
A lente certa para olhar a sustentabilidade
A sustentabilidade deve ser entendida como capital, não apenas como uma operação de disfarce para agradar 'stakeholders' que cada vez menos vão em conversas ocas de todo o tipo de 'washing' possível.
No ambiente socioeconómico que atravessamos, em Portugal e no mundo, altamente volátil, dinâmico, com aprofundamento de extremismos, visões opostas e teorias da conspiração, a sustentabilidade tem sido posta em causa por razões diversas. Há quem negue que o nosso futuro comum possa estar em causa, é há quem só veja custos neste caminho a percorrer.
Muitos gestores encaram a sustentabilidade como uma obrigação cara, um “mal necessário” imposto por regulamentação ou pela pressão social. Provavelmente, estarão a olhar a sustentabilidade pela lente errada.
É verdade que muitas vezes os primeiros passos podem parecer mais onerosos. Medir a pegada de carbono, investir em energias renováveis, redesenhar processos produtivos ou apostar na circularidade exige tempo, tecnologia e, sem dúvida, investimento financeiro de retorno nem sempre imediato. Mas, a pergunta a fazer é outra: quanto custa não agir? Uma tempestade que paralisa uma fábrica durante meses, um fogo que a consome na totalidade, ou uma crise energética que multiplica os custos de produção têm impactos incomparavelmente superiores ao investimento necessário para preveni-los.
A sustentabilidade deve ser entendida como capital, e não apenas como uma operação de disfarce para agradar stakeholders que cada vez menos vão em conversas ocas de todo o tipo de washing possível, do green, ao social ou até ao pink. A prática, o dia a dia empresarial, revela que a sustentabilidade é um investimento estratégico consistente a médio e longo prazo que fortalece empresas, protege comunidades e garante futuro.
A eficiência energética reduz custos, a economia circular potencia oportunidades de negócio e mitiga riscos de escassez de matérias-primas, e produtos com menor impacto ambiental conquistam consumidores cada vez mais exigentes e atentos. Em muitos casos, os ganhos só são visíveis em três, cinco ou dez anos, e talvez daqui advenha a dificuldade em ver a vantagem competitiva que é a sustentabilidade, muito embora este seja exatamente o horizonte temporal de qualquer investimento sólido.
Outros casos há com ganhos mais visíveis imediatos, que se acumulam ao longo dos anos. Os resultados, esses, continuarão a multiplicar-se, demonstrando que a sustentabilidade gera, sim, valor económico, a par do valor ambiental e social.
Falar de sustentabilidade, é falar de inovação e de transformação. É preciso mudar a lente com que se perspetiva a sustentabilidade: do curto para o longo prazo, do custo imediato para a criação de valor contínuo.
Há empresas que já têm esta visão no seu ADN e, por isso, prosperam ao longo dos anos e crescem. Outras há que precisam de fazer esta mudança. Cada líder empresarial tem hoje a oportunidade, e a responsabilidade, de assumir a sustentabilidade como vantagem competitiva. Mais do que uma escolha acertada, é a única escolha sensata para quem quer prosperar num mundo em mudança.
“Mudar a lente” nesta matéria é o que se pede aos líderes do futuro, porque o futuro não espera.
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