A banca está em transformação e, por isso, a Caixa está a "renovar as equipas". Diretor de recursos humanos avança ao ECO que este ano entraram 400 novas pessoas, entre contratados e estagiários.
A viver um “momento alto” da sua história, a Caixa Geral de Depósitos tem aproveitado para renovar as suas equipas. Este ano, entraram 400 novas pessoas, um número que já não se via “há bastantes anos”, salienta o diretor de recursos humanos, Francisco Viana, em entrevista ao ECO. Em simultâneo, o programa de saídas voluntárias (reformas e pré-reformas) continua aberto, indica o responsável, que garante que o banco público tem feito um esforço para requalificar o seu talento.
No que diz respeito às novas contratações, Francisco Viana assinala que se há uns anos a banca “praticamente não tinha concorrência” no recrutamento de profissionais, hoje o cenário mudou. “Era fácil contratar os melhores das melhores universidades. Hoje, temos muita concorrência, não só do setor como de outros setores. Estamos numa competição a sério“, sublinha o diretor de recursos humanos, admitindo que tem sido desafiante encontrar trabalhadores, especialmente para a área comercial.
Apesar das dificuldades, a Caixa Geral de Depósitos, assegura, tem conseguido “recrutar para aquilo que quer”, sendo que as condições oferecidas (nomeadamente, salários) contribuem para essa atratividade.
Hoje, o banco público oferece um salário mínimo semelhante ao ordenado médio do país, e um vencimento médio muito acima do registado para a globalidade do mercado de trabalho. Assim sendo, Francisco Viana diz que “o acordo de Concertação Social não é para a banca”, referindo-se ao novo acordo tripartido sobre valorização salarial e crescimento económico.
Os tempos mudaram e a banca também. Como é que é hoje trabalhar na Caixa Geral de Depósitos? Quão diferente é do cenário vivido há uma década ou duas?
A Caixa está a viver um momento alto. Tem bons resultados, tem capacidade de investir, vai renovando a sua base de clientes e a sua base de colaboradores. Para quem vem trabalhar connosco, temos o programa de formação mais ambicioso da banca portuguesa. Recentemente, a Caixa foi considerada também um top employer.
O que é que vos distingue enquanto empregadores?
Há uma entidade que certifica as melhores empresas de vários setores na área de recursos humanos, e a Caixa foi considerada um top employer. Porquê? Porque temos boas políticas na avaliação de desempenho: temos a avaliação 360, temos a avaliação dos pares, temos feedback, para diminuir a subjetividade temos os balanced scorecards, com objetivos individuais para toda a gente. Quem diz isto diz os programas de formação e os programas de mobilidade.
Já vamos às políticas em concreto, mas, antes de mais, o perfil médio dos vossos empregados tem mudado, também à boleia das transformações do mercado?
A nossa média de idades é de cerca de 45 anos. Para as pessoas mais antigas, hoje está em prática programas de saídas. É possível reformarem-se com 60 anos de idade e 36 anos de serviço, ou pré-reformarem-se com 31 anos de serviço e 55 anos de idade. Estes programas, que temos em prática já há um par de anos, fazem com que seja possível renovar a nossa força laboral. Temos feito um esforço, acompanhando a evolução do mundo, para contratar skills que não existem na Caixa e, ao mesmo tempo, renovar as equipas.
Hoje, as pessoas até têm vergonha de dizer que são da banca, porque parece que é todo um mundo de aldrabões com os problemas que o sistema financeiro no mundo e em Portugal tiveram. Mas não.
Em relação às competências, o que é que têm procurado em concreto no mercado? E como mudaram face àquilo que procuravam há dez ou 20 anos?
Há 20 anos, o setor financeiro e a banca em Portugal estavam na vanguarda do que se fazia na Europa. Temos casos de bancos portugueses que foram case studies. Hoje, as pessoas até têm vergonha de dizer que são da banca, porque parece que é todo um mundo de aldrabões com os problemas que o sistema financeiro no mundo e em Portugal tiveram. Mas não. Há muitas coisas boas no setor. No passado, como éramos um setor que estava na vanguarda, como a banca pagava acima do mercado, praticamente não tínhamos concorrência. Era fácil contratar os melhores das melhores universidades. Hoje, temos muita concorrência, não só do setor, como de outros setores. Estamos numa competição a sério. Felizmente, a Caixa consegue recrutar nas melhores universidades e os melhores alunos.
Mas têm sentido ou não dificuldades em recrutar?
A Caixa não tem dificuldade em recrutar e consegue competir com os outros. Mas depende de para onde. Conseguimos para as áreas de TI (tecnologias de informação), para as áreas que têm que ver com os modelos de risco, com a matemática e com as engenharias. Estamos em boas condições, competimos com os outros e temos conseguido formar boas equipas. É mais difícil hoje recrutar para as áreas comerciais. Apesar disso, estamos a conseguir recrutar no país inteiro.
O que é que contribui para essa atratividade da Caixa?
Primeiro, as condições que as pessoas na Caixa têm. Comparando com o setor, somos o banco que melhor paga. A remuneração do trabalho que praticamos é semelhante à que as grandes consultoras fazem em Portugal. Por outro lado, os serviços sociais da Caixa têm um sistema de saúde que concorre com qualquer melhor seguro que há em Portugal. E prolonga-se para quando a pessoa está reformada. As condições no crédito à habitação. Hoje, como as taxas de juro estão mais altas, isto tem mais peso na contratação das pessoas. É um benefício. Temos um ginásio, um refeitório, e um conjunto de benefícios que são semelhantes àquilo que as grandes empresas em Portugal são capazes de praticar. Por esse lado, é fácil atrair para trabalhar na caixa. Por outro lado, há o desafio da transformação, e a Caixa é um banco que tem um enorme número de caminhos. Na banca de retalho, as pessoas vão cada vez menos às agências.
Ainda é atrativo trabalhar num balcão da Caixa?
Diria que sim, porque isso também faz parte do processo de transformação. Temos 3,8 milhões de clientes. Para alguns clientes, a Caixa tem um papel de ajudar no processo de digitalização, de melhorar a literacia, de os ajudar a fazer esta transição. Isso é atrativo para quem vai para uma agência: ter uma base de clientes que consegue ajudar. Além disso, se as nossas pessoas forem capazes de tirar uso da tecnologia, melhor vão servir o cliente e mais oportunidades terão de fazer também a evolução na sua carreira. Na Caixa, a parte boa é que posso começar numa área comercial e passar por uma área de compliance. A mobilidade funciona.
Falou há pouco de ir ao mercado buscar as competências que não têm. Têm recrutado quantas pessoas?
Desde 2017 que temos resultados positivos e muito expressivos. Portanto, temos vindo a contratar desde 2017, porque precisamos de renovar os skills que o banco tem. Se não fizéssemos isso, a Caixa não conseguiria sobreviver. Este ano foi um bom ano, porque nós contratámos 250 pessoas. Destas, 125 fomos buscar ao mercado para vários lugares e hierarquias dentro da organização. Os outros 125 foram estagiários que entraram no ano anterior. E temos cerca de 150 estagiários que estiveram connosco este ano. Partimos de 7.000 candidatos, escolhemos cerca de 900 candidatos e alimentámos, por um lado, as necessidades dos nossos programas de estágios e, por outro lado, aquelas pessoas cujos skills são muito específicos. Há bastantes anos que não entravam 400 pessoas, entre contratados e estagiários, num ano na Caixa.
Mas ainda vão contratar mais este ano?
Os 400 estão em pipeline até ao final do ano. Nunca tínhamos feito um open day para dar a conhecer a Caixa aos universitários. Tivemos cerca de 900 candidaturas. Fizemos um dia em Lisboa e outro dia no Porto. A procura foi enorme e aproveitámos muitos desses universitários. Os estágios de verão que se fazem nas agências ajudam a conhecer a essência do negócio bancário.
A ideia é converter os estágios em contratos?
Alguns deles são convertidos em contratos. A ideia é sempre essa. Os melhores vêm trabalhar connosco, desde que tenham essa vontade. Se eu for um aluno de qualquer universidade e tenho interesse em ir para uma área específica da Caixa, se tiver uma experiência no negócio bancário do dia-a-dia, na área comercial, vou ser um melhor profissional quando estiver a desenvolver aquilo para que nasci. É essencial conhecer o negócio bancário. Portanto, estes estágios que fazemos no verão têm sido muito bons para as pessoas perceberem o que é banca, o negócio bancário e a importância do cliente.
Não sei dizer hoje se no próximo ano vão entrar também 400 pessoas na Caixa, mas há de ser um número parecido.
Das cerca de 400 novas pessoas, entre contratados e estagiários, quais têm sido as principais áreas para as quais contratam?
Recrutámos muito para o TI. Temos um centro de inteligência analítica e também contratámos para essa área. Contratamos este ano também para a banca de investimento. Somos o único banco em Portugal que tem oficialmente, de modo autónomo, um banco de investimento. Contratámos para a área comercial. Temos muitas pessoas que contratámos no passado para as áreas de controlo, que levaram uma volta gigante desde 2017. Aí já estamos bem servidos com aquilo que temos, e estamos a formar as pessoas ou até fazer reskilling de outras pessoas que eram do banco, mas que eram das agências. É bom a Caixa conseguir recrutar aquilo que quer.
E em 2025, o que é que vão querer?
Temos de continuar este trajeto. Não está concluído de maneira nenhuma. Temos que continuar a renovar as equipas.
Tem um número em mente?
O número não vai andar muito longe do que andamos a fazer [este ano]. Entre os estagiários, vamos ficar com os melhores. A percentagem depende da qualidade do grupo. Ao mesmo tempo, como o mundo está a mudar muito e a tecnologia está a evoluir, se há necessidades diretas de skills que a Caixa não tem, vai ao mercado à procura. Não sei dizer hoje se no próximo ano vão entrar também 400 pessoas na Caixa, mas há de ser um número parecido.
E saídas? Há pouco referiu que têm um programa de saídas voluntárias em vigor. Este ano saíram quantas pessoas?
Desde 2017 que a Caixa tem vindo a reduzir a sua força de trabalho. O negócio está a mudar. Há menos agências, apesar de não ter fechado nenhuma este ano, nem no ano passado, nem há dois anos. As pessoas efetivamente vão menos às agências. Portanto, tenho menos empregados nas agências do que tinha. E no próximo ano quero ter menos pessoas do que tenho. Nos recursos humanos, trabalhamos para haver o número mínimo de pessoas que prestam o melhor serviço possível. Procuramos a eficiência. Nos últimos quatro anos, a Caixa reduziu 275 pessoas, em termos líquidos. Este ano vai voltar a reduzir. E para o ano e nos próximos anos vai continuar a reduzir.
Mas as pessoas das agências não poderiam ser requalificadas, visto que noutras áreas, como disse, até estão a contratar?
E são. Muitas dessas pessoas são requalificadas. Há muitas pessoas que tinham experiência na área comercial e hoje estão na área de compliance. Houve requalificação. Na área de TI, temos um programa no qual percebemos, por um lado, quais são as pessoas que têm determinadas skills, e, por outro, as necessidades em termos de tecnologia que tenho. E fazemos a requalificação com programas específicos para essas pessoas. A minha ambição é conseguir fazer isso para o banco todo. Havemos de lá chegar.
Poder sair com 55 anos de idade, 31 anos de serviço e 80% do meu salário é o melhor que há no mercado, e há muitas pessoas que pretendem fazer isso.
Das 275 pessoas que saíram, em termos líquidos, acha que não teria havido interesse em manterem-se na Caixa, com outras funções?
O problema é que muitas dessas pessoas querem sair. Como temos o melhor programa de saídas do mercado… Poder sair com 55 anos de idade, 31 anos de serviço e 80% do meu salário é o melhor que há no mercado, e há muitas pessoas que pretendem fazer isso. As candidaturas estão abertas. Não aceitamos que todas as pessoas que se candidatam possam ir para pré-reforma, porque não queremos perder o talento. Tem de ser um mútuo acordo. Em simultâneo, para as outras pessoas que não têm estas condições, temos um programa de requalificação que abrange um número muito significativo de pessoas.
Qual é o número de pessoas que foram requalificadas pela Caixa?
Nos meus números, 70% das pessoas da Caixa foram requalificadas. À minha força de vendas, dei um programa para todo o middle management. Portanto tudo o que são gerentes de agências e coordenadores. Tenho um programa para todas as lideranças da Caixa, para diretores.
E qual é o maior desafio na requalificação de tantos trabalhadores?
É a vontade das pessoas. Está na moda falar de inteligência artificial. O grande desafio é vencer o receio da pessoa de que a inteligência artificial a venha substituir. O grande desafio da organização, por um lado, é que as pessoas usem bem a tecnologia e, por outro, ser capaz de ter pessoas a disseminar esse conhecimento e ter formas desse conhecimento passar pelas equipas. As organizações que fizerem isso vão ser as mais bem-sucedidas. Não há que ter medo da tecnologia. Não vamos deixar de necessitar das pessoas. Mas têm que fazer a diferença. As pessoas que souberem utilizar melhor a inteligência artificial e as que forem capazes de disseminar isso numa organização vão ser sempre bem-sucedidas.
Vamos aos salários. A Caixa foi o primeiro banco a fechar os aumentos para 2025. Os sindicatos deixaram reparos, apesar do acordo. O que é que lhes responde?
Se eles acabaram de assinar, como é que criticam?
Os sindicatos afetos à UGT, por exemplo, sublinharam que a negociação foi difícil.
A Caixa tem sete sindicatos. Fizemos acordo com praticamente 100% dos sindicatos. Alguma coisa a Caixa está a fazer bem para que a generalidade dos sindicatos tenha assinado este acordo. A tabela salarial que a Caixa pratica é superior à da restante banca. A Caixa premeia mérito. Quer distinguir entre as pessoas, entre as que têm mais mérito. Fazemos isso, quer os sindicatos gostem, quer não gostem. Temo-lo feito de forma bem feita e cada vez com uma evolução. Para além das pessoas da Caixa terem os seus salários, os que são comerciais têm incentivos comerciais que acompanham os ciclos comerciais. E, como o banco tem dado bons resultados, tem sido possível partilhar com os colaboradores o bom momento que o banco está a viver.
Na Conferência Anual do Trabalho, promovida pelo ECO, o secretário-geral adjunto da UGT dizia que a banca foi um setor que os portugueses ajudaram nos momentos mais críticos e agora negociou aumentos em torno de 3%. Dizia isto em jeito de crítica.
A UGT tem três sindicatos que têm acordos de empresa com a Caixa. Os três assinaram. Felizmente, foi possível fechar com os sindicatos da UGT um acordo, que acho que é muito bom para os empregados da Caixa. Não só em 2024 o aumento que se verifica – estamos a falar de 3,2% na tabela, com 65 euros de mínimo – vai ser superior à inflação, como o que fechámos de acordo para 2025 – que é um aumento de 2,5% na tabela – é superior à inflação esperada.
Estamos num país em que o maior banco português paga de salário mínimo o que se ganha em Portugal de salário médio, esse acordo de Concertação Social não é para a banca.
Como diz, o aumento acordado para 2025 é de 2,5%. Na Concertação Social, ficou fixado um referencial de 4,7% para a negociação dos aumentos salariais. Não teria sido possível à Caixa cumprir esse referencial?
É preciso ver o que está a ser discutido na Concertação Social. A Caixa tem um salário mínimo que é muito semelhante ao salário médio em Portugal. O salário médio da Caixa é muito superior ao salário médio em Portugal. Estamos num país em que o maior banco português paga de salário mínimo o que se ganha em Portugal de salário médio, esse acordo de Concertação Social não é para a banca. Felizmente, é possível a banca ter resultados, pagar bons prémios, distinguir o mérito e pagar bons salários.
Destacou muitos aspetos positivos, mas qual é o maior desafio na gestão dos recursos humanos da Caixa hoje?
É ter as pessoas certas. O que procuramos são pessoas para servir a Caixa, não são pessoas que se sirvam da Caixa. Portanto, ter as pessoas certas é ter pessoas que tenham boa formação, que sejam boas pessoas, que tenham ambição, e que queiram ajudar neste processo de transformação.
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“Há bastantes anos que não entravam 400 pessoas num ano na CGD”
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