Artur Pereira, country manager da Web Summit em Portugal e no Brasil, garante que a internacionalização para outras cidades "tem potenciado cada vez mais o evento em Lisboa".
A Web Summit já tem eventos no Rio de Janeiro, Qatar, Vancouver e vai anunciar em breve uma edição numa cidade asiática, mas o country manager para Portugal e Brasil assegura que essa internacionalização não está a retirar relevância ao evento de Lisboa.
“Todas estas cidades onde fazemos o evento, todas querem vir ao evento em Lisboa. O evento do ano é o evento em Lisboa“, afirma Artur Pereira em entrevista ao À Prova de Futuro, um podcast do ECO com o apoio da Meo Empresas. “Somos uma plataforma que tem vindo a ligar cada vez mais Portugal e Lisboa com o Rio de Janeiro e com a América Latina, com o Canadá e o mercado norte-americano, com o Qatar e o Médio Oriente, África e na Ásia será o próximo passo. Esta internacionalização tem potenciado cada vez mais o evento em Lisboa”, argumenta.
A presença em Portugal tem sido reforçada, onde a Web Summit já tem a trabalhar mais de 100 pessoas, entre Lisboa e Porto, representando já um terço do pessoal da empresa a nível global. O contrato com a cidade e o Estado português termina em 2028. O country manager gostava que “o evento continuasse em Portugal”, mas ainda não há negociações.
A décima edição, que arranca na próxima segunda-feira, dia 10, terá novamente à volta de 70 mil participantes, a inteligência artificial como tema principal e uma delegação chinesa.
A Web Summit registou em 2024 um recorde de 71.528 participantes, oriundos de 153 países. Esperam alcançar um novo recorde este ano?
Vamos andar muito perto disso. Temos alguns limites de capacidade na infraestrutura onde fazemos o evento… Diria que 70 mil, 71 mil, não deverá ser muito além disso. Vamos anunciar os números exatos no início do evento.
Que outros grandes números vão marcar a edição 2025?
Este ano temos mais de 2.500 startups a participar no evento, ainda não temos os números finais fechados. Temos mais de 900 investidores, temos mais de 2.000 jornalistas, são quase mil oradores este ano também, se não estou em erro. É muita gente que compõe este fantástico evento e estou muito curioso para ver o seu início no próximo dia 10.
E a presença portuguesa vai ser mais forte?
Este ano a presença portuguesa vai ser mais forte a vários níveis. Vamos ter muitas startups portuguesas, umas que vêm pelo programa Road to Web Summit, em parceria com a Startup Portugal e o Governo de Portugal. São 135 no total que vêm nesse programa. Vai haver uma receção com o Presidente da República, a este grupo de startups no próximo dia 6 de novembro. Vamos ter vários membros do Governo a participar como oradores este ano, desde o ministro das Finanças ao ministro da Reforma do Estado. Vamos ter muitos oradores portugueses, uns de startups, outros de empresas já conceituadas no nosso país e de várias áreas. Estou muito curioso para ver, nomeadamente, a participação das startups portuguesas este ano. No ano passado tivemos, se não estou em erro, mais de 300.
E este ano?
O número não deverá andar longe disso, provavelmente será mais. Teremos de fechar as inscrições todas porque ainda não fecharam. Tem sido uma presença sempre forte, com o país inteiro a participar no evento. Não é só Lisboa, é Porto, é Braga, é Coimbra, é Aveiro, é Leiria, é Algarve. Temos delegações que vêm de Santarém, de Albufeira, do Fundão, dos Açores, da Madeira. Conseguimos chegar a todo o país, que é um dos grandes objetivos.
Que oradores destaca no cartaz deste ano?
Pessoalmente, quero muito ouvir o CEO da Lovable [Anton Osika]. Para quem não conhece a Lovable, já vale milhares de milhões de dólares, teve um crescimento estratosférico, é uma empresa pequena em termos de número de colaboradores na área da inteligência artificial que faz o chamado vibe coding, ou seja, peço à inteligência artificial que faça uma aplicação ou faça um website e a inteligência artificial deles produz, não tenho que fazer quase nada.
Não é preciso saber código de programação?
Não é preciso saber código. Temos outras pessoas famosíssimas na área de inteligência artificial a vir ao evento, desde grandes empresas como Microsoft, Meta ou Google, mas também grandes nomes de startups fantásticas como a Scale AI no evento.
A inteligência artificial vai ser o grande tema da edição deste ano?
Vai ser, não só em termos de tecnologia em si, mas também em termos da legislação, da regulação. Temos palcos especificamente para tratar destes temas, vamos ter governantes de vários países a falar, vamos ter startups, os CEO a comentar, vamos ter jornalistas a comentar. Os palcos Government Summit e Economy Policy são palcos a prestar muita atenção também este ano, porque muita coisa interessante vai ser falada sobre este tema.
Este ano, por exemplo, também trazemos a China para falar um pouco sobre isso. Vamos ter o China Forum a acontecer no evento e vamos ter uma delegação chinesa interessante a vir ao evento. Quando vários países do mundo estão a trazer soluções baseadas em inteligência artificial tão importantes para o nosso futuro, é importante ouvirmos as opiniões de todas estas mentes brilhantes que estão a tratar destes temas.
Essa delegação é um sinal de como a China se tornou também bastante competitiva nestas novas tecnologias?
Isso é inegável. Basta ver o que aconteceu ao mercado acionista há uns meses atrás [com o surgimento da Deepseek] para perceber que a China também tem um lugar a ocupar muito importante. Temos os grandes players — Nvidia, Oracle, Microsoft, Google, Meta, Amazon — mas depois temos empresas chinesas, que se calhar aqui deste lado não estamos a prestar muita atenção, e estão a fazer coisas fantásticas.

Mais algumas novidades da edição deste ano que gostasse de destacar?
Vamos ter novas ferramentas a gerar ainda mais networking durante o evento Há uma coisa que tentamos sempre fazer ao longo destes quase dez anos que estamos aqui em Lisboa que é pôr as pessoas a discutir ideias, a estabelecer relações, a criar oportunidades de negócio. No ano passado lançámos as meetups durante o evento e criámos grupos seja no WhatsApp seja na nossa aplicação, para pôr as pessoas todas a conversar. As meetups acontecem durante o evento, fora do evento, pela cidade de Lisboa, com várias temáticas, seja engenheiros da Ucrânia, seja da Madeira, seja vibe-coding… É juntar as pessoas que nós identificamos com interesses comuns.
Mas isso já existiu ano passado, o que muda este ano?
Este ano vamos levar para um outro nível. Vamos tentar que todos consigam ter uma meetup, pelo menos. É um desafio grande, vamos ver se o conseguimos atingir. O ano passado foram milhares de pessoas que fizeram as meetups. Este ano a nossa aplicação está desenvolvida para escalar isto agora ainda mais.
O ecossistema já existia em Lisboa, já havia políticas, de alguma maneira, que já apoiavam o ecossistema, depois foram criadas muito mais. Ajudámos a trazer visibilidade e a criar um movimento que precisava de alguma ajuda, levar um empurrãozinho, para realmente se estabelecer.
Esta é a décima edição da Web Summit em Lisboa. O que é que destaca como impacto da cimeira para a cidade e para o país?
Acompanho a Web Summit desde que chegámos aqui a Lisboa, em 2016, embora não estivesse na empresa na altura. Recordo-me como era o ecossistema tecnológico, não só em Portugal, mas também na cidade de Lisboa. Ele existia, mas o mundo não sabia bem o que é que se passava em Portugal e na cidade de Lisboa. O que o Web Summit veio fazer, com muita humildade, foi apontar os holofotes ao nosso país, apontar os holofotes à cidade de Lisboa, às startups portuguesas, às empresas tecnológicas portuguesas, aos programas do Governo de incentivo à tecnologia, ao desenvolvimento de tecnologia e ao investimento.
Quando trazemos dois mil jornalistas das principais publicações a nível mundial, seja o New York Times, Financial Times, o ECO, o que for, trazemos participantes de mais de 150 países, trazemos as maiores empresas do mundo, trazemos startups com ideias fantásticas, trazemos os maiores investidores, trazemos oradores para durante uma semana falar de tecnologia, qualquer coisa tem que acontecer. E o que aconteceu foi exatamente isso: mostramos Portugal e Lisboa ao mundo, durante pelo menos uma semana.
Isso foi decisivo para o crescimento do ecossistema das startups em Portugal?
Diria que isto ajudou, não foi decisivo. O ecossistema já existia em Lisboa, já havia políticas, de alguma maneira, que já apoiavam o ecossistema, depois foram criadas muito mais. Ajudámos a trazer visibilidade e a criar um movimento que precisava de alguma ajuda, levar um empurrãozinho, para realmente se estabelecer. A partir de 2016 começámos a ver políticas públicas muito mais direcionadas para o ecossistema, acho que isto é inegável. Começámos a ver as grandes empresas portuguesas a prestar muito mais atenção à inovação e às startups. Começámos a ver universidades a desenvolver cursos de empreendedorismo. Começámos a ver universidades a querer ter startups a participarem nas suas atividades, as empresas a mesma coisa, os investidores portugueses mais facilmente a contactar com investidores internacionais. Longe de nós acharmos que somos a razão pela qual tudo isto aconteceu, mas ajudámos a empurrar, ajudámos a trazer mais atenção.
Todas estas cidades onde nós fazemos o evento, todas querem vir ao evento em Lisboa. O evento em Lisboa é o nosso principal evento do ano.
A Web Summit cresceu muito internacionalmente nos últimos anos. Já tem eventos no Rio de Janeiro, Qatar, Vancouver. Julgo que vai voltar a Hong Kong no próximo ano.
Estamos a avaliar na Ásia. Não tenho ainda uma certeza absoluta de onde é que vai ser. Sei que em breve iremos anunciar algo na Ásia.
Há quem considere que esta expansão está a retirar relevância ao evento de Lisboa. Está?
Não. A Web Summit, desde que tem vindo a expandir para todos esses países, trouxe, do nosso ponto de vista, mais atenção a Lisboa, mais atenção a Portugal. Todas estas cidades onde fazemos o evento, todas querem vir ao evento em Lisboa. O evento em Lisboa é o nosso principal evento do ano.
Continua a ser ‘o’ evento.
É ‘o’ evento. O evento do ano é o evento em Lisboa. É aquele evento onde, no fundo, se congrega todo o grande esforço de final de ano que a Web Summit realiza. O que consideramos é que somos uma plataforma que tem vindo a ligar cada vez mais Portugal e Lisboa com o Rio de Janeiro e com a América Latina, com o Canadá e o mercado norte-americano, com o Qatar e o Médio Oriente, África e na Ásia será o próximo passo.
Quando anunciámos o Rio de Janeiro, o número de pessoas do Brasil que vieram participar em Lisboa aumentou significativamente e tem vindo a aumentar todos os anos. Quando anunciámos o Canadá, em Vancouver, passámos a ter uma atenção maior do Canadá sobre o evento em Portugal e temos delegações oficiais, grandes, não só de startups, mas também de pessoas do Governo e da cidade, e de outras cidades, a participarem no evento aqui em Lisboa. O mesmo com o Qatar. Só depois de abrirmos o Qatar é que o Qatar passou a ter uma presença cada vez mais forte em Lisboa. Portanto, na sua opinião, é ao contrário. Esta internacionalização tem potenciado cada vez mais o evento em Lisboa.
Só quem não está em Lisboa durante a semana da Web Summit é que acha que a cidade está igual ao que era a semana anterior. É inegável que o impacto [no turismo] é significativo.
No turismo em Lisboa comenta-se que o impacto da cimeira já foi maior em anos anteriores.
Temos vindo a trabalhar sempre em conjunto com todas as entidades. Sabemos bem o impacto que temos a nível do turismo e da hotelaria, da restauração, quando o evento acontece aqui em Lisboa. Sabemos que há um aumento na semana da Web Summit face ao resto da média de novembro, são números que temos do nosso lado. Sabemos bem a quantidade de hotéis com os quais trabalhamos durante o evento, sabemos bem quantos eventos paralelos — no ano passado foram mais de 300 — que acontecem não oficialmente por causa da Web Summit. Diria que continuamos a ter o impacto na cidade e continuamos a posicionar a cidade também a nível do turismo. Só quem não está em Lisboa durante a semana da Web Summit é que acha que a cidade está igual ao que era a semana anterior. É inegável que o impacto [no turismo] é significativo.
Há pouco mencionou a questão da capacidade. Isso continua a ser uma restrição ao crescimento do evento e uma restrição sem solução à vista.
Não temos visto a expansão da FIL acontecer e isso tem de alguma maneira, obviamente, limitado o crescimento do evento, mas temos sempre entregue o Web Summit com grande nível de qualidade e sucesso, ano após ano, independentemente de haver mais ou menos espaço. Também somos muito criativos nessa matéria. Temos uma equipa de produção que provavelmente é a melhor equipa de produção de eventos do mundo, e, portanto, a falta de espaço resolve-se arranjando soluções e é o que temos vindo a fazer.
Gostava que o evento continuasse em Portugal. Temos um contrato até 2028, ainda falta muito tempo, as conversas certamente irão ter lugar na sua devida altura.
Está preocupado com este tema das longas filas no aeroporto de Lisboa, no controle de fronteiras?
Acho que essa é uma situação que resulta dos novos equipamentos, pelo menos é o que temos vindo a ler, que trazem mais segurança também a todas as pessoas que viajam. Vamos ter que nos ajustar a isso, obviamente. Gosto sempre de pensar positivo. Não vai ser por aí que vai haver problemas. Mais fila, menos fila, desde que as pessoas cheguem a Lisboa e participem no evento… Quem de nós nunca viajou para outro país e chegou a ter que esperar na passagem da fronteira? Acontece e, portanto, estamos otimistas relativamente a tudo isso.
2028 será o último ano da Web Summit em Lisboa?
Espero que não. Agora falando enquanto cidadão português, que gosta de tecnologia, que trabalhou na altura para trazer este evento para Lisboa há muito tempo atrás, gostava que o evento continuasse em Portugal. Temos um contrato até 2028, ainda falta muito tempo, as conversas certamente irão ter lugar na sua devida altura.
Neste momento ainda não existem essas conversas
Não, está tudo a preparar o evento deste ano, a começar já a preparar o evento de 2026 e a pensar o que é que vamos trazer de novo e inovar para o nosso Web Summit aqui em Lisboa.
Um terço da empresa é portuguesa e tem sido extraordinário ver este crescimento, tendo em conta que, em 2016, não havia um único português aqui em Lisboa a trabalhar para o Web Summit e hoje já somos mais de 100.
A Web Summit em Portugal não é só o evento é também a presença que a empresa tem no nosso país, com escritórios no Hub Criativo do Beato. Quantas pessoas é que já trabalham na equipa em Portugal?
Já somos mais de 100 em Portugal. Não tenho os números atuais, mas sei que somos cerca de 85 aqui na cidade de Lisboa e somos cerca de 20 no Porto. Portanto, somos mais de 100 pessoas em Portugal.
Isso representa que percentagem dos trabalhadores da Web Summit?
É um terço da empresa. Um terço da empresa é portuguesa e tem sido extraordinário ver este crescimento, tendo em conta que em 2016 não havia um único português aqui em Lisboa a trabalhar para o Web Summit e hoje já somos mais de 100. Estamos muito contentes por estar ali no Beato Innovation District, ao lado da Unicorn Factory, com muitas outras empresas, startups também, universidades. É um espaço brilhante e nós gostamos muito de lá estar.

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“Lisboa continua a ser ‘o’ evento do ano” para a Web Summit, que já está em quatro continentes
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