Empreendedorismo: para 2024 ser um ano de retoma, é preciso investir em mudança

  • Lurdes Gramaxo
  • 11 Julho 2023

Se a Lei das Startup foi um passo importante para o setor, também alterou a legislação do SIFIDE ao ponto de tornar inoperacional o levantamento de capital para indireto em I&D já a partir de 2024.

O investimento em early-stage é uma peça fundamental para a economia portuguesa e é essencial para trazer mais inovação para o tecido empresarial, bem como para reforçar a atração e retenção de talento no nosso país. No pós pandemia, o ecossistema de empreendedorismo sentiu na pele as alterações macroeconómicas a nível global, nomeadamente a inflação e a subida das taxas de juro, que provocaram um abrandamento do investimento de capital de risco.

Em Portugal, tem sido sentida uma queda nas rondas a partir da Série A, assim como nas avaliações das startups, na dimensão das rondas e no tempo que demoram a serem concretizadas. Mesmo assim, a quebra no investimento foi menos significativa do que nos mercados internacionais devido aos fundos que levantaram dinheiro ao abrigo do programa SIFIDE e que continuam ativamente a investir nas startups portuguesas.

Contudo, e se a Lei das Startup foi um passo importante para a definição do setor, no enquadramento legal das startups e scaleups, no que respeita ao regime de stock options, veio também alterar a legislação do SIFIDE ao ponto de tornar inoperacional o levantamento de capital para investimento indireto em I&D já a partir do próximo ano. Assim, é previsível que, não se alterando as condições atuais, o financiamento do ecossistema early stage possa vir a complicar-se ainda mais. Contrariamente ao que foi aprovado no Parlamento, o Regime SIFIDE para investimento indireto em I&D deveria manter-se, mas reduzindo o nível de benefício fiscal e limando alguns aspetos mais propensos ao abuso.

O ano de 2023 representará, comparativamente com anos anteriores, uma quebra significativa do total do investimento, mas 2024 deve ser um ano de início de retoma, embora lenta.

Não obstante, o país precisa de criar uma estratégia de médio prazo para a inovação e o empreendedorismo tecnológico definida com base num acordo alargado entre policy makers, players do ecossistema early stage e o setor empresarial. Para isso, é necessário mudar o paradigma atual e relembrar que o empreendedorismo nasce e cresce da iniciativa privada. Até agora, temos estado asfixiados em políticas públicas restritivas, burocracia exagerada, legislação muitas vezes confusa e regulamentos pouco ajustados a um setor que se quer flexível, adaptado à mudança.

Para potenciar o crescimento e enriquecer o ecossistema, é também preciso atrair talento feminino, seja como fundadoras ou investidoras. Partimos de um ponto em que as startups com mulheres entre a equipa de fundadores representam, em Portugal, apenas 0,9% do montante levantado em 2022, quando um relatório da Boston Consulting Group indica que negócios liderados por mulheres devolvem mais 10% de receitas ao longo do tempo do que as fundadas exclusivamente por homens, e um estudo da McKinsey aponta que as empresas com mulheres em cargos executivos têm 25% maior probabilidade de ser lucrativas.

Dada esta discrepância (e potencial) é importante investir em iniciativas e programas específicos dedicados ao tema, como é o caso do projeto “The Inspiring Women Early Stage Investors” — que visa promover a participação de mulheres em investimentos early stage — e o “Women and Money” – que pretende fortalecer a literacia económico- financeira de mulheres empreendedoras –, ambos realizados no âmbito do programa Small Scale Partnerships do ERASMUS+.

Ora, se queremos que exista uma verdadeira retoma do setor no próximo ano, não podemos continuar a apostar nos mesmos vetores de sempre. Empreendedorismo e investimento andam de mão dada e é necessário fazer com que essa realidade se reflita na legislação que rege o setor, mas também na diversidade do qual carece.

  • Lurdes Gramaxo
  • Presidente da Investors Portugal e Partner da Bynd VC

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