Pausa de Biden nos projetos para exportar LNG “não vai afetar parceiros europeus”

Sines é um dos portos de entrada do gás americano, mas não vai ser afetado pela pausa nas novas aprovações para exportar ditada por Joe Biden, diz o vice-secretário Adjunto do Departamento de Energia.

A 26 de janeiro, Joe Biden anunciou uma pausa nas aprovações de pedidos pendentes e futuros de exportação de gás natural liquefeito (GNL) de novos projetos, uma medida aplaudida pelos ativistas do clima que poderá atrasar as decisões sobre novas instalações até depois das eleições de 5 de novembro.

Durante a pausa, o Departamento de Energia vai analisar os impactos económicos e ambientais dos projetos que pretendem exportar LNG para a Europa e a Ásia, onde o combustível é muito procurado. Deste lado do Atlântico, no entanto, a decisão provocou preocupação sobre o abastecimento de gás, que segue pressionado pela guerra na Ucrânia, mas também sobre os investimentos em infraestruturas para acolher o gás americano, como é o caso de Sines.

Em entrevista ao ECO durante uma visita a Lisboa na semana passada, Michael Considine, vice-secretário Adjunto do Departamento de Energia, explicou que Sines e outros parceiros europeus não têm nada a temer da decisão de Biden, nem a curto nem a médio prazo, pois “há capacidade suficiente em termos de instalações autorizadas nos EUA neste momento”.

Os EUA não tomaram a decisão sem antes garantir a resiliência e a segurança energética do mercado de LNG nos aliados europeus, vincou Considine.

Portugal tornou-se num dos pontos de entrada de LNG americano na Europa, através do porto de Sines. Em 2022, foram 24 entregas, mais quatro do que em 2021. Mas na semana passada houve preocupação porque Biden anunciou uma pausa na aprovação de pedidos de exportação para a Europa e Ásia de novos projetos de LNG, a fim de rever os impactos económicos e ambientais. Como é que podemos ler isto na Europa? Que tipo de impacto terá?

Penso que ninguém vai sentir um impacto significativo a curto prazo. Em primeiro lugar, existe um precedente de uma pausa nas autorizações para novas instalações de exportação de LNG. Trata-se de algo que já fizemos no passado. O Departamento de Energia está incumbido, do ponto de vista da segurança energética, de gerir este processo. Assim, no contexto do LNG, nos últimos anos, passámos muito tempo a trabalhar com os aliados europeus e a garantir a resiliência e a segurança energética do mercado de LNG.

Mas é um momento importante porque há uma guerra do outro lado da Europa que afeta o fornecimento de gás.

Exatamente. O que é importante salientar é que a ação que foi tomada na semana passada, nessa pausa, que eu diria ser uma pausa temporária, é para nos permitir fazer o que queremos, que é recuar regularmente e olhar para os diferentes tipos de ferramentas analíticas. São muitos os instrumentos analíticos que utilizamos para determinar o interesse público de permitir ou não que estas licenças avancem, de as aprovar. Algumas dessas ferramentas analíticas são ferramentas económicas. Estamos a analisar as condições de mercado. Estamos a analisar as condições ambientais e climáticas. Queremos certificar-nos de que os instrumentos de análise que utilizamos são os mais atualizados, que são precisos para as condições atuais do mercado. É por isso que fazemos esta pausa. Fizemos um grande esforço antes de anunciar esta pausa, analisámos a capacidade atual que temos em instalações permanentes nos EUA e quais são as necessidades projetadas, em particular na Europa, para o LNG a curto prazo. Tudo isto foi tido em conta. Portanto, não há, de facto, grande efeito.

Mas e a médio prazo? Temos grandes investimentos como Sines, que foi apresentado como uma pedra angular na relação entre os EUA e Portugal, e havia concorrência da Grécia, por exemplo. E agora esses grandes investimentos se calhar não vão ter oferta a médio prazo?

Penso que a médio prazo vão ter, sim, porque há capacidade suficiente em termos de instalações autorizadas nos EUA neste momento. Não estamos a atingir a nossa capacidade de transportar LNG para o mercado europeu, e há muito crescimento que ainda pode acontecer apenas com o que já está autorizado no sistema atualmente. O que foi afetado por esta situação há uma semana foi um número relativamente pequeno de licenças que ainda não tinham chegado à fase final e passado por essa avaliação. Tem-se registado um crescimento rápido, apenas nos últimos anos. Se olharmos para o período entre 2018 e agora, a quantidade de LNG que conseguimos enviar para essas instalações, sendo que algumas delas são novas instalações que ainda estão a entrar em funcionamento. Assim, mesmo algumas das instalações permanentes que não são afetadas por esta situação ainda não estão na sua capacidade máxima.

Michael Considine, vice-secretário adjunto do Departamento de Energia dos EUA, em entrevista ao ECO - 06FEV24
Michael Considine, vice-secretário adjunto do Departamento de Energia dos EUA, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Quanto tempo é que este tipo de pausas costuma durar?

Historicamente, tem sido uma questão de meses, talvez até cerca de um ano. Não é isso que estou a dizer que vai ser o caso aqui. Mas é o que a história diz que vai ser. Dedicamos o tempo necessário para nos certificarmos de que examinamos muito, muito atentamente todos os modelos analíticos que utilizamos para garantir que são exatos.

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