Lexstream leva a IA ao serviço do conhecimento humano

Com o objetivo de unir o Direito e a tecnologia, foi lançado a Lexstream. Um projeto inovador que quer transformar o ensino jurídico através de IA, com foco em formatos modernos como vídeos e podcast

A Lexstream é o novo projeto que pretende entregar uma forma “radicalmente diferente” de aprender Direito. Fundada por Francisco de Abreu Duarte, Gonçalo Carrilho e Norberto de Andrade, o projeto quer ser uma “ponte muito necessária” entre o bom conhecimento jurídico, humano e de qualidade, e uma entrega e forma “modernas”, usando inteligência artificial (IA) para transmitir esse conhecimento.

“A Lexstream vem dar resposta a um fosso cada vez maior entre os modelos tradicionais de educação jurídica – assentes sobretudo na leitura e repetição de textos escritos – e a forma contemporânea como os nossos alunos e profissionais querem aprender, sobretudo assente em formatos mais curtos, com predominância de vídeo, podcasts e interatividade”, explica à Advocatus o fundador Francisco de Abreu Duarte.

O projeto oferece dois tipos de soluções B2B, a empresas, universidades e escritórios de advocacia – a Lexstream Studio e Lexstream Consulting. Em ambos os serviços, integram a oferta de IA ao serviço do conhecimento humano.

Com a Lexstream Studio, pretendem cristalizar o conhecimento jurídico em novos formatos. “Pensemos num documento aborrecido de centenas de páginas de onboarding de novos colaboradores que todos os anos é explicado pelo managing partner. Com a Lexstream Studio as empresas e escritórios podem transmitir essas regras através de avatares ultrarrealistas, podcasts, quizzes interativos, ou através de uma experiência imersiva que inclua tudo isso”, exemplifica o fundador, sublinhando o papel que a IA pode ter neste processo.

Já com a Lexstream Consulting, procuram ajudar as empresas a adotarem a utilização de IA de forma responsável, através da criação de formações que ajudam os clientes a compreender a tecnologia e o quadro jurídico em que se insere o desenvolvimento de IA.

O Direito é um setor com uma tradição forte, mas é cada vez mais claro que escritórios e universidades têm de adaptar os seus métodos para dar resposta a um desenvolvimento tecnológico que coloca obstáculos sérios e diretos aos seus modelos de negócio.

Francisco de Abreu Duarte

Sócio fundador

Uma coisa é certa, acreditam que estabeleceram uma ponte entre o Direito e a tecnologia, implementando soluções à medida do que cada escritório ou universidade precisa. À Advocatus, Francisco de Abreu Duarte revelou que implementaram soluções de inovação que as firmas podem oferecer aos seus próprios clientes, como a venda de formação digital aos clientes transformada pela Lexstream.

“O Direito é um setor com uma tradição forte, mas é cada vez mais claro que escritórios e universidades têm de adaptar os seus métodos para dar resposta a um desenvolvimento tecnológico que coloca obstáculos sérios e diretos aos seus modelos de negócio. Talvez por se tratar de um momento com tamanho impacto, esta mudança é muitas vezes encarada como uma tarefa demasiado assustadora para atacar e é deixada para segundo plano”, sublinha o fundador.

A Lexstream pretende assim chegar a todo o tipo de pessoas, tendo por isso criado vários níveis de complexidade e vão lançar diferentes linhas de B2B e B2C que procurarão a literacia digital mais generalizada.

Duas vozes, um podcast

A Lexstream lançou também um podcast e uma newsletter semanal com todas as novidades do mundo do Direito e Tecnologia, o Byte the Law. Com dois hosts com vozes 100% geradas por IA, Sue Databyte e Justin Case, o podcast pretende manter o conhecimento “fiável” e “humano” no centro dos projetos e delegar a forma como entregam esse conhecimento em sistemas de IA.

Segundo Francisco de Abreu Duarte, o resultado é uma mistura “perfeita” entre conteúdo preparado, palavra por palavra, pela sua equipa de doutorandos em Direito e tecnologia, mas depois narrada – “com bastante humor” – por sistemas de IA. “O processo em si envolve bastante criatividade da nossa equipa e trabalho humano, mas ao contrário de outras empresas da área, acreditamos que manter os humanos no centro do conhecimento é um fator essencial para salvaguardarmos a nossa própria relevância”, acrescenta.

Mas se pensa que os hosts não têm personalidade própria está enganado. O projeto decidiu criar duas personalidades com visões distintas. Por exemplo, a Sue Databyte tem uma personalidade pró-tecnologia, com referências constantes à sua própria existência enquanto IA e ao facto de os humanos estarem a ser ultrapassados. Já o Justin Case é um host mais conservador, normalmente usado para reter informações regulatórias, discutindo os riscos de uma evolução tecnológica para os direitos fundamentais.

“O que torna o podcast único é mesmo esta discussão constante entre as perspetivas de inovação e regulação, o tipo de debate que vemos hoje como crucial para o futuro da União Europeia”, assume.

Apesar da voz ser “artificial”, o conteúdo é real e escrito por humanos, uma decisão que se prende com a visão do projeto: “human at the center”.Nós não queremos entregar um produto feito com IA só para dizer que somos parte da nova vaga de produtos IA. São formas totalmente distintas de encarar a utilização da IA”, refere. Assim, assume que preferiram usar este tipo de ferramentas como um apoio secundário ao humano, que continua a escrever “conteúdo fiável de acordo com a sua experiência”.

Das firmas ao futuro

Um dos focos do projeto é as firmas de advogados e já há novas colaborações a serem lançadas. Juntamente com a NLP Legal, lançaram o IntelectuALL, uma plataforma de conhecimento integralmente dedicada à propriedade intelectual, onde a informação é entregue de “forma inovadora”.

“Neste caso, temos a Heidi, uma avatar ultrarrealista, pronta a responder às questões que qualquer pessoa tenha sobre o tema. As questões são selecionadas pela própria pessoa – não existe um vídeo igual para toda a gente. A experiência é interativa e personalizada para cada utilizador. Este é o tipo de potencialidades que a Lexstream introduz e as reações têm sido espetaculares”, explica Francisco de Abreu Duarte.

Para além disto, entre os serviços que tipicamente oferecem às firmas de advogados estão as formações altamente especializadas em IA, criação de programas de onboarding, produção de formações para venda a terceiros com conhecimento desses escritórios ou a implementação de sistemas de gestão de conhecimento inteligentes.

Até ao momento, o feedback que têm recebido tem sido “muito positivo”, até por parte de instituições mais conservadoras como as universidades, e assumem que a sua oferta está a “marcar a diferença”. “Vemos sobretudo que a Lexstream gera um grande entusiasmo nos nossos clientes, por exemplo, com os nossos avatares ultrarrealistas, como o do professor Miguel Poiares Maduro, e isso dá-nos uma motivação extra para continuarmos o caminho que está por trás de cada produto que oferecemos”, sublinha.

Mas o projeto não fica por aqui: já estão a trabalhar na terceira peça do puzzle, a Lexstream Hub, que estará disponível em breve. “Vamos ter papers e livros de académicos reconhecidos convertidos em formatos interativos (vídeo, áudio e leituras) para promover a literacia digital na União Europeia. Qualquer pessoa vai poder aceder a estes materiais numa lógica de um ‘Spotify para Direito’ ouvindo e assistindo ao trabalho jurídico em 27 jurisdições”, revela.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Lexstream leva a IA ao serviço do conhecimento humano

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião