Como um prémio de Economia abre portas no mercado de trabalho, até as das Fed

Distinguidos pelo Banco de Portugal como os melhores alunos de licenciatura em Economia, onde chegaram alguns dos antigos vencedores do Prémio Professor Jacinto Nunes? E que conselhos deixam?

Todos os anos saem milhares de alunos das faculdades portuguesas, sendo que alguns deles destacam-se pelo excecional desempenho académico alcançado. Há vários anos que o Banco de Portugal distingue os melhores alunos de Economia, um galardão que pode ajudar a abrir portas no mercado de trabalho.

Entre passagens pelo Ministério das Finanças ou da Economia, pela consultora americana McKinsey ou pelo gabinete de pesquisas americano National Bureau of Economic Research, em Cambridge Massachusetts, o ECO foi saber o que fazem, agora, três dos antigos vencedores do Prémio Professor Jacinto Nunes.

“Este prémio influenciou a minha vida e a minha carreira. Foi um incentivo a continuar a estudar, mas também me ajudou a financiar o mestrado que, por, sua vez, me permitiu prosseguir para o doutoramento. Sem o doutoramento não teria a profissão que tenho hoje em dia”, conta ao ECO Miguel de Faria e Castro.

Miguel de Faria e Castro recebeu o Prémio Professor Jacinto Nunes no ano letivo 2008/2009. Com apenas 31 anos, conta já com um currículo invejável. A viver o ponto mais alto da sua ainda jovem carreira, faz há cerca de dois anos investigação e análise económica na Reserva Federal de St. Louis.

Licenciado pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, rapidamente percebeu que as posições que lhe interessariam requeriam, todas, um doutoramento e foi esse fator que o levou a prosseguir estudos na Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde além de aluno foi também professor assistente. Pelo meio ainda teve uma passagem pelo Gabinete de Pesquisa e Estudos do Ministério da Economia e da Inovação.

Miguel de Faria e Castro, divisão de Estudos da Reserva Federal de St. Louis, 31 anosD.R.

Bem mais perto, Tiago Espinhaço Gomes é atualmente consultor da Oliver Wyman, em Madrid. O consultor, de 33 anos, licenciou-se em Economia na Universidade do Porto e a teve a sua primeira experiência de trabalho na McKinsey. Com um percurso semelhante ao de Miguel Faria de Castro, passou pelo Governo, como assessor dos ministros das Finanças Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque. Posteriormente fez parte do Conselho de Finanças Públicas, entre 2013 e 2016, para desempenhar funções mais ligadas à Economia.

Para o consultor financeiro, que ganhou o Prémio Professor Jacinto Nunes em 2009/2008, a distinção foi um “motivo de orgulho”, sublinhando que se tratou do “reconhecimento do esforço de um percurso exigente”. Tiago Espinhaço Gomes não esquece o valor simbólico da distinção, já que foi a primeira vez que foi à sede do Banco de Portugal, onde decorre a cerimónia de entrega dos prémios. “É um momento que recordo com satisfação”, atira.

Na questão académica, naturalmente que este prémio é sempre um motivo de destaque do qual me orgulho e, portanto, eu incluo em qualquer candidatura. Se me vão selecionar pelo facto de ter ganho este prémio? Por muito mérito que o prémio possa ter, julgo que não. Mas certamente será mais um dado a ter em conta quando se faz a avaliação do perfil de um candidato.

Tiago Espinhaço Gomes

consultor financeiro na Oliver Wyman

Com uma carreira mais curta, mas um igualmente promissora, Ana Catarina Pimenta é economista no Departamento de Estudos Económicos do BdP. Quando terminou a licenciatura em Economia na Universidade do Minho, no ano letivo 2015/2016, não imaginava que viria a ser contratada pela instituição pela qual tinha sido distinguida. “No momento em que fui galardoada com este prémio frequentava o primeiro ano de mestrado em Economia também na Universidade do Minho. Em simultâneo, estava a realizar um estágio no Laboratório de Investigação em Microdados do Banco de Portugal, no Porto. A realização desse estágio reforçou o meu interesse pela área da investigação, acabando por ingressar no Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal“, conta a jovem de 24 anos.

O prémio muda a vida?

Estes são alguns exemplos de jovens portugueses com carreiras promissoras. Mas, afinal, pode um prémio do Banco de Portugal ser a chave-mestra para o mercado de trabalho? Na perspetiva de Tiago Espinhaço Gomes, “por muito mérito que o prémio tenha”, não abre portas por si só. Mas, obviamente, “é mais um dado a ter em conta quando se faz a avaliação do perfil de um candidato”.

Por outro lado, Miguel de Faria e Castro destaca que é uma motivação extra para os estudantes continuarem a estudar “para eventualmente virem a trabalhar num banco central”. Já Ana Catarina Pimenta acrescenta que “para um recém-licenciado, sem experiência no mercado de trabalho, acaba por sinalizar a dedicação e o esforço empregado no nosso dia-a-dia”, sublinhando a importância da distinção.

Ana Catarina Pimenta, economista no Departamento de Estudos Económicos do BdP, venceu o prémio Prémio Professor Jacinto Nunes no ano letivo 2015/2016D.R.

O Prémio Professor Jacinto Nunes é bem mais antigo, mas segundo os dados fornecidos pelo BdP desde o ano letivo 2004/2005 cerca de 123 estudantes já foram galardoados com a distinção, sendo que 67 foram homens e os restantes 56 mulheres. Para assinalar o ano letivo 2018/2019, o Banco de Portugal vai entregar um prémio de três mil euros aos melhores alunos de Economia de 12 faculdades do país. Com isto, a instituição pretende contribuir para a valorização do mérito e desempenho individual dos alunos.

Porquê Economia?

Com carreiras sólidas e objetivos bem definidos, os três jovens não foram sempre assim tão decididos. “Quando estava na escola secundária, para confessar, estava um pouco perdido… não sabia o que é que havia de fazer, mas gostava bastante de matemática e, por outro lado, gostava também bastante de história e política. Por isso pensei que economia combinava um pouco as três coisas“, assinala Miguel de Faria e Castro.

"A forma como o curso é tipicamente lecionado é muito a partir de explicar os conhecimentos, ou seja, os alunos têm de perceber o conteúdo e aplicá-lo nos exames. No fundo, não há muitos momentos de discussão e isso é muito importante para sermos capazes de questionar aquilo que estamos a fazer e as conclusões a que chegamos.”

Tiago Espinhaço Gomes

Consultor financeiro na Oliver Wyman

Igualmente indeciso nas suas escolhas, Tiago Espinhaço Gomes sabia que se interessava por matemática, mas, ao mesmo tempo, por ciências sociais, como a psicologia e sociologia. Perante as indecisões, o consultor financeiro não acertou logo à primeira. “Curiosamente, estive um ano em Engenheira que tinha a parte da matemática, mas sentia a falta desta segunda dimensão da parte de ciências sociais e, portanto, decidi mudar para Economia”, afirma o consultor da Oliver Wyman. Fazendo uma retrospetiva não se arrepende “de todo” de ter deixado engenharia, já que o que o fascina é “perceber quais as grandes questões que afetam a vida dos países”.

Tiago Espinhaço Gomes, consultor financeira na Oliver Wyman, foi galardoado com o Prémio Professor Jacinto Nunes em 2008/2009D.R.

Ao longo do seu percurso no mercado de trabalho, Tiago Espinhaço Gomes teve uma carreira dividida entre o setor público e o privado, mas quando decidiu apostar mais aprofundadamente na área de Economia sentiu que lhe “fazia falta voltar ao mundo privado”, uma vez que considera ser mais adequado ao seu perfil. Segundo o consultor financeiro, o setor público é “mais de investigação, de estudo”, já o setor privado tende a ser mais “trabalho aplicado”.

Nesse sentido, o economista da divisão de estudos no Banco da Reserva Federal de St. Louis aconselha os jovens a “experimentarem várias coisas“. Por outro lado, Tiago Espinhaço Gomes acrescenta que é importante os jovens “falarem com o máximo de pessoas possíveis que trabalhem nas áreas de interesse para perceberem como é que o trabalho delas é feito e se se adequa ao seu perfil”.

Quanto à formação académica em Portugal, Tiago Espinhaço Gomes considera que “a formação técnica é sólida”, mas admite que quando estudava sentiu falta da “aprendizagem em ferramentas concretas que se usam nas empresas”, como, por exemplo, ferramentas de projeções e de tratamentos. Por outro lado, sentiu falta do desenvolvimento do espírito crítico. “A forma como o curso é tipicamente lecionado é muito a partir de explicar os conhecimentos, ou seja, os alunos têm de perceber o conteúdo e aplicá-lo nos exames. No fundo, não há muitos momentos de discussão e isso é muito importante para sermos capazes de questionar aquilo que estamos a fazer e as conclusões a que chegamos“, conclui.

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