Sovena avalia compra de terrenos agrícolas em Angola, no Chile e Califórnia

A empresa do setor agroalimentar quer expandir o negócio nos EUA e Brasil e apostar na compra de terrenos agrícolas em novas geografias, adianta o CEO, Jorge de Melo.

A Sovena “tem vivido tempos muito desafiantes”, afirma o presidente executivo da empresa conhecida pela comercialização de marcas como o Oliveira da Serra ou Fula. Ainda assim, a subida no preço do azeite permitiu colmatar a quebra nas quantidades vendidas e segurar os resultados. O futuro passa pelo crescimento em mercados com elevado potencial, como os Estados Unidos, e a aquisição de terrenos agrícolas em novas geografias. “Acreditamos que a terra tem valor”.

A internacionalização já representa perto de 80% do negócio, com a Península Ibérica a pesar pouco mais de metade. A empresa, que no ano passado faturou 1.723 milhões de euros, tem fábricas em Portugal, Espanha, Estados Unidos, Angola, Colômbia e uma participação numa empresa no Chile.

O grupo já tem cerca de 9.000 hectares de terrenos agrícolas, maioritariamente de olival, e o objetivo é aumentar a área. Angola é uma das principais apostas. “Tem condições naturais para ter ali a fileira toda, desde a parte agrícola até à parte industrial”, sublinha o CEO. Estados Unidos ou Chile também poderão ser opções.

Para já a Sovena não está de olho em novas aquisições. Mas “se existirem algumas oportunidades que possam fazer sentido, não as descartamos”, diz Jorge de Melo.

Primeiro a pandemia de covid-19, depois a invasão russa da Ucrânia e agora a subida do preço do azeite. Como é que este contexto afetou as contas da Sovena?

A Sovena, nos últimos anos, tem vivido tempos muito desafiantes. Tivemos o covid. Em termos operacionais, não nos afetou por aí além porque as pessoas continuaram a comer e as nossas operações a funcionar. Existiram temas logísticos, sobretudo cadeias muito mais longas e complicadas de trabalhar. Mas depois, com a guerra na Ucrânia, aí sim, teve um impacto forte na nossa atividade. Nós somos 50% negócio de azeite e 50% óleos alimentares. Falamos de soja, de colza, mas sobretudo de girassol. A Rússia e a Ucrânia tinham uma expressão de cerca de 80% nas exportações de óleo de girassol mundial sendo, por isso, um dos nossos principais mercados de abastecimento.

Conseguimos dinamizar alguns outros locais de originação, por exemplo, a Argentina, onde temos um projeto agrícola neste momento. A própria Espanha, que tem alguma cultura de girassol. Também incentivámos os agricultores a plantar mais. O ano de 2022, sendo desafiante, foi positivo em termos operacionais. E 2023 também foi um ano em que conseguimos, apesar deste aumento do preço do azeite e diminuição do consumo, manter os nossos clientes fiéis à Sovena. Também olhámos para temas de eficiência operacional e de logística. Em termos de faturação, fizemos 1.723 milhões, que é mais ou menos o valor do ano anterior.

Até que ponto é que a subida do preço compensou a quebra no volume?

Nós conseguimos, apesar da quebra do volume, manter alguma rentabilidade na operação. Os resultados foram até um pouco melhores que o ano anterior. Em termos de grupo, fizemos 100 milhões de euros de EBITDA.

Olhando já para este ano, será possível melhorar esse resultado?

É um ano que também mantemos a nossa trajetória de procurar aqui alguma rentabilidade da operação. Temos conseguido, mais uma vez, crescer um pouco no que é o segmento do óleo alimentar. Só para ter uma ideia, a Sovena faz quase 50% do mercado ibérico de óleo de girassol.

As exportações já representam cerca de 80% do negócio?

Na Sovena não falamos de exportações, falamos mais de internacionalização, porque temos unidades industriais em Portugal, em Espanha, nos Estados Unidos, em Angola, na Colômbia, temos uma participação numa empresa no Chile. Portanto, muitas delas não são exportações, ou seja, têm compras da matéria-prima local. O que nós dizemos é que a internacionalização da empresa neste momento está quase nos 80%, sendo Portugal 22%, Espanha 22% a 25% e o restante é fora da Península Ibérica.

Mas essa percentagem vai crescer?

Portugal e Espanha são mercados muito maduros, que podem ter alguma taxa de crescimento. Estamos a fazer por isso, trabalhamos as nossas marcas, os clientes, mas o crescimento, sobretudo no setor do azeite, que é onde nós temos a perspetiva mais internacional da operação, é apostar nas novas geografias.

Os Estados Unidos, neste momento, se não é o maior consumidor mundial de azeite é o segundo maior atrás de Espanha, e com um consumo per capita ainda baixo. (…) Acreditamos que há um potencial de crescimento, não só com o azeite, mas, por exemplo, com o óleo de abacate.

Estamos a falar de que geografias?

Destacaria duas no setor do azeite. Uma é os Estados Unidos que, neste momento, se não é o maior consumidor mundial de azeite é o segundo maior atrás de Espanha, e com um consumo per capita ainda baixo, muito concentrado na costa este e na costa oeste, Califórnia e depois Nova Iorque até à Flórida. E é por isso que nós temos duas operações, uma na costa este e outra na Califórnia para fornecer esse mercado. Acreditamos que há um potencial de crescimento, não só com o azeite, mas, por exemplo, com o óleo de abacate. Eu vim da Colômbia a semana passada, onde acompanhei a inauguração oficial da nossa fábrica de óleo de abacate, que é um produto que está a ter algum crescimento interessante de procura nos Estados Unidos.

A outra é a operação no Brasil, onde já temos cerca de 25 pessoas. Temos a Sovena Brasil, que é essencialmente uma equipa comercial e de logística. É tudo produzido aqui em Portugal ou em Espanha, as marcas que vendemos de Espanha, onde o nosso destaque é a marca Andorinha, que temos trabalhado desde 2004. Quando comprámos a marca, tinha 2% de quota no mercado brasileiro e neste momento tem cerca de 22% a 23%.

E a Ásia?

Sendo um continente imenso, alguns países têm níveis de consumo bastante baixos. A China, confesso que tem sido mais lento do que aquilo que antecipávamos, mas acredito que algum dia, até pelo efeito do turismo, vai crescer.

Falou nesta fábrica nova de óleo de abacate na Colômbia. Isto também faz parte de uma estratégia de diversificação?

Não sei se lhe chamaria diversificação. Em termos do grupo, comprámos há dois anos e pouco a operação da Centazzi, que tem a marca Salutem. E aí foi consequência de uma nova vontade da Sovena, que chamamos de Feeding Futures, de estar atentos à evolução da alimentação no futuro, no que seja relacionado com a comodidade dos alimentos, o tema nutricional, o tema sabor. Temos aí a capacidade de ter uma série de categorias e perceber melhor o consumidor e ver onde é que vai querer estar no futuro.

Essa aquisição está a correr bem?

Diria que tivemos uma integração que foi um pouco mais demorada do que aquilo que tínhamos antecipado. É uma variedade enorme de produtos para uma operação relativamente pequena e há ali uma necessidade de otimização logística e industrial que estamos a fazer. Relançámos agora a marca Salutem com uma nova imagem e um novo posicionamento e acredito que agora temos as condições de dar aqui um boost.

A ideia é ficar por aqui ou fazer outras aquisições?

Agora nessa área gostaria de fazer crescer com o ativo que comprámos. Agora, se existirem algumas oportunidades que possam fazer sentido, não as descartamos, porque acreditamos que é importante crescer e as organizações vivem do crescimento.

Angola tem condições naturais para ter ali a fileira toda, desde a parte agrícola até à parte industrial.

E como está a correr o investimento na fábrica em Angola?

Houve nos últimos tempos uma vontade do Governo angolano de substituir o que eram as importações por produção local. O que fizemos foi antecipar de alguma forma esse movimento. Numa primeira fase com uma fábrica de embalamento. À medida que formos consolidando esta operação e formos tendo as garantias de que funciona da forma que nós prevíamos, podemos equacionar outro tipo de investimento, que pode ir eventualmente para o tema agrícola.

A nossa vontade, se existirem condições, é investir, porque acreditamos que tem uma população que está disposta a consumir. Tem capacidade até, se possível, de exportar para uma República Democrática do Congo e tem condições naturais para ter ali a fileira toda, desde a parte agrícola até à parte industrial. É algo ainda em avaliação.

Há outros investimentos na calha?

Na parte agrícola, a Nutrifarms, temos vindo a adicionar alguma área. Já temos cerca de 9.000 hectares, maioritariamente de olival, mas também alguma coisa de amendoal. Maioritariamente em Portugal, cerca de 7.000 e poucos, 1.000 em Marrocos e 700 e muitos em Espanha. Acreditamos que a terra tem valor.

A população está a crescer e vai sempre haver necessidade de alimentos. Vamos continuar a investir sempre, desde que as condições de mercado assim o permitam, porque também sabemos que não entramos aqui em especulações relativamente ao que são os custos da terra.

E também aqui há planos para explorar novas geografias?

Existem geografias na América Latina, como o Chile, por exemplo, a própria Argentina, embora as condições político-económicas da Argentina sejam algo a ter em consideração. Mesmo uma Califórnia podem ser geografias interessantes para equacionarmos investimentos. Agora é preciso encontrar, se calhar, parceiros para isso.

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