Da gestão de riscos à visão estratégica. Os desafios de liderar uma firma de advogados em 2025

Vários são os riscos que as firmas de advogados enfrentam no mercado atual. Apesar dos desafios, os líderes dos escritórios garantem que o setor é resiliente e que nem as crises “arrefecem” o setor.

Inteligência artificial (IA), complexidade dos assuntos e até as próprias expectativas dos clientes são alguns dos riscos que as sociedades de advogados enfrentam no mercado atual apontados por dois líderes. Mas uma coisa é certa, o setor da advocacia é resiliente e flexível e nem as crises económicas e políticas “arrefecem” o setor.

Para Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ, existem dois níveis diferentes de risco, sendo um deles relacionado diretamente com a própria natureza da prestação de serviços de assessoria jurídica, como a gestão da complexidade dos assuntos e expectativas dos clientes, a dificuldade em assegurar os outcomes desejados, a gestão das variáveis imprevistas e o erro humano.

“Depois há outro nível de risco, mais de continuidade do negócio, que é estrutural das organizações do setor e que obriga a estabelecer a sua mitigação como prioridade estratégica. Aqui falaria do tema da segurança da informação e da cibersegurança, a fuga de talento, a gestão dos níveis de energia das equipas, os temas de Compliance e a evolução tecnológica”, revela o líder.

Já Fernando Antas da Cunha, managing partner da Antas da Cunha Ecija, acredita que o mercado vai sofrer “significativas” alterações a curto e médio prazo. Por um lado, pelo “efeito inevitável de não ser de esperar que o setor jurídico, na componente de “market value”, continue a crescer como se tem verificado na última década”. Por outro, porque os impactos da IA serão “inevitáveis”, bem como a realidade das sociedades multidisciplinares. “O modelo de negócio propriamente dito, vai alterar-se radicalmente”, acrescenta.

De forma a monitorizar e atenuar a evolução desses riscos, na Antas da Cunha Ecija já iniciaram um conjunto de medidas para capacitar os associados com o reforço de competências complementares. O objetivo é que os profissionais se possam adaptar aquilo que entendem que vai ser a nova forma de prestar serviços jurídicos.

Ao nível externo, estamos convictos que o paradigma que se avizinha trará um enorme conjunto de oportunidades. Feliz, ou infelizmente, os advogados estão no centro de tudo. As empresas necessitam, cada vez mais, de um apoio multidisciplinar, de advogados que conheçam profundamente o setor onde os clientes atuam e que antecipem as necessidades ao nível legal para que os seus clientes se encontrem em cumprimento com as normas legais em vigor”, refere Fernando Antas da Cunha.

Por outro lado, na PLMJ entendem que existem três maneiras de gerir os riscos associados ao setor: “ter o melhor talento, foco na gestão de equipa e de assuntos e uma comunicação muito aberta e transparente com os clientes em que, desde o primeiro momento, a relação assenta em confiança e alinhamento de objetivos”.

“Nos temas mais da organização, o investimento em equipas de gestão altamente profissionalizadas e experientes e ferramentas atualizadas é crítico. Depois é uma questão de atitude e compromisso do escritório, dos sócios às áreas de gestão: monitorização contínua dos processos e da adequação das nossas ferramentas à evolução dos vários riscos”, acrescenta Bruno Ferreira.

Segundo o líder da PLMJ, é necessária a identificação e partilha de riscos para que a organização consiga construir respostas “eficazes”. “O mundo mudou muito nesse aspeto, e para melhor: já todos descobrimos que não somos imunes a risco e temos investido continuamente na nossa capacidade de resposta”, sublinha.

Das crises à globalização

No que concerne a crises económicas e políticas, os dois líderes acreditam que o setor é bastante flexível e “resiliente”, conseguindo ultrapassar as mesmas e adaptar-se. “Temos a sorte de estarmos num setor que, independentemente das flutuações do mercado e das políticas subjacentes, acabamos por ser sempre necessários. A característica mais importante é a flexibilidade”, aponta Fernando Antas da Cunha.

Bruno Ferreira alerta também que as crises políticas e económicas sucederam-se em Portugal em quase seis décadas, arriscando-se a dizer que o país “vive entre crises ou à espera da próxima”. “Aquilo que aprendemos é que o setor e a PLMJ, pelo perfil de clientes que tem, é especialmente resiliente. Não é um negócio completamente condicionado por ciclos económicos. Em contextos expansionistas temos áreas mais fortes, em contextos de contração, temos outras”, refere.

Em termos exemplificativos, o managing partner da PLMJ aponta a área de M&A como aquela que se recente mais em ciclos de juros elevados e a de Laboral que beneficia em momentos mais “desafiantes” da economia.

E como é que é possível equilibrar a gestão dos riscos com a visão estratégica e de crescimento em cargos de liderança de escritórios de grande dimensão? Segundo Bruno Ferreira, com uma grande coesão dos sócios em torno de uma visão comum e partilhada.

“Ao contrário de uma sociedade comercial típica, os escritórios têm os seus “acionistas” a trabalhar dentro de casa e diretamente para o negócio. São o próprio negócio. E, por isso, é crucial que seja estabelecido um alinhamento entre todos sobre o que é risco, o que são oportunidades e estratégias de crescimento e como é que se ataca uma e outra”, explica.

Já para Fernando Antas da Cunha, não vale a pena fazer planos estratégicos a dez anos, uma vez que a realidade é “muito volátil”, pelo que têm de ser ágeis. “Sem prejuízo, tem de existir uma clara visão, principalmente do posicionamento pretendido. Uma vez que sabemos o que queremos, é mais fácil seguir uma linha orientadora, ainda que tenhamos de nos ajustar às contrariedades da economia”, aponta.

Uma coisa é certa, o líder da Antas da Cunha Ecija considera que o aumento da concorrência e da globalização impactam a sustentabilidade das sociedades de advogados. “O mundo caminha para cada vez maiores concentrações. As empresas multinacionais procuram soluções de one-stop-shop. Ao nível da organização do setor, não podemos ignorar a nova realidade das sociedades multidisciplinares, assim como o novo paradigma de termos de concorrer com as grandes consultoras”, refere.

Por outro lado, Bruno Ferreira entende que as firmas têm de saber “onde querem estar”, “garantir que têm o que é preciso para serem extraordinários” e “manterem-se fiéis” à sua visão, só assim é possível pensar no que precisam para assegurar a estabilidade.

“Se a concorrência e a globalização são variáveis? Sim. Mas a concorrência não é a mera existência de outros assessores jurídicos alternativos, é haver uma proposta de valor que, a longo prazo, entregue resultados comparáveis ou melhores que os nossos. E aí estamos, de facto, numa posição privilegiada pela qual trabalhámos e trabalhamos muito todos os dias”, aponta.

O managing partner da PLMJ considera que para um país do tamanho de Portugal a globalização só significou coisas boas para o setor. “Somos um país suficientemente atrativo para os clientes mas insuficientemente rentável para as grandes marcas de advocacia internacionais, salvo raras e honrosas exceções, mas que creio que nem todas elas olharão todos os dias para Portugal como um país que faz sempre sentido no seu mix de geografias”, conclui.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Da gestão de riscos à visão estratégica. Os desafios de liderar uma firma de advogados em 2025

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião