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  • Vasco Gandra, em Bruxelas

“Compra e venda de ativos passou a ser o novo normal da EDP”, diz António Mexia em entrevista ao ECO

Alienações táticas e não estratégicas já estavam previstas, garante António Mexia. EDP vende ativos onde não tem massa crítica, nem suficiente economia de escala.

António Mexia esteve na passada terça-feira em Bruxelas para participar numa conferência internacional sobre descarbonização e investimentos em energias limpas, juntamente com o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pela União Energética Maroš Šefčovič, com CEO de outras companhias elétricas e diversos representantes do setor. No final de um longo dia que envolveu também encontros com alguns comissários europeus, o líder da elétrica nacional falou uns minutos com o ECO antes de se despedir a correr para o aeroporto.

Mexia garantiu que a compra e venda de ativos da EDP é o “novo normal” da empresa. Sublinhou a necessidade de apostar na descarbonização e nas renováveis que já contribuem hoje — e vão contribuir no futuro — para a descida do preço da energia. António Mexia defende ainda “um novo desenho de mercado”. Em relação à OPA sobre a EDP, disse que quer a China Three Gorges, quer os reguladores, estão a fazer o que lhes compete. Mas admitiu que “o caminho é longo” até ao desfecho do processo.

Qual foi a sua principal mensagem na conferência em que participou?

A conferência mostra que a descarbonização é uma prioridade. Para haver descarbonização tem que haver eletrificação mas isso tem de ser feito com renováveis, caso contrário não há descarbonização. A boa notícia é que os preços — para atingir a neutralidade de carbono entre 2045 e 2050 — estão 30% abaixo do que se estimava há cinco anos graças ao progresso tecnológico alcançado pelas renováveis. As renováveis já contribuem hoje — e vão contribuir mais no futuro – não só para a descarbonização, mas também para a descida do preço da energia em relação ao que aconteceria na ausência das renováveis. Hoje, os preços dos leilões solar ou de leilões de eólico estão a 70%, ou até 80%, abaixo do que estavam há seis anos. São hoje — para projetos novos — mais competitivos do que qualquer outra energia. Estamos no bom caminho com energias limpas e competitivas. É a principal mensagem de hoje.

Que condições são necessárias para facilitar os investimentos na transição energética na Europa e em Portugal?

Esta transição tem de garantir investimento e tem de ser vista pelas pessoas como algo que não é um peso, um custo, um fardo, mas sim como uma oportunidade. A energia continuará a ser um setor de capital intensivo, muito mais digital, será mais descentralizado, terá o cliente no centro, mas continuará a ser de capital intensivo. Sobretudo capital, porque as renováveis não têm custos variáveis só de capital. Portanto, temos de reduzir o custo do capital. Temos de ter progresso tecnológico e capital. O que preciso? De contratos de longo prazo, de leilões, de mercados de capacidade, de valorizar a flexibilidade porque as pessoas gostam de chegar a casa e acender a luz sem ter um blackout. A economia do setor mudou radicalmente e isso tem de ser introduzido na maneira como procuro mais geração e mais regulação. Precisamos de um novo desenho de mercado.

A economia do setor mudou radicalmente e isso tem de ser introduzido na maneira como procuro mais geração e mais regulação. Precisamos de um novo desenho de mercado.

António Mexia

Nos contactos na Comissão falou sobre a OPA que a China Three Gorges lançou sobre a EDP?

As visitas de grupo são boas para falar do que diz respeito ao grupo todo [os comissários reuniram com um grupo de CEO]. O que tenho dito sobre isso é que quer a China Three Gorges quer os reguladores estão a fazer aquilo que lhes compete. É o que lhes compete. Nós ajudamos a China Three Gorges no que precisa a nível de informação.

Está otimista em relação ao desfecho do processo?

Nem otimista nem pessimista. As pessoas estão a fazer o que devem. Veremos. Depende de muitas coisas. Há um caminho longo.

A EDP já entregou o processo contra o Estado português por causa dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (os chamados CMEC)?

Neste momento estamos a seguir as vias normais sobre essa questão que começa administrativamente por uma “reclamação graciosa”, para procedermos aos passos todos. E a coisa tem obviamente a passagem — caso não se resolva – àquilo que sempre dissemos: que tem de se discutir em tribunal.

A EDP tem estado a vender várias operações, sobretudo as mini-hídricas. Ainda há muitos negócios a alienar?

As operações que fizemos já estavam previstas no contexto das chamadas tactical disposals — as alienações táticas e não estratégicas – ou seja, tudo aquilo em que não temos massa crítica, que não tem suficiente economia de escala para nós. Mas há uma coisa clara: a rotação de ativos, a compra e venda de ativos, passou a ser parte do novo normal para nós. Mesmo nas renováveis desenvolvemos muitos megawatts. Ainda há duas semanas aconteceu isso, desenvolvemos megawatts e depois vendemos 80% da empresa a fundos e encaixámos. Depois, com esse dinheiro, vamos desenvolver mais. A rotação de ativos e realocação de ativos faz parte hoje — e de há uns anos para cá — do dia-a-dia da empresa.

A rotação de ativos, a compra e venda de ativos, passou a ser parte do novo normal para nós.

António Mexia

E esses encaixes vão permitir atenuar a fatura dos CMEC?

Os resultados em Portugal foram óbvios. Temos de lidar com esse assunto, mas não vou agora comentar. A única coisa que temos de fazer é conseguir continuar os compromissos que assumimos com os acionistas e com todos os stakeholders.

  • Vasco Gandra, em Bruxelas

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