Faça ouvidos de mercador e proteja a sua carteira

Fugir do caos é só o primeiro passo para proteger a suar carteira das quedas e da volatilidade extraordinária registada esta semana nas bolsas.

A semana que passou começou com um verdadeiro terramoto nos mercados financeiros. O índice japonês Topix afundou quase 13%, a maior queda desde o crash de 1987. Na Europa, o Stoxx 600 caiu quase 6%, e os índices americanos S&P 500 e Nasdaq também não ficaram atrás, com quedas de 4% e 6%, respetivamente.

Para os investidores mais nervosos, foi um verdadeiro teste de resistência. Mas será que devemos mesmo entrar em pânico quando todo o mercado cai a pique? Ou será que há uma lição valiosa a retirar deste caos?

As quedas e a volatilidade da cotação das ações são tão naturais nas bolsas como a maré alta e baixa no oceano. Se olharmos para a história dos últimos 100 anos, veremos que 94% dos anos registaram quedas iguais ou superiores a 5%, e correções de 10% ou mais aconteceram em dois terços dos anos, como lembra Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos.

Se esta semana lhe tirou o sono, talvez seja hora de rever as suas expectativas. E se acha que o mercado está a conspirar contra si, talvez seja hora de fazer uma pausa e refletir sobre como a nossa mente nos prega partidas. É aqui que entra Daniel Kahneman, prémio Nobel da Economia em 2002, que nos ajuda a perceber que, muitas vezes, o maior inimigo do investidor não é o mercado, mas sim ele próprio.

Investir com foco no longo prazo é a chave para uma estratégia estruturada, bem-sucedida e despegada do pânico do curto prazo. E isso requer disciplina e paciência, qualidades que são muitas vezes subestimadas pelos investidores.

No seu bestsellerPensar, Depressa e Devagar”, Kahneman explica como a nossa mente está dividida em dois sistemas: o Sistema 1, que é rápido e emocional, e o Sistema 2, que é mais lento e racional. Quando os mercados caem a pique, é o Sistema 1 que entra em ação, levando-nos a tomar decisões precipitadas, muitas vezes baseadas no medo. Kahneman destaca que nestas alturas é crucial ativar o Sistema 2 e pensar a longo prazo. Afinal, como Peter Lynch escreveu em “Learn to Earn”, “muito mais dinheiro foi perdido por investidores a tentarem antecipar correções do que nas próprias correções”.

Warren Buffett, um dos maiores investidores de todos os tempos, é conhecido por manter a calma em tempos de crise. Ele aconselha os investidores a não perderem um minuto a observar o mercado nestas alturas. O melhor mesmo até é fazer de ouvidos de mercador ao pânico exacerbado que se levanta nestas alturas.

Para Buffett, a volatilidade é inclusive amiga do investidor de longo prazo. “Um mercado em queda não nos incomoda; é uma oportunidade para aumentar a nossa participação em grandes empresas com boa gestão a bons preços”, refere o lendário investidor em “Warren Buffett’s Ground Rules”.

Investir com foco no longo prazo é a chave para uma estratégia estruturada, bem-sucedida e despegada do pânico do curto prazo. E isso requer disciplina e paciência, qualidades que são muitas vezes subestimadas pelos investidores. Kahneman reforça que a qualidade mais importante para um investidor é o temperamento, não o intelecto.

Manter a calma e seguir uma estratégia de investimento regular e disciplinada faz a diferença entre o sucesso e o fracasso de um portefólio de ativos. Afinal, o tempo é o melhor amigo das carteiras de investimento, pois tem a capacidade de diluir o risco à medida que os anos passam. E aqui entra a verdadeira virtude da paciência.

Estudos como o promovido anualmente por Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton para o Credit Suisse (agora propriedade do UBS) há vários anos, mostram que as ações são o ativo que mais rende no longo prazo. No relatório deste ano, “Global Investment Returns Yearbook 2024”, os investigadores revelam que, nos últimos 123 anos, as ações geraram ganhos médios anuais reais de 5,1%, cerca de 3,3 pontos percentuais acima do desempenho das obrigações e 4,7 pontos percentuais acima dos títulos de dívida de curto prazo. Estes números não deixam margem para dúvidas: a paciência é, de facto, a maior virtude dos investidores em ações.

Se há algo que esta semana nos ensinou, é que as quedas e a volatilidade são parte integrante do mercado. Em vez de entrar em pânico, use este tempo para refletir sobre a sua estratégia de investimento. Lembre-se das lições de Kahneman e Buffett, e mantenha o foco no longo prazo. Afinal, como diz o velho ditado, “o tempo no mercado é mais importante do que tentar acertar o tempo do mercado”.

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