A Maximização do Valor do Resseguro

  • Nuno Oliveira Matos
  • 12:03

Nuno Oliveira Matos defende que o resseguro não deve ser simples transferência de risco, mas antes um instrumento de inovação contínua e resiliência proativa. Um verdadeiro catalisador para o setor.

O resseguro é uma ferramenta essencial na gestão de riscos das empresas de seguro direto, permitindo-lhes transferir parte das suas responsabilidades técnicas para uma entidade terceira, o ressegurador, mediante o pagamento de um prémio. Essa transferência reduz a exposição a perdas significativas, fortalece a solvência e protege a situação patrimonial das empresas de seguro direto, garantindo previsibilidade no retorno ajustado ao risco. Além disso, mitiga a volatilidade do desempenho financeiro, mesmo em cenários adversos, proporcionando resiliência e estabilidade. O resseguro, ao permitir uma gestão de riscos eficaz e eficiente, possibilita também a oferta de produtos mais competitivos e inovadores no mercado.

No entanto, embora vital, o resseguro é um custo, que diminui a margem de lucro das empresas de seguro direto. Assim, é fundamental que as empresas de seguro direto equilibrem a quantidade e o tipo de resseguro, alinhando-o com o seu apetite pelo risco e com os requisitos de capital de solvência atuais e prospetivos à luz dos objetivos de negócio. Neste contexto, surge o conceito de fronteira eficiente de resseguro, uma abordagem que ajuda as empresas de seguro direto a identificar o ponto ótimo entre risco e retorno, no que à cobertura de resseguro respeita.

O mercado, as condições regulamentares e as preferências dos tomadores e segurados estão em constante evolução. As empresas de seguro direto devem, portanto, monitorizar e atualizar regularmente as suas estratégias de resseguro

A fronteira eficiente de resseguro é uma representação gráfica que ilustra a relação entre o risco e o retorno de diversas estruturas de resseguro. Cada estrutura é definida por parâmetros como a qualidade do ressegurador, a capacidade oferecida, o nível de retenção, as taxas de prémio e comissão, além de potenciais mecanismos de participação nos resultados. O risco e o retorno podem ser avaliados através de indicadores como a probabilidade de ruína, o lucro esperado, o retorno ajustado ao risco e o Value-at-Risk (VaR).

A identificação da fronteira eficiente é realizada por meio de simulações financeiras, sendo a Análise Financeira Dinâmica (DFA) uma técnica fundamental. A DFA modeliza as principais variáveis que impactam o desempenho financeiro de uma empresa de seguro direto, como prémios, comissões, sinistros, recuperações, despesas operacionais e rendimentos dos investimentos. Através de milhares de simulações, a DFA permite estimar a distribuição multivariada do desempenho financeiro e da solvência da empresa de seguro direto, sob diferentes estruturas de resseguro. Com base nesses resultados, as empresas de seguro direto podem identificar as estruturas que otimizam o equilíbrio entre risco e retorno, delineando assim a sua fronteira eficiente de resseguro.

A fronteira eficiente destaca as combinações de resseguro que oferecem o maior retorno para um determinado nível de risco, ou o menor risco para um dado retorno. Qualquer estrutura abaixo dessa fronteira é subótima, pois não maximiza o retorno ou minimiza o risco de forma eficiente.

É crucial lembrar que a fronteira eficiente de resseguro não é estática. O mercado, as condições regulamentares e as preferências dos tomadores e segurados estão em constante evolução. As empresas de seguro direto devem, portanto, monitorizar e atualizar regularmente as suas estratégias de resseguro, adaptando-se às novas circunstâncias, para manter uma posição competitiva e sustentável.

A maximização do valor do resseguro não se limita à otimização de modelos financeiros ou à definição de estruturas eficientes. Ela envolve uma visão que transcende o presente, antecipando a estratégia, riscos emergentes e mudanças no ambiente regulatório e tecnológico. No futuro, as empresas de seguro direto que dominarem essa dinâmica terão não apenas a vantagem competitiva de equilibrar risco e retorno, mas também a agilidade de transformar desafios imprevistos em oportunidades sustentáveis. O resseguro, assim, deixa de ser uma simples transferência de risco para se tornar um instrumento de inovação contínua e resiliência proativa e, bem assim, um verdadeiro catalisador da evolução do setor.

  • Nuno Oliveira Matos
  • Sócio da Carrilho & Associados, SROC

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