Economia Circular: O Futuro da Sustentabilidade Económica
Em Portugal, mais de 1500 empresas e negócios que já apostam na circularidade da sua economia através de serviços de gestão de excedentes.
A Economia Circular é cada vez mais um tema incontornável. Muito já se disse sobre este tema e muito vai continuar a ser dito. Há cada vez mais consciência social sobre a importância desta abordagem, apesar de ainda vivermos numa realidade um pouco toldada por comportamentos e ideias conformistas como “não tenho desperdício”, “dá muito trabalho reciclar ou reaproveitar” ou “prefiro deitar fora”.
Este é um assunto que afeta diversos pilares da sociedade: agregados familiares, escolas, governos e negócios. É neste último pilar que me vou focar.
Do meu ponto de vista, construir uma estratégia comercial assente em pressupostos de sustentabilidade e de economia circular traz bem mais benefícios do que riscos. Em Portugal podemos já ver uma tendência de crescimento deste movimento, com mais de 1500 empresas e negócios que já apostam na circularidade da sua economia através de serviços de gestão de excedentes. Isto reflete-se numa nova fonte de receita, gerando milhões de euros anualmente, e vem comprovar a alta rentabilidade que envolve a economia circular, com uma expectativa de que só venha a crescer nos próximos anos.
Mas afinal, em que consiste este conceito? A Economia Circular é a reposição do valor natural através da redução, reutilização, recuperação e reciclagem dos recursos usados (materiais e energia), alargando o seu tempo de vida no sistema, e também reduzindo o impacto do ciclo de vida dos produtos e serviços gerados.
Se analisarmos este tema de forma objetiva, e sem a visão toldada, percebemos de imediato que os benefícios para os negócios no setor do comércio e retalho são claros. Em primeiro lugar, permite a transformação daquilo que seria uma perda efetiva em cash-flow. Posteriormente, cria a oportunidade de conseguirmos extrair métricas para um “procurement” mais eficiente (desde as compras, à relação logística com os fornecedores, tudo se vai tornar mais fluido – informação é poder!).
Cria, também, um novo canal de vendas complementar (rentabilização de produtos excedentes ou em fim de vida), e não direto (falamos de excedente ou em fim de vida e não produção extra). Por último, permite ainda uma comunicação e um posicionamento positivos, ao evitar-se o desperdício alimentar.
Dá trabalho? Pouco! É extremamente fácil de introduzir numa estratégia empresarial. Basta que haja a criação de uma nova variante de controlo. Se já controlamos stocks, inventários, validades e resíduos, porque não controlamos também os produtos que estão no limiar de se tornarem impróprios para consumo, ao mesmo tempo que rentabilizamos os mesmos antes do seu fim de vida?
Este processo, de simples implementação, e que faz toda a diferença, pode materializar-se na criação de dois novos canais de escoamento: o de venda de excedentes e o de doações a instituições de solidariedade social. O primeiro canal pode ser implementado, por exemplo, através da venda dos produtos a um preço reduzido, por iniciativa própria, ou através da disponibilização dos mesmos em apps para o efeito. O segundo canal, mais associado à responsabilidade social corporativa, permite a criação de uma componente de solidariedade, relacionada com a doação desses excedentes a famílias carenciadas.
O retorno é enorme e em diversas áreas. Podemos falar em retorno financeiro, com a recuperação de parte do valor investido no produto, em vez da perda total. Podemos falar em retorno social, através do combate ao desperdício alimentar e à ajuda na subsistência de pessoas com menor poder de compra. E podemos falar em retorno através da aquisição de novos clientes, que ficam a conhecer os espaços e os produtos de um estabelecimento ou marca através deste tipo de oferta.
De uma maneira ou de outra, todos podemos contribuir para uma economia circular e todos podemos contribuir para uma realidade de desperdício zero. Haverá ainda muito a fazer na educação da sociedade e dos agentes comerciais, onde todos juntos seremos poucos na linha da frente. Se formos mais ativos, acredito que Portugal pode abandonar rapidamente os blockers que toldam a visão face ao desperdício alimentar, caminhando para uma realidade onde os mais variados tipos de comércio irão buscar, de forma mais ativa, soluções para um posicionamento sustentável e, com elas, diversos benefícios para os seus negócios e, acima de tudo, para o planeta.
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