Frederico Félix Alves, of counsel da CCSL Advogados, contou como tem sido a sua integração no escritório e sublinhou que é na advocacia que se sente “verdadeiramente realizado”.
Frederico Félix Alves, of counsel da CCSL Advogados, esteve à conversa com a Advocatus e contou como tem sido a sua integração no escritório. Sublinhou que é na advocacia que se sente “verdadeiramente realizado” e que o seu envolvimento com a política foi “acidental”.
O advogado defende que os escritórios são cada vez mais geridos como verdadeiras empresas, “tendo adotado um modelo de gestão muito mais profissional”.
Integrou em janeiro a CCSL. Como está a ser o início desta nova etapa profissional?
A integração na CCSL não podia ter corrido melhor. Aqui encontrei um excelente grupo de advogados, com valores pessoais e profissionais com os quais eu muito me identifico: a excelência, integridade, o rigor técnico e a rapidez na resposta, mas também o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. E, também, um conjunto de clientes muito diversificado e sofisticado, o que naturalmente se traduz em assuntos complexos e muito estimulantes. Tem sido uma experiência extremamente desafiante e motivadora.
Qual é a principal característica que um of counsel deve ter para desempenhar da melhor forma o seu papel?
Um of counsel pode desempenhar vários papéis dentro de uma organização. E, naturalmente, as suas características vão variar em função do papel que assume. No meu caso, as minhas funções passam, em primeiro lugar, pela coordenação, juntamente com a Mafalda Almeida Carvalho, da área de Corporate e M&A. Pelo que a principal característica terá de ser a capacidade para gerir pessoas e dossiês.
Mas um of counsel precisa também de ter sólidos conhecimentos de direito, em particular na sua área de especialização, devendo ser um elemento essencial na gestão de conhecimento e na formação das novas gerações. E, claro, contribuir para o desenvolvimento do negócio, seja na atração de novos clientes, cross selling ou retenção da clientela existente.
Não creio que o próximo ano, 2023, possa trazer um aumento das operações de M&A, pelo menos em termos de valor.
Foi Adjunto do Secretário de Estado da Administração Interna, entre 2012 e 2015. Como foi a experiência?
Foi uma experiência muito gratificante. Tive o privilégio de ser adjunto de dois excelentes Secretários de Estado, o Filipe Lobo d’Ávila e o João Pinho de Almeida. Durante este período, entre outras atribuições, fui responsável pela equipa multidisciplinar encarregada de preparar as eleições eleitorais, num momento particularmente desafiante em resultado não só da crise económica e financeira, mas também da reorganização administrativa das freguesias, com impacto nos cadernos eleitorais. Todo este processo culmina no dia das eleições, na sala de crise criada para o efeito, acompanhado por uma excelente equipa, atento ao desenrolar de todo o processo eleitoral, antecipando constrangimentos, resolvendo perturbações e acompanhando o escrutínio provisório. Esta foi uma experiência profissional muito marcante.
Gostou de estar envolvido mais diretamente no mundo político?
A advocacia é a minha profissão e é nela que me sinto verdadeiramente realizado. O meu envolvimento com a política foi verdadeiramente acidental. Dito isto, quem tiver essa possibilidade deve agarrar a oportunidade de trabalhar num Ministério ou na Assembleia da República. Esta experiência permitiu-me alargar horizontes e ter uma visão muito interessante do procedimento legislativo e da importância dos equilíbrios políticos, de que muitas vezes as leis são resultado. Fiquei também com uma sensação de dever cumprido, de ter dado, dentro das minhas limitações e competências técnicas, o meu contributo para a causa pública.
Primeiro a pandemia e agora uma guerra, como é que o setor de fusões e aquisições está a aguentar-se?
Este setor tem demonstrado uma resiliência notável. O ano de 2021 foi mesmo um dos melhores anos a nível mundial e, de uma forma geral, Portugal não foi exceção. É provável que 2022 não venha a ser um ano tão notável como o anterior, mas o setor continua muito ativo. Na CCSL concluímos um primeiro semestre muito interessante, tanto em número como em valor das operações que assessorámos.
Não obstante, não podemos ignorar que paira uma enorme incerteza sobre a evolução económica dos Estados Unidos da América, ainda um barómetro da economia mundial, e da zona Euro que nos afeta particularmente. A evolução crescente das taxas de juro, fará diminuir a disponibilidade financeira, o que poderá levar a um abrandamento das operações de fusão e aquisição. Terá certamente um efeito direto na forma como estas transações são estruturadas, passando, por exemplo, a dar-se um maior peso aos earn outs, diminuindo-se assim o custo inicial da aquisição.
Espera que haja um aumento da atividade de M&A ou de compras por private equity nos próximos tempos?
Não creio que o próximo ano, 2023, possa trazer um aumento das operações de M&A, pelo menos em termos de valor. Já aqui referi o provável aumento das taxas de juro, mas devo também acrescentar a inflação, o cenário de guerra na Ucrânia que deve manter-se e o provável aumento dos impostos, para fazer face aos custos que os estados suportaram durante a pandemia. Por outro lado, também não acredito numa completa desaceleração do setor. Portugal continua a atrair investimento estrangeiro, os fundos de private equity e outros players também vão adaptar-se ao mercado, e vão aparecer certamente algumas compras de oportunidade de empresas que deixaram de conseguir financiar-se no mercado a preços adequados, e estamos também a assistir à criação de search funds em Portugal, com sucesso, o que é ainda um fenómeno relativamente recente em Portugal mas que acredito irá intensificar-se. Na CCSL temos acompanhado muito de perto este fenómeno e contamos já com considerável experiência.
Portugal continua a atrair investimento estrangeiro, os fundos de private equity e outros players também vão adaptar-se ao mercado,e vão aparecer certamente algumas compras de oportunidade de empresas que deixaram de conseguir financiar-se no mercado a preços adequados.
Com cerca de 16 anos de experiência, que balanço faz do seu percurso profissional?
Tem sido um percurso muito exigente e rico, tanto em termos pessoais como profissionais, em particular porque pude trabalhar em assuntos muito diversos, com clientes extraordinários e excelentes advogados, tendo forjado – e esta é a parte mais importante – grandes amizades ao longo do caminho. Tive de ultrapassar alguns obstáculos durante esse percurso, nem teria graça de outra forma, mas o balanço é extremamente positivo. Não me vejo realizado noutra profissão.
Existiu algum caso, no qual tenha estado envolvido, que o tocou particularmente e que tenha mudado a sua perspetiva de vida de alguma forma?
Não consigo identificar um caso singular. Mas nós somos o resultado das interações que temos com as pessoas que nos rodeiam e com os acontecimentos que vivenciamos. Nesta medida, a nossa perspetiva de vida vai naturalmente evoluindo ao longo do tempo. Tive a sorte de ter contacto com pessoas extraordinárias que me foram guiando e moldando, para melhor, a perspetiva que tenho da vida. Não os vou aqui nomear, para não correr o risco de me esquecer de alguém.
Como vê o mercado dos escritórios de advogados de hoje face ao de há dez anos?
Os escritórios de advogados têm evoluído muitíssimo nos últimos dez anos. Há uma maior preocupação com o lado da gestão. Tradicionalmente, o advogado não é um bom gestor. Isso tem vindo a mudar muito. Os escritórios, principalmente os grandes escritórios, são cada vez mais geridos como verdadeiras empresas, tendo adotado um modelo de gestão muito mais profissional. Os assuntos também se tornaram mais sofisticados e complexos, o que levou à necessidade de uma cada vez maior especialização. Apareceram também novas áreas do direito. A título de exemplo, há dez anos não se falava em blockchain, criptomoedas, fintech, e mal se falava em proteção de dados e branqueamento de capitais. Temos vindo também a assistir a uma transformação digital dos escritórios, e essa transformação irá acelerar nos próximos anos, suportado por soluções de inteligência artificial cada vez mais robustas.
Qual o principal desafio que atualmente enfrenta na sua carreira?
O principal desafio tem sido sempre o mesmo: tentar ser melhor. Não ser o melhor advogado, porque existem muitos e bons, mas melhorar constantemente, como advogado e como pessoa.
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“Os escritórios são cada vez mais geridos como verdadeiras empresas”, diz Frederico Félix Alves
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