À Advocatus, o managing partner da NOVA Advogados garantiu que, apesar do especulado, "grande parte da economia não parou". Rui Neves Ferreira confidenciou querer integrar um escritório de fiscal.
Que impacto é que esta paragem da economia poderá ter tido na nossa economia?
Contrariamente ao que foi veiculado pela comunicação social, a verdade é que uma grande parte da economia não parou, quanto muito, direi, andou a uma velocidade diferente.
Mas, claro está, sabemos que o confinamento terá sérios impactos económicos. A julgar pelas previsões, ultrapassarão – e muito! – o impacto da crise de 2009, o que, só por si, já é sinal do desafio que por aí vem.
Não poderemos evitar esse impacto: as insolvências, o défice, o desemprego… Ainda assim, acredito que, quanto mais consigamos achatar a curva dessas consequências, à semelhança do pretendido para a curva da infeção provocada pelo vírus, mais probabilidades teremos de adaptar a nossa capacidade de resposta, reação e ajustamento económico.
E o impacto nos escritórios de advogados, foi muito negativo?
Não podemos analisar o impacto desta pandemia apenas pelo período de confinamento ou de limitação de atividade. Em boa verdade, existiu uma redução de atividade motivada pelo encerramento de Tribunais e suspensão de prazos judiciais, que serão (já estarão) a ser retomados. No fundo, o negócio das sociedades de advogados não se extinguiu por força da paragem. Quanto muito, ficou adiado.
O negócio das sociedades de advogados não se extinguiu por força da paragem. Quanto muito, ficou adiado.
No nosso caso concreto, o impacto económico e de negócio é francamente positivo.
De facto, apesar de termos um núcleo de contencioso judicial forte, a nossa forma de atuação privilegia aspetos antecipatórios e de apoio estratégico em termos de legal e compliance, que se viram ainda mais reforçados e necessários nesta altura.
Ou teve um aumento significativo do volume de negócio dos escritórios, nomeadamente na área de laboral ou de insolvências?
O aumento que tivemos em termos de volume de negócios e número de clientes, numa primeira fase, esteve mais ligado às medidas excecionais lançadas pelo Governo e, dentro destas, as relacionadas com a área laboral. Em paralelo, registámos um crescimento de negócio no âmbito da gestão de crise e suporte à gestão de topo, transversal a antigos e novos clientes.
Atualmente, e já numa segunda fase, temos sentido um crescimento acentuado em termos de reestruturação empresarial e de projetos de M&A, mantendo-se a forte procura a nível laboral. Por outro lado, teve um crescimento exponencial o fenómeno das cobranças internacionais e, associado, do incumprimento ou resoluções unilaterais de contratos
Ao nível de insolvências, só recentemente começámos a sentir um incremento no volume das mesmas.
Foi difícil gerir um escritório remotamente? O que mudou na sua rotina?
Não foi difícil gerir o escritório remotamente. Por vários motivos: o trabalho remoto era algo a que já estávamos habituados e preparados e, além disso, conseguimos sempre manter a equipa unida, em sintonia e segura, o que acabou por facilitar a adaptação.
Diria que o mais exigente, neste âmbito, foi mesmo gerir emoções.
Por muito que estejamos estruturados, tecnologicamente suportados e apoiados num espírito de equipa forte, a situação que todos atravessamos exigiu uma adaptação e resiliência emocional fora do normal.
Foi mais do que estar a trabalhar remotamente: foi lidar com uma pandemia, foi gerir emoções e distanciamento pessoal e familiar, foram desafios diários (filhos, ausência de contactos sociais, etc.) e, no meio de tudo isto, tentar transmitir uma sensação de confiança e segurança aos nossos clientes.
Pessoalmente, há um ponto, entre tantos outros, que não esqueço: com toda a equipa em teletrabalho, tive de ir ao escritório pessoalmente algumas vezes e ver aquele espaço sem vida, fechado, à espera de um dia que não chegava. Felizmente, entretanto, a situação evoluiu favoravelmente.
Todo o escritório esteve ou está ainda em teletrabalho?
Após o confinamento e a partir do momento em que asseguramos as necessárias condições e alterações nas nossas instalações, para que todos nos sentíssemos seguros e em cumprimento das normas das autoridades de saúde, voltámos fisicamente ao escritório.
Ainda assim, o teletrabalho continua a ser uma realidade para nós (como o era anteriormente à pandemia), como forma de gestão de recursos humanos e conciliação entre vida pessoal e profissional.
O que é que a vossa empresa/escritório tem feito para ajudar mais ainda os clientes nesta fase da pandemia?
Direi que não alteramos significativamente a nossa forma de atuar e de apoiar os nossos clientes. Mantemos uma postura e relacionamento de muita proximidade e vínculo com cada um dos nossos clientes. Honestamente, sentimos que esta situação excecional veio extrapolar o relacionamento de confiança que já partilhávamos.
A maior parte dos nossos clientes nunca encerrou por completo, mantendo-se em laboração, ainda que limitada. Da nossa parte, quisemos garantir que continuávamos ao seu lado, a apoiar com toda a informação possível e a acompanhar todas as decisões que era necessário tomar e concretizar, apesar das dúvidas.
Que marca vai deixar a vossa sociedade pós Covid?
Acredito que a marca ficará em duas perspetivas: interna e externa.
Internamente, a equipa saiu reforçada, apesar das exigências de trabalho e gestão emocional. Passamos por algo em conjunto que nos tornou, efetivamente, mais fortes como grupo.
Externamente, acredito que o vínculo que tínhamos com os nossos clientes saiu, também ele, reforçado: foi preciso tomar decisões e acompanhar as mesmas com a pouca informação disponível e com um grande desconhecimento do que o futuro mais imediato reservava. Como parceiros estratégicos dos nossos clientes, estivemos lá, a “carimbar” a decisão.
O nosso objetivo é tornar ainda mais fortes os pontos fortes dos nossos clientes e eliminar ou minimizar os pontos fracos, numa gestão de risco constante. E este objetivo, esta forma de atuação sai evidenciada em situação de crise. Por exemplo, disponibilizamos, de forma aberta e gratuita, a nossa Legal & Compliance Check-List – Covid-19, que reflete bastante aquilo que referia anteriormente.
Passada esta crise, que projetos e expectativas têm para o vosso escritório? Novas contratações, áreas de aposta novas?
O nosso plano de negócio para o ano de 2020 mantém-se inalterado e em cumprimento, sendo as expectativas de crescimento para este ano altas.
Sem entrar em grandes concretizações, teremos, a partir de setembro, um projeto inovador, em termos da nossa prestação de serviços e da forma como os clientes podem aceder aos mesmos.
Para além disso, estamos a concluir uma iniciativa que acreditamos tornar-se-á, a curto prazo, numa ferramenta indispensável para empresas, especificamente na área laboral.
Esperamos concretizar, no último trimestre, a integração de outro escritório especializado em Direito Fiscal na nossa sociedade.
Ao nível de novas contratações ou áreas, esperamos concretizar, no último trimestre, a integração de outro escritório especializado em Direito Fiscal na nossa sociedade. É um projeto que andamos a gerir há já algum tempo e que visa reforçar essa mesma área.
Faz sentido ainda falar de advocacia do Norte e de Lisboa como realidades distintas?
Entendo que a forma como coloca a questão motiva logo o que acho que ressalta quanto à advocacia: estamos a comparar uma região inteira, com uma cidade.
As pessoas de Lisboa vão ao Norte (não vão ao Porto ou a Guimarães) e as pessoas do Norte vão a Lisboa.
O Norte e as suas gentes, empresas e negócios, agem e atuam muito mais em conjunto do que em Lisboa e não têm problemas em assumi-lo: existe uma relação, uma entrega e uma proximidade que, por vezes, a advocacia de Lisboa não é capaz de concretizar.
Ainda assim, diria que o crescimento que as empresas e cidades do “Norte” têm vivido, tem levado a uma aproximação nas estruturas, nos custos e na atuação por parte das sociedades, cá e lá. Já começa a ser mais normal as pessoas de Lisboa virem ao Porto ou a Guimarães…
Que impacto é que espera que esta crise venha a ter nas contas do vosso escritório?
Do que podemos concretizar até ao momento, e de acordo com as nossas expectativas, acreditamos que vamos cumprir os objetivos traçados para o ano de 2020 e, até, ultrapassá-los. Falamos de um crescimento na casa dos dois dígitos, face a 2019.
Que impacto é que esta paragem no turismo pode ter para o país?
Ninguém o conseguirá definir a esta altura. Acredito que a capacidade de atuação e resiliência dos nossos empresários do setor do turismo, associado ao regresso do “vá para fora, cá dentro”, poderá mitigar os efeitos devastadores da pandemia neste setor.
Ainda assim, não tenhamos dúvidas: este será um dos setores mais afetados e com consequências diretas ao nível do desemprego e encerramento (insolvência) de empresas. Urge a disponibilização de medidas que evitem uma verdadeira implosão do setor.
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Rui Neves Ferreira: “Esperamos a integração de outro escritório em direito fiscal”
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