É preciso fazer os jovens sentir que acreditamos neles

  • Joana Moreira
  • 31 Outubro 2025

Não se trata de caridade, mas de criar condições para que os jovens desenvolvam o seu potencial num ambiente de confiança e continuidade.

Vivemos numa era de paradoxos: nunca estivemos tão conectados digitalmente e, ainda assim, os jovens sentem-se cada vez mais isolados. Em Portugal, enfrentam instabilidade laboral, incerteza social e ausência de referências inspiradoras. Muitos sentem-se desacreditados. Investir em programas de mentoria não é um luxo, é uma urgência.

Os números confirmam esta realidade. Quase 17 % dos jovens entre os 15 e os 34 anos abandonam os estudos a meio do percurso, empurrados por razões financeiras ou laborais. Muitos outros completam formações que não correspondem às exigências do mercado de trabalho, ficando presos a empregos precários ou à inatividade. Acresce que a taxa de jovens que não estudam nem trabalham (os chamados NEET) continua a ser das mais altas da Europa. Estes dados revelam um problema estrutural: falta de oportunidades reais e ausência de modelos de referência que inspirem percursos alternativos.

É aqui que a mentoria assume um papel decisivo. Estudos demonstram que programas de mentoria bem estruturados aumentam a autoestima, melhoram competências socioemocionais, e ainda reduzem o abandono escolar e promovem maior participação cívica. Não se trata de caridade, mas de criar condições para que os jovens desenvolvam o seu potencial num ambiente de confiança e continuidade. Um mentor não é apenas alguém que dá conselhos, é alguém que acredita, desafia e acompanha.

Ao longo dos últimos 15 anos, organizações, como o Movimento Transformers, têm trabalhado em proximidade com milhares de jovens em todo o país. Através de programas de participação cívica e oficinas de transformação social, vimos de perto o impacto que tem oferecer modelos positivos de referência. Em territórios onde as oportunidades são escassas, jovens encontram, pela primeira vez, alguém que lhes diz: “tu consegues.” Essa validação, simples, mas poderosa, tem sido o motor de mudanças de percurso, de regresso à escola e de envolvimento em causas locais.

É também por isso que continuamos a procurar novas respostas. Um exemplo é o Ser Natural Traz Frutos Bootcamp de Pedras Sabores que, mais do que um projeto isolado, representa o que só é possível numa verdadeira economia de impacto: quando setor social, setor público e setor corporativo se juntam para responder a um problema real. O que está em causa não é apenas o futuro dos jovens, mas a coesão social de territórios inteiros quando os jovens se sentem capazes.

A mentoria é uma das ferramentas mais eficazes que temos para devolver entusiasmo a uma geração descrente. É um investimento em capital humano, em pertença e em futuro. E, como a experiência do Movimento Transformers tem mostrado, quando damos a um jovem a oportunidade de ser visto e valorizado, estamos não só a transformar a sua vida, mas também a semear esperança coletiva.

  • Joana Moreira
  • Presidente e diretora executiva do Movimento Transformers

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