Entre efeitos especiais, produções internacionais e um elenco de peso, dar vida a uma das séries mais populares do mundo envolve muito investimento, mas com retorno. O turismo é um dos beneficiados.
Na guerra pelo trono, há muito ouro envolvido. Uma das séries mais populares de todos os tempos está a chegar ao fim, com a estreia da temporada final marcada para 14 de abril nos Estados Unidos, madrugada de segunda-feira em Portugal. Quantos milhões se movimentam por detrás das famílias, dos dragões e castelos de Westeros?
Entre batalhas de grande dimensão, criaturas míticas e magia, tudo com um cenário de época, desde as roupas e caracterização até às tabernas e castelos, a produção da Guerra dos Tronos é avultada. O custo dos episódios tem vindo a aumentar à medida que as expectativas dos fãs crescem, e a fatura destes seis capítulos finais é de 90 milhões de dólares, o que fará dela a temporada mais cara de sempre. Feitas as contas, cada episódio desta oitava temporada custou 15 milhões de dólares.
Apesar de serem menos episódios do que o habitual, pode preparar as pipocas, porque a duração será mais semelhante a um filme do que uma série. Os dois primeiros episódios vão rondar os 50 minutos, mas os quatro que se seguem vão ter todos cerca de uma hora e vinte minutos.
O elenco que desempenha alguns dos personagens mais poderosos na série também arrecada recompensas altas. Cinco dos atores principais renegociaram os salários para as duas últimas temporadas, e conseguiram garantir uma soma de 500 mil dólares por episódio, um aumento de 200 mil dólares face ao que recebiam anteriormente, de acordo com a Variety.
Emilia Clarke, que representa a mãe dos dragões, Daenarys, e Kit Harington, aquele que não sabe nada, Jon Snow, estão entre os contemplados. Os irmãos Lannister, desempenhados por Nikolaj Coster-Waldau, Peter Dinklage, e Lena Headey, respetivamente Jaime, Tyrion e Cersei, completam a lista dos atores que vão receber um total de 3 milhões de dólares, cada, pelas performances nesta última temporada.
Mas esta é uma aposta que, para a HBO, compensa. Além de ser uma das séries mais premiadas de sempre: 47 Emmys desde o lançamento. As transmissões da Guerra dos Tronos têm batido recordes de audiências, e trouxeram muitos novos subscritores para o canal, que chegou a Portugal em fevereiro deste ano. As estimativas apontam para que a HBO já tenha arrecadado cerca de mil milhões de dólares com a série, segundo o The New York Times.
“Existem algumas séries de televisão de inspiração fantástica, mas nenhuma teve o impacto da Guerra dos Tronos na produção tanto de séries de televisão, como no renovado interesse pelo género da fantasia, seja na literatura, no cinema ou na televisão”, diz Diana Marques, que está, neste momento, a escrever a sua tese de doutoramento sobre A Song of Ice and Fire, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), ao ECO.
As audiências evoluíram de pouco mais de dois milhões de espetadores nos Estados Unidos no início da série, para dez milhões de espetadores na última temporada. O episódio mais visto de toda a série foi o último a ser exibido, o final da sétima temporada. “O Dragão e o Lobo” foi visto, em direto e nos serviços de streaming, por 16,5 milhões de pessoas, de acordo com a HBO. A estes fãs juntam-se ainda os espetadores em mais 186 países onde a série é exibida na televisão.
“O público aderiu à série em grande medida por apresentar um universo fantástico diferente daquele que se constituiu após Tolkien”, o autor dos livros do Senhor dos Anéis, explica Angélica Varandas, professora de “Ficção Científica e Fantasia de Expressão Inglesa” na FLUL, ao ECO. “As pessoas revêm-se neste universo que não é meigo ou delicodoce, mas muito próximo das vivências e ansiedades do mundo de hoje”, reitera.
Por cá, a série é transmitida no SyFy, e agora junta-se também a casa mãe HBO. Mas nem todos os fãs veem pelos canais oficiais, optando invés por descarregar da internet. A Guerra dos Tronos foi a série televisiva mais pirateada do mundo por seis anos consecutivos, segundo uma compilação feita pela página especializada Torrentfreak. Em 2018 não lançou nenhum novo episódio, perdendo a liderança.
19 de maio é a data que marca o episódio final desta série que mudou tanto no panorama televisivo, mas não quer dizer que seja o fim. A HBO já tem nos planos prequelas e sequelas desta história, que vão fazer perdurar a memória deste mundo imaginado pelo escritor George R. R. Martin na coleção de livros das “Crónicas de Gelo e Fogo”, da qual foram vendidas mais de 90 milhões de cópias globalmente.
“O legado que fica da Guerra dos Tronos é a de uma série que modificou o panorama televisivo, que gerou discussão quanto a inúmeros tópicos, que marcou uma geração de fãs de televisão, de fantasia, que todas as semanas ficaram colados aos ecrãs na expectativa de saber o que vinha a seguir”, indica Diana Marques. “Esta série é daquelas séries que mesmo que não se tenha visto, de certeza de que já se ouviu falar“, acrescenta.
Visitar Westeros fora dos ecrãs
A inspiração do autor para a terra que serve como palco para a Guerra dos Tronos foi, em grande parte, a Europa medieval. Como tal, várias cidades do Velho Continente apresentaram-se para os produtores responsáveis pela adaptação televisiva como o cenário ideal.
Com o sucesso da série, o turismo nos locais de filmagem floresceu. Para além de despertar a curiosidade para conhecer os sítios, começaram mesmo a ser criadas vários tours especiais pelas zonas da Guerra dos Tronos. De acordo com um relatório do TripAdvisor, de 2017, o interesse dos turistas nos locais de filmagem da série aumentou, em média, 120%, chegando até a triplicar em casos específicos de monumentos que se tornaram um símbolo de certas famílias da história.
“As pessoas sentem-se atraídas por estes lugares talvez por lhes darem a sensação de que, de alguma forma, provaram um pouco de Westeros”, aponta Diana Marques. “Tal como as filmagens de O Senhor dos Anéis suscitaram interesse pelas paisagens da Nova Zelândia e ter sido, posteriormente, criada uma atração turística por intermédio da qual as pessoas podem visitar Hobbiton, a localidade do Shire de onde vêm os hobbits“, exemplifica.
O centro das produções é a Irlanda do Norte, onde são filmadas a maior parte das cenas no interior, bem como os exteriores mais gerais, nomeadamente as travessias pelas estradas e florestas. Em 2016, a série já tinha trazido para a região cerca de 244 milhões de euros, decorrentes das filmagens e do turismo, de acordo com as estimativas da Northern Ireland Screen.
O território dos selvagens, na série, é filmado ainda mais a norte. As paisagens cheias de neve da Islândia enchem-se de câmaras e equipamentos para albergar a comitiva da Guerra dos Tronos. Este é um dos destinos mais populares para os fãs da série que querem ver os locais das histórias com os seus próprios olhos.
Já a sul, a Croácia foi a escolha dos produtores. Tendo começado as filmagens neste local numa altura em que a economia do país estava a atravessar um período difícil ajudou a dar um impulso. Mas a explosão de visitantes foi tal que até levou à imposição de limites no número de turistas no centro de Dubrovnik, retratara na série como King’s Landing.
Mesmo aqui ao lado, em várias cidades espanholas, como Sevilha, Girona e Córdoba, regiões do universo da Guerra dos Tronos também ganharam vida. As filmagens no país começaram a partir da quinta temporada, para mostrar o reino de Dorne. Pouco depois de arrancar a produção, o embaixador norte-americano em Espanha indicava já à Vox que o turismo local nas áreas visadas tinha aumentado 15%. Esta tendência cresceu, sendo que nas temporadas a seguir os cenários do país serviram para encaixar ainda mais cenas.
Algumas regiões em Malta e Marrocos brilharam também no ecrã. Apesar só terem recebido a produção da série numa temporada, são incluídos nos tours dedicados ao programa e atraíram o interesse dos turistas. A cidade marroquina Ait Ben Haddou, que na série apareceu como as regiões Yunkai e Pentos, é a segunda atração da Guerra dos Tronos mais partilhada no Instagram.
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