“Vai ser um ano economicamente difícil. É nossa responsabilidade fornecer produtos acessíveis em Portugal”, diz CEO da Nestlé

Com custos de produção a subir, a CEO da Nestlé, Anna Lenz, admite que 2023 será um ano económico "difícil", mas que cabe à Nestlé "fornecer produtos acessíveis aos lares em Portugal".

É desde julho a nova CEO da Nestlé Portugal. Anna Lenz assumiu a liderança de um mercado que, no ano passado, gerou vendas totais no valor de 625 milhões de euros, um aumento de 60 milhões face a 2020, para a multinacional suíça. Com custos de produção a subir — à conta dos custos de energia e matérias-primas –, Anna Lenz admite que 2023 será um ano económico “difícil”, mas que cabe à Nestlé “fornecer produtos acessíveis aos lares em Portugal“.

“Temos de nos adaptar à nova realidade. Estamos a rever todos os custos que não beneficiam diretamente o consumidor para tentar reduzir ao máximo qualquer incremento de custos. Também estamos revendo as receitas (dos produtos)”, diz a gestora, na sua primeira entrevista desde que assumiu a liderança da Nestlé em Portugal.

O seu regresso a Portugal foi anunciado “num contexto de recuperação do turismo e dos hábitos tradicionais de consumo do mercado após as fases mais agudas da pandemia”. Vivemos agora com a maior inflação em Portugal dos últimos 30 anos, custos de energia galopantes e uma guerra na Ucrânia. Como avalia para o futuro neste novo contexto?

O turismo voltou, mas com a pandemia as pessoas deixaram de comer fora e a consumir muito dentro do lar. Essa tendência não voltou como era antes, mas, até um certo nível, as pessoas já vão de novo aos cafés, restaurantes, etc. Neste período, muito mais desafiante do que tínhamos antecipado, voltamos ao core do que é a nossa responsabilidade: fornecer comida nutritiva aos lares em Portugal. O principal objetivo será ser capaz de produzir e entregar os produtos. Tivemos que reformular as receitas, otimizar, reduzir a gama, mas nunca parámos de produzir nas nossas fábricas e de entregar aos nossos clientes e aos consumidores. Este ano também vai ser um desafio. Vemos que a cadeia de matéria-prima sofreu uma disrupção…

A questão dos cereais…

Por exemplo. Trabalhamos muito mais em abastecimento local o que, por um lado, reduz esse risco, e por outro, é muito mais sustentável quando falamos na pegada carbónica. Trabalhamos muito em Portugal a Nestum e a Cerelac e já compramos muito cereal aqui. Esse vai ser o primeiro objetivo. Depois, vai ser um ano economicamente difícil e também é a nossa responsabilidade fornecer produtos acessíveis aos lares em Portugal.

Temos de nos adaptar à nova realidade. Estamos a rever todos os custos que não beneficiam diretamente o consumidor para tentar reduzir ao máximo qualquer incremento de custos. Também estamos revendo as receitas (dos produtos).

Mas estão a ter mais custos de produção. Como antecipa que isso se vá refletir no bolso dos consumidores que, nessas alturas, costumam ser muito prudentes e, muitas vezes, optam por marcas de distribuição? Como vão navegar nesse mar tão complicado?

Obviamente, temos de nos adaptar à nova realidade. Estamos a rever todos os custos que não beneficiam diretamente o consumidor para tentar reduzir ao máximo qualquer incremento de custos. Também estamos revendo as receitas (dos produtos). Temos produtos, como o Nestum, em que, até nos momentos mais difíceis, as vendas costumam aumentar porque é, justamente, uma refeição saudável, muitas vezes até consumida em vez de um jantar mais tradicional. Temos que trabalhar em fornecer esses produtos, que também são mais precisos, os mais procurados pelos consumidores.

Têm fábrica em Avanca e no Porto, certamente, a fatura de energia aumentou. Como estão a gerir essa circunstância, de modo a que o aumento de custos de produção possa ser mitigado? Estão a reorganizar o trabalho de outra forma? A focar em linhas mais específicas de produto?

Estamos numa fase muito complicada. Mas estamos aqui há quase 100 anos, estamos a longo prazo. O que tentamos fazer ao máximo é antecipar. Mas também não é por uma crise que vamos mudar totalmente o nosso foco e o modelo do que fazemos. Estamos, obviamente, otimizando a forma como compramos as matérias-primas, os processos, adaptamos as receitas em alguns casos.

Ann Lenz, diretora-geral da Nestlé Portugal, em entrevista ao ECO/Pessoas - 22SET22
Anna Lenz, diretora-geral da Nestlé Portugal, em entrevista ao ECO/PessoasHugo Amaral/ECO

A Nestlé Portugal conquistou vários centros de serviços partilhados junto do grupo, tendo havido um grande crescimento do headcount no país. O crescimento a nível de pessoas e negócio passa por aí?

Uma das coisas que me apelou muito a regressar a Portugal é que temos um nível super elevado na formação das pessoas, são extremamente qualificadas, falam muito bem inglês e têm uma ética de trabalho muito elevada. É um país muito atrativo para criarmos esses centros de serviço. Continuamos a contratar muito no âmbito digital, por exemplo, e oferecendo mais serviços para os países de fora. Não vejo hoje o boom que tivemos nos primeiros anos, mas continuamos a recrutar.

Mas há perspetivas de novos negócios?

Não no sentido de comprar ou fundar uma empresa, mas sim de inovação e renovação. Continuamos no desenvolvimento de produtos no âmbito do saudável e do sustentável, porque as pessoas estão, também devido à pandemia, mais conscientes do bem-estar e do meio ambiente. Nesse âmbito, temos a nova linha que foi lançada no ano passado, a Garden Gourmet, um substituto de carne, uma extensão do nosso negócio de food; depois produtos como o Chocapic, em que foi reformulada a receita, reduzindo o sal e o açúcar, agora com um Nutriscore A; ou, uma das maiores inovações, o novo sistema da Nespresso. São desenvolvimentos do nosso core em food & beverage.

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