“Governo está a ser reformista, mas é preciso alguma atenção ao custo das medidas”

Economista Ricardo Reis diz que as várias medidas do Governo mostram ímpeto reformista, mas alerta que, apesar de não haver sinais de irresponsabilidade orçamental, é preciso ter atenção à despesa.

O Banco Central Europeu cortou as taxas de juro pela primeira vez em quase cinco anos, mas é pouco provável que efetue muitos mais cortes nos próximos 12 meses. A leitura é do economista Ricardo Reis, que a transporta para o plano nacional, onde vê um Governo que está já a fazer “muitas e diferentes” reformas, geralmente bem acolhidas e sem motivo para “pânico” orçamental. Mas que precisa de ter em conta o custo das medidas acumuladas, especialmente dada a incerteza sobre a inflação e a política monetária.

Em entrevista ao ECO, o professor da London School of Economics refere que o Governo português, liderado por Luís Montenegro desde 2 de abril, “está a ser bastante reformista, tendo em conta que só se passaram dois meses”. No entanto, em relação aos Executivos anteriores diz que “está a fazer muitas reformas e diferentes”.

Nas últimas semanas o Executivo da coligação Aliança Democrática (AD), que junta PSD e CDS, apresentou diversas medidas relativas aos impostos, nomeadamente sobre as taxas de IRS em vários escalões e um programa IRS Jovem, e também ao lado da despesa, incluindo nas áreas da habitação, da saúde ou dos apoios aos mais idosos.

Para Ricardo Reis, que foi um dos 17 economistas consultados por Luís Montenegro em janeiro para preparar o Programa de Reformas e Cenário Macroeconómico que a AD apresentou nas eleições legislativas de março, o Governo “pelo menos está a mostrar que quer fazer alguma coisa“.

“Por outro lado, todas as medidas — o que também é normal num governo de minoria — têm ido no sentido de agravar o défice público ou gastar mais dinheiro“, sublinha.

Portugal, tendo beneficiado muito nos últimos anos de uma imagem de responsabilidade fiscal e pagar cada vez menos aos investidores, ter cada vez mais credibilidade, está agora a testar um pouquinho essa credibilidade, está um pouco a puxar no outro sentido.

Ricardo Reis

Economista, professor da London School of Economics

Sublinhou que o acumular de medidas “acontece numa altura em que precisamente esta incerteza acerca da inflação e das taxas de juro implicam que Portugal, tendo beneficiado muito nos últimos anos de uma imagem de responsabilidade fiscal e pagar cada vez menos aos investidores, ter cada vez mais credibilidade, está agora a testar um pouquinho essa credibilidade, está um pouco a puxar no outro sentido”.

O economista salientou que “nada ainda foi feito de uma forma que leve a um nenhum pânico ou irresponsabilidade”. Porém, alertou que “é preciso ter alguma atenção ao custo das medidas conforme elas se acumulam”.

“Por enquanto, ainda não aconteceu nada num volume que implique alguma irresponsabilidade ou alguma dificuldade orçamental, mas de facto há um acumular de medidas e, portanto é algo a prestar atenção“, reforçou.

O professor da London School of Economics conclui que esta atenção é necessária no contexto da atual taxa de juro do BCE que, embora tenha caído, as taxas de juro a dez anos mal se mexeram ou até subiram ligeiramente por causa precisamente da ideia e da mensagem [do BCE], de que não haverá muito mais cortes nos próximos 12 meses“.

  • Diogo Simões
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