Developers, o vosso novo emprego: superar a IA com o potencial humano

  • Agur Jõgi
  • 5 Setembro 2023

Developers, tornem-se mais humanos. Levem os vossos cérebros ao ginásio mental e assegurem-se de que o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas fazem parte do vosso plano.

O trabalho de developer, ou, em português, programador informático, está em constante evolução. Estes profissionais aprendem sucessivamente novas técnicas e práticas de programação de modo a manterem o seu valor elevado num ambiente de mudança. Mas, neste momento, precisam de uma revolução e não é na sua forma de pensar.

A explosão de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) viradas para a ótica do utilizador, nomeadamente o ChatGPT, está a fazer com que as empresas e a sociedade comecem a prever uma grande transformação no modo como utilizamos a tecnologia. Esta reforma está apenas a começar. Todos temos de nos adaptar às mudanças sísmicas previstas para o futuro próximo.

Sim, existe hype em torno da IA. A Gartner, uma consultora especializada em tecnologia, tem um modelo de Hype Cycle que mostra o grau de maturidade de uma nova tecnologia em comparação com a forma em que as empresas pensam sobre a mesma. A categoria geral da Inteligência Artificial está provavelmente no auge das expectativas inflacionadas. É possível que tenha vindo para ficar, mas não será a tecnologia que resolverá todos os problemas empresariais – tal como não aconteceu com a computação em cloud, a digitalização ou a eletrificação.

As novas tecnologias revolucionárias são sempre consideradas “exageradas”, antes de a sociedade encontrar o seu verdadeiro propósito. Quando apenas se utilizavam computadores num contexto empresarial, como nos anos 70, ninguém previu o boom do computador pessoal e o que viria a ser o colossal setor dos videojogos. Mas, lentamente, o mercado foi crescendo e mudou, passando do Pong para os jogos online hiper-realistas com múltiplos jogadores.

O hype de um ciclo pode ser observado em eventos recentes com blockchain, criptomoedas e NFTs. As NFTs parecem estar a desaparecer, com base nas minhas observações do sector. O blockchain é amplamente utilizado, mas está a crescer lentamente. A criptografia está algures no meio, em busca do seu lugar, adaptando-se a novas formas de uso e à procura da sua utilização ideal.

O ChatGPT e outras ferramentas de IA generativa são certamente interessantes. Num contexto empresarial, já estão a dar provas e a acelerar o trabalho e o processo criativo de muitos profissionais, embora esta tecnologia tenha algumas falhas. Esta ferramenta foi ensinada a recolher e a partilhar informações muito rapidamente, mas não a pensar de forma independente. Não produzirá um grande trabalho sem um humano no controle – algo que as empresas têm de ter em mente se pensam que a Inteligência Artificial atual pode substituir as pessoas de forma sustentável e com qualidade. Em termos de serviço ao cliente e ao produto, as empresas enfrentam questões relacionadas com a segurança e conformidade. Questões essas que não são de resposta simples.

Não tenha medo do futuro. Enfrente-o.

Dito isto, as possibilidades que a IA oferece são tentadoras. Ter sucesso a partir delas não significa apenas aplicar as novas tecnologias ao negócio existente. Paradoxalmente, para tirar partido delas, os developers e os utilizadores empresariais têm de desenvolver uma série de competências, algumas existentes e outras inteiramente novas. A eletrificação criou dispositivos e as empresas e as casas mudaram. Os especialistas em conhecimento e criatividade veem as suas funções alteradas de formas que ainda não podemos apreciar totalmente, mas podemos planear algumas adaptações.

As competências transversais recorrentes são mais importantes do que nunca. Os developers têm de ser muito precisos com os comandos que escrevem no ChatGPT ou noutras ferramentas de Inteligência Artificial. Sem o input certo, os utilizadores têm de refazer um pedido inicial várias vezes para encontrarem a solução desejada.

Estas tecnologias são uma ferramenta, não uma solução. Ainda. Se um programador utilizar 20 prompts para realizar o trabalho e outro utilizar 60, a diferença de tempo varia em 200%. Quanto melhor os utilizadores compreenderem os fatores que influenciam o resultado, melhor será a sua oferta total de serviços. É necessário, mais do que compreender o código ou outras competências empresariais, os utilizadores serem racionais, analíticos, literatos e experientes nos processos empresariais.

A longo prazo, é expectável que a comunidade de developers se divida em dois campos:

1. Aqueles que desenvolvem, adaptam e melhoram a IA, em função das circunstâncias.

2. Os que precisam de aprender a utilizá-la no seu trabalho quotidiano, como ferramenta profissional.

Só os mais inteligentes beneficiam da IA.

Competências de pensamento crítico, design thinking e first principles thinking. São alguns dos modelos mentais que se tornaram populares entre os líderes tecnológicos de Silicon Valley e de outros centros tecnológicos. Todos os utilizadores, em especial os developers e engenheiros de software, devem trabalhar na sua própria programação e no seu software interno para poderem inovar, criar, diagnosticar e melhorar os poderes generativos e iterativos da nova IA.

Estas novas tecnologias funcionam segundo a sua própria lógica. Aqueles que apreciam e trabalham melhor com as suas especificidades, controlarão estas ferramentas da mesma forma que qualquer artesão considera as suas ferramentas uma extensão de si próprio.

Por isso, quando digo “developers, arranjem um novo emprego”, quero dizer: developers, tornem-se mais humanos. Levem os vossos cérebros ao ginásio mental e assegurem-se de que o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas fazem parte do vosso plano de evolução, bem como a formação contínua e o desenvolvimento profissional.

Por exemplo, procurem obras que vos acrescentem profissionalmente. Podem ser clássicos mundiais (para aumentar as capacidades de compreensão e melhorar a criatividade e imaginação) ou obras de géneros ou de autores que normalmente não vos atrai, apenas para conhecer outros pontos de vista. Abrir a mente a novas ideias e formas de pensar aumenta a vossa compreensão e fornece-vos mais material mental para utilizarem quando estiverem a resolver problemas novos.

Leiam, façam puzzles, participem em escape rooms, aprendam novas línguas, cozinhem novas receitas ou experimentem escalar montanhas. Saiam da vossa zona de conforto e exercitem o cérebro – tudo isto nos dá novas formas de ver o mundo e de enfrentar os desafios com uma variedade de abordagens.

Dentro de alguns anos, o impacto da IA será inegável. No entanto, a Inteligência Artificial nunca valerá por si só. Dependerá sempre de profissionais experientes e abertos à mudança que saibam inovar, aprender novas competências e planear o futuro. No fim, o objetivo é simples: melhorar a vida de todos nós.

  • Agur Jõgi
  • CTO da Pipedrive

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