A elite empresarial saiu do sofá
Líderes de 42 empresas saíram da sua zona de conforto para contribuirem para uma mudança no país. Há esperança nas elites empresariais portuguesas.
Business Roundtable Portugal, ou o acrónimo BRP. Já ouviu falar? Se não ouviu, vai ouvir. É uma associação, um think-tank, um grupo de pressão, e muito mais. São 42 empresas e respetivos líderes (a lista é esta) que saíram da sua zona de conforto, a liderança de grandes empresas portuguesas que já são suficientemente relevantes para dispensarem estes ‘trabalhos’, o escrutínio e a avaliação do compromisso no debate público. Quando tanto se criticam as elites, e particularmente os empresários e líderes das maiores empresas, a criação do BRP é uma boa notícia.
Portugal está estagnado há 20 anos, e não é possível considerar que vamos mudar de vida se continuarmos a fazer tudo da mesma maneira. Os resultados, como deveria ser evidente, vão ser mais ou menos os mesmos. E ainda esta semana saiu mais um indicador que deveria ser um sobressalto (porque as políticas são ferramentas para um objetivo, o bem estar dos cidadãos). Portugal foi ultrapassado em 2020 pela República Checa no consumo per capita em percentagem da média europeia, um indicador do bem-estar económico dos cidadãos publicado pelo Eurostat. Ora, na apresentação pública do BRP, foi anunciado um mote — “Uma nova ambição para Portugal” — que se traduz num objetivo: Por Portugal entre os 15 países com maior PIB per capita na União Europeia. Com mudanças na Educação/Formação, nas Empresas e no Estado.
Os decisores políticos em Portugal teimam em definir dezenas de metas e objetivos, que, regra geral, servem sobretudo para evitar qualquer tipo de avaliação. Quantos mais objetivos, mais dificuldade em avaliar o seu cumprimento. E depois há sempre bons argumentos para justificar desvios. Assim, com um objetivo maior — estar no top 15 do PIB per capita da União Europeia — será fácil avaliar se este business roundtable cumpriu os objetivos.
É evidente que o sucesso deste think-tank não depende apenas das propostas e da reflexão que vier a ser apresentada. Depende da sua capacidade para convencer os decisores políticos em cada momento da bondada dessas propostas, da viabilidade e potencial sucesso. Vasco Mello, Cláudia Azevedo ou António Rios Amorim (para citar apenas estes três nomes) estão habituados a definir objetivos e a serem avaliados pelo seu cumprimento, seja pelos clientes, seja pelos acionistas. Agora, expõem-se a uma avaliação do país. Serão capazes de contribuir, de forma ativa e exigente, para um bem comum para lá do que já fazem nas suas empresas?
Depois de semanas a ver e ouvir os grandes devedores do BES/Novo Banco, a exposição pública de um regime e um sistema, é um alívio ver as elites empresariais a tomarem a iniciativa, a mostrarem que há muito mais nas empresas do que o círculo que capturou o país e contribuiu para a bancarrota em 2011. É também o momento para se afirmarem.
Para já, as 42 empresas têm um compromisso para os próximos três anos, um compromisso também financeiro, porque isto não se faz sem investimento. E aí se verá se as elites empresariais estarão à altura das exigências deste projeto, se estarão preparados para o confronto (porque vai haver confronto, sobretudo num país que não gosta de empresas e menos ainda de grandes empresas), se estarão disponíveis para a ‘chatice’ do debate público e do previsível populismo sobre este movimento. Se não estiverem, quem perde é o país. Eles vão à sua vida.
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