Malawi pé ante pé
Se os países fossem números de sapato, o Malawi era um 35. Uma tara de pézinho, segundo o Eça, o pesadelo das sapatarias, segundo a Cinderela.
Um pézão ao lado do Djibouti, por certo, mas uma patinha ao pé de Moçambique.
A primeira coisa que fiz quando passei a fronteira em Mandimba, foi lamber a estrada de alcatrão! Soube-me a bife da alcatra no carvão e a lindas horas de suaves viagens, sem um único safanão.
O que eu não percebi logo é que, para sair daqui, ia ter de ir numa carrinha de caixa aberta agarrada a 30 pessoas para não voar. Pelo que me sentei na confortável posição de “não vou naquilo” durante uma meia hora, até perceber que era aquilo ou a pé. E por muito pequeno que seja o Malawi, é maior que a minha teimosia.
E aí percebi a segunda maravilha: além dos incríveis Baobabs que crescem por todo o lado, é que eles não andam a mais de 80 à hora! Claro que desligam o carro nas descidas e brincadeiras do género mas já não há cá “Fast and Furious”! O preço da gasolina não está para ralis. Expiro fundo.
O Malawi é um sapato verdinho e, além de uma ausência geral de bom pão (adeus carcaça moçambicana), os ingleses só cá deixaram aqueles típicos tijolos vermelhos para a construção.
Mas o melhor de tudo é o lago. Um lago que é metade do país. Um lago oceano, com ilhéus, vilas de pescadores, crocodilos, praias escondidas, hipopótamos e toda uma vida lacustre. Vir ao Malawi é trocar a estrada pela água. E a única maneira de o fazer, é apanhar o Ilala (o barco do povo).
O senão é que o Ilala só parte uma vez por semana. Os outros senões aqui não são problemas, são situações. Por exemplo, a eletricidade é coisa de cidade, o resto do país tem bi-horário diário, que é como quem diz, ou tem ou não tem. E geralmente não tem. Eletricidade é luxo para umas horas. Outra situação é a água. Sem eletricidade a bomba da água não funciona. Valha-nos o balde e o desodorizante. Dinheiro também é coisa rara. Um euro equivale a 760 Kwachas. Por isso, se gastarmos tanto este mês como gastámos em Moçambique, deixamos cá ficar um milhão! Somos milionários de ocasião.
Mas o bom deste sapatinho é que é mais pé de chinelo. Viajar no Malawi é quase metade do preço que foi em Moçambique. Com tanta coisa boa, mal posso esperar para por os pés ao caminho, que é como quem diz, a pata na poça.
Ilala, não partas sem mim.
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Crónicas africanas são impressões, detalhes e apontamentos de viagem da autora e viajante Mami Pereira. Durante quatro meses, o ECO vai publicar as melhores histórias da viagem, que pode ir acompanhando também aqui e aqui.
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