Igualdade de género como dinamizador do Desenvolvimento Sustentável

  • Inês Vieira
  • 27 Julho 2023

Reduzir as disparidades de género no mercado de trabalho poderia aumentar o emprego global em 189 milhões, ou 5,3%, até 2025, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (ILO).

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que “a igualdade de género não é apenas um direito humano fundamental, mas também um alicerce necessário para um mundo pacífico, próspero e sustentável”. Pode parecer uma relação distante, mas a promoção da igualdade de género, vertida no 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, contribui efetivamente para as restantes dimensões do desenvolvimento sustentável. Não será por acaso que é refletida em 45 metas e 54 indicadores dos 17 ODS!

Enquanto cidadã e profissional que lida diariamente com os desafios da transição sustentável das organizações, não poderia concordar mais. Esta afirmação não se baseia em perceções ou visões fundamentalistas, mas sim em evidências e factos.

A igualdade de género passou a fazer parte do direito internacional através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Este documento marcante na história da humanidade reconheceu que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” e que “todos têm direito a todos os direitos e liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer tipo, como raça, cor, sexo, língua, religião, … nascimento ou outro estado”. Tal não significa fazer depender os direitos, responsabilidades e oportunidades de cada pessoa destes fatores identitários, nem de transferir oportunidades de homens para mulheres, mas antes criar condições para que cada pessoa, tenha o direito e a oportunidade de realizar o seu potencial humano.

Nesta matéria, a ONU avança que não estamos no caminho certo para atingir as metas preconizadas na Agenda 2030. Por isso, alavancar o ODS 5 nos restantes Objetivos pode ser, pelo menos, parte da resposta. A ONU e outras Agências Internacionais apontam nessa direção, demonstrando como investir na Igualdade de Género pode potenciar de forma inequívoca o Desenvolvimento Sustentável. Vejamos as seguintes evidências.

Apostar na igualdade entre homens e mulheres contribui para o trabalho digno e crescimento económico (ODS 8) de várias formas, nomeadamente pelo aumento do acesso e nível de escolaridade das mulheres (ODS 4) e da sua participação no mercado de trabalho. Esta desigualdade afeta o crescimento económico ao reduzir a quantidade média de capital humano numa sociedade, restringindo artificialmente a reserva de talento de que as organizações tanto necessitam.

Além disso, limita ainda o desenvolvimento de novas ideias, fundamentais para o empreendedorismo e a diversificação económica, sendo estes os principais motores do crescimento sustentável. Na verdade, reduzir as disparidades de género no mercado de trabalho poderia aumentar o emprego global em 189 milhões, ou 5,3%, até 2025, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (ILO).

Por outro lado, existem evidências de que uma maior igualdade de género ao nível da gestão de topo das organizações, melhora o desempenho das mesmas. Por exemplo, um estudo envolvendo 366 empresas de capital aberto em vários setores económicos no Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e vários países da América Latina evidenciou que as empresas no quartil superior de diversidade de género têm 15% maior probabilidade de ter retorno financeiro acima de suas respetivas medianas, sendo um dos fatores apontados a sua diversidade de competências.

Na Europa, a regulamentação avança no sentido de exigir uma maior representatividade de género nas organizações e esta é cada vez mais uma prioridade para as mesmas. Mas este foco deve considerar toda a cadeia de valor e assegurar que tanto fornecedores como clientes incluem este tema nas suas agendas.

E é aqui que as instituições financeiras têm um papel potencialmente mobilizador, fruto da sua alargada carteira de clientes e portefólio de investimentos. No entanto, este último é ainda muito limitado, nomeadamente, em negócios liderados por mulheres, já que apenas representa 7% do total de private equity e de fundos de capital de risco em mercados emergentes, de acordo com a IFC.

Estes exemplos dos mostram como investir na igualdade de género é um catalisador que desencadeia efeitos multiplicadores positivos em todo o espetro do desenvolvimento económico, social e ambiental, e não apenas um fim em si mesmo. Para tal, todos nós temos um papel a cumprir: seja pela pressão nos decisores políticos e nas organizações, por combater as perceções baseadas no género, incluindo as nossas próprias, seja pela denúncia de comportamentos inadequados!

  • Inês Vieira
  • Sustainable Finance Manager na EY

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