“Lisboa está a posicionar-se rapidamente como líder europeu no desenvolvimento de jogos”

Presente em seis países, com mais de dois mil trabalhadores, a suíça FunPlus acaba de abrir um estúdio de jogos em Portugal, o Ellipsis. E há já planos para criar jogo a partir do país.

Criadora de jogos como “State of Survival” ou “Sea of Conquest”, a suíça FunPlus acaba de abrir um estúdio em Lisboa. Instalado na Fintech House, o Ellipsis arranca com uma equipa de oito pessoas, mas o “objetivo é ter mais de 50 pessoas a bordo nos próximos três anos”.

Lisboa passa agora a receber a empresa presente em mais de 10 cidades em seis países, com mais de mais de dois mil colaboradores em todo o mundo. “Embora tenhamos considerado outras cidades, a combinação do ambiente dinâmico, da reserva de talentos e da paisagem cultural de Lisboa tornou-a na escolha ideal”, garante Alexandre Amancio, SVP World-Building & IP Strategy na FunPlus, ao ECO.

Na decisão também pesou a existência de um hub em Lisboa dedicado ao gaming. “Ter um ecossistema dedicado aos jogos e à tecnologia na cidade é uma enorme vantagem”, diz o responsável da FunPlus e diretor do estúdio em Portugal.

Alexandre Amancio não adianta valores de investimento no país, mas confirma a intenção de, a partir de Portugal, criar um jogo. “O nosso objetivo é criar algo que tenha um impacto profundo tanto nos jogadores como no público que gosta de mundos ricos e imersivos em várias plataformas.”

Profissional da indústria de videojogos e conteúdos desde 2001, o novo diretor do estúdio Ellipsis esteve, entre 2012 e 2015, na Ubisoft Montreal, onde trabalhou em videojogos como Assassin’s Creed: Unity — que já vendeu mais de 22 milhões de unidades —, Black Flag e Assassin’s Creed Revelations. Foi nomeado na categoria e Melhor Realização em Escrita de Videojogos pela Writer’s Guild of America, por “Assassin’s Creed Revelations” (2010) e “Assassin’s Creed Unity” (2014), tendo recebido o prémio de “Best Announcement” na Gamescom por “Unknown 9: Awakening” (2020).

Acabam de abrir um estúdio de jogos em Lisboa, o Ellipsis. Porquê Portugal? Foram consideradas outras cidades?

Lisboa é uma cidade entusiasmante que se está a tornar num centro vibrante de criatividade e tecnologia. Faz-me lembrar Montreal há 10 anos, uma cidade que desde então cresceu e tornou-se numa das capitais criativas e tecnológicas do mundo. A decisão de abrir o estúdio Ellipsis aqui foi motivada pelo potencial crescente da cidade como centro de inovação em entretenimento digital.

Portugal, e Lisboa especificamente, tem um ecossistema tecnológico emergente, e a cidade está a posicionar-se rapidamente como um líder europeu no desenvolvimento de jogos e em storytelling. Além disso, a cultura rica da cidade e a sua profunda ligação à arte, narrativa e criatividade alinham-se perfeitamente com a visão do nosso estúdio.

Embora tenhamos considerado outras cidades, a combinação do ambiente dinâmico, da reserva de talentos e da paisagem cultural de Lisboa tornou-a na escolha ideal.

A existência de um hub de gaming em Lisboa — parte da rede de hubs da Unicorn Factory Lisboa — influenciou a vossa decisão? Que sinergias estão a planear com este hub?

Entre outros motivos, sem dúvida. Ter um ecossistema dedicado aos jogos e à tecnologia na cidade é uma enorme vantagem. Dá acesso a uma rede local de programadores, startups e criativos que estão todos a trabalhar para fazer avançar as indústrias de jogos e digital. O nosso objetivo é colaborar estreitamente com esta comunidade, trocar conhecimentos e criar oportunidades para que os talentos locais se juntem à nossa equipa, por exemplo.

Portugal, e Lisboa especificamente, tem um ecossistema tecnológico emergente, e a cidade está a posicionar-se rapidamente como um líder europeu no desenvolvimento de jogos e em storytelling. Além disso, a cultura rica da cidade e a sua profunda ligação à arte, narrativa e criatividade alinham-se perfeitamente com a visão do nosso estúdio.

Globalmente, como avalia o ecossistema de empreendedorismo português comparativamente ao de outros países onde a FunPlus está presente? Que mais poderia ser feito para o melhorar?

O ecossistema empresarial português já percorreu um longo caminho. Há aqui uma verdadeira fome de inovação e sente-se essa energia em cidades como Lisboa. Embora ainda se encontre numa fase de crescimento em comparação com outras regiões onde a FunPlus opera, como a China e a Espanha, Portugal apresenta um forte potencial, apoiado por políticas governamentais de apoio aos setores tecnológico e criativo.

Para acelerar esta dinâmica, a simplificação da burocracia para a criação e desenvolvimento de empresas é fundamental, juntamente com o investimento contínuo em educação técnica, programas de formação e infraestruturas robustas para atrair e apoiar empresas internacionais.

Portugal tem uma reserva rica de profissionais qualificados e apaixonados, mas muitos acabaram por procurar oportunidades no estrangeiro devido às opções locais limitadas. O nosso objetivo é trazer estes talentos de volta, aproveitando a experiência que adquiriram no estrangeiro, ao mesmo tempo que atraímos especialistas estrangeiros para se juntarem a nós.

Quais são, na sua opinião, os principais obstáculos que se colocam a uma empresa como a vossa para abrir operações em Portugal?

Uma das oportunidades e desafios com que nos deparamos é a atração de talentos internacionais, ao mesmo tempo que se desenvolve o recrutamento local. Portugal tem uma reserva rica de profissionais qualificados e apaixonados, mas muitos acabaram por procurar oportunidades no estrangeiro devido às opções locais limitadas.

O nosso objetivo é trazer estes talentos de volta, aproveitando a experiência que adquiriram no estrangeiro, ao mesmo tempo que atraímos especialistas estrangeiros para se juntarem a nós. Ao fazê-lo, podemos criar uma base para a formação e orientação da força de trabalho local, especialmente dos que se encontram nas fases iniciais das suas carreiras.

Com o tempo, isto pode ajudar a criar uma massa crítica de competências em Portugal, encorajando mais empresas a estabelecerem operações aqui e promovendo um ecossistema robusto de profissionais altamente qualificados.

Voltemos ao estúdio. Estamos a falar de um espaço com que capacidade para acolher talento? Que investimento planeia fazer no mercado português?

O estúdio Ellipsis estará localizado no coração de Lisboa [na Fintech House, na Duque de Loulé], ocupando um espaço que poderá ser ampliado à medida que formos crescendo. A FunPlus está a fazer um investimento significativo no mercado português, não só através do espaço físico, mas também através da promoção de parcerias locais e do desenvolvimento de talentos.

Já têm oito pessoas a trabalhar no estúdio. Qual é o objetivo em termos de recrutamento? Que perfis procuram?

O nosso objetivo é ter mais de 50 pessoas a bordo nos próximos três anos. Em termos de perfis, procuramos uma mistura de talentos criativos e técnicos — designers de jogos e de níveis, artistas, animadores, engenheiros de software, designers de som e programadores que tenham uma paixão pela narrativa transmédia, pelo desenvolvimento de jogos e pela construção de mundos imersivos.

Há planos para lançar globalmente um jogo criado pela equipa local. Podem partilhar mais pormenores sobre este projeto?

Embora ainda não possamos partilhar muito, posso dizer que estamos a trabalhar num novo projeto que está a ser desenvolvido com base em histórias transmédia. É um projeto que mistura a construção de mundos profundos com uma jogabilidade inovadora e foi concebido desde o início para se estender para além do jogo. A equipa inclui algumas das mentes criativas por detrás de títulos como “Assassin’s Creed”, “Far Cry” e “Destiny 2”, juntamente com programadores de topo com experiência em projetos como “Star Wars Outlaws”, “Avatar” e “Call of Duty”.

O nosso objetivo é criar algo que tenha um impacto profundo tanto nos jogadores como no público que gosta de mundos ricos e imersivos em várias plataformas. Poderemos partilhar mais informações nos próximos meses, mas estamos muito entusiasmados com o que está por vir.

A FunPlus tem tido uma trajetória de crescimento constante. Atualmente, operamos em mais de 10 cidades em seis países e temos mais de dois mil funcionários no mundo inteiro. Os nossos jogos, como “State of Survival”, “King of Avalon”, “Stormshot”, “Guns of Glory” e, mais recentemente, “Sea of Conquest”, continuam a ter um bom desempenho a nível mundial, com milhões de jogadores ativos, enquanto jogos em fase de lançamento, como “DC: Dark Legion” e “Foundation: Galactic Frontier” estão a obter resultados promissores.

Quanto às receitas, embora não possa fornecer números exatos neste momento, registámos um crescimento significativo de ano para ano, sobretudo porque diversificámos a nossa carteira para mais géneros e plataformas. A nossa expansão para a narrativa transmédia, com iniciativas como o Studio Ellipsis, faz parte dessa estratégia para crescer ainda mais e solidificar a posição do FunPlus como líder na indústria do entretenimento em geral.

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