A preparar o lançamento do MBA in Sustainable Management, a Pessoas falou com José Crespo de Carvalho, presidente de CEO do Iscte Executive Education sobre desafios e oportunidades neste setor.
Portugal já começou a escrever a sua história ao nível da exportação de ensino superior. E exemplo disso são os rankings internacionais de prestígio, em que, quase sempre, figuram várias instituições de ensino superior portuguesas. Apesar disso, José Carvalho Crespo, presidente e CEO do Iscte Executive Education, não tem dúvidas. “Há ainda muita gente muito desatenta em relação ao que se exporta em termos de ensino superior em Portugal”, afirma em entrevista à Pessoas o professor catedrático do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, referindo-se, em particular, ao ensino superior executivo.
“Se se tomasse mais atenção poderíamos ter condições ímpares para exportarmos bem mais e marcarmos muitos pontos em várias outras áreas e indústrias à conta da exportação de ensino superior a vários níveis. Há uma cross-fertilization para outros setores evidente. Um full MBA in Sustainable Management pode ser um excelente exemplo disso mesmo”, defende.
A preparar o lançamento do programa de formação executiva em gestão sustentável, um MBA pioneiro em Portugal, a Pessoas falou com José Crespo de Carvalho sobre desafios e oportunidades neste setor e além-fronteiras, sobre o papel da formação na melhoria da gestão e sobre a liderança do futuro.
Depois de uma pandemia, fazer uma gestão sustentável é uma inevitabilidade para os líderes de empresas?
Não é uma inevitabilidade. É antes uma necessidade. Mas há uma questão central no meio disto. Está convicto de que o homem aprendeu grandes lições com a pandemia e que não voltará a repetir erros? Claro que volta. Mal a pandemia esteja controlada volta também a pairar sobre nós a teoria dos custos de transação com muita força, o ganho de curto prazo — não necessariamente sustentável — e o oportunismo humano, entre várias outras dimensões.
Ficaremos com umas lições aprendidas e vamos a pouco e pouco alterar alguns aspetos. Mas faremos isso porque dói a todos e continuará a doer de muitas formas diferentes — climatéricas, de saúde, de recursos, entre tantas outras. Mas não coloco a gestão sustentável ao nível da inevitabilidade. Pelo menos enquanto o homem der pelo nome de homem.
Agora se me pergunta se para nós, Iscte Executive Education, é uma inevitabilidade, respondo que sim, mas não só. Inevitabilidade porque queremos estar com o mercado que quer as melhores práticas; porque temos a obrigação moral de estar na frente; porque queremos que essa necessidade de falar, debater e aprender sobre sustentabilidade, lato sensu, se torne não apenas necessária mas incontornável, imprescindível ou — emprego o seu termo — inevitável. Queremos mesmo fazer o nosso papel para mudar um “grão de areia” que seja no mundo.
O facto de termos desenhado um full MBA in Sustainable Management faz parte dessa obrigação moral de debater, difundir, estudar e apoiar boas práticas. É uma aposta central. É uma aposta consciente. É uma aposta clara de que queremos mudar e que nós, universidade, queremos estar a fazer esse caminho. E devemos estar a fazer esse caminho.
Que ganhos de negócio ou outros podem obter com essa aposta?
Sob o ponto de vista de negócio, tout court, não é um produto inequívoco em rendibilidade. Até porque a procura está verde (passo o termo) na comparação com ofertas mais tradicionais e mais seguras na ascensão salarial, por exemplo. Porém, o preço é atrativo para um MBA pelo lado da procura, o que pode fazer diferenças. Para o negócio o preço não assim tão atrativo pelo lado da oferta. A oferta é imersiva e sendo um full MBA torna-se mais dispendioso.
A internacionalização aparece aqui, porém, como um fator chave para nós. Ou seja, se o pricing não nos atira para um produto fantástico a gerar cash-flow, a verdade é que pretendemos dele uma pegada bem maior que apenas a nacional, pelo que queremos estar na linha da frente de tudo quanto se faz em termos de ensino superior nestas áreas da sustentabilidade. E, nesse sentido, a aposta é internacional, em inglês e procurando atrair potencial de fora para Portugal.
Penso que se se tomasse mais atenção poderíamos ter condições ímpares para exportarmos bem mais e marcarmos muitos pontos em várias outras áreas e indústrias à conta da exportação de ensino superior a vários níveis.
Portugal já vai tendo uma história para contar ao nível da exportação de ensino superior. Temos uma belíssima história a este nível com movimentos para a China, a Índia, o Brasil ou os Estados Unidos de que muito nos orgulhamos. Há muitos players nossos concorrentes que têm histórias fantásticas para contar. Mas há muita gente muito desatenta em relação ao que se exporta em termos de ensino superior em Portugal (em particular ensino superior executivo).
Penso que, se se tomasse mais atenção poderíamos ter condições ímpares para exportarmos bem mais e marcarmos muitos pontos em várias outras áreas e indústrias à conta da exportação de ensino superior a vários níveis. Há uma cross-fertilization para outros setores evidente. Um full MBA in Sustainable Management pode ser um excelente exemplo disso mesmo.
Portugal tem mercado neste setor para os profissionais investirem nesta área?
Portugal, por si só, é um mercado pouco atrativo para a maioria das indústrias. A da formação de executivos não é exceção. É um mar vermelho. É absolutamente price oriented e hiper price sensitive. Portugal será sempre melhor quando pensar além-fronteiras. Neste setor como noutros setores. É, como dizia, por aí que estamos e queremos fazer mais e mais o nosso caminho, quer em open enrollment, quer em oferta customizada, corporate.
Qual a perspetiva de retorno que os participantes poderão ter ao apostarem neste tipo de formação? Há procura por profissionais com este perfil de formação?
O full time MBA in Sustainable Management é um MBA em gestão em primeira mão. Onde os casos, onde os debates, onde as palestras, onde as atividades têm um viés para a sustentabilidade. Portanto, não falhará a formação sólida em gestão. Mas haverá um viés claro, deliberado, para as questões da sustentabilidade.
A perspetiva é que os participantes levem uma formação sólida em gestão a par com todas as perspetivas e preocupações globais em termos de sustentabilidade. Diria que é um pacote de bom value for money. Se somarmos a isso uma potencial network internacional com interesse nestas questões, os participantes poderão levar muito desta formação.
Portugal será sempre melhor quando pensar além-fronteiras. Neste setor como noutros setores.
A procura é uma incógnita. Está a fazer-se o caminho neste momento. Podemos ter o efeito first mover advantage como podemos aprender uma lição: o mercado está ainda imaturo nestas matérias para poder aderir. Mas não podemos, como dizia, deixar de fazer esta aposta e deixar de arriscar. Seria não nos comprometermos com o que queremos para o futuro. E o futuro faz-se também com risco.
Ao nível de trabalho e por enquanto há muitas leads. Há muito trabalho de terreno. Mas as conversões vão certamente custar. Vamos ver. Aqui, no Iscte Executive Education, todos acreditamos. E mais, acreditamos que será por via do mercado internacional que o conseguiremos. Estamos a trabalhar para isso.
Investir na formação ao longo da vida, de forma a renovar conhecimentos e acompanhar as tendências, é crucial para uma boa liderança? E é suficiente?
O papel da formação é o make or break para termos bons gestores. A formação é essencial. É crítica. Quem não faz perde-se na ilusão do autodomínio quando o que precisa é de ganhar competências técnicas, mas também ser capaz de rapidamente se tornar mais autónomo, mais decisor, com mais capacidade para pensar de forma crítica, com melhores skills grupais e de liderança.
Nunca será suficiente por mais que se faça e há sempre outros aspetos. Mas é a forma mais rápida, com payback mais garantido, com resultados mais comprovados que conheço. Se quiser, é a melhor forma de criar líderes. A escola existe para criar melhores pessoas e mais competentes e, no caso das escolas de gestão, para criar melhores técnicos e melhores líderes.
O papel da formação é o make or break para termos bons gestores.
Quais as competências absolutamente fundamentais nos líderes do futuro?
Dir-lhe-ei as minhas em termos pessoais e não o que aparece como competências essenciais para a liderança em fóruns como o World Economic Forum e outros. Eu diria que o grande líder de futuro assentará a sua liderança em quatro dimensões: autonomia, capacidade de decisão, pensamento crítico e uma preocupação transversal, permanente, com a maioria das questões expressas nos 17 ODS da agenda das Nações Unidades refletida ao nível das suas práticas de liderança.
A diversidade é uma questão fundamental para uma liderança sustentável. De que forma está representada neste programa?
Todos os convidados virão do exterior. Todas as talks serão feitas maioritariamente por pessoas de mercados internacionais. O corpo docente é 70% feminino e totalmente sensível e a trabalhar nestas áreas. Os backgrounds são muito variados. Se a isto somarmos um cohort de alunos maioritariamente internacionais, as melhores condições estarão criadas.
Qual o custo do programa, horário, timings de inscrição e o corpo docente que forma este MBA?
O MBA in Sustainable Management envolve um investimento de 14.000 euros. Realçamos que é pioneiro em Portugal, sendo o único no sistema de Ensino Superior em Portugal com a acreditação da AMBA (Association of MBA’s), uma entidade internacional que credencia programas de MBA em universidades em todo o mundo. Todavia a propina não tem que ser paga inteiramente no início do programa, estão disponíveis várias modalidades de pagamento e os participantes podem optar por um plano de pagamento faseado.
A coordenação do MBA in Sustainable Management está a cargo de Ana Simaens, uma profissional reconhecida nesta área, com um doutoramento em Gestão pela Universidade de Tilburg nos Países Baixos, leciona na Iscte Business School sobre os temas de Gestão Estratégica e Sustentabilidade, Ética e Responsabilidade Social e agora no Iscte Executive Education. Atualmente é subdiretora do departamento de marketing, operações e gestão geral, e membro da comissão científica da BRU-Iscte.
O programa conta com um reputado corpo docente, com experiência comprovada nas suas diversas áreas de especialização, maioritariamente feminino: Ana Lúcia Martins, Ana Patrícia Duarte, Catarina Roseta Palma, Daniela Langaro, Diana Mendes, Isabel Lourenço, João Guerreiro, Marjan Jalali, Patrícia Costa, Renato Pereira, Sandro Mendonça e Vasco Gonçalves.
No que diz respeito a timings, o MBA in Sustainable Management irá arrancar em janeiro de 2022 e terminar em março de 2023, sendo lecionado em regime presencial e online. Para obter mais esclarecimentos sobre as candidaturas e outras informações deste MBA é possível agendar uma conversa ou uma reunião online com o adviser do programa, ou mesmo com a direção do curso, é muito simples. Temos uma política de porta totalmente aberta. Somos sustentáveis até sob o ponto de vista da proximidade humana.
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