“Nova IMS é mesmo um elevador social. Alunos têm a remuneração média mais elevada de toda a Universidade”

Diretor da Nova IMS admite que continua a haver "pressão grande para saída do talento para o estrangeiro", mas diz que empresas já perceberam que podem aproveitar profissionais sem os tirar do país.

Os resultados da primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior acabam de ser conhecidos e as vagas da Escola de Gestão de Informação e Ciência de Dados da Universidade Nova de Lisboa (Nova IMS) voltaram a esgotar-se. Em entrevista ao ECO, o diretor adianta que os cursos desta faculdade não só têm 100% de empregabilidade um mês após o fim da licenciatura, como têm a maior remuneração líquida associada entre todas as faculdades da Universidade Nova de Lisboa.

Miguel de Castro Neto — que está a completar dois anos enquanto dean da referida faculdade — sublinha, por isso, que a Nova IMS é um elevador social que está mesmo a funcionar.

Por outro lado, questionado sobre o talento que está a ser aí formado está a ficar em Portugal, o diretor adianta que ainda há pressão para a imigração, mas as empresas internacionais começam também já a reconhecer que não precisam de tirar o talento do país. Em vez disso, estão a criar centros de competências em Portugal.

Esta é uma de duas partes da entrevista de Castro Neto ao ECO. Na outra, que pode ler aqui, fala sobre o ChatGTP e como este está a mudar o ensino, mas também sobre as novas profissões e sobre a sensibilidade de os líderes e gestores portugueses para o potencial da inteligência artificial e da ciência dos dados.

Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA Information Management School (NOVA IMS), em entrevista ao ECO - 30AGO24
Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA Information Management School (NOVA IMS), em entrevista ao ECO Hugo Amaral/ECO

Disse numa entrevista que, “num futuro não muito distante, não vai haver paragens de autocarro e as horas a que os autocarros passam vão mudar ao longo do dia”, sendo que será possível informar as pessoas sobre onde é mais conveniente apanhar os transportes. Isto espelha o modo como os dados podem mudar a mobilidade. E que mudanças podem provocar no mundo do trabalho?

As organizações estão num processo de profunda mudança. Quando olhamos para as empresas hoje, vemos que há uma oportunidade única para alavancarem os seus negócios, tirando partido dos dados e das capacidades analíticas. Mas isso coloca desafios não apenas de governação de dados, mas também de terem as competências e o talento necessário. Um estudo da Mckinsey mostrou que as empresas que hoje têm os seus negócios suportados por dados e analítica têm a probabilidade de terem 23% mais clientes, reterem seis vezes mais clientes e serem 19 vezes mais lucrativas. É absolutamente extraordinário. Há outra área que tem vindo também a ter um desenvolvimento, que tem que ver a própria gestão do talento, porque esse é um dos maiores desafios das organizações.

Mas os dados podem ajudar a reter o talento? De que modo?

Sim, porque posso usar os dados para compreender, por exemplo, onde tenho o melhor desempenho dos meus colaboradores ou tenho necessidades de melhoria. Portanto, posso intervir para garantir que os meus colaboradores têm a formação necessária.

Tradicionalmente, as empresas portuguesas falham na formação. Só uma fatia pequena cumpre a formação obrigatória. Isso não é um travão ao aproveitamento desta tecnologia?

É verdade que temos uma necessidade real de melhorar as habilitações e as competências dos recursos humanos das organizações em Portugal. Até porque a dimensão média das empresas portuguesas é muito pequena. É um desafio, mas também nunca tivemos, como hoje, programas destinados precisamente a endereçar esse desafio. Ao abrigo do Programa de Recuperação e de Resiliência (PRR), foram lançadas inúmeras iniciativas para criar instrumentos para garantir que há formação contínua dos trabalhadores nas organizações. Mas isto é muito maior do que isso.

Tivemos um projeto para avaliar com inteligência artificial o custo económico da produção de nova legislação. Ou seja, quando uma legislação vai a um Conselho de Ministros já pode ir com uma avaliação económica do seu impacto.

Quer concretizar?

Há poucos meses, o Harvard Business Review fez um estudo com as maiores empresas à escala global e dizia que o problema já não era de upskilling. O diagnóstico que faziam é o de que precisamos, de dois anos e meio em dois anos e meio, de fazer o reskilling, adquirir novas competências. Esse é o desafio que enfrentamos hoje. É global, e pode ser uma oportunidade única para Portugal estar na linha da frente. Se há uma coisa que Portugal tem é uma cultura de inovação um bocadinho orgânica. Um trabalhador português, se lhe dermos instrumentos relacionados com a inteligência artificial e com a inteligência artificial generativa, pode efetivamente fazer a diferença. Já assistimos hoje a organizações que fazem isso.

Pode dar um exemplo?

A Nova Information Management School tem vindo a fazer projetos com empresas e com a Administração Pública. Tivemos um projeto para avaliar com inteligência artificial o custo económico da produção de nova legislação, quando ela está a ser produzida, ou seja, quando uma legislação vai a um Conselho de Ministros já pode ir com uma avaliação económica do seu impacto. É um exemplo de um projeto que desenvolvemos para a presidência do Conselho de Ministros, e que hoje já está a ser exportado para a América do Sul.

Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA Information Management School (NOVA IMS), em entrevista ao ECO - 30AGO24
Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA Information Management School (NOVA IMS), em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Os resultados da primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior foram conhecidos há pouco. A Nova IMS conseguiu preencher todas as suas vagas. Mas como é que anda a empregabilidade dos vossos cursos?

Esgotámos efetivamente as vagas. Por isto mesmo, porque acho que o mercado percebe o valor deste talento, temos 100% de empregabilidade um mês após o terminar da licenciatura. Este ano, em termos de licenciaturas, mestrados, pós-graduações e doutoramento, crescemos praticamente 10% no número de alunos. Temos sensivelmente 4.000 alunos de 99 países diferentes. É uma coisa extraordinária e é um desafio permanente.

E essa internacionalização também impacta a empregabilidade?

Tem havido uma aposta da parte das instituições de ensino superior públicas de se posicionarem não apenas como capazes de responder aos desafios locais, mas também à escala internacional. Temos hoje universidades e escolas que estão posicionadas em rankings internacionais que fazem toda a diferença, nomeadamente para os nossos alunos, porque vão ser procurados por empresas internacionais. Há um ranking internacional chamado Eduniversal e a Nova IMS tem dez programas no top três mundial. Temos o melhor mestrado do mundo em business intelligence pelo sexto ano consecutivo. Temos o segundo melhor mestrado em análise e gestão de risco. Temos o quarto melhor mestrado do mundo em marketing intelligence. E temos dois mestrados que são os melhores da Europa. Um em data science and advanced analytics, outro em marketing intelligence.

Diz que os vossos cursos têm 100% de empregabilidade. Mas Portugal está a conseguir reter este talento ou os vossos alunos acabam por ser empregados por empresas estrangeiras?

Já vi o cenário mais complicado. Continua a haver uma pressão muito grande de saída do nosso talento para o estrangeiro. Mas o que é curioso é que começamos a constatar que há empresas internacionais que, reconhecendo o valor do nosso talento, não promovem a sua expatriação, mas criam centros de competências em Portugal. A Nokia desafiou-nos a criar um centro de competências global em process mining — que é a utilização dos dados para automatizar processos de negócio — em Portugal. A Nokia já percebeu que em Portugal encontra o talento, e não precisa de o levar para fora. Isso tem acontecido com outras organizações.

Mas como é que as empresas portuguesas — e não as estrangeiras que abrem cá operações — podem aproveitar o talento que está a sair das universidades?

É um desafio inegável. O grande problema que enfrentamos enquanto sociedade e economia é conseguirmos elevar a nossa remuneração média do trabalho. Isto é inquestionável. O problema não é termos organizações ou empresas internacionais que captam o nosso talento, porque conseguem oferecer as melhores remunerações. O grande desafio é conseguir que as empresas portuguesas façam esse caminho e consigam elas próprias garantir níveis de remuneração que sejam interessantes e competitivos, porque o mercado é global.

Qual é a diferença da nossa escola para as escolas que tradicionalmente têm as remunerações mais elevadas? É que o background dos alunos dessas escolas já é normalmente um background mais elevado.

Mas é só uma questão de salário ou é mesmo uma questão de não haver oportunidades de desenvolvimento de carreira suficientemente interessantes nas empresas portuguesas?

Se olhar para a média, concordaria [com a primazia dos salários]. Mas setorialmente o cenário é diferente. Os alunos da Nova IMS, de acordo com os dados de empregabilidade, são aqueles que têm uma remuneração média líquida mais elevada de toda a Universidade Nova de Lisboa. Além disso, a Nova IMS é mesmo um elevador social.

Diz-se que o elevador social em Portugal está avariado. Não é assim no vosso caso?

Os alunos que ingressam na escola são dos mais diversos backgrounds sociais, e no final têm todos 100% de empregabilidade e esta remuneração média líquida mais elevada. Qual é a diferença da nossa escola para as escolas que tradicionalmente têm as remunerações mais elevadas? É que o background dos alunos dessas escolas já é normalmente um background mais elevado.

  • Diogo Simões
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