Confirmação de mais quantidades em Boticas é boa notícia para empresa, região e país, diz CEO da Savannah Resources. Novo aumento de capital seria "oportunidade para portugueses participarem".
Pode ser o tipping point de um dos maiores projetos de mineração de lítio na Europa, reconhece Emanuel Proença. O CEO da Savannah Resources sublinha, no podcast do ECO ‘À Prova de Futuro’, que depois de anos de esforço, a notícia que o recurso confirmado no Projeto de Lítio do Barroso – em Boticas, Vila Real – aumentou em 40% e situa-se agora nos 39 milhões de toneladas, é “muito encorajadora” e ocorre numa altura “em que as coisas começam realmente a acontecer”, com vista ao início da produção do metal crucial para baterias de carros elétricos, em 2028.
A empresa britânica, que é cotada no mercado AIM, investiu 50 milhões de euros até este ano, vai investir 15 milhões em 2025 e mais 350 milhões até 2028, adianta. No “puzzle” do financiamento desse investimento deverá estar um novo aumento de capital em bolsa, uma “oportunidade interessante para nós portugueses participarmos no sucesso futuro do projeto”. Em julho, um aumento de 5,6 milhões deixou 25% nas mãos de investidores portugueses, incluindo a Lusiaves e Mário Ferreira, com 10% cada.
Desde que a Savannah ficou com o projeto em 2017, a operação tem sido alvo de protestos, ações jurídicas e até uma providência cautelar. Emanuel Proença acredita que “esse grupo de pessoas conseguiu ocupar o espaço mediático ao longo de bastantes anos e dar a perceção de que o projeto podia ser um projeto perigoso, que metia medo“. Explica, contudo, que “com muito trabalho no terreno, ficou demonstrado para as pessoas da região que essas coisas estavam, no mínimo, ultra-exageradas, quando não eram verdadeiramente maliciosas nas suas intenções e no seu conteúdo” e separa “o que é a ação do grupo opositor do que são preocupações legítimas que devem ser endereçadas”.
A Savannah é uma empresa britânica criada em 2010 e que em 2017 comprou o projeto do Lítio do Barroso, no Concelho de Boticas, distrito de Vila Real. Que características é que levaram o projeto a ser considerado este ano pela Comissão Europeia como estratégico ao abrigo da lei das matérias-primas críticas?
A Savannah tem, como bem diz, 15 anos de vida e ao longo desses 15 anos de vida teve, na verdade, duas subvidas. No início, em fase inicial, como muitas outras empresas de recursos, foi à procura de oportunidades interessantes, um bocadinho por todo o mundo. O setor da busca de recursos minerais é muito competitivo e de risco muito elevado nas fases iniciais de desenvolvimento do projeto. Tem agora uma fase nova, que é a fase em que compreende que o projeto de lítio do Barroso é um projeto de grande dimensão e que pode ser desenvolvido e levado à produção e que precisa de acelerar. Nesta segunda parte da vida, que começa em 2017 e com todo o trabalho de 2017 até 2025 vai passando barreiras técnicas para chegar hoje à compreensão completa de que há aqui um projeto muito sólido, tanto do ponto de vista económico, como social, como ambiental, como da oportunidade e que, portanto, tem de ser levado a execução. Nesta segunda fase investiu cerca de 50 milhões de euros. Já este ano está a investir outros 15 milhões de euros e para o ano, com o início de construção, entrará nas várias centenas de milhões de euros de investimento. É entusiasmante levar uma empresa precisamente a essa fase de execução.
É o chamado tipping point?
Exatamente. É nessa fase que as coisas começam realmente a acontecer. O projeto da Savannah, como vários projetos neste setor, muitas vezes torna-se famoso ainda antes de poder mostrar provas do que está a fazer, como demora muitos anos.
Eu falo de 50 milhões de euros gastos ao longo destes anos e as pessoas no terreno até há pouco tempo não os viam, porque era trabalho muito técnico, de prospeção em subterrâneo e por aí adiante, e portanto era difícil de tangibilizar
Está muito nas notícias…
É isso mesmo. Eu falo de 50 milhões de euros gastos ao longo destes anos e as pessoas no terreno até há pouco tempo não os viam, porque era trabalho muito técnico, de prospeção em subterrâneo e por aí adiante, e portanto era difícil de tangibilizar. À medida que avançamos e que chegamos à fase em que começamos a contratar local, em que começamos a requalificar casas nas aldeias, em que começamos a ver pessoas que voltam para a região de muitos anos de imigração e, portanto, voltam a reunir famílias e em que podemos acelerar na contratação de serviços também na região, tudo começa a ter uma cara diferente.
Tudo começa a acontecer.
E é aí que começamos a ver aquilo que se vê, vários anos depois, ou várias décadas depois, em situações que são conhecidas dos portugueses como é Castro Verde, que tem uma mina de cobre há muitos anos. Cobre é bastante diferente do ponto de vista mineral e do ponto de vista de exploração, mas essa mina trouxe prosperidade a um município que é de interior e que tinha dificuldade em manter a sua população e em gerar riqueza. Saiu o relatório da Fundação Francisco Manuel dos Santos, creio que na semana passada, a falar de todos os municípios portugueses, de como se comparam, e Castro Verde era o município de salário médio mais elevado do país. Portanto, não estamos a falar de um município que fica bem cotado, estamos a falar de um município que fica mais bem cotado nessa métrica. Boticas começa hoje a ver os primeiros, os primeiríssimos sinais do que é fazer um projeto destes, bem desenvolvido na região. Portanto, é evidentemente muito entusiasmante começar a demonstrar, na prática, o que um projeto destes pode trazer de bom para a região, para além daquilo que traz para Portugal e para o mundo.
Na semana passada, a Savannah anunciou que o recurso confirmado em Boticas aumentou em 40%, situando-se agora nos 39 milhões de toneladas. O potencial total pode superar 100 milhões de toneladas, suficiente para produzir 47 milhões de veículos elétricos, ou eliminar o consumo de petróleo de toda a frota automóvel de Portugal e França e os Países Baixos. São números muito grandes. Isto é realista?
É factual. É tão simples quanto factual. Portanto, é matemático aquilo que se transforma de lítio e aquilo que corresponde a baterias à tecnologia atual. Se a tecnologia ganhar eficiência, evidentemente que o número ainda sobe mais. Mas à tecnologia atual é a equivalência que estamos aqui a ver. E isso demonstra a oportunidade que há aqui para a região e para Portugal. No fundo, num elemento, conseguimos fazer a diferença, não só à escala de Portugal, à escala da Europa e, em certas perspetiva, também do mundo. E, portanto, isso é muito encorajador. Mas o facto de termos um recurso maior dentro da mesma área de trabalho diz mais, traz mais coisas importantes. Primeira coisa, atrai mais potencial de investimento do estrangeiro para Portugal. Como disse, ainda hoje estava a sair de uma conferência onde estão 350 atores desta fileira, de todo o mundo. Estavam japoneses, coreanos, chineses, norte-americanos, suecos, finlandeses, alemães e por aí adiante.
Está a dizer que há mais interessados em investir na fileira?
Quanto mais esta fileira tiver projetos âncora, mais esta fileira tem capacidade ao longo dos anos de atrair o interesse de outros. E isso é bom, é bom para Portugal, porque traz mais perspetivas de fazermos crescer esta oportunidade para mais empregos pelo país fora e mais oportunidades de desenvolvimento. A segunda coisa que faz, que é também muito importante, é demonstrar aquilo que nós já dizíamos há algum tempo, mas que as pessoas um bocadinho mais céticas ou com um bocadinho menos boa vontade ou de vontade de aceitar o argumento, vinham dizendo “nem pensar”. “Eles vêm aqui, eles exploram durante uns anos e depois vão-se embora e isto corre tudo mal”. Bom, isto demonstra aquilo que nós temos dito. Este é um projeto para ficar durante gerações. Portanto, havendo oportunidade, havendo mercado, é um projeto para ficar durante gerações. E isso é muito importante, porque traz desenvolvimento sustentável ao longo de gerações. É que as pessoas que estão a voltar, estão a voltar para ficar e para fazer vida, para trazer a sua família. Este fim de semana trouxemos uma família que veio da Austrália e que se está a mudar para viver entre Lisboa e Boticas. Ainda o mês passado trouxemos uma família de regresso, de pessoas que eram da aldeia, que regressa de ter estado muitos anos fora com um bebé, e isso também é muito importante e encorajador para nós, para morar na aldeia, para voltar para a aldeia e voltar a reunir uma família. Portanto, essa é a segunda parte que é importante. E a terceira é a de valor. E o valor mede-se no valor para os nossos colaboradores, para os nossos acionistas, para o Estado, em impostos, em royalties, e para a região e para o município.
Menciona a criação de empregos, pagamento de impostos, royalties. Primeiro se pudesse qualificar o que querem dizer com mais? Dizem que vão criar mais disto tudo, mas ficou um bocado vago.
Certíssimo.
Esta nova informação vai aumentar ou acelerar o plano de investimento? Disse que a Savannah já investiu 50 milhões desde a concessão, vai investir mais 15 milhões este ano e depois centenas de milhões. Que valores totais vão entrar?
Muito bem. Sobre a última parte da pergunta, nós o que temos pela frente é fechar a engenharia de detalhe, fechar o project finance, a estruturação do financiamento do projeto por completo e o início da construção na segunda metade do próximo ano. No momento em que entramos na preparação de construção e começamos a comprar equipamentos mais onerosos, que demoram mais tempo a fazer, que são feitos à medida, coisas desse género, começamos a acelerar um plano de investimento que dura cerca de 18 meses e que vai para a ordem dos 300, 350 milhões de euros. Portanto, é esse investimento que é necessário para pôr em marcha o projeto.
Esse vai ser o total acima daquele que já foi investido?
Exatamente, é adicional ao que já foi investido e é aquilo que nos leva à produção ali no início de 2028 e a partir daí a todos os outros efeitos.
Portanto, o total de investimento vai ser cerca de 415 milhões de euros?
Exatamente, está à volta disso.
Estaremos a falar de acima de centenas de milhões de euros por ano estimados em receita para o Estado e depois repetidos ao longo dos muitos anos que o projeto tem. Do lado dos empregos, estamos a falar de cerca de 300, 350 empregos diretos permanentes no projeto ao longo das décadas e esses somam-se os indiretos
Até abrir a produção?
Até abrir a produção, é isso mesmo. Depois há sempre otimizações a fazer. Na sequência há investimentos adjacentes, porque há outras oportunidades. Dar-lhe um exemplo, o nosso projeto não produz só espodumena, que é a base do lítio, produz também bastante feldspato. O feldspato é muito importante para a indústria cerâmica, uma indústria em que Portugal também tem uma posição interessante. E, portanto, para trabalharmos bem esse feldspato, poderá haver uma oportunidade de desmultiplicação que exige um bocadinho mais de investimento na sequência. São outras oportunidades adjacentes que vão surgindo depois, já na fase de operação. A outra parte da pergunta era tentar dar um bocadinho mais de luz sobre o quão mais nas outras métricas, tanto na métrica empregos como na métrica impostos, royalties e afins. Com base no estudo anterior – o estudo que é agora revisto nesta fase de engenharia de fecho, o estudo do business plan, portanto o estudo financeiro – já tínhamos falado da dimensão potencial de royalties para o município, como sendo uma das partes dos royalties que estão associadas a este projeto. Tínhamos falado de perto de 10 milhões de euros ao ano. Isto é um valor que flutua muito ao longo do tempo, porque depende da produção, mas mais ainda dos preços do mercado internacional, mas dá uma dimensão de valor para a componente royalties. A componente royalties é só uma das partes do benefício para o Estado, porque esta é a parte dos royalties para o município, depois há royalties para o Estado central, depois há todos os impostos associados ao projeto, desde os diretos aos indiretos. E, portanto, estaremos a falar de acima de centenas de milhões de euros por ano estimados em receita para o Estado e depois repetidos ao longo dos muitos anos que o projeto tem. É um valor significativo e interessante também para o erário público. Do lado dos empregos, nós já tínhamos referido também a dimensão estimada da equipa direta para o projeto. Estamos a falar de cerca de 300, 350 empregos diretos permanentes no projeto ao longo das décadas. A esses somam-se os indiretos, portanto há muito trabalho que é trabalho subcontratado, por exemplo, de transporte do projeto para outras fábricas, para clientes ou para áreas portuárias ou similares. E depois há tantos outros empregos indiretos que são gerados numa região que voltará a ter mais restaurantes, mais infraestruturas de saúde, de educação, oficinas e por diante. Esse número está estimado, na Universidade do Minho, por um estudo que foi feito há coisa de dois, três anos, em cerca de mil a dois mil empregos adicionais. Para a realidade de um município do interior como o de Boticas, isto é muito, muito considerável. E a nossa expectativa é que estes empregos sejam de pessoas que vão viver na região, e portanto, entre Boticas, Ribeira de Penas, Chaves e outros municípios da região, que partilham de características como as de Boticas e que, portanto, terão aqui uma oportunidade de reenergizar um bocadinho a sua economia local.
Fizeram um aumento de capital há meses, em julho, 5,6 milhões de euros. Vai ser necessário outro para esta fase nova?
Portugal acho que se desabituou um bocadinho de ter empresas cotadas de raiz e que levam o projeto sempre em mercado de capitais. A Savannah é uma empresa que começa cotada e, portanto, já leva 15 anos de cotação em Bolsa. A parte mais relevante associada à cotação, de performance da cotação associada a este projeto, é sobretudo nestes últimos anos. Isso, antes de mais, significa uma oportunidade interessante para nós portugueses de participarmos no sucesso futuro do projeto. No sucesso e no risco futuro do projeto, evidentemente. Tudo em bolsa tem elementos de risco-retorno. Mas isso é um elemento importante e interessante, diria eu, deste projeto, porque permite a participação de todos no seu futuro. Já vimos muitos portugueses a tomar participação ao longo destes últimos anos na empresa, nós já estamos acima de 25% da estrutura social da empresa em mãos de acionistas portugueses.
De referência?
Tanto de referência como de retalho, como alguns institucionais. E, portanto, isso é encorajador para nós e encorajador para os portugueses. Aqueles que seguem a bolsa portuguesa sabem que há muitas cotadas em Portugal que não têm tanta participação de portugueses. Isso é encorajador e foi mais encorajador ainda no último aumento de capital, termos feito mais de 42% do aumento de capital também com participação de portugueses. Isso é bom, ajuda-nos a ter a confiança de que estamos a fazer algo de bom para todos os portugueses. Ao longo destes próximos tempos, sim, a estruturação do project finance implica recorrer a outras fontes de financiamento que vêm complementar o esforço que já foi feito pelos acionistas, porque este esforço até aqui foi todo feito pelos acionistas. Portanto, teremos uma componente de estrutura de dívida, temos uma componente seja de off-takes com pré-pagamento, ou outras de grants, de apoio a fundos perdidos. Todos esses elementos agora fazem um puzzle que vai compor o investimento.
O grosso do investimento vem agora.
Exatamente. E dentro disso, sim, é possível que, em algum momento, haja também mais uma oportunidade de entrada para acionistas, se fizermos outro aumento de capital em bolsa.

Quando falámos em ESG, falámos de três áreas, estamos a falar de projetos de mineração, são sempre, pelo bem e pelo mal, são sempre alvos de atenção. Têm sempre consequências ambientais nos locais onde operam e o Barroso não tem sido de exceção. Tem havido protestos, tem havido ações jurídicas, até uma providência cautelar este ano. Há várias críticas de concessões assinadas à socapa, digamos.
Esse do nosso lado acho que não há, mas é só dar a ideia, porque há sempre quem tenha vontade de o referir.
[Há críticas] De desconsideração de consequências ambientais. Como é que a empresa está a gerir isso? Qual é a mensagem que passa?
Não é segredo para ninguém que há um grupo de pessoas que se opõem ao projeto e que se opõem de forma visceral ao projeto.
Os projetos demoram muitos anos a desenvolver-se e a mostrar aquilo que realmente trazem de valor para a região e, portanto, nesse período era terreno fértil para que teses e teorias da conspiração ou teses de receio fossem começando a ser distribuídas
Porquê tão visceral? Estava à espera disso?
Tem de lhes perguntar, eu tenho as minhas teses e tenho as minhas ideias e a nossa equipa conhece-os bem e, portanto, sabe bastante bem o que os motiva, mas não me cabe a mim estar a dizê-lo. E também não é segredo que esse grupo de pessoas conseguiu ocupar o espaço mediático ao longo de bastantes anos e dar a perceção de que o projeto podia ser um projeto perigoso, que metia medo. E, como lhe disse, os projetos demoram muitos anos a desenvolver-se e a mostrar aquilo que realmente trazem de valor para a região e, portanto, esse período era terreno fértil para que teses e teorias da conspiração ou teses de receio fossem começando a ser distribuídas. Eu acho que com estes últimos dois anos de trabalho, com muito trabalho no terreno, ficou demonstrado para as pessoas da região que essas coisas estavam, no mínimo, ultra-exageradas, quando não eram verdadeiramente maliciosas nas suas intenções e no seu conteúdo. E, portanto, separo o que é a ação do grupo opositor do que são preocupações legítimas que devem ser endereçadas. Essas preocupações legítimas são aquilo de que nós temos falado ao longo destes últimos dois anos e que temos demonstrado pela ação de estar a trabalhar bem. Como bem diz, qualquer projeto, seja ele de construir uma casa, de realizar uma casa, de fazer uma fábrica ou de fazer uma mina, tem consequências e, portanto, é evidente que elas lá estão e este é um projeto de grande dimensão e, portanto, também as tem. Mas havia preocupações relativas a não haver emprego local. Nós estamos a demonstrar que esse emprego local já está a vir, uma parte da nossa equipa já é de pessoas do local, como bem dizia há bocadinho. Havia preocupações relativas ao uso da água, ao uso da água do rio Covas, por exemplo, que é um ribeiro que é afluente do Tâmega, mas que é o rio daquele vale. E, portanto, sendo um ribeiro e um rio daquele vale, é relevante preservar e acompanhar. O nosso projeto não toca na água do rio Covas, tem a sua recolha de água própria e tem um sistema de águas fechado, portanto, recircula a sua água, não tem influentes para o meio do curso. Havia preocupações e há relativas a efluentes nestes projetos, porque há projetos que são mineiros de outros minerais que geram, por exemplo, águas ácidas. No lítio isso não acontece. Aquilo que nós trabalhamos é inerte, do ponto de vista químico, e aquilo que nós utilizamos são, sobretudo, químicos, como é, por exemplo, o ácido oleico, que é uma base do azeite. E, portanto, são elementos que são bem conhecidos e bem controlados. E, portanto, também daí o receio é um receio que faz as nossas equipas técnicas trabalharem muito e em muito detalhe, mas não é um receio que tenha aderência à realidade do que vai acontecer. E depois havia o receio de movimentação e, evidentemente, que num vale onde há hoje muito poucos habitantes e muito menos do que havia há 30, 40 anos, evidentemente que voltará a haver mais habitantes, voltará a haver mais movimentos e haver caminhões que circulam, apesar de não circularem na aldeia, circulam na região. É evidente que traz mais movimento. Aquilo que eu espero e que eu acho é que esse movimento é bom para a região e volta a trazer um dinamismo que a região precisa muito.
Como é que está a vossa relação com o Estado, nomeadamente as autoridades locais?
As relações vão sendo construídas com base em confiança e com base em ação. E, portanto, à medida que vamos atuando e que vamos demonstrando o que estamos a fazer na região, diria que essas relações, mesmo as mais difíceis, se vão normalizando e as melhores vão se tornando cada vez melhores. E, portanto, fiquei muito honrado e satisfeito de ter podido fazer parte das festas de Nossa Senhora da Livração em agosto, tendo a minha filha ao lado, ainda por cima. Tenho um orgulho enorme em ter tido a nossa equipa a participar na vida de verão deste município, como são os municípios de interior. Traz muitos, muitos imigrantes de regresso nesta fase. Tenho gosto em ver que com isso tudo nós vamos construindo cada vez mais a relação, que não é uma relação entre a empresa e a região, é uma relação da região com a realidade das pessoas da empresa no seu seio. A equipa é parte da região e é uma equipa que é parte da região acreditando no seu futuro e querendo o melhor para o seu futuro. Portanto, todas as outras relações que são as institucionais vão também em acrescento, correndo da forma mais adequada, hoje e cada vez mais a futuro, com mais colaboração, para que alguns dos elementos colaterais do projeto sejam também muito bons para a região. E acho que isso está a acontecer cada vez mais.
Este podcast é sobre tecnologia, portanto quero perguntar sobre a vossa abordagem à tecnologia, que investimento é que fazem, que inovações é que precisam e que utilizam?
Um projeto mineiro em 2025, eu creio que não tem quase nada, se é que alguma coisa tem a ver com um projeto de 1925. Hoje, a robótica tem muita influência no trabalho que se faz no terreno. Hoje, a automação é absolutamente crítica. O nosso projeto, a nossa fábrica industrial, tem sensores por todo o lado, tem muita automação, tem muita tecnologia que lhe está associada. Estamos a trazer algumas soluções tecnológicas que só existem nas melhores minas do mundo, aquelas que já estão a trabalhar há muito tempo e que fazem com que depois todo o processo seja ultra-otimizado. Cada ponto percentual de recuperação adicional é um ponto percentual adicional de valor. Cada ponto percentual adicional de controle de alguns elementos críticos do projeto é um ponto percentual adicional de eficiência muito importante. Já não se trabalha com picaretas, já não se trabalha no chão, trabalha-se com grandes máquinas industriais que têm elas também uma série de elementos de automação. As pessoas que trabalham nestes projetos são pessoas qualificadas a muito qualificadas e por isso também têm salários que são compatíveis com esses skills. Portanto, eu dizia-lhe há bocadinho que trouxemos uma família da Austrália, portanto é para trazer o melhor know how para ali. Fizemos pessoas regressarem de imigração. As pessoas emigraram porque tinham melhores condições em França ou nos Estados Unidos do que tinham naquela região. Para que elas regressem, elas têm evidentemente de ver condições correspondentes. E, portanto, hoje e no futuro, este é um projeto que contará com muita, muita tecnologia. Ainda hoje também, na tal conferência, havia vários fornecedores de equipamento, como são algumas das maiores empresas de tecnologia da Europa e do mundo, e falávamos de algumas das soluções tecnológicas que serão utilizadas, trazidas para o projeto. Portanto, sim, este é um projeto de tecnologia avançada, apesar de estar no primeiro ponto da cadeia, no setor primário, e esta fileira é uma fileira de tecnologia ultra avançada em muitas componentes. Acho que Portugal ainda tem algum know how associado a alguns dos elementos que são acessórios que são transponíveis para esta fileira. Estou a lembrar-me, por exemplo, do conhecimento todo da química, de Estarreja, que pode ser transposto para uma refinaria, como é o caso da Lifthium. Portanto, todo o conhecimento da eletrólise será muito importante para o projeto da Lifthium. Estou a pensar no conhecimento que temos em algumas fábricas na região de Águeda, que trabalham em câmara isolada, baixa pressão, nas microtecnologias, que são muito importantes para alguns dos processos industriais, nas baterias e por aí adiante. E, portanto, eu acho que nós poderemos reforçar com esta fileira as competências que já existem em Portugal e trazê-las para o nível de perfeição que exige a concorrência em mercado mundial numa fileira como esta.
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“Vamos investir cerca de 415 milhões de euros no lítio do Barroso até iniciar a produção em 2028”
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