Adoção de IA generativa pelos gestores

  • Jorge Costa Silva, Francisco Lima e Miguel Mira da Silva
  • 6:55

Um estudo recente de investigadores do INESC-INOV obteve resultados que sugerem que os gestores encaram a GenAI não como uma moda, mas como uma ferramenta estratégica.

Um estudo recente de investigadores do INESC-INOV revela que, para os gestores, a decisão de adotar ferramentas de Inteligência Artificial Generativa (GenAI), como o ChatGPT, é sobretudo pragmática. O fator determinante é a expectativa de melhoria do desempenho profissional, enquanto aspetos como a pressão dos pares, a facilidade de utilização ou o prazer associado ao uso têm impacto reduzido ou irrelevante.

O trabalho procurou colmatar uma lacuna na literatura, analisando especificamente a forma como gestores portugueses estão a integrar estas tecnologias no seu quotidiano profissional. Para tal, foi conduzido um inquérito online a 347 gestores, todos antigos alunos de uma escola de negócios nacional. Os dados foram tratados através de um modelo estatístico que expande o UTAUT2, permitindo conclusões robustas.

A percepção de ganho de produtividade surge como o principal motor: 88,8% dos inquiridos concordaram ou concordaram totalmente que a GenAI os ajuda a executar tarefas mais rapidamente.

De forma surpreendente, fatores tradicionalmente associados à difusão tecnológica, como facilidade de uso, influência social ou componente lúdica, mostraram-se pouco relevantes. Estes resultados sugerem que os gestores encaram a GenAI não como uma moda, mas como uma ferramenta estratégica.

Também o valor percebido do custo tem influência positiva, ainda que menor do que a expectativa de desempenho. Além disso, o estudo introduziu variáveis adicionais que se revelaram importantes: gestores em empresas de maior dimensão recorrem mais frequentemente à GenAI, e a penetração é superior em setores fortemente expostos à tecnologia (finanças, banca, TI) face a áreas menos digitalizadas (agricultura, construção). Esta tendência poderá acentuar desigualdades competitivas entre grandes e pequenas empresas.

Quanto às utilizações mais comuns, destacam-se a pesquisa de informação (56%), a redação de textos (46%) e a sumarização de documentos (43%). Já aplicações mais sofisticadas, como análise de dados (24%) ou apoio direto à decisão (18%), permanecem menos exploradas, sinalizando uma fase ainda inicial de maturidade tecnológica. Curiosamente, o nível hierárquico ou a dimensão da equipa sob responsabilidade do gestor não têm impacto significativo no padrão de utilização.

As conclusões têm implicações práticas relevantes: para fomentar a adoção junto da liderança, as organizações devem sublinhar benefícios concretos de produtividade. Por outro lado, empresas mais pequenas ou em setores menos digitalizados necessitam de estratégias deliberadas para evitar perder terreno competitivo.

Em última análise, os autores enquadram estes resultados no contexto das capacidades de absorção e dinâmicas organizacionais, defendendo que as empresas precisam de investir ativamente em aprendizagem para identificar, assimilar e explorar o potencial de tecnologias emergentes como a GenAI, assegurando assim a sua competitividade num cenário económico em rápida transformação.

  • Jorge Costa Silva
  • Instituto Superior Técnico | AESE Business School
  • Francisco Lima
  • Instituto Superior Técnico | CEGIST
  • Miguel Mira da Silva
  • Instituto Superior Técnico | INESC INOV

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