associação dos Comercializadores de Energia no Mercado Liberalizado, João Nuno Serra.
Em paralelo com esta estabilidade, o mercado está a preparar-se para se tornar mais “inteligente”, já que a meta, até ao final deste ano, é que todas as casas já tenham contadores inteligentes instalados. João Nuno Serra prevê que na segunda metade de 2025 o mercado já possa reagir a esta evolução com novas propostas de preço.
Foi anunciada uma quebra na componente das tarifas de acesso às redes, que ainda é relevante, de 5,8%. No entanto, em paralelo, a previsão é que o preço grossista da eletricidade agrave até ao final do ano. E, no próximo ano, a tendência também é de, pelo menos, não baixar. Tendo em conta este equilíbrio de forças, o que é que devemos esperar do mercado liberalizado? Uma descida? Manter?
Obviamente que as políticas comerciais das empresas são de cada uma, mas vejo um mercado mais ou menos estável do ponto de vista de preço. Olhando hoje para os preços de energia para 2025, eles têm estado ligeiramente a subir. Mas como há o efeito da redução nas tarifas de acesso às redes, em princípio vai dar-se a esse equilíbrio. E, por isso, aponto para uma estabilidade de preço em 2025.
Sobre o gás. Desde o início de outubro que estão em vigor novas tarifas para o mercado regulado e algumas comercializadoras admitiram também subidas no preço. Em média, estamos a falar de subidas de quanto?
Não queria arriscar, até porque seria injusto estar a imiscuir-me na política de preço das empresas. Agora, este Governo veio colocar nas medidas que lançou para a descarbonização a introdução, finalmente, dos gases renováveis no mix de gás que nós, comercializadores, vamos entregar aos consumidores. E isso é relevante porque definiram 140 milhões de euros para os próximos dez anos para leilões de injeção de gás renovável na rede. E isso é uma boa notícia, porque acaba por descarbonizar mais o gás natural. E é uma boa notícia para os consumidores.
Mas consegue prever que benefício é que os consumidores podem tirar desse tipo de medida?
Não conhecemos estudos que apontem, para já, para impactos positivos de redução de preço. Penso que os 140 milhões serão importantes para financiar projetos cujas tecnologias ainda não estão maduras. Se tiver pelo menos o benefício de não agravar as tarifas, o efeito de descarbonizar o gás já é um resultado bem conseguido. Depois, a curto ou médio prazo, poderá esperar-se um abaixamento mesmo do preço, na medida em que, se vamos ter mais gás renovável disponível, vamos comprar menos gás natural e, portanto, comprando menos gás natural, globalmente, haverá menor procura e menor pressão sobre o preço do gás. Portanto, podemos especular que poderá ter um efeito colateral positivo.
Outro dos fatores que influenciam os preços do gás são as redes. Recentemente, o regulador deu o seu parecer sobre os planos dos operadores da rede para a expansão dessa rede. [O regulador] deteta um risco elevado e faz contrapropostas mais modestas. Devem recalibrar-se as ambições que estão plasmadas no plano dos operadores da rede de gás? Concorda, portanto, com o regulador nesta avaliação?
Sim. Tendo a concordar na medida em que os investimentos nas redes de gás têm de ser muito bem estudados, no sentido de se perceber se um determinado investimento faz sentido. Se são investimentos que vão suportar a inserção de mais gás renovável na rede, obviamente que esses investimentos são necessários. Se são investimentos para manter ou ampliar redes de gás, quando se sabe que estamos em contraciclo com o gás, na medida em que a transição energética está orientada para a tal eletrificação, se vamos investir em ampliar uma rede de gás, estamos simultaneamente a dizer às pessoas para investirem no gás.
Até ao final do ano temos a obrigatoriedade de todas as casas terem contadores inteligentes, que seria uma alteração importante para os consumidores, na medida em que podem mudar aqui a maneira como como consomem energia. Pensa que já pode ter um impacto relevante na maneira como se formulam os tarifários no ano que vem? Ou é um trabalho mais a longo prazo?
É um impacto muito interessante, muito relevante para os consumidores e para o negócio em si. Estou muito expectante sobre o número de contadores que ficarão por passar a contadores inteligentes em dezembro de 24. Espero que sejam zero.
É o objetivo. Estamos demasiado longe?
Neste momento não tenho números. Mas se nós comercializadores tivermos informação no chamado diagrama de carga, diagrama de consumo hora a hora, quase de quarto de hora a quarto de hora, vai ser muito relevante para a nossa formulação de propostas de preço. Quase que dá para fazer uma oferta personalizada consumidor e consumidor. Diria que é um desafio muito, muito importante para as comercializadoras. E é muito bem vindo. E do ponto de vista do operador de rede é também uma evolução tecnológica fundamental.
Vai ser muito relevante para a nossa formulação de propostas de preço. Quase que dá para fazer uma oferta personalizada consumidor e consumidor
Mas então quando é que pensa que poderia tornar-se algo comum ter essas ofertas no espetro das comercializadoras?
A confirmar-se a alteração do parque de seis milhões de contadores para contadores inteligentes no final deste ano, em 2025, diria mais na segunda metade do ano já poderia estar a ter uma reação do mercado do ponto de vista de formação de propostas de preço diferente daquela que temos hoje.
Mas e quanto à adesão dos consumidores? Porque sabemos que pode haver aqui um problema de literacia. Vai ser um desafio?
Os consumidores têm dois caminhos para poderem ter acesso a dados e cada vez mais as pessoas gostam de ter acesso a esses dados, que é: diretamente via o operador de rede ou via comercializador (dados que não são seus, são do operador de rede, e ele não faz mais do que difundi-los). É necessário ter os sistemas de comunicação entre o comercializador e o operador de rede a funcionar bem. À data de hoje isso não está verdadeiramente a 100% e, portanto, é preciso maturar um pouco mais essa interligação.
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“Aponto para uma estabilidade de preço” da luz em 2025, afirma líder das comercializadoras
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