Da fábrica analógica à fábrica inteligente: o que a IA muda (mesmo)
Neste artigo de opinião, Pedro Santos, do INESC INOV, reflete sobre a importância da digitalização industrial e da IA para tornar as fábricas mais humanas, eficientes e sustentáveis.
Quando falamos em fábricas inteligentes, pensamos em robôs. O que acima de tudo muda, no entanto, é a forma como decidimos.
A digitalização industrial não é colocar computadores no chão de fábrica. É ligar pessoas, máquinas e decisões num mesmo fio condutor. A IA não vem substituir quem sabe. Antes multiplica esse saber, antecipando problemas e reduzindo desperdícios. As fábricas que abraçarem este modelo vão tornar-se mais humanas, eficientes e sustentáveis. As que adiarem, vão perder terreno.
Uma cena do dia-a-dia (e porque isto lhe diz respeito)
Imagine uma linha de produção de cerâmica. Um prato sai do forno, rola na passadeira, passa por uma câmara, e em milissegundos alguém já sabe: ou segue para embalagem, ou volta atrás. Não se trata de nenhum “truque”: são os dados a trabalhar. O trabalhador não perde o controlo – ganha visibilidade. E a fábrica respira melhor: com menos retrabalho, menos energia desperdiçada e decisões mais rápidas. É isto a que a Europa chama uma indústria mais humana, resiliente e sustentável. Por outras palavras, é colocar a tecnologia ao serviço das pessoas e não o inverso.
Durante décadas, a produção viveu de checklists, telefonemas e folhas de Excel. O resultado? Respostas lentas, falhas identificadas tarde demais, materiais parados onde não deviam. Hoje, a diferença não é “pôr computadores na fábrica”. É fazer as peças do puzzle falarem entre si para que humanos decidam melhor, com mais contexto.
Mesmo que nunca tenha entrado numa fábrica, isto continua a dizer-lhe respeito: é daqui que vêm os preços, os prazos e a qualidade dos produtos que usa. A forma como a indústria usa a inteligência artificial (IA) pode bem torná-los melhores e mais acessíveis — sem romantismos, com trabalho sério por trás. A visão europeia para a “Industry 5.0” sublinha precisamente esse ponto: tecnologia ao serviço de pessoas, resiliência e sustentabilidade. Nunca o contrário.
Digitalizar não é só informatizar
Vamos aos termos, sem jargões:
- Digitalização é ligar sensores, máquinas e sistemas para ver o que se passa.
- Automatização é a máquina ser capaz de fazer certas tarefas sozinha (por exemplo, medir e registar).
- Inteligência Artificial é o passo seguinte: aprender padrões nos dados e prever o que vem a seguir – por exemplo, um defeito a crescer, uma máquina a dar sinais, um pico de consumo evitável.
Pense assim: olhos (sensores) + memória (dados) + experiência (modelos) = melhores decisões. Contudo, o ingrediente secreto é a integração: produção, qualidade, manutenção, armazém e energia a trocarem sinais em tempo real. É esta “cola” que transforma “ilhas” em sistemas que se adaptam – o espírito da Indústria 5.0: tecnologia com propósito humano e ambiental, alinhada com a resiliência do negócio.
As plataformas modulares como o Unyma seguem esta lógica de fio condutor: diferentes módulos (Production, Quality, Inventory, Insights, People, Ecosense) que centralizam e partilham dados para executar decisões de forma coordenada.
Três problemas reais que a IA resolve (sem varinhas mágicas)
A IA industrial não é um luxo. É retorno: menos desperdício, menos paragens, maior produtividade.
a) Qualidade: ver cedo para não desperdiçar
Antes, a inspeção dependia do olho treinado, sujeito à fadiga e à variação entre turnos. Com a visão artificial, cada peça é verificada de forma consistente. Quando surge um padrão de defeitos, o sistema sinaliza e a equipa atua mais cedo – cortando retrabalho e economizando energia de outras máquinas. As fábricas produzem realmente ganhos mensuráveis de produtividade e sustentabilidade quando escalam casos de uso digitais como este (exemplo: num ecossistema como o Unyma Quality, a deteção dispara ajustes automáticos na produção, na manutenção e na energia.).
b) Manutenção: trocar “surpresa” por “antecipação”
A avaria inesperada é o pesadelo de qualquer linha. Se combinados com IA, os sensores de vibração, temperatura e corrente conseguem reconhecer a “expressão” de uma falha antes de esta acontecer. Resultado: intervenção planeada, menos paragens, maior vida útil dos ativos. As empresas que estão a “ligar” IA ao processo clássico de análise de falhas referem reduções de downtime e ganhos de capacidade.
c) Planeamento & energia: ajustar em tempo real
A Produção não é algo estático. Muda a encomenda, falha um equipamento, atrasa um material. Planeadores com IA reagem a estas situações em minutos, não dias: antecipam problemas, reordenam lotes, suavizam picos de consumo energético e estabilizam o fluxo. No ecosistema Unyma, por exemplo, é a conversa entre Production e Ecosense, com Inventory que garante o material certo, no sítio certo.
As pessoas continuam no centro (e isso é a boa notícia)
Convém aqui desfazer um mito: a IA não é um plano para substituir pessoas. É uma forma de lhes dar ferramentas melhores.
- O trabalhador deixa de “jogar às adivinhas” e passa a validar alertas, bem como a ajustar parâmetros com base em métricas claras.
- O técnico de manutenção gasta menos tempo em relatórios e mais a intervir de forma certa, no momento certo.
- A equipa de qualidade discute causas e melhorias – e não apenas “defeitos”.
A visão europeia da Industria 5.0 insiste nisto: tecnologia human-centric, que protege o bem-estar, cria resiliência e acelera a sustentabilidade. As fábricas que investem em formação contínua e em processos claros de adoção vão retirar mais valor e maior confiança interna. As ferramentas como o Unyma People ajudam a escalar competências e a organizar os turnos ao ritmo das necessidades reais. É um verdadeiro investimento nas pessoas, não é uma desculpa para cortar.
Começar pequeno, aprender depressa, escalar bem
Voltemos então ao prato de cerâmica, que cruzou a câmara na passadeira. Aquilo não é “só” cerâmica. É uma decisão informada, tomada a tempo. Menos desperdício, menos energia gasta, mais tempo libertado para o trabalho que exige cabeça e experiência.
IA na indústria não é um truque. É disciplina. Requer métricas claras em tempo real, equipas treinadas, integrações sólidas e ética de trabalho. Começa-se pequeno, mede-se o impacto, partilham-se resultados com quem faz a fábrica andar. Depois, sim, escala-se com método – de preferência com um ecossistema integrado (como o Unyma) que evita ilhas e integra todos os processos.
Quem começar hoje, tropeçará menos amanhã — e colherá mais cedo. Quem adiar, arrisca-se a ver a concorrência transformar dados em vantagem enquanto continua preso a papéis e “achismos”.
Não é um futuro distante: é o presente a acontecer nas fábricas que decidiram ligar pessoas, máquinas e decisões. O futuro industrial já chegou – e é humano.
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