Desesperadamente à procura de Lucília
A ausência é tanta que chego a perguntar-me se Lucília Gago existe mesmo ou se é um produto de Inteligência Artificial.
Há umas semanas, no âmbito da Advocatus Summit, um dos oradores convidados dizia que não percebia porque é que Lucília Gago tinha aceite o cargo de procuradora-geral da República já que não tem as características pessoais necessárias ao exercício deste cargo. E é verdade, não temos qualquer dúvida disso, depois de quase seis anos de mandato que chega ao fim em outubro. Por falta de carisma, por falta de capacidade de comunicar, por não gostar (claramente) de estar nos holofotes? Sim, diria que sim mas, infelizmente para o país e para a democracia, não é só isso. Fala-se muito da incapacidade de Lucília Gago em comunicar e mas isso não chega. Não se estará a confundir esta sua incapacidade em comunicar com incapacidade para mandar numa estrutura de uma magistratura que não tem independência mas sim, apenas e só, autonomia?
O tema tornou-se o tema quente no final de Junho quando, em entrevista ao Observador, a ministra da Justiça Rita Júdice, num ato de coragem, decidiu sem filtro admitir que quer que o próximo procurador-geral da República tenha um perfil de liderança, que seja comunicativo e que “ponha ordem na casa”. Disse ainda que deve ajudar a pôr fim a uma “certa descredibilização” do Ministério Público , sublinhando que o Governo quer iniciar “uma nova era”. Horas depois, na rede social X, insistiu: “o novo PGR terá de ser alguém que reúna as condições técnicas necessárias, mas sobretudo com boa capacidade de liderança, de organização, de gestão de equipas e de comunicação. Deve ser alguém que tenha a capacidade de inaugurar uma nova era na relação com os cidadãos”. Ora, não se referindo diretamente a Lucília Gago, todos sabemos que se estava a referir aos últimos anos da atuação (ou falta dela) da líder dos procuradores da República.
A ministra, concerteza que se sentiu validada para proferir estas declarações – na sua primeira entrevista dada, depois de tomar posse em março – por todas as críticas que a PGR tem sido alvo: desde todos os quadrantes políticos (à exceção do Chega de André Ventura, pois claro), aos mais de 100 assinantes do Manifesto que reclama uma reforma na Justiça e até passando por críticas (públicas) do MP em artigos de opinião.
Não só pelo famoso parágrafo do comunicado enviado em novembro que acabou na demissão de António Costa, não só por investigações que se arrastam há anos, não só por escutas claramente violadoras do segredo de Justiça, não só por falta de resultados na Operação Influencer, não só por decisões de juízes de instrução e da Relação contrários à tese do MP, não só por fugas de informação surgidas em contexto político que não parecem coincidências….e… não continuo porque a limitação de caracteres não mo permite.
E, no meio disto, passaram quase seis anos, o mandato acaba em três meses e a PGR continua a não dar uma entrevista, a não se oferecer para ir dar explicações ao Parlamento (todos os outros anteriores PGR o fizeram), a não reagir a nada. A ausência é tanta que chego a perguntar-me se Lucília Gago existe mesmo ou se é um produto de Inteligência Artificial. E dou por mim à procura desesperadamente de um sinal da mulher que deveria gerir esta instituição – que tanto tem descredibilizado tantas figuras públicas – com murros na mesa. Assertividade, frontalidade, coragem, humildade e competência procuram-se! E que a ministra da Justiça continue de olhos bem abertos para sugerir a Luís Montenegro quem pode vir, de facto, a ser o rosto de “uma nova era” no Ministério Público. Aguardemos.
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