Apesar do ganho de 170% nas ações em 2023, o CEO da Mota-Engil diz ao ECO que a capitalização bolsista de mil milhões de euros “continua a não traduzir o valor real do grupo”. Os analistas concordam.
Menos de oito meses depois de Carlos Mota dos Santos ter assumido a liderança da empresa, as ações da Mota-Engil acumulam uma valorização anual superior a 170% e negoceiam em máximos de 2018. A construtora é a “estrela” da bolsa portuguesa em 2023, tendo registado uma tendência ascendente quase contínua que a coloca a caminho do melhor ano de sempre no mercado acionista português. Mas apesar de o mercado ter reconhecido a evolução positiva da Mota-Engil, o CEO continua insatisfeito com o desempenho. ”A cotação atual da ação continua a não traduzir o valor real do grupo”, refere Carlos Mota dos Santos, em declarações por escrito a questões colocadas pelo ECO.
No arranque de 2023, a Mota-Engil tinha um valor de mercado em redor dos 350 milhões de euros e já na altura o CEO mostrara não estar nada satisfeito, dizendo ao Negócios que a empresa valia, seguramente, em termos de market cap, acima de mil milhões de euros. Tendo em conta o máximo de 3,26 euros fixado pelas ações na semana passada (12 de setembro), a capitalização bolsista atingiu precisamente mil milhões de euros, deixando a cotada numa fasquia que pode atrair uma série de novos investidores institucionais que não olham para cotadas com apenas nove dígitos de market cap.
A Mota-Engil é atualmente a 12.ª maior cotada do PSI, à frente de empresas como a Altri, Greenvolt, CTT e Ibersol. E a uma distância mais curta da Semapa e Corticeira Amorim. Esta segunda-feira as ações cederam 2,34% para 3,13 euros, o que corresponde a uma capitalização bolsista de 960 milhões de euros.
“Mais do que a velocidade com que atingimos os 1.000 milhões de capitalização bolsista, o importante para o Grupo Mota-Engil e para a sua Administração é a consistência da performance do Grupo, que vem sendo positiva em crescimento mas com o foco na rentabilidade, o que efetivamente tem sido reconhecido pelo mercado e refletido na evolução da cotação desde o início do ano”, diz Carlos Mota dos Santos.
Mais do que a velocidade com que atingimos os 1.000 milhões de capitalização bolsista, o importante para o Grupo Mota-Engil e para a sua Administração é a consistência da performance do Grupo, que vem sendo positiva em crescimento mas com o foco na rentabilidade, o que efetivamente tem sido reconhecido pelo mercado e refletido na evolução cotação desde o inicio do ano. No entanto, a cotação atual da ação continua a não traduzir o valor real do grupo.
Analistas otimistas
Os analistas dão suporte a esta perspetiva de que a forte valorização das ações em 2023 não esgotou o potencial de alta da cotada em bolsa. “Caso venham a ser celebrados novos contratos de grande monta, ou face a resultados trimestrais acima das expectativas, a avaliação poderá vir a subir”, diz Artur Amaro, analista do CaixaBI, que em julho definiu um preço-alvo de 3,20 euros para as ações da Mota-Engil, mas alerta que as avaliações são “dinâmicas”.
A JB Capital Markets subiu o preço-alvo das ações da Mota-Engil para 3,40 euros a 1 de setembro. O CaixaBank/BPI subiu a avaliação das ações de 3,89 euros para 4,78 euros por ação, num research publicado em junho. Face à cotação atual, o potencial é de 50%.
A melhoria dos indicadores operacionais da Mota-Engil, a par de uma estratégia de comunicação com o mercado mais agressiva, ajudam a explicar o bom desempenho das ações em 2023. Reflexo desta nova estratégia, a construtora vai regressar à apresentação de resultados trimestrais, o que em conjunto com o anúncio constante de novos contratos, pode representar um novo catalisador para os títulos.
Artur Amaro avança com diversas justificações para a forte subida das ações da Mota-Engil. Desde logo, porque a “ação estava efetivamente ‘barata’/desvalorizada, face a uma avaliação fundamental e face ao nível recorde da carteira de encomendas”. Mas também devido à “pro-atividade comercial da empresa em ganhar novas obras de grande vulto, nomeadamente em África e na América Latina”. Além disso, “a chegada de um CEO mais novo e perto do mercado, terá igualmente ajudado”, assinala o analista em declarações por escrito ao ECO.
A entrada dos chineses da China Communications Construction Company (CCCC) no capital da empresa em maio de 2021, bem como o aumento de capital que elevou o free float (parcela do capital disperso por acionistas minoritários) para cerca de um quarto do capital também representou um ponto de viragem na história da Mota-Engil em bolsa.
Depois de ter mais do que duplicado de valor em 2017, seguiram-se cinco anos em que a construtora apenas valorizou num deles (16% em 2019), sendo que em 2021 e 2022 as desvalorizações foram menos expressivas.
Carteira de encomendas permite abordar os próximos anos de uma forma positiva
A atualização do plano estratégico com horizonte em 2026 que foi efetuada no final de agosto ajudou a sustentar a valorização das ações, uma vez que a companhia reviu em alta as suas metas de resultados, em função de uma carteira de encomendas que se situa num nível recorde de 13 mil milhões de euros.
A Mota-Engil estima chegar a 2026 com receitas de acima de 6 mil milhões de euros, o que pressupõe um crescimento médio anual (CAGR) de 16% e compara com os 3,8 mil milhões de euros de 2022. O EBITDA deverá registar um CAGR de 17%, ficando já perto dos mil milhões de euros em 2026, enquanto o resultado líquido é visto a chegar aos 180 milhões de euros no último ano do plano.
A construtora fechou 2022 com lucros de 41 milhões de euros e os analistas estimam que a barreira dos 100 milhões só será superada em 2025. “Mais do que o momento em que atingimos a meta dos 100 milhões de euros, o que é verdadeiramente importante é assegurar a consistência dos resultados que queremos atingir no futuro, ano após ano, e isso temo-lo feito com a superação de marcos relevantes em carteira de encomendas que permitem abordar os próximos anos de uma forma positiva”, refere Carlos Mota dos Santos
O CEO acrescenta que os projetos de dimensão média superior “têm uma exigência superior”, mas “asseguram previsibilidade no planeamento e geração de cash-flow”, pelo que “conjugando crescimento, rentabilidade e geração de cash-flow estaremos a assegurar um crescimento sustentável para o Grupo Mota-Engil que é o nosso foco, construindo o presente mas preparando o longo prazo”.
As expectativas de Artur Amaro apontam para que as “metas estratégicas venham a ser atingidas, até porque as anteriores eram de facto pouco ambiciosas, e porque a carteira de encomendas perto de 13 mil milhões de euros perspetiva uma evolução favorável de faturação para os próximos anos”.
Caso venham a ser celebrados novos contratos de grande monta, a avaliação poderá vir a subir, ou face a resultados trimestrais acima das expectativas. As nossas avaliações são “dinâmicas”.
Crescimento no México, Angola e Nigéria
O crescimento da atividade da Mota-Engil é evidente na ascensão ao 14.º lugar no ranking das maiores construtoras europeias, como foi anunciado recentemente. O Plano Estratégico traça metas que colocam as receitas e o EBITDA a duplicar em 2026 os valores alcançados em 2021.
Para alcançar este objetivo, o Plano Estratégico foca a construtora nos mercados “core”, onde a empresa já concentra 80% da carteira de encomendas, ou seja, cerca de 10 mil milhões de euros.
O CEO destaca que “México, Angola e Nigéria serão os maiores drivers de crescimento nos próximos anos”, sendo que “países como Moçambique, Peru e Brasil continuarão a ser muito importantes, a par de Portugal, onde estamos convictos que, com os projetos que estão anunciados e onde destaco a Alta Velocidade, poderá ser um mercado relevante nos próximos anos”.
O abrandamento da economia global pode representar um travão ao crescimento da Mota-Engil, embora a valorização das matérias-primas (sobretudo o petróleo) beneficie a atividade da empresa em diversos países onde está presente, como é o caso de Angola, Nigéria e Moçambique.
O analista do CaixaBI assinala que a Mota-Engil “está sujeita a setores de atividade cíclicos”, que “estão diretamente correlacionados com o ciclo económico, pelo que um abrandamento da economia mundial em teoria representa uma ameaça ao crescimento da empresa”. “Contudo, mais do que o abrandamento económico a nível mundial, a empresa é ou não afetada pelo ciclo económico dos países/mercados mais importantes, atualmente: México, Angola e Nigéria”, destaca Artur Amaro.
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