Governo Mini-Max
Governar é uma sequência de actos isolados. Alguns gestos para o centro radical para apaziguarem socialistas. Algumas medidas para a direita radical para contentarem os profetas do apocalipse.
O país está estranho. Portugal tem um Governo com pompa orquestral e liderado por um capitão prosa. No entanto, o Governo fala pouco, faz menos ainda e governa o país com o rigor de uma nota só. Melhor ainda, o Governo dirige o país com a dissonância de muitas notas sós, completamente sem coerência e sem consequência. Governar é uma sequência de actos isolados. Alguns gestos para o centro radical para apaziguarem socialistas. Algumas medidas para a direita radical para contentarem os profetas do apocalipse. Entre os extremos existe um Portugal esquecido que mais parece uma inconveniência do que a razão de ser do Executivo. Por que a razão de ser do Governo é preparar o processo eleitoral com uma espécie de diário do pântano – a miséria moral de um país adiado todos os dias para produzir um nevoeiro de espuma sem conteúdo político, mas a rebentar com o calculismo e com a intriga partidárias. A última novidade chama-se Presidenciais, uma espécie de abcesso de fixação para se poder falar de tudo para não se falar de nada. Os portugueses sentem o Governo como uma ausência à deriva.
Este é um Governo máximo com uma política mínima. O PS tremendista fala de um “Executivo Extremista”. Os extremos do Governo oscilam entre agradar à Esquerda e agradar à Direita. É um Governo sem carácter político definido que tanto decreta o SNS como a religião oficial da República como convoca as Forças de Intervenção para garantia da Segurança Nacional a meio da tarde no centro de Lisboa. O Governo é solidário e securitário, aberto à imigração e fechado à imigração, tecnocrático e programático, europeu e rural, funcional e disfuncional. O Governo pratica a política ao som de um gótico beirão produzido no Centro Comercial STOP.
Em contraciclo, o PS aproxima-se do Chega na estridência e na demagogia. O PCP não existe. O Bloco são palavras. O extremismo do PS está patente num discurso político irritado com o Mundo e zangado com os portugueses. O PS que pretende falar em nome de um Portugal alternativo não consegue articular duas ideias com sentido, apenas produzir em estilo megafone um discurso de Oposição. Mas é uma Oposição que não chega a ser Oposição pelo tom arrogante e superior de quem nada fez e tudo tem a provar. O Chega apresenta-se como o Salvador da Pátria e o Inimigo do Sistema. O Chega na sua estratégia Entrista apresenta propostas e contra-propostas, propõe Comissões de Inquérito ao Assistente Operacional do 3º Piso e Comissões de Acompanhamento aos Acompanhantes. Os portugueses continuam à espera da justificação para as 602 horas de trabalho extraordinário apresentadas pelo motorista do Vice-Presidente da Assembleia da República eleito pelo Chega. A política em Portugal não tem moral, mas está repleta de moralistas.
O Presidente da República queixa-se à Nação que a “Cooperação Estratégica” entre Belém e São Bento não se recomenda. Falta afectividade entre Órgãos de Soberania, como se uma relação entre Instituições da República tivesse o carácter particular de uma amizade pessoal. Se o inquilino de Belém é o Presidente dos Afectos, o arrendatário de São Bento é o Primado da Distância. Os afectos à distância acabam em divórcio político. O Primeiro-Ministro disfarça as suas intenções políticas com o silêncio envergonhado de um outsider. Homem de meias-palavras, o Primeiro-Ministro não negoceia com o Parlamento, negoceia com as corporações, não fala com jornalistas, não esclarece quem deve esclarecer e o país mergulha na hipérbole do silêncio político como factor de estabilidade e de progresso. O Primeiro-Ministro parece um político desconfiado com a política.
Talvez exista um fundamento político para a distinção entre o “Político Catavento” e o “Político Rural”. Apesar de serem duas categorias políticas exóticas, são as duas categorias políticas que empurram Portugal para o impasse. O “Político Catavento” é uma inspiração meteorológica, um sopro de optimismo quando os dias solares são uma raridade. Ou então um demagogo puro, um calculista com integridade calculada. O “Político Rural” adopta a reserva por baixo de uma espessa camada de verniz. Raspa-se o verniz e brilha o cidadão desconfiado, cauteloso e matreiro que não se inspira com aventuras. Os portugueses indignados com este teatro de aparências devem adoptar uma postura de resistência política e exigirem a renascença cultural da decência e da República.
Entretanto, Portugal fica cercado no Martim Moniz. Multiculturalismo? Integração? É mais a opção da política espectáculo. Imaginam-se motas com três passageiros armados a patrulharem a Praça. Imaginam-se botes de borracha preta com passageiros vestidos com coletes de salvação vermelhos a desembarcarem no Terminal dos Cruzeiros. O comércio da Humanidade num Portugal em tolerância de ponto?
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