De Dublin a Lisboa são 11.000 pessoas de distância
53.000 pessoas - mais 11 mil do que no ano passado - encheram as ruas de Lisboa e fizeram Paddy apaixonar-se. E no final até o deixaram sem palavras.
Confesso: estava à espera de mais. Há um ano aterrei em Dublin com avisos de que aquele era um dos maiores eventos do mundo em inovação e tecnologia. Não conheço muitos mas disso não tenho dúvidas: é mesmo. Há um ano aterrei em Dublin e não tinha mala de viagem: ficou abandonada na primeira escala, tal era o fluxo de voos para a capital irlandesa nesse dia. Repeti a roupa e as perguntas: que impacto — real — tem o Web Summit na vida das empresas que justifique esta febre?
Durante os dias do evento, é tudo a correr. Conferências, talks, escolher entre que se gostava de ver e o que não se pode perder, trocar cartões, falar com pessoas. No fim do dia, é disso que se trata, não é? Pessoas, pessoas, pessoas. Pessoas a quem nos damos — e apresentamos as nossas ideias, os nossos negócios, aquilo que nos apaixona –, pessoas que tentamos convencer a tomar as nossas ideias como delas — a consumir os nossos produtos, a experimentar os nossos serviços –, pessoas que queremos envolver — nem que seja através de uma ronda de financiamento — na nossa startup.
Quando, no dia 0, Paddy subiu ao palco para dizer ‘olá’ a Lisboa depois do ‘adeus’, há um ano, em Dublin, o MEO Arena a abarrotar vibrou com a confissão: “Nunca conheci uma cidade assim”, disse o irlandês. Entretanto, cerca de 3.000 pessoas assistiam a esta declaração apaixonada nos ecrãs gigantes… fora do pavilhão. A lotação esgotou e, não é para menos: 53.000 pessoas — 42% das quais mulheres –, 2.000 jornalistas, mais de 1.300 empresas, quatro milhões de visualizações de vídeos no Facebook, 663 oradores, 97.000 pastéis de nata. Como na paixão, tudo é avassalador.
Durante os três dias — mais um fim de tarde — do evento, os participantes trocaram mais de 1,8 milhões de mensagens. ‘Olás’ em dezenas de línguas, apresentações e pitch a correr, planeamento e desenrascanço: tudo para não perder nada. Anunciaram-se rondas de investimento mantidas em segredo até ao evento — mas que já tinham acontecido.
O Web Summit começou por juntar empreendedores e startups tecnológicas mas virou encontro de investidores, grandes empresários, políticos e curiosos. Cada vez mais gente não quer perder o encontro. Mas há segundos e terceiros encontros depois deste primeiro date às cegas?
Há um ano, no encerramento em Dublin, percebi a paixão de Paddy Cosgrave pelo projeto. Dizia o CEO, de lágrimas nos olhos, que o Web Summit ia mudar-se para Lisboa mas que Dublin ia continuar sempre no coração. Só que a despedida em Lisboa — um “obrigada” e uma salva de palmas –, nórdica, deixou o meu coração ansioso.
Os números são impressionantes — e até fazem aumentar o batimento cardíaco — mas a massa de que é feito o amor eterno não é a mesma que alimenta a paixão. Depois daquela declaração de amor em Dublin, a Lisboa sensível fica com medo de que a paixão não vire amor. E, por isso, para mim, hoje é dia de ressaca. É que, três dias, tanto podem mudar a vida como significar qualquer coisa passageira. Resta saber o que fazemos nos outros 363.
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